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18/set/2011 – dia 4
Cusco

A verdade verdadeira é que os quatro ficaram encantados com a iguaria local na hora do almoço, e durante nossas pesquisas de restaurante naquele mesmo período, havíamos descoberto que em Cusco existe uma pizza cujo ingrediente principal é salame de alpaca. Culinária local, minha gente… não era nada de tão exótico assim, mas era suficientemente diferente pra gente não perder certas oportunidades. Então voltamos ao hostel…

…onde reencontramos Pablo e Maca, que convidaram todo mundo para… comer pizza! Sim, lá estava a oportunidade de matar o desejo. E seguimos, rumo ao centro histórico. Porém, a pizzaria escolhida foi outra, e nosso desejo adiado. De qualquer forma, seria nossa primeira redonda no Perú (trocadilhos, ah trocadilhos…). Sentamos num lugar que possivelmente ficava em cima do forno à lenha do andar de baixo, dado o calor que se instaurou minutos depois. Antes da pizza chegar, a primeira cerveja local: sim, ainda não havíamos experimentado nenhuma durante a viagem – ao contrário do que fizemos na Argentina, quando eu e a Debs tivemos um surto cervejístico após o fim da “saga Plus”. Então pedi uma Cusqueña, e ela veio…

Bom, eu já tive coleção de latinha. Eu bebo qualquer merda.

Não era ruim. Por sinal, se eu não estiver enganado, foi a única “cerveja local” de toda a viagem mais bebível. Enfim… algumas fatias, uma garrafa simpática dessas abaixo e uns comerciais argentinos na TV (e sim, como os comerciais dos hermanos são melhores que os nossos!), matamos a fome. Mesmo não sendo da forma que sonhávamos, voltamos ao hostel. Durante a manhã, o mesmo Pablo havia nos sugerido um tour por alguns sítios no dia seguinte, inclusive reservando com a responsável pelos pacotes no próprio hostel nossos nomes. A missão era acordar cedo, tomar o café (bacanudo) e acertar nossos tickets. O Pariwana nos acomodava novamente, e após descarregarmos nossos memory cards no cyber coffee para o HD externo cor-de-rosa da Mel, era hora de descansar.

Um aperitivo nós já tínhamos tido. Agora a coisa ia pegar pra valer…

Coricancha

fev
2012
24

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18/set/2011 – dia 4
Cusco

Fato é que a viagem até o momento vinha numa levada de certa forma turística, mas sem nenhum grande sobresalto que fizesse do nosso roteiro algo de “especial” – Perú e Bolívia foram escolhidos como destino por algum motivo, e a partir dessa primeira visita, começaríamos a entender esses porquês. E como entenderíamos…

Chegamos ao então Convento (que é uma igreja) de Santo Domingo, que ficava a poucas ruas de nosso passeio da manhã. Entrando, demos de cara com uma bilheteria, que negociava dois tipos de entradas: para o mosteiro e o templo (pelo horário, não podíamos mais fazer esse passeio), e somente para o templo, que compramos por irrisórios dez dinheiros.

Coricancha foi o mais importante dos templos incas, e era conhecido como Templo do Sol. Por sinal, uma das obras expostas em seu interior explicam um pouco melhor sua função no Império Inca. A Igreja de Santo Domingo foi construída literalmente por cima do templo, utilizando somente as fundações originais como suporte. Porém, num terremoto ocorrido há muitos anos, a igreja veio abaixo, e somente a construção inca permaneceu intacta (mais uma vez, provando que os nativos estavam uns bons anos à frente dos europeus no que se diz respeito à evolução humana). Essa imposição da cultura espanhola, que literalmente devorou o império local, levou a uma divisão de valores que aos poucos fomos descobrindo com a viagem: os deuses e valores espanhóis estão sim presentes no país, mas as raízes – que normalmente teriam desaparecido – resistiram, fosse em estruturas perfeitas e praticamente indestrutíveis, fosse numa espécie de camuflagem que fazia com que os invasores acreditassem terem imposto seus valores, quando na verdade estes estavam misturados às raízes culturais e apresentados de uma maneira nova – uma camuflagem que ludibriava os espanhóis e permanecia valorosa e forte aos olhos do povo.

