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Welcome back

dez
2012
21

escrito por | em Música | Nenhum comentário

– Você quer adesivo?
– Pô, lógico que quero!

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Fui pra Paulista hoje, almoçar e pegar um prêmio (porque sim, eu ando nessa maré de ganhar prêmios – que bom né!) na Alpha FM. E eis que lá estava eu, saindo do elevador no 22º andar do 2200, quando trombo uma menina indo pras escadas, com uma camiseta da 89FM, que desde ontem à meia-noite está novamente no ar.

– Você tá trabalhando lá (perguntei apontando pra camiseta)?
– Tô sim.
– Parabéns pra todos vocês viu, desde ontem vocês tão arrebentando (e eu fui pra Paulista justamente ouvindo a 89 pelo caminho, estava desligando o celular naquele instante)…
– Valeu! Depois desce lá pra conhecer! A gente tá no andar de baixo.

E eu fui. Até adesivo eu ganhei – me senti com 16 de novo.

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Essa introdução toda foi justamente pra registrar a empolgação que eu – e tenho certeza, tanta gente está sentindo hoje. Porque durante alguns vários anos nós, adeptos do bom (e nem sempre velho) rock ficamos à mercê de uma única rádio, com os clássicos do gênero. Fora isso, downloads e rádios online foram o meio de adaptação de toda uma geração às novidades do gênero. De certa forma, foi cada um pra um canto cultivar o que gostava.

Portanto, que delícia foi ligar o rádio hoje (sim, ligar o rádio) e ouvir aquilo que a gente gosta. E não só os dinossauros (sim, eles são ótimos, mas ouvir Rush 8 vezes por dia arrebenta qualquer saco). Teve Muse, System Of A Down, Kings Of Leon, Killers… teve coisa que só tocava aqui em casa. E teve coisa que eu nunca havia ouvido. Sim, foi feita muita coisa depois dos anos 80. MUITA COISA BOA. E agora dá pra ligar ou escrever pros amigos e falar “você ouviu isso? Põe na 89 que tá tocando…”

Beira ao saudosismo, com um porém: não é. Porque resgata sim muita coisa boa que a gente um dia já viveu, mas também traz muita novidade e muita possibilidade nova um retorno desses. A volta da 89 se diferencia dos revivals atuais por carregar sim muita bagagem, e agregar tantas outras coisas daqui em diante. A sensação do dia é que sim, existe ainda muita lenha a se queimar debaixo desses dois números. Talvez uma lenha que não acabe. E o sentimento é muito próximo ao de reencontrar aquela pessoa que em algum momento fez parte de um capítulo importantíssimo da tua vida, e que mesmo com tantos anos, parece que você viu ontem.

Foi uma honra pisar no estúdio dos caras hoje. Eu não entrei, não quis atrapalhar nada tão bacana e tão grandioso pra quem teve que se adaptar nesse meio tempo, mas que num dia como hoje nota o quanto essa rádio fez falta.

Parabéns pra todo mundo que suou por isso, boa sorte, e o sucesso inevitável pra vocês (e continua sendo o logo mais bonito entre todas as rádios, disparado).

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Segunda-feira eu enfim assisti ao James. Que é uma banda, e não um cara.

Digo “enfim” porque é daquelas bandas que a gente adota sem ajuda externa. Assim como aquele filme que só você viu, a roupa que só você tem, quem gosta do James normalmente tem que explicar que “sim, é uma banda”, “sim, com certeza você conhece alguma(s) música(s) deles” e esse tipo de coisa. E quando anunciam um show desses pelo caminho, acontece uma via de mão dupla: a imensa (e inevitável) vontade de ir, e a total falta de companhia pra uma empreitada dessa natureza – ainda mais na emenda meioca gelada de um feriado. Mas justifica-se o sacrifício pela qualidade dos caras, por uma expectativa enorme quanto ao ótimo som da banda, pelo carisma dos músicos, e aquele “enfim” do início desse parágrafo foi devidamente explicado.

