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Mudamos

maio
2013
09

escrito por | em Umbigo | 1 comentário

…e leia-se por “mudamos” mais do que um simples novo endereço:

http://masili.com.br/algumaslinhas/

E mesmo não encerrando as atividades desse blog, é o novo lugar a ser lido e escrito. Pra quem passa por aqui há tanto tempo, o convite fica: visitem a nova casa. Por ser nova, não esperem o mesmo que havia na velha, mas reconheçam o que puderem. E obrigado por tantos anos de histórias contadas, divididas e registradas.

Vamos mudar

maio
2013
03

escrito por | em Umbigo | 1 comentário

Nesses grandes hiatos que aconteceram nesse espaço, o tempo passou. Passou de tal forma que ao olhar pra trás (ou nesse caso, especificamente, pro lado direito), eu encontro mais de uma década de memórias. Coisas muito boas, muito ruins, memórias ocultas que no passar do tempo eu apaguei pra ajudar a cicatrizar algumas feridas, voluntariamente perder algumas imagens, e por aí vai.

Mas o fato é que as urgências e as discussões da vida mudam muito num período tão grande. E a gente acaba não se reconhecendo mais olhando para distâncias tão grandes. Cansa discutir certas coisas, outras passam a ser desnecessárias, e mais algumas decididamente merecem uma atenção maior do que somente 3 minutos de leitura. Por sinal, anda faltando profundidade, silêncio, maturação. Invertemos a troca de ideias por um bombardeio gratuito de convicções superficiais. Com isso, afundamos a essência de nós mesmos num oceano de estresse, inconformismo e desesperança que povoa cada vez mais nosso dia-a-dia. Viramos escravos de uma cultura de futilidades que aparentemente não fazem sentido, e da qual esquecemos nos breves momentos de sanidade – coincidentemente, os mesmos que nos damos nos intervalos da rotina. Ou alguém aqui lembra de curtir um post quando passeia por aí com a família, os amigos ou o(a) namorado(a), se preocupa em fotografar os momentos de felicidade (real e pessoal – não aquela que a gente ostenta pra parecer mais popular) quando assiste a uma reprise em casa deitado no sofá, faz um afago no cachorro ou monta um quebra-cabeças?

Esses momentos são os que somos definitivamente nós mesmos. E somos melhores.

Por isso mesmo, acho que é hora de mudar de casa. Encerrar os textos sobre nossa viagem de 2011 (sim, já se vão quase dois anos dela, mas vale concluir os registros – farei isso aos poucos, por aqui mesmo), mas partir pra um novo momento. Tentar inclusive elucidar algumas confusões pós 30, que valem algumas linhas e uma discussão mais confortável, decente e inteligente do que o Facebook nos permite hoje em dia. Menos tiros, mais olhares. Ainda há espaço pra um desafogo e uma conversa com mais palavras (ou caracteres – já se vai muito tempo que meu Twitter foi pro saco). Pra um novo momento, um novo espaço. Que seja eterno enquanto dure. Esses onze anos foram muito bons por aqui, e ficarão online no mesmo endereço – porque nostalgia é necessária às vezes, e não uma moda: pra saber o que nos tornamos, sempre é bom lembrarmos de onde viemos.

E em pouco tempo, as devidas novidades. Inté.

Treinando

set
2012
13

escrito por | em Umbigo | Nenhum comentário

As oportunidades surgem, a gente analisa, agarra ou foge. Ninguém é dono do próprio destino, por mais certeza que se tenha em certas situações. Os dias passam, a saudade de algumas coisas cresce, de outras nem tanto. Surgem necessidades, pendências, dívidas pessoais. Corre-se de cá, de lá e elege-se a prioridade da vez.

O que me deixa tranquilo com meus hiatos, e com a cada vez mais constante falta de palavras por essas bandas. Existe sim uma necessidade pessoal, uma dívida particular comigo mesmo em registrar minha vida da forma que for: desenhos que surjam, fotos aleatórias (mesmo que sejam de xícaras de café e sanduíches caseiros), palavras por aqui. A única certeza no passar dos dias é que as consequências daquelas escolhas da primeira linha ditam o ritmo, e a ele eu não devo grandes explicações. Passamos por momentos turbulentos em casa, possibilidades reais de crescimento, alegrias e decepções que não necessitam de detalhes: esses são os ingredientes do cotidiano, e ingredientes a gente une, cozinha e saboreia. Viram experiência pessoal, aprendizado pros novos dias, lições pra não fazer engano virar burrice.