A beleza do templo igualava-se ao impacto que havíamos tido quando passeávamos pelas ruas de Cusco. As histórias contidas em cada detalhe descoberto traziam aquele quê de realidade que só uma viagem traz. Esqueça as fotos e os livros de História. Poder pegar, sentir, cheirar e ver as cores, relevos e texturas das coisas é fazer a vida real. Era um começo tímido e pequeno num universo de coisas que ainda haviam em nosso caminho. Mas era, e era bom demais estar ali naquele fim de tarde gelado e ensolarado.

Explicar Coricancha é redundância – existem fontes muito mais ricas e minuciosas do que minha memória pra isso. Mais do que o impacto cultural, as imagens continuavam nos encantando.

A tarde termina, a fome aperta. E nós tínhamos um plano em mente. Mal sabíamos o quão errado ele daria dali a pouco… mas isso jajá eu conto.

P.S.: Hiatos como os que aconteceram durante os relatos justificam-se em trabalho. Mas as memórias, como pode-se notar, permanecem vivas e bastante coloridas. As fotos ajudam. A experiência compartilhada é mais fácil de ser lembrada. E assim, a gente retoma de onde paramos. E tocamos em frente.

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18/set/2011 – dia 4
Cusco

Depois de um almoço digno da viagem que fazíamos, uma voltinha pra dar uma assentada até a hora da sobremesa. E justamente nessa voltinha, Debs e Mel começam a causar. Explico: as tais cholas que vira e mexe cruzam seu caminho – seja carregando a filhota toda arrumada e bonitinha, seja conduzindo uma lhama – obvimaente estão à caça de turistas: para aquela fotinho, e sua consequente propina*. E muita gente mesmo tira as tais fotos, afinal de contas, o dinheiro de lá não vale nada mesmo e uma viagem que se preze tem que ter recordações fotográficas – as mais típícas possíveis. Porém, sem desembolsar, as velhotas e suas crias desviam, se esondem, exercem seu lado ninja. E gastar dinheiro com fotos nunca foi nossa especialidade mesmo, vide o resultado mais bacana de nossas memórias. As duas foram (e são) mais criativas do que as fotos-clichê que a gente costuma ver, e eu sou muito grato por isso a ambas. Não só eu: os registros ficaram realmente incríveis.

Porém, quem abre mão de uma foto de chola + lhama, estando no Perú? Pois é, nem a gente. E com isso, as meninas resolveram exercer seu talento de fotojornalismo para conseguir as imagens sem botarmos a mão no bolso. Esconde daqui, se mexe dali, encaixa a máquina num cantinho, e olha aí o resultado…

Da mesma forma que ocorreu quando, sem querer, passamos por um grupo que fazia alguma dança típica na meioca da Plaza de Armas. Daqueles momentos legais que você não planeja, e que de alguma forma tem que registrar. As duas se meteram entre o povaréu, e entre cabeças e pernas, foram clicando mais uma memória que pretendíamos levar pra casa. Obviamente, antes de acabar a apresentação, saímos de mansinho e mais uma vez economizamos uma graninha. Não que eles não merecessem, mas a gente tinha outras coisas em mente.

O passeio seguiu e minha mãe deu a primeira pipocada geográfica da viagem. Mas antes de condená-la, sim, ela foi muito bem na escolha. As subidas e descidas do centro de fato não são fáceis, e botar a saúde à prova num dia que precede ao começo das viagens pelos sítios arqueológicos seria uma grande burrice. A deixamos no rodapé da ladeira, e fomos conhecer a Plazoleta de San Blas. Que sim, é um lugar calminho, isolado e que deve ter seus atrativos. Mas pra quem esperava um charme a mais após tamanha subida (e acho que nós 3 tínhamos essa expectativa), acabou sendo uma pequena decepção. Nada de menos, mas também nada de mais. Fotos, e descida.

