A vida é doce

ago
2012
01

escrito por | em Umbigo | 1 comentário

São 3 anos da morte do meu pai.

Normalmente quando essa data se aproxima, eu lembro de tudo o que a gente passou – principalmente nos últimos dez dias entre o derrame e o domingo em que ele faleceu. Hoje a lembrança já é razoavelmente distante, mas aqueles continuam sendo os piores dias da minha vida. E penso em escrever alguma coisa. Normalmente, fosse no aniversário dele ou nessa data, eu tendia às lembranças boas, ou alguns desejos que tive (tenho e terei) de contar pra ele como minha vida seguiu daquele 2 de agosto em diante.

Não é isso o que me ocorreu hoje.

Porque acompanhada de cada lembrança, vem a revolta com o vício que ele insistiu em levar acima da inteligência, e agora posso dizer, da responsabilidade. A gente tem o péssimo hábito de endeusar e eximir de culpa toda pessoa que se vai. Digo “péssimo” com a razão de hoje saber as besteiras que meu pai fez, deixando uns bons pepinos por aqui, que minha mãe tem se desdobrado pra resolver silenciosamente e enfim poder viver a própria vida em paz. Não, ele não foi um cara ruim, e todos nós erramos em algumas coisas nessa vida. Mas hoje sei que da mesma forma que o cara foi um pai bom e carinhoso, foi irresponsável numa porrada de coisa que possivelmente ele achou que conseguiria resolver sozinho. Não conseguiu.

Aí a gente nota que todo fumante, além de burro, é egoísta. Os caras acham que com eles não vai acontecer nada, e tudo se resolve lá na frente – possivelmente, com saúde inclusive. Parece incogitável que câncer aparece, espalha e mata – principalmente na gente. Aconteceu, e a bomba ficou aqui pra gente se virar. As coisas que aconteceram de errado na minha família continuam sendo problema nosso – ainda mais quando elas se repetem, e isso acontece bastante, mas não é da conta de ninguém. Nem todo viciado espalha a merda que faz, mas no nosso caso, sim, fedeu.

É uma tremeda cagada essa história de acreditar na vida que todo dia aparece no lindo e perfeito universo virtual. Às vezes é preciso lembrar que por trás de cada tela existe uma pessoa. Que a vida que a gente vive não é só nossa, mas uma equação do nosso tempo e do tempo de quem a gente escolhe pra nos acompanhar. Por isso, hoje, mais do que lembrar de quem meu pai foi (e sempre será) na minha vida – um cara que todo mundo já soube, leu ou conheceu, e isso não vai mudar nunca pois a essência é o que fica, e a dele está em mim – fica o toque pra qualquer pessoa que resolva perder 3 minutos lendo esse texto: ser responsável, saber dividir e cuidar de quem se ama são ações muito mais importantes do que possa parecer. Fodam-se as palavrinhas bonitas, as imagens de esperança, os bons conselhos. Cada dia é construído agora, e a gente permanece incapaz de saber quanto tempo nos resta por aqui. Portanto, deixem o melhor de vocês. Essa é a verdadeira essência. Dar o exemplo, ser educado, pensar aquilo que se faz, ser humilde… tudo isso é uma porra de uma lição diária que não está na Bíblia, nos textos do Veríssimo ou no raio que o parta: está no seu caráter.

Hoje eu olho pra minha mãe e pra Debs – a família que me restou, junto de alguns amigos que eu carrego por (muito) perto – e penso no que eu posso ser melhor, pra todos. Não, nem sempre eu sou. Buscar perfeição é burrice semelhante a pensar que só em nossas mãos que a bomba não estoura. Mas esse monte de coisa que eu acabei de escrever vem de mim, e é nisso em que eu acredito. Dando certo, dando errado, a gente muda todo dia. Toma exemplos. Faz do contrário.

Sim, dá pra fazer diferente e ser melhor. Pra que lá na frente, meu filho não olhe pra trás e veja que o pai perdeu seu casamento, não conheceu sua casa, não viajou com ele e não mimou seus netos. Da mesma forma que existe a saudade, existe a impotência de pensar que eu devia ter mudado as coisas com a mão, pra ver se hoje eu estaria vivendo somente mais um dia, e não lembrando do que é perder alguém tão importante nessa vida.

1 comment

Trackback e pingback

No trackback or pingback available for this article

Comente