De resto, a gente se mexe. Creio que mais do que qualquer outra coisa, esses três parágrafos de “absolutamente nada” são um exercício pra que eu retome os relatos sulamericanos de um ano atrás. Sim, segunda que vem nossa viagem completa um ano, e por isso mesmo quero retomá-la com a devida intensidade. A memória ainda é fresca, porque a experiência ultrapassou a pele e foi muito além de uma imagem babaca de capa de Facebook. A complexidade soma lugares, pessoas e momentos, e nossa equação foi absolutamente interessante – e por isso mesmo, inesquecível. Recado dado, hora de pensar no próximo registro. Esse sim, pra valer.

A vida é doce

ago
2012
01

escrito por | em Umbigo | 1 comentário

São 3 anos da morte do meu pai.

Normalmente quando essa data se aproxima, eu lembro de tudo o que a gente passou – principalmente nos últimos dez dias entre o derrame e o domingo em que ele faleceu. Hoje a lembrança já é razoavelmente distante, mas aqueles continuam sendo os piores dias da minha vida. E penso em escrever alguma coisa. Normalmente, fosse no aniversário dele ou nessa data, eu tendia às lembranças boas, ou alguns desejos que tive (tenho e terei) de contar pra ele como minha vida seguiu daquele 2 de agosto em diante.

Não é isso o que me ocorreu hoje.

Porque acompanhada de cada lembrança, vem a revolta com o vício que ele insistiu em levar acima da inteligência, e agora posso dizer, da responsabilidade. A gente tem o péssimo hábito de endeusar e eximir de culpa toda pessoa que se vai. Digo “péssimo” com a razão de hoje saber as besteiras que meu pai fez, deixando uns bons pepinos por aqui, que minha mãe tem se desdobrado pra resolver silenciosamente e enfim poder viver a própria vida em paz. Não, ele não foi um cara ruim, e todos nós erramos em algumas coisas nessa vida. Mas hoje sei que da mesma forma que o cara foi um pai bom e carinhoso, foi irresponsável numa porrada de coisa que possivelmente ele achou que conseguiria resolver sozinho. Não conseguiu.

Aí a gente nota que todo fumante, além de burro, é egoísta. Os caras acham que com eles não vai acontecer nada, e tudo se resolve lá na frente – possivelmente, com saúde inclusive. Parece incogitável que câncer aparece, espalha e mata – principalmente na gente. Aconteceu, e a bomba ficou aqui pra gente se virar. As coisas que aconteceram de errado na minha família continuam sendo problema nosso – ainda mais quando elas se repetem, e isso acontece bastante, mas não é da conta de ninguém. Nem todo viciado espalha a merda que faz, mas no nosso caso, sim, fedeu.

É uma tremeda cagada essa história de acreditar na vida que todo dia aparece no lindo e perfeito universo virtual. Às vezes é preciso lembrar que por trás de cada tela existe uma pessoa. Que a vida que a gente vive não é só nossa, mas uma equação do nosso tempo e do tempo de quem a gente escolhe pra nos acompanhar. Por isso, hoje, mais do que lembrar de quem meu pai foi (e sempre será) na minha vida – um cara que todo mundo já soube, leu ou conheceu, e isso não vai mudar nunca pois a essência é o que fica, e a dele está em mim – fica o toque pra qualquer pessoa que resolva perder 3 minutos lendo esse texto: ser responsável, saber dividir e cuidar de quem se ama são ações muito mais importantes do que possa parecer. Fodam-se as palavrinhas bonitas, as imagens de esperança, os bons conselhos. Cada dia é construído agora, e a gente permanece incapaz de saber quanto tempo nos resta por aqui. Portanto, deixem o melhor de vocês. Essa é a verdadeira essência. Dar o exemplo, ser educado, pensar aquilo que se faz, ser humilde… tudo isso é uma porra de uma lição diária que não está na Bíblia, nos textos do Veríssimo ou no raio que o parta: está no seu caráter.