Chegando lá embaixo, o almoço já havia deixado seu espaço para a sobremesa. E numa rápida tateada pelos arredores, nos deparamos com o Inka…Fé. Sim, o nome é infame. Um lugar pequenininho e simpático. Sentamos os quatro (minha mãe esperava pela gente perto dali), e providenciamos nossos doces. E os tais foram provavelmente alguns dos melhores que eu já experimentei na vida. Com exceção da torta de limão, que é um verdadeiro desafio tamanho azedume, o restante justifica a água na boca gerada pelas imagens.

Era metade da tarde, e ainda havia um lugar importantíssimo a ser visitado. Nossa primeira incursão histórica. E estava a alguns minutos de lá. Com isso, fomos em frente.

*Gorjeta, pra você que não sabe usar o Google Translator.

Gourmet

nov
2011
25

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18/set/2011 – dia 4
Cusco

Escolhemos um restaurante cujo nome estará aqui assim que eu lembrar (ou procurar), exatamente em uma das esquinas da Plaza de Armas. Outra coisa espetacular de viajar é justamente perder referências, e arriscar não por vontade, mas por necessidade. Obviamente esse risco não englobava uma nova incursão hamburguística – resolvemos elevar os padrões e procurar aquilo que de fato merecíamos. Subimos as escadas e nos aconchegamos num cantinho próximo à janela. A escolha foi fundamentada.

Logo após nos servirem a cortesia de pisco sour, metemos a cara nos cardápios. E aí, com aquele monte de espanhol rolando solto, e a gente com nossas poucas (mas bastante suficientes) referências, fomos tateando o que poderíamos comer. Eis que surge ali o nome que nos despertaria a curiosidade, e serviria de gatilho para nossa incursão ao desconhecido da cozinha peruana: alpaca.

Enquanto eu e a Mel estávamos na larica de experimentar o ceviche – outra especialidade local, previamente pedida como entrada, debatemos em quatro os rumos gastronômicos a serem tomados. A Debs preferiu a tradição ao desconhecido, e pediu palmitos gratinados. Minha mãe foi num promissor franguinho, recomendado pelo mozo que nos atendia. E novamente, dona Melissa e este que vos escreve resolvemos partir pro desconhecido e pedir a danada da alpaquinha – cada um de um jeito.

Resultados logo abaixo:

A satisfação foi geral, em todos os aspectos. Experimentar a comida local num lugar bonito desses, contemplando um cenário tão sonhado nos últimos meses, e curtindo as melhores companhias possíveis. Havíamos começado bem nossa incursão peruana. E depois de aproveitar o momento, respiramos fundo e fomos em frente. Afinal, a tarde ainda estava começando e havia muito a se fazer.

As diferenças

nov
2011
25

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18/set/2011 – dia 4
Cusco

Chegando à praça central, pudemos de fato ter o real contato com a população e aquela festa toda. Pra onde se olhava, estudantes de todas as idades, professores e famílias inteiras celebravam a data, ou o evento – não sabíamos. Fato que aquilo era realmente algo a ser comemorado, e a quantidade de pessoas (para o tipo de encontro, “ao qual estamos acostumados” como sendo uma coisa brega, piegas até) nos impressionou.

Acho que de certa forma a gente espera que algo assim, inesperado, aconteça durante uma viagem dessas. Acaba se tornando o contato com aquilo que o povo do país tem pra si, e não um evento turístico. Entrar em contato com a cultura verdadeira de pessoas que não estão dentro das nossas fronteiras é algo especial, e sim, a emoção de se sentir um pouco parte de algo que não é nosso acontece. Pode parecer besteira falar isso de algo aparentemente tão simples, mas assim como qualquer aventura sob domínios inéditos, é impossível quantificar ou qualificar sensações e reações. Estávamos há apenas algumas horas em Cusco, e pode-se dizer que já havia valido a pena investir uma manhã naquela caminhada. Os planos da Debs não contemplavam esse “evento”, muito menos o paro cívico em La Paz. Estávamos presentes em ambos, e aprendendo/entendendo um pouco mais da cabeça e da cultura dessa gente que vive no mesmo continente que a gente, mas que conhecemos tão pouco. Talvez sejam esses os grandes valores que a gente consegue ao visitar um país diferente.