Depois de me perder por duas vezes, cheguei ao Cine Jóia faltando 20 minutos pro show começar. Entrei em seguida e a casa estava bem mais cheia do que no Mark Lanegan duas semanas antes, mas mesmo assim ainda havia conforto suficiente pra você ficar onde quisesse. Numa olhada rápida, notava-se que a média de idade do público era sim a minha, dali pra até um pouco mais. E que havia sim muita gente sozinha por lá também – mas não, longe de ser um índice depressivo, rolava mesmo era uma ansiedade pela entrada dos 7 no palco. Além disso, uns indies sempre meio perdidos nessas situações – padrão para o local, deu pra comprovar – e uma meia dúzia de pessoas pra filmar o show. Vale uma linha pra falar do chato que estava atrás de mim, e que no alto de seus 40 anos, de boné e jaqueta, só sabia gritar “eeeEEEÊÊEEEeee” no meio das músicas após o início do show, em horas que ninguém estava se manifestando. Sim, com muito ou pouco público, sempre alguém destoa – e esse alguém tá sempre perto de mim, porque nada é fácil nessa vida.

Vinte minutos de atraso e os caras sobem ao palco. Após um início equivocado com duas músicas fracas, parecia que a coisa desandaria. Eis que surge “Seven” (uma das meia dúzia de músicas que as pessoas conhecem sem saber), e Tim Booth (o vocalista) já vem pra cima da galera e dá um mosh tímido mas eficiente o suficiente pra levantar a galera. E emenda com “Ring The Bells” e “Laid”. A coisa engrena definitivamente, e eu penso “os caras vão queimar os pouquíssimos hits assim de cara?”…

O que se seguiu foi um show de idas e vindas, intercalando gostos de banda e público. Músicas deles, músicas pra gente. Em “Born Of Frustration”, Booth sai do palco e reaparece em cima do bar, perto da entrada do Jóia. Vai cantar no meio da galera, e a coisa parece aquele show dos teus amigos, em que todo mundo curte, dança e canta sem se preocupar muito com os arredores.

Virou pista de dança o cinemão, e antes da saída dos caras do palco, seria indiscutível a chegada da música mais conhecida deles por aqui. E “Sit Down” foi devidamente berrada e pulada. Um barato. Vieram os bis (dois deles), sendo o segundo uma exigência dos fãs: ninguém demoraria 30 anos pra vir a um país e esqueceria de tocar “Sometimes”, e um a um, os músicos voltaram pro palco durante a música.

Até eu apareço no videozinho…

Ao final do show, a impressão que dava era a mesma: tanto a banda quanto o público estavam plenamente satisfeitos, e de uma certa forma com cara de surpresa. Algo como em cima do placo surgir um balãozinho escrito “Demoramos 30 anos, esses caras não falam nossa língua e eles cantam e conhecem a gente desse jeito?”, enquanto na pista lia-se “Aqui é assim mesmo… acostumem-se e tratem de voltar logo, cambada de magrela”. Foi-se o frio, a ansiedade e todo o resto. Pros poucos que esperavam, de fato o James é aquilo que se imaginava. Às vezes, até melhor. E de fato, é muito difícil entender como esses caras não estouraram.

De verdade

abr
2012
16

escrito por | em Música, Umbigo | 2 comentários

Mark Lanegan @ Cine Jóia

Pegue todo aquele mundo de sensações que você viveu, outras tantas que você vive, um bom punhado de memórias e cicatrizes, junte tudo, jogue pra dentro e reserve por um tempo – uns anos, ou vários. Então vá a um lugar miúdo, aconchegante e obscuro. Aguarde alguns minutos, e ao apagar de luzes, espere os primeiros acordes. Quando a voz de um cara surgir, olhe pra cima, e solte tudo aquilo em direção ao teto – seja cantando, dançando (quando e se for possível) ou simplesmente contemplando. Esqueça do mundo por uma hora e meia mais ou menos, e mergulhe naquela nuvem hipnótica de luzes vermelhas, melodia vezes pesada vezes leve, e a voz que rasga. Aplauda, sempre, e saia absolutamente satisfeito por ter realizado um dos grandes momentos da sua vida, sem a menor sombra de dúvida.