Hoje eu olho pra minha mãe e pra Debs – a família que me restou, junto de alguns amigos que eu carrego por (muito) perto – e penso no que eu posso ser melhor, pra todos. Não, nem sempre eu sou. Buscar perfeição é burrice semelhante a pensar que só em nossas mãos que a bomba não estoura. Mas esse monte de coisa que eu acabei de escrever vem de mim, e é nisso em que eu acredito. Dando certo, dando errado, a gente muda todo dia. Toma exemplos. Faz do contrário.

Sim, dá pra fazer diferente e ser melhor. Pra que lá na frente, meu filho não olhe pra trás e veja que o pai perdeu seu casamento, não conheceu sua casa, não viajou com ele e não mimou seus netos. Da mesma forma que existe a saudade, existe a impotência de pensar que eu devia ter mudado as coisas com a mão, pra ver se hoje eu estaria vivendo somente mais um dia, e não lembrando do que é perder alguém tão importante nessa vida.

De verdade

abr
2012
16

escrito por | em Música, Umbigo | 2 comentários

Mark Lanegan @ Cine Jóia

Pegue todo aquele mundo de sensações que você viveu, outras tantas que você vive, um bom punhado de memórias e cicatrizes, junte tudo, jogue pra dentro e reserve por um tempo – uns anos, ou vários. Então vá a um lugar miúdo, aconchegante e obscuro. Aguarde alguns minutos, e ao apagar de luzes, espere os primeiros acordes. Quando a voz de um cara surgir, olhe pra cima, e solte tudo aquilo em direção ao teto – seja cantando, dançando (quando e se for possível) ou simplesmente contemplando. Esqueça do mundo por uma hora e meia mais ou menos, e mergulhe naquela nuvem hipnótica de luzes vermelhas, melodia vezes pesada vezes leve, e a voz que rasga. Aplauda, sempre, e saia absolutamente satisfeito por ter realizado um dos grandes momentos da sua vida, sem a menor sombra de dúvida.

Resumindo, Mark Lanegan foi isso.

16

abr
2012
13

escrito por | em Música, Umbigo | Nenhum comentário

Quando se tem 16 anos, sua vida se assemelha a um oceano: há um horizonte completamente desconhecido, de uma profundidade assustadora, e escolhe-se naquele ou em outros momentos quando mergulhar, quando arriscar e quando contemplar. Nada se sabe sobre o outro lado, e atravessar pode te jogar num universo de curiosidade ou te deixar em estado de pânico. A inércia te deprime, a busca por algo que não se sabe o que é só depende das tuas forças, e o rumo a ser tomado é qualquer um. Só depende de você.

Foi uma época de mudanças absolutamente profundas na minha vida. Uma mudança de colégio, pra longe de tudo o que me era familiar, em condições novas e ruins: não tínhamos dinheiro, passávamos por uma dificuldade enorme em casa para nos manter, e em uma época onde todo adolescente quer e precisa descobrir o mundo, eu fui parar na sala de uma psicóloga, mergulhado numa depressão que até aquele momento era segredo meu e de mais ninguém.

E nessa mesma época eu já mergulhava e nadava de braçada em outros mares, uma vez que meu oceano parecia não me pertencer naquele instante. Das companhias que havia escolhido entre as paredes do meu quarto, os sempre presentes discos, revistas de rock, a ainda viva MTV. E numa tarde qualquer uma voz surgiu ali do nada, e naqueles momentos em que você não sabe bem dizer o porquê das coisas, parei por uns segundos pra ver quem era o cara que cantava aquilo. Um “aquilo” bonito de emocionar.

Passaram-se os mesmos 16 anos. E amanhã eu verei esse cara ao vivo.

A voz rasgada e rouca, a densidade da melodia e das letras, a banda absolutamente competente – mas sempre secundária, fosse qual fosse. Ao contrário de tantos outros artistas, aquele ruivo parecia não precisar de chapéus, cigarros, ternos vintage ou ambientes soturnos pra destilar cada canção, e aquilo de alguma forma me trazia minha própria identidade. A gente não precisa estar no submundo, mergulhado numa eterna noite fria pra que as coisas machuquem. A dúvida, a angústia e o sentimento de algo estar fora do lugar (mesmo que esse algo fosse eu) – tudo se encaixava e estava ali, pingado de quatro em quatro minutos. A gente é testado todos os dias, todo o tempo, e num dia calmo e ensolarado ou madrugada adentro, aquilo me vestia. Com o passar do tempo, a gente esquece dos fatos, e até das sensações. Só sabe que aquilo foi importante pra fazer a gente se tornar o que é agora, e a música tem esse caráter atemporal que te permite por alguns instantes transformar uma memória dispersa em algo novamente significativo.