Logicamente no meio daquele mundaréu de gente, algumas cenas engraçadas, inusitadas e bonitas que rapidamente me vêm à memória: a emoção da Paquinha e da Mel, a Debs encontrando um hidrante pequenininho (que nem ela), a foto da lhama dentro da loja (essas cenas todas retratadas em fotos nesse texto). E algumas coisas que rapidamente foram notadas por lá. Coisas que parecem com algo que a gente conhece por aqui, mas que assim como cita Vincent Vega em Pulp Fiction, it’s the little differences

…como por exemplo o tipo de “ambulante” que te aborda durante o passeio: desenhistas e pintores que se aproximam exibindo seus trabalhos; vendedoras de prata, de roupas, de coisinhas; cholinhas com filhotes pra você fotografar; velhinhas com aquele maldito lacinho local, loucas pra espetar sua blusa e ganhar um trocado (mas ao menos dessas eu já estava vacinado, lembram?). E entre desvios e caminhadas, fomos explorando o centro histórico.

E entre subidas e descidas – muitas, de ambas – encontramos em uma de suas vielas aquele famoso muro dos incas, que parece uma imagem chavão, mas que sim, impressiona pela perfeição. Mas não só ele. As ruas possuem um sistema de escoamento absolutamente simples e muito inteligente. Toda a arquitetura é extremamente bem cuidada e preservada. Mais do que isso: notoriamente funciona contra o inimigo mais comum das antigas civilizações – o tempo. A limpeza de Cusco impressiona, e suas ruas apertadinhas são aconchegantes (e íngremes). Pequenas praças estão escondidas entre um acesso e outro, e após certo tempo, tanto exercício fez a fome bater. Estando próximos à Plaza de Armas, nada mais justo que se deleitar por ali mesmo, de preferência, com alguma iguaria local.

Após sermos assediados por alguns restaurantes (sim, um “representante” de cada local é designado pra abordar os que por ali passam, oferecendo o cardápio a quem se aproxima – mesmo que não muito), optamos por um com uma panorâmica das boas pra praça central.

Sentido contrário

nov
2011
21

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18/set/2011 – dia 4
Cusco

Saímos com destino à Plaza de Armas, que é o ponto de partida para se conhecer o centro histórico de Cusco. Estávamos a 3 ou 4 quadras de distância, e chegar ao local à pé era questão de 5 minutos de caminhada. Logo na saída do hostel, e seguindo adiante no calçadão, as diferenças entre o destino atual e o anterior eram notáveis. Apesar de básica (sem grandes requintes, com lojinhas pequenas e tradicionais, pequenos cafés e algumas repartições), a área central de Cusco é absolutamente bem cuidada, limpa e receptiva. Os mais chatos podem falar “claro, é uma cidade turística!”, e estarão certos. Mas o Rio também é, e a gente sabe o tamanho da latrina.

Chão de pedra, muros históricos, e aquele povo predominantemente indígena. Cusco é um pedacinho muito bonito do país, e o Perú mostrou-se um lugar pra lá de receptivo com a gente desde os primeiros momentos. Quando chegamos à parte central, entramos na Basilica Menor de La Merced enquanto as meninas fotografavam a fachada e o movimento do povo. Mais uma vez, minha mãe se emocionou – acho que cada um deixa a ficha cair na hora que mais lhe parece propício, e no caso da Paquinha, os motivos religiosos sempre pegavam mais as emoções mais fortes da velhinha.

Enquanto isso, uma verdadeira muvuca acontecia na Plaza, e a gente sem saber ainda o que era, resolveu ao invés de fazer o roteiro imaginado (e sugerido pelo mapinha do Pariwana), percorrê-lo do contrário. Assim, evitávamos aquela zona e podíamos nos programar para invadí-la na hora certa.