Resumindo, Mark Lanegan foi isso.

16

abr
2012
13

escrito por | em Música, Umbigo | Nenhum comentário

Quando se tem 16 anos, sua vida se assemelha a um oceano: há um horizonte completamente desconhecido, de uma profundidade assustadora, e escolhe-se naquele ou em outros momentos quando mergulhar, quando arriscar e quando contemplar. Nada se sabe sobre o outro lado, e atravessar pode te jogar num universo de curiosidade ou te deixar em estado de pânico. A inércia te deprime, a busca por algo que não se sabe o que é só depende das tuas forças, e o rumo a ser tomado é qualquer um. Só depende de você.

Foi uma época de mudanças absolutamente profundas na minha vida. Uma mudança de colégio, pra longe de tudo o que me era familiar, em condições novas e ruins: não tínhamos dinheiro, passávamos por uma dificuldade enorme em casa para nos manter, e em uma época onde todo adolescente quer e precisa descobrir o mundo, eu fui parar na sala de uma psicóloga, mergulhado numa depressão que até aquele momento era segredo meu e de mais ninguém.

E nessa mesma época eu já mergulhava e nadava de braçada em outros mares, uma vez que meu oceano parecia não me pertencer naquele instante. Das companhias que havia escolhido entre as paredes do meu quarto, os sempre presentes discos, revistas de rock, a ainda viva MTV. E numa tarde qualquer uma voz surgiu ali do nada, e naqueles momentos em que você não sabe bem dizer o porquê das coisas, parei por uns segundos pra ver quem era o cara que cantava aquilo. Um “aquilo” bonito de emocionar.

Passaram-se os mesmos 16 anos. E amanhã eu verei esse cara ao vivo.

A voz rasgada e rouca, a densidade da melodia e das letras, a banda absolutamente competente – mas sempre secundária, fosse qual fosse. Ao contrário de tantos outros artistas, aquele ruivo parecia não precisar de chapéus, cigarros, ternos vintage ou ambientes soturnos pra destilar cada canção, e aquilo de alguma forma me trazia minha própria identidade. A gente não precisa estar no submundo, mergulhado numa eterna noite fria pra que as coisas machuquem. A dúvida, a angústia e o sentimento de algo estar fora do lugar (mesmo que esse algo fosse eu) – tudo se encaixava e estava ali, pingado de quatro em quatro minutos. A gente é testado todos os dias, todo o tempo, e num dia calmo e ensolarado ou madrugada adentro, aquilo me vestia. Com o passar do tempo, a gente esquece dos fatos, e até das sensações. Só sabe que aquilo foi importante pra fazer a gente se tornar o que é agora, e a música tem esse caráter atemporal que te permite por alguns instantes transformar uma memória dispersa em algo novamente significativo.

Foi-se aquele tempo. Minha idade dobrou. Mas o significado daquela época, as lembranças que eu tenho daquilo que vivi, e tanto desses dias que foram e continuam sendo algo que só eu entendo o que significam e o quanto mexem comigo quando vêm à tona. Obviamente a gente cresce, fica menos urgente, passa a priorizar e se importar com coisas cada vez mais relevantes – e menos numerosas. Tira o pé. Já entrou no tal oceano, e viu que pra não afundar é só nadar. Às vezes cansa, às vezes excita – os dias vêm e a vontade em cada um deles é diferente.

Nesse caso, minhas memórias remetem a dias em que estive absolutamente sozinho, por opção ou não. Com a cabeça maturando mudanças que não fazia a menor ideia se seriam boas ou não, nem mesmo se aconteceriam. Mas eu precisava tentar, alguma coisa tinha que ser feita pra não me afogar naquilo tudo. Particular, essencial na época, e hoje parece até meio bobo se o repertório acumulado desde então for levado em conta. Mas foram meus momentos. Eram as minhas músicas, que eu guardava e escondia pra mim, e quando ninguém estivesse olhando, eu cantava do meu jeito, a plenos pulmões, querendo que por dento daquilo que sentia o rasgar fosse o mesmo que eu ouvia naquela voz.