Foi-se aquele tempo. Minha idade dobrou. Mas o significado daquela época, as lembranças que eu tenho daquilo que vivi, e tanto desses dias que foram e continuam sendo algo que só eu entendo o que significam e o quanto mexem comigo quando vêm à tona. Obviamente a gente cresce, fica menos urgente, passa a priorizar e se importar com coisas cada vez mais relevantes – e menos numerosas. Tira o pé. Já entrou no tal oceano, e viu que pra não afundar é só nadar. Às vezes cansa, às vezes excita – os dias vêm e a vontade em cada um deles é diferente.

Nesse caso, minhas memórias remetem a dias em que estive absolutamente sozinho, por opção ou não. Com a cabeça maturando mudanças que não fazia a menor ideia se seriam boas ou não, nem mesmo se aconteceriam. Mas eu precisava tentar, alguma coisa tinha que ser feita pra não me afogar naquilo tudo. Particular, essencial na época, e hoje parece até meio bobo se o repertório acumulado desde então for levado em conta. Mas foram meus momentos. Eram as minhas músicas, que eu guardava e escondia pra mim, e quando ninguém estivesse olhando, eu cantava do meu jeito, a plenos pulmões, querendo que por dento daquilo que sentia o rasgar fosse o mesmo que eu ouvia naquela voz.

O mundo girou, 5844 vezes exatamente pra ser exato. Explicar essas coisas agora parece algo adolescente, eu sei, mas a gente já foi assim, da mesma forma que já foi criança e um dia será velhinho. Rir do passado não é desmerecê-lo, mas saber que a gente cresceu. Que dificuldades foram superadas. Que somos mais donos hoje em dia do nosso próprio destino, mesmo que esse oceano de fato não tenha fim e continuemos sem saber o que vamos encontrar, e nem quando, como e se vamos chegar a algum lugar. Mas saber que a vida não é uma linha reta, e que qual seja o destino que a gente escolhe, a gente sempre encontra pelo caminho outras pessoas nadando, igualmente sem direção e sem parâmetro. Escolhemos as melhores companhias, e a viagem deixa de ser tão assustadora assim.

E claro, levando junto trilhas sonoras igualmente importantes. No caso, meu rumo até amanhã pelo menos eu já sei qual é. Até mais, Lanegan.

Dedos

fev
2012
15

escrito por | em Umbigo | 1 comentário

Não lembro quando escrevi algo pessoal por aqui pela última vez.

Entenda-se por pessoal algo realmente íntimo, da minha cabeça ou do meu corpo, essencialmente de dentro de mim. Não acho que foi por desinteresse, pois mudar é uma necessidade diária das mais reais. A cada dia, um mundo de besteira, de informação vazia, de sentimentos alheios que não me dizem absolutamente nada – mas me munem de leituras e mais leituras sobre o cotidiano de uma enorme parcela de gente que, sem uma timeline no Facebook, possivelmente seria esquecida da minha vida em pouco tempo. Interrompi em algum lugar do passado minha paciência com esse universo vazio, e hoje, mais do que algo por educação, tenho preguiça de me indispor.

Julgar e ser julgado é um esporte. Um vício que te consome de tal maneira que, se você mesmo não for capaz de eliminar do seu cotidiano as pessoas e sensações que te arrebentam, cada dia parece uma batalha – onde depois de lutar pela sobrevivência durante horas e horas da mais completa avalanche de imbecilidade de indivíduos egoístas, egocêntricos, sentimentais, falsos, vazios, interesseiros, hypes ou autosuficientes, olhamos pra trás e sentimos vergonha de termos gasto momentos preciosos de nossa existência levantando bandeiras contra filosofias pessoais de gente que daqui a pouco não lembraremos o nome.

Pense em quantas pessoas você realmente coleciona e (mais importante, acho que posso dizer isso num ímpeto de auto-análise) te colecionam.