Voltamos então ao ponto de início e tomamos como primeira parada a Plaza San Francisco, onde fica a Iglesia do mesmo santo. Pouco depois de experimentar a chicha morada – muito gostosa – de uma cholinha no meio do caminho (estava rolando uma quermesse, e eu comecei meu ataque às comidas de rua), visitamos a igreja em questão, onde estava chegando uma procissão no mesmo instante. Não preciso dizer se minha mãe se emocionou novamente ou não.

De lá caminhamos calmamente pela praça, onde pouco depois chegaria “aquela bagunça” que estava acontecendo na Plaza de Armas. Descobrimos ser uma espécie de fanfarra escolar… um encontro de turmas de escolas particulares cusquenhas. Velhinhas, molecada, professores, todo mundo junto com suas famílias. Aquelas coisas que a gente sabe que existem ou existiram, mas que não imagina ver de novo. A cidade estava com suas ruas cheias, e todo mundo curtindo muito. Quando apontaram na praça, de novo a velhinha (a minha) caiu no choro. Não era nem meio-dia, e eu já sabia que aquele estava sendo um dia pra lá de especial pra ela.

E ladeando os desfiles, chegamos à Plaza de Armas.

Não estranhem. Serão posts de textos relativamente curtos e bastante fotográficos. Daqui pra frente, melhor do que qualquer história é a imagem impressa em nossas memórias. As histórias somente ilustram, mas o impacto visual – tenham certeza – é muito maior.

Prazer, Pariwana

nov
2011
11

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18/set/2011 – dia 4
Cusco

Chegamos ao Pariwana, um baita hostel indicado pelo Thiagão bem antes da viagem. Ainda era de madrugada, e a recepção ainda não funcionava (em teoria), mas conseguimos fazer nosso check-in. Entre malas e sono, a Debs tomou a frente da situação e pediu para que verificassem nossa reserva, feita há meses: um quarto para o número certo de pessoas, com banheiro privativo. O rapaz da recepção procurou, procurou, e encontrou.

Para o dia seguinte.

Tantas foram as adaptações, apertos e ajustes que a pequena teve que fazer para que a viagem coubesse em 17 dias, que alguma coisa passaria reto. E foi essa reserva, que acabou não sendo reagendada. Partimos para o portunhol advanced, tendo em vista que o espanhol não era falado até então naquela sala, e com alguma negociação conseguimos um quarto. Pra 10 pessoas, que estava vazio, e que eles tentariam não ocupar com mais ninguém até o final de nossa estadia. No final das contas, os caras foram muito bacanas com a gente e o atendimento – assim como no Loki – foi excelente. E sim, merdas acontecem.

Chaves, pulseiras e camas distribuídas, nos alojamos no Valle Sagrado/305. O Pariwana é um destino recomendadíssimo (o Loki também, mas dele eu falo mais pra frente, tendo em vista que voltamos ao dito mais duas vezes), com quartos bacanas e beliches bem honestos. Os banheiros merecem comentários à parte. Estão por toda a parte, bastante limpos e modernos. São boxes de chuveiros (todos os que experimentei, excelentes), alguns com vaso em conjunto, e boxes sanitários em separado. Existe um hall de convivência central a céu aberto muito gostoso, onde você consegue ver todo o casarão. No andar de cima, uma sala de internet bastante grande e boa, e o bar, que foi nosso primeiro destino, tendo em vista que chegamos ao amanhecer. Pra quem gosta de viajar mas está liso e quer economizar inclusive na comida, existe uma cozinha honesta, com geladeira, fogão, microondas e uns acessórios, para ser usada por quem quiser no hostel. Do lado de fora, na área central, uma mesinha com vários tipos de chá, e um cestinho com folhas secas de coca.

Resumindo: estávamos alojados e muitíssimo bem servidos de estrutura. Tomamos nosso banho e fomos experimentar o café da manhã. Aquele, da foto de uns posts atrás, mas que eu repito aqui sem cerimônia.

