Coricancha

fev
2012
24

escrito por | em [Viagem] Peru/Bolívia 2011 | 1 comentário

18/set/2011 – dia 4
Cusco

Fato é que a viagem até o momento vinha numa levada de certa forma turística, mas sem nenhum grande sobresalto que fizesse do nosso roteiro algo de “especial” – Perú e Bolívia foram escolhidos como destino por algum motivo, e a partir dessa primeira visita, começaríamos a entender esses porquês. E como entenderíamos…

Chegamos ao então Convento (que é uma igreja) de Santo Domingo, que ficava a poucas ruas de nosso passeio da manhã. Entrando, demos de cara com uma bilheteria, que negociava dois tipos de entradas: para o mosteiro e o templo (pelo horário, não podíamos mais fazer esse passeio), e somente para o templo, que compramos por irrisórios dez dinheiros.

Coricancha foi o mais importante dos templos incas, e era conhecido como Templo do Sol. Por sinal, uma das obras expostas em seu interior explicam um pouco melhor sua função no Império Inca. A Igreja de Santo Domingo foi construída literalmente por cima do templo, utilizando somente as fundações originais como suporte. Porém, num terremoto ocorrido há muitos anos, a igreja veio abaixo, e somente a construção inca permaneceu intacta (mais uma vez, provando que os nativos estavam uns bons anos à frente dos europeus no que se diz respeito à evolução humana). Essa imposição da cultura espanhola, que literalmente devorou o império local, levou a uma divisão de valores que aos poucos fomos descobrindo com a viagem: os deuses e valores espanhóis estão sim presentes no país, mas as raízes – que normalmente teriam desaparecido – resistiram, fosse em estruturas perfeitas e praticamente indestrutíveis, fosse numa espécie de camuflagem que fazia com que os invasores acreditassem terem imposto seus valores, quando na verdade estes estavam misturados às raízes culturais e apresentados de uma maneira nova – uma camuflagem que ludibriava os espanhóis e permanecia valorosa e forte aos olhos do povo.

A beleza do templo igualava-se ao impacto que havíamos tido quando passeávamos pelas ruas de Cusco. As histórias contidas em cada detalhe descoberto traziam aquele quê de realidade que só uma viagem traz. Esqueça as fotos e os livros de História. Poder pegar, sentir, cheirar e ver as cores, relevos e texturas das coisas é fazer a vida real. Era um começo tímido e pequeno num universo de coisas que ainda haviam em nosso caminho. Mas era, e era bom demais estar ali naquele fim de tarde gelado e ensolarado.

Explicar Coricancha é redundância – existem fontes muito mais ricas e minuciosas do que minha memória pra isso. Mais do que o impacto cultural, as imagens continuavam nos encantando.

A tarde termina, a fome aperta. E nós tínhamos um plano em mente. Mal sabíamos o quão errado ele daria dali a pouco… mas isso jajá eu conto.

P.S.: Hiatos como os que aconteceram durante os relatos justificam-se em trabalho. Mas as memórias, como pode-se notar, permanecem vivas e bastante coloridas. As fotos ajudam. A experiência compartilhada é mais fácil de ser lembrada. E assim, a gente retoma de onde paramos. E tocamos em frente.

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  1. Melissa Lüdeman

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