Cheguei a um ponto em que certas coisas na vida estão estabelecidas, mas não, não parei de sentir. Simplesmente resolvi valorizar mais e mais meu universo pessoal, e guardá-lo pra mim – e para os poucos em quem realmente confio e que possuem acesso irrestrito à minha vida. Acho que com o passar do tempo, aquela necessidade de afirmação perante uma multidão muda. Ou muda a multidão, no caso. Afinal de contas, muitos e poucos são valores que igualmente variam. Me importo muito com pouca gente. Muito trabalho hoje, na minha realidade, gera pouco dinheiro, mas que me rende muito mais do que antes.

E por essa percepção de grandezas ser algo extremamente pessoal, de que adianta botar a cara pra bater aqui fora? Mostrar algo além? Hoje a única coisa que me parece realmente necessária e digna de propagação é o meu trabalho – afinal, é ele que me vende, e que me sustenta. No mais, é tudo pessoal. Assim como aquilo que escrevo nesses e em tantos outros parágrafos nessa última década. De que vale a expectativa de comentários e mais comentários, quando são poucas as opiniões que realmente mexem comigo? Já pensaram em quanto tempo e saúde a gente perde aguardando um telefonema, uma resposta, uma recíproca de quem nos esqueceu por aí? E o quanto isso machuca quando vem (e se vem) de uma maneira meio quadrada, batendo nas quinas? Você faz ideia de quanto é fácil “saberem” da gente, e por consequência, alimentarem uma imagem daquilo que somos, baseado somente naquilo que mostramos?

Eu já pensei. E não gostei, porque disso, mais do que opiniões, chegam respostas. E o ser humano é criativo nessas horas – pro bem e pro mal.

Estava assistindo ontem a um documentário sobre a vida de Johnny Cash – um daqueles ídolos controversos cuja personalidade me traz uma identificação absurda, por ser um cara que lutava contra demônios pessoais, e mesmo assim conquistava ao invés de fazer deles sua imagem final. Um monstro, no melhor dos sentidos. E em certo momento, alguém disse: “Johnny era aceito – apesar de todos os seus defeitos e deslizes – por ser sincero, por não mentir. As pessoas que são sinceras recebem um grau de tolerância maior das outras pessoas, pois tanto seus erros como seus acertos estão ali, nítidos e explícitos, o tempo todo. É o ser humano em sua essência”. Eu discordo dessa afirmação, porque essa mesma essência ofende aos que não aceitam ou não estão prontos para críticas. Quem não se interessa em analisar a si mesmo pouco se importa pra sua sinceridade. E vejo muita gente esperando que o mundo mude, ao invés de fazer algo a respeito pela própria vida. É pouco, quase nenhum o cuidado com aquilo que se fala e se faz. A tal essência esvaziou-se numa tentativa absurda de querermos nos destacar em meio a essa multidão de anônimos e desconhecidos que passou a povoar e movimentar involuntariamente nossas vidas.

Não sei se em algum momento seremos capazes de olhar pra trás, e enxergarmos a diferença de tempo e energia gastos com coisas que realmente nos importam. Acho que hoje, estando em casa e um pouco imune a certos venenos que fizeram parte da minha vida em determinados contextos, essa valorização da privacidade e da relevância ganharam força. Não sei se por isso, ou realmente por essa preguiça social que aos poucos me domina e me faz pensar cada vez mais em quem realmente me modifica e me toca. O que sei de fato é que dizer não, afastar ou desistir de coisas que realmente não me acrescentam trouxeram uma nova realidade em um momento que é pouco o tempo que tenho pra me derramar em linhas e linhas de um universo só meu. Um exercício que sempre gostei e que continuarei fazendo, porque minha prestação de contas com minha memória permanece intacta. Mas a essência, e aquilo que de fato me motiva todos os dias – essa coisa que varia tanto, e que te faz por dias acordar absurdamente elétrico e louco, em outros derrotado e descrente de tudo e todos – passa a ser território mais que particular. Que por vezes eu talvez abra as janelas, pois respirar é preciso. Mas que dia-a-dia, é coisa minha, e de mais ninguém.