Um jabazinho dos meninos: eles merecem…

Nesse momento encontramos a comunidade chilena da viagem. Pablo e Macarena aparecem no corredor do hostel, e nos acompanham no café. Com o portunhol já a passos largos do desenrosco, o Pablo saca alguns roteiros e vouchers de passeios que poderíamos fazer nos próximos dias. Dicas de grande valia, demos uma olhada geral e nos programaríamos durante nosso início de estadia peruana assim que terminássemos o café. Pãezinhos, chás, manteigas e geleias depois de uma noite de viagem funcionam como uma força da natureza, e revigoram qualquer ânimo. E não que precisássemos, uma vez que sair de um país e amanhecer em outro me parece motivo suficiente pra qualquer sono dar lugar à empolgação. Correspondemos de bate-pronto.

Com o mapinha de Cusco na mão, era hora de conhecer um pouco da cidade. E nós fomos.

Corre negada…!

nov
2011
10

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17/set/2011 – dia 3
La Paz/Puno/Cusco

Reclinamos as cadeiras e nos permitimos descansar. Ladeamos o Titicaca e ao final da tarde as coisas pareciam bastante tranquilas, quando num súbito de emoção, invade o “silêncio” do ônibus nosso motorista, minutos após adentrar uma cidade cuja aparência era semelhante a algo inacabado, e diz em alto e bom som:

– La migra.

E fecha a porta. As pessoas começam a levantar e sair. Havíamos chegado à fronteira com o Perú, mas em nada aquele cenário se parecia com o que a Debs havia nos dito durante o planejamento da viagem. Atrapalhados e desajeitados, saímos rapidamente, sem nos darmos conta do frio absurdo que fazia do lado de fora (as janelas do ônibus “não abriam”, como dito no texto anterior).

Os que possuíam passaporte pra um lado, os com RG pro outro, onde teriam que xerocar os documentos para protocolar a entrada no país – sim, leve SEMPRE uma grana trocada no bolso. Banheiros a um sole, fomos resolver nossas vidas. Entrei na fila dos passaportes. Uma moça me aborda em inglês, eu respondo em espanhol. Ambos com cara de que não entenderam muito bem pergunta e resposta, eu pergunto “Where are you from?“, e ela responde “Portugal“. E em português, tudo ficou muito mais simples.

Documentados e aliviados, atravessamos a ponte a pé (e correndo, porque estava um frio pra cada um). O ônibus permanecia estacionado, quando entramos no local onde são emitidas as autorizações para estadia no país. Assim que eu entro, um bolivianinho me aborda todo solícito, e eu automaticamente deixo que ele preencha meu formulário – era muita informação em pouco tempo, e sim, eu estava confuso. Olho pra Debs e vejo ela preenchendo o mesmo papel, sozinha. “É só ler e preencher, amor“, ela me diz olhando pra minha cara com uma expressão de “vai soltar uma propina pro chicando aí de novo, bobão“. Paguei o sujeito com algumas moedas, e momentos depois encontraria a Mel na fila, que fez a mesma coisa que eu. Mas antes disso, junto à Debs, olho pra fora e vejo o ônibus atravessando a ponte, com minha mãe e seu discreto blusão vermelho lá dentro, toda pimpona.

– Amor! Olha o ônibus! Tá indo embora, caceta! Minha mãe tá lá dentro! O que a gente faz, putamerda?! Tá indo embora, tá indo embora! Vamo lá! O que eu faço…?

Sim, foi essa a minha reação, narrada de forma dramática pela minha esposa toda vez que contamos essa história. Foi ridículo, porque foi acabar meu desespero e meu repertório de palavrões pro coletivo estacionar em frente à casinha. Burro. Voltamos pra fila. A Debs preenche a ficha da minha mãe, e vamos nós 4 pra aprovação do sujeito que parecia o Elvis mais moreno no balcão. Duas passam: Debs e Paquinha. Dois reprovam: eu e a Mel – os dois tontos extorquidos pelo boliviano. No meu caso, foi rasurar minha data de nascimento errada e resolver o problema. No caso dela, teve que preencher tudo de novo, uma vez que o sujeito trocou o nome Melissa por Joaquim – é quase igual mesmo nome de pai e filha. A germânica quis esfolar o boliviano, mas de comum acordo resolvemos deixar pra lá, evitando assim um incidente diplomático de proporções épicas.

Voltamos ao ônibus. Em vários bancos, uns frangões assados, arroz… enfim, uma galera comprou o jantar ali mesmo, e a farofa rolou solta, embalada por um filme* dublado em espanhol do Jackie Chan. Pra nossa surpresa, todo mundo riu loucamente e se divertiu pra burro com o tal filme. Enquanto isso, passávamos por Puno – uma cidade em que a princípio passaríamos uma noite, mas quase todos os planos pra viagem acabaram sofrendo alterações razoáveis**, e isso não aconteceu. Daquilo que pudemos ver pela janela do ônibus, nenhum arrependimento. A cidade não possuia nada que fosse suficientemente interessante para a tal pausa. Seguimos viagem, num ritmo absurdamente lento, com o motorista respeitando as lombadas como um súdito respeita a realeza. Quantas não são as viações nacionais que fariam o mesmo trajeto pela metade do tempo…?

De tudo isso, o mais importante foi que chegamos. E bem. Pegamos dois táxis na rodoviária de Cusco e seguimos para o nosso novo hostel. Chegamos por volta das 4h30 ou 5h, e mais uma surpresa nos aguardava por lá. Mas isso, eu conto daqui a pouco.

* Filmes de viagem mostraram-se muito mais do que uma simples fonte de entretenimento. São termômetros, diretamente ligados à qualidade da sua viagem. Por exemplo, esse que assistimos, não foi nada traumático, mostrou-se um tanto precário, mas cumpriu seu papel. Exatamente como nosso ônibus. E a tese será comprovada em relatos futuros, nas outras viagens. Fiquem atentos.

** Yara Mansur, minha ex-chefe e tremenda amiga, postou em um dos comentários pré-viagem nesse mesmo blog a seguinte sentença: “Meu caro, planos de viagem são ótimos. Supresas de viagens também. Desejo a vocês um monte de desvios das planilhas, dos cálculos e de tudo que já será familiar quando vocês chegarem por lá. Aprendi a gostar das surpresas e dos imprevistos. Eles fazem a viagem tanto quanto os planos. Boa viagem, em todos os idiomas, para você e suas meninas. Bjão.”. Profetizou, Yara.

Pra estrada

nov
2011
07

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17/set/2011 – dia 3
La Paz/Puno/Cusco

A rodoviária de La Paz à primeira vista parece mais precária do que realmente é. Um galpão bem grande, com uma sequência de barraquinhas ao centro e seus vendedores dos mais diversos tipos. Em suas laterais, os guichês das empresas de turismo. Dada a falta de estrutura (em comparação a São Paulo, que é sim um outro planeta e nós é que somos diferentes do mundo – não ele da gente), a galera ganha os passageiros no grito, literalmente.

Nos acomodamos e aguardamos a chamada do ônibus, que aconteceria em mais ou menos uma hora. Até lá, batatinhas, filmes dublados em espanhol (Gladiador, assim como em Buenos Aires, surgiu nessa hora) e a possibilidade de experimentar a tão falada Inca Kola. Sim, é uma iguaria local, e sim, tudo o que é iguaria local merece uma chance. Mas se em algum momento você desconfiava da experiência de beber um refrigerante que mais parece um exame de urina, saiba: seu bom-senso falou a coisa certa. Não chega a ser ruim – é mais ou menos uma tubaína ainda mais doce. E feia. Fizemos a nossa parte.

Chegado o ônibus, pagamos nossa taxa de embarque ao cara que joga suas malas no bagageiro. Em média, 2 dinheiros foi o que sempre nos foi cobrado/pessoa em cada viagem. Entramos no ônibus, que era relativamente confortável, mas que tinha alguns problemas evidentes: o banheiro possuía um cheirinho evidente; minha poltrona tinha o encosto quebrado (o que me faria tombar pra trás por algumas vezes na viagem), e as janelas aparentemente não abriam.

Bolívia, meu amigo.

Pegamos a estrada: eu e a Debs no banco da frente, a minha mãe e a Mel no de trás. Ao nosso lado, uma chola ocm um bebezinho que não parava de chorar. Mas apesar de todo esse cenário aparentemente contra, La Paz resolveu deixar uma ótima impressão na nossa saída. Na subida do vale, chovia em somente metade do horizonte. Na outra metade, sol. Por consequência, vislumbramos um belíssimo cenário na despedida da cidade.

Foco na viagem, que não será relatada por completo nesse post, e sim apenas seu primeiro braço. A saída de La Paz é relativamente tranquila na metade da tarde. A cidade parece se desmanchando aos poucos, deixando clara a impressão de periferia, com suas casas inacabadas, oficinas mecânicas, carros no meio da rua e pessoas cruzando o trânsito sem maiores preocupações. Aos poucos, a civilização se vai, e o que fica é somente uma longa reta com alguns povoados em seus arredores. Povoados esses que normalmente são reservas indígenas, ou pequenos conglomerados de meia dúzia de casas (e entenda-se por “casa” um local que possui paredes e teto). Os banheiros são fossas coletivas cobertas, que aparecem no meio do caminho. A distância entre esses povoados é relativamente grande, e não raras foram as vezes que nos deparamos com pequenos cemitérios completamente isolados, campinhos de futebol e igrejinhas. A rodovia é bem cuidada e não nos trouxe problemas. Então, termino esse texto com algumas imagens dessa primeira parte da viagem (por sinal, CLIQUEM nas fotos. Elas têm legendas e ficam maiores quando você faz isso. Magias da internet…)

Já que a segunda merece um relato à parte.

Quase de saída

nov
2011
07

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17/set/2011 – dia 3
La Paz/Puno/Cusco

Depois dos dois primeiros dias, entramos no primeiro (de muitos) dias onde viajaríamos dentro da própria viagem. Nesse caso, havíamos comprado as passagens de ônibus para Cusco no dia anterior, após o paro cívico terminar e o comércio voltar a funcionar por volta das 16h. Um ônibus comprado na boa-fé, e assim sendo abraçamos todo o discurso da vendedora, e mais tarde saberíamos se de fato a propaganda corresponderia à expectativa*.

Assim sendo, tomamos nosso cafezinho da manhã bacanudo, saímos pela enésima (e última) vez (nas circunstâncias ainda presentes) para trocar dinheiro, e fomos almoçar, num dia em que claramente fizemos hora pra que pudéssemos seguir viagem. Sairíamos de La Paz na metade da tarde, e passaríamos a noite viajando até chegarmos em Cusco no quase amanhecer do dia seguinte. As que não se ligaram, mudaríamos de país nessa transição, deixando a Bolívia e seguindo pro Perú.

Almoçamos no Alexander, que é uma cafeteriazinha bacanuda que existe por lá – nos ligamos nisso quando do retorno a São Paulo, quando encontramos um quisoque deles no Embarque do aeroporto de La Paz. Depois dos traumas causados pelo Hamburgón e pelas cervejas detestáveis, um lugar bem do bom pra se gastar um tempo enchendo a pança…

Mas antes que vocês pensem que esses textos são exclusivamente gastronômicos e que a gente viajou pra comer, posso dizer que o que vem a seguir começa de fato a dar a cara da viagem que fizemos. Por isso mesmo, ponto final nesse texto. Já estávamos ambientados, e La Paz ficaria pra trás em algumas horas.

*O asterisco é necessário. Durante os relatos das viagens de ônibus (foram 4 ou 5, não me lembro), mais do que histórias – as dicas serão passadas a vocês com um Q de realidade que por vezes é cômico, por vezes orgulha, e outras ainda envergonha ter caído em tamanha pataquada.