O mundo girou, 5844 vezes exatamente pra ser exato. Explicar essas coisas agora parece algo adolescente, eu sei, mas a gente já foi assim, da mesma forma que já foi criança e um dia será velhinho. Rir do passado não é desmerecê-lo, mas saber que a gente cresceu. Que dificuldades foram superadas. Que somos mais donos hoje em dia do nosso próprio destino, mesmo que esse oceano de fato não tenha fim e continuemos sem saber o que vamos encontrar, e nem quando, como e se vamos chegar a algum lugar. Mas saber que a vida não é uma linha reta, e que qual seja o destino que a gente escolhe, a gente sempre encontra pelo caminho outras pessoas nadando, igualmente sem direção e sem parâmetro. Escolhemos as melhores companhias, e a viagem deixa de ser tão assustadora assim.

E claro, levando junto trilhas sonoras igualmente importantes. No caso, meu rumo até amanhã pelo menos eu já sei qual é. Até mais, Lanegan.

Blackbird

abr
2012
02

escrito por | em Música | Nenhum comentário

Esse negócio de estar por conta é uma dureza que quem não tenta sequer imagina. É a forma mais literal, inconsequente e nua de se, ao custo que for necessário, tentar realizar um sonho. Sim, a gente nasce sozinho, pra crescer e viver pros outros. A essência do ser humano é ser ele mesmo com os aditivis de quem se ama e as lições de quem se perde. Somos nós, que nos criamos e reinventamos a todo momento. E se não os fazemos, devíamos.

Sei bem do quão difíceis têm sido meus caminhos, mas nesse momento não os troco por nada. E da mesma forma, muito me orgulha os que têm a coragem e a vonatde necessária pra mudarem o próprio rumo, e repensarem seus caminhos: seja numa mudança de rumos profissionais, numa viagem desbravadora, numa pisada fora da linha ou numa escapada da zona de conforto. Esses são os meus maiores espelhos… as pessoas que fazem da vida algo por vezes inesperado, nos tirando dessa inércia enlouquecedora que os mundo nos mergulha todos os dias.

Por isso mesmo, quando surge algo novo, de alguém querido, nada me resta a não ser apoiar. Viver junto quando possível. Dividir – comigo mesmo, com essa pessoa, e nesse momento, com aquela meia dúzia que insiste em vir procurar notícias por aqui. Era muito talento pra caber num banquinho e num violão, em rodinhas de amigos. Cabia ali algo mais… uma sequência, uma variedade de ritmos, e sim, a mesma voz de sempre. Parabéns neguinha: que seja o primeiro disco de muitos, com a qualidade que eu já conheço, e que eu espero, o mundo saiba a partir de agora.

Um beijão, e voa alto.

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Não é de hoje meu gosto por música. Já me arrisquei a ter um blog somente com esse assunto, pois tenho certeza que não é necessário nenhum conhecimento técnico sobre o assunto pra conseguir distinguir o (meu) bom do (meu) ruim. Música pra mim sempre foi paixão pura, visceral e completamente abstrata, cujo único contexto explicável é seu estado de espírito e de coração.

Admiro os estudiosos virtuosos da mesma maneira que valorizo os punks de três acordes e nenhuma técnica. Desacredito completamente na música como ciência exata, onde quem é mais rápido ou mais técnico é melhor que o que não é. Por sinal, acho sim qualquer comparação descabida: cada banda ou artista vem de determinada época e contexto, e assume uma proposta só sua. Não compete nem mesmo dentro de um estilo, pois se o fizesse não teríamos ídolos, mas torcidas.

Obviamente, temos nossas preferências, comparamos sim (porque somos humanos e nesse A+B discorremos por horas sobre quem fez o melhor disco, o melhor solo, a melhor formação, viajamos no tempo e colocamos frente a frente vivos e mortos, montamos seleções, enfim). Por isso mesmo