É me respeitando que eu posso enxergar quem faz o mesmo por mim. Os sentimentos não somem. Eles apenas mudam, assim como sua urgência em aflorar. E pra quem eles devem chegar – fracionados ou inteiros. Todo o resto é informação vazia e tempo perdido. E esse tempo, com o passar dos anos, mostra-se cada vez mais precioso. Quero chegar lá frente, olhar pra trás e notar que pra minha vida, eu dediquei momentos a coisas realmente relevantes, e que resumiram minha existência em algo bom pra mim e pros meus. Sejam eles quanto e quem forem. E que valham a pena.

32 anos, e dias

fev
2012
01

escrito por | em Umbigo, Vidinha | Nenhum comentário

Meu ano novo coincidentemente começa um mês após o ano novo de todo mundo. Eu gosto muito dessa minha data de janeiro – mas só agora que fiquei velho, dado que quando criança festinhas de aniversário eram absolutamente impensáveis, com todo mundo viajando de férias. Estar em casa também me ajudou a ter um dia ideal, com cafés, almoços e jantares condizentes, mensagens e telefonemas deliciosos, e um clima de recomeço que faz com que sim, eu goste de adicionar unidades às minhas já três dezenas.

De certa forma, dei uma boa sumida daqui desse espaço. Mas nada pessoal – não faltou vontade nem história pra contar, existe toda uma viagem que ainda precisa ser dissertada e concluída; acontecimentos – bons e ruins – não faltaram nas últimas semanas, e não, minha vida não virou um tédio absoluto. O que aconteceu (e ainda acontece, que bom) é muito trabalho. E nesse mundo corporativo, mesmo que de casa, eu aprendi que quanto menos se fala, mais se consegue. Divulgar, somente resultados, quando a galinha já botou ovo e o pintinho está crescendo (ah, que saudade das dubiedades… ahahahah!).

Mas da mesma forma, ensaiar um retorno significa a volta por si só. E isso já é muito bom. Mesmo porque nos próximos dias esse blog que já me causou tanta coisa que eu nem sei enumerar direito completa dez anos: de dores de cabeça, de discussões acaloradas, de infindos desabafos pessoais, de uma certa petulância, de várias comemorações, de agrados e relatos, de amizades que vieram, de outras tantas que se foram, e de registros – quaisquer que fossem: bons, ruins, necessários ou não. Eu sou isso mesmo, e nem sempre todo mundo gosta (às vezes, nem eu mesmo). A gente vive momentos, e eu acho que muitos deles não devem se perder na memória – que sim, com o tempo, começa a falhar.

Por isso mesmo eu vim aqui pagar uma dívida comigo mesmo, e religar o motor. Afinal de contas, se o MEU ano começa hoje, o de todo mundo não parou por um segundo. E é na união desses mundos que eu conto a minha história. Portanto Marcelo, continue trabalhando, mas trate de arranjar tempo (não interessa como) de guardar as recordações aqui de novo. 2012 já tem um mês, e eu, pelo menos 31 dias de lembranças recentes. E outras tantas que nem precisam ser lembranças, mas são minhas coisas.

Então, simbora arrumar essa porra e registrar. A história continua sendo escrita.

O agora

jul
2011
21

escrito por | em Trabalho, Umbigo, Vidinha | 4 comentários

De uma hora pra outra, tudo muda.

Foi assim que aconteceu comigo, há oito dias. Terça eu tinha um emprego, quarta estava na rua. Circunstâncias não serão expostas, porque convenhamos, depois de um fato dessa natureza, de que vale a gente ficar pensando nos porquês (principalmente quando eles não são tão simples de serem encontrados)?

No fim, acaba-se agradecendo aos céus pela “sorte” de não se ter entrado naquele consórcio, de ter-se feito uma economia voluntária de uns trocados que agora fazem toda a diferença. Ainda estou passando por um fato inédito na minha vida, que é cobrar aquilo que eu nem deveria exigir, dado que me é de direito. Mas esquecimentos e confusões alheias à parte, eu espero que tudo fique bem. E é única coisa que espero mesmo, uma vez que esperar não era opção dessa vez: reagir imediatamente ao ocorrido foi o que me restou. Contei com a ajuda dos de sempre, dos nem tão de sempre, e uma ou outra surpresas que me fizeram saber quem de fato continua comigo. Sou grato, todos os dias, por essas pessoas. Uma ou outra falsidadezinha ali, um oportunismozinho aqui, e ignoradas as miudezas, as rodas giraram quase instantaneamente.

Devido à viagem em setembro, acho quase uma utopia conseguir um emprego até o início de outubro. Quem em sã consciência contrataria um cara que tiraria folga de três semanas um mês depois? Sim, esse é o buraco em que fui jogado, mas que acabou revelando uma outra face completamente contrária àquilo que normalmente eu esperaria de situações desse tipo.

Trabalhar por conta é um tremendo desafio. Quase uma insanidade, pra quem está começando há pouco mais de ano uma vida a dois. Mas eu tenho todos os dias me conscientizado de que sim, pode dar certo. Incomodo diariamente meus clientes – cultivados ao longo do tempo com bastante esforço – e aos poucos entrego aquilo que faço de melhor. Tenho aprendido tecnicamente e profissionalmente em dias coisas que muita gente não foi capaz de me mostrar em anos (ou meses, dependendo da paciência ou capacidade de lidar comigo). A vida continua, e de fato, se fosse possível escolher sobre ter ou não que depender de outras pessoas, certamente a independência predominaria sobre os demais sentimentos. Pode ser mais difícil, mais inconstante e dar muito mais medo. Mas se eu, sem medo, de uma hora pra outra tive metade dos meus sonhos de curto prazo jogados pela janela, de que adianta considerá-lo nessas decisões?

Medo a gente tem de ser passado pra trás. De não receber o que é nosso. De bancar o bobo. E isso pode acontecer, qualquer que seja a situação. O que a gente não pode é temer nossa capacidade, nosso talento, e nossa vontade de transformar os tais desejos em realidade. Somos o que somos, e pra melhorar, que sejamos melhores. Colecionemos boas histórias. Tenhamos boas pessoas por perto. Façamos o que sabemos, e não tenhamos medo de aprender e recomeçar. Eu poderia me acovardar agora, bancar o coitado e bradar aos ventos sobre a canalhice desse mercado prostituído, ou culpar as injustiças do mundo por ter me tornado mais uma vítima desse contexto podre.

Foda-se tudo isso. Eu só quero (e vou) trabalhar. E bem.

17h19

maio
2011
27

escrito por | em Umbigo | Nenhum comentário

Eu lembro de ter uma coisa muito minha com esse negócio de dias frios. Gostar de ficar num canto, quietinho, absorvendo pensamentos. Por sinal, pensar é um exercício de gente cabeçuda, coisa que eu nunca neguei ser. Confabular fantasias, imaginar hipóteses, fazer novos planos. Essa coisa de estar dentro de um microcosmo se desafiando a dar o próximo passo às vezes é tão necessário quanto realizar essas coisas todas. E a gente normalmente só realiza uns 10%, acumula 90 e planeja mais 30. E depois se sente incompetente por não conseguir entregar mais do que tudo, o que é de uma imbecilidade ímpar.

Mas é isso mesmo o que nós somos. Devoradores de sonhos, eternos navegantes de primeira viagem. Consertamos um problema, e tropeçamos nele daqui a pouco, mais uma vez, e outra, e outra. Alguns poucos possuem a disciplina e a inteligência suficientes pra evoluir dentro desse mundinho que só nossa cabeça conhece plenamente. Cada um com o seu, cada pessoa com seu caminho. Somos donos das nossas vidas até a página dois, onde tudo muda de novo e voltamos ao começo. Tem gente que cansa desse ciclo, sem notar que a cada recomeço a história muda. Os rituais de acordar e dormir, amanhecer e anoitecer, contar os dias, sim… a gente está sempre recomeçando. Viver de saudade, vangloriar as dores passadas como sendo nossas grandes conquistas – os extremos de vida – é desperdiçar esse recomeço. Ninguém disse que as coisas são simples. Por sinal, essa é a maior das lições a cada cabeçada que a gente dá. Rancores esfriam. Dores amansam. O tempo existe pra isso. As pessoas também. E o essencial, o verdadeiro, é sim a única coisa que permanece. Que torna-se imaculada, a imagem mais próxima da perfeição. A gente chama de esperança, de amor, de vida, de tudo. A gente vive pra isso. Pra sofrer até onde aguenta, e amar até o fim. Pra quem acredita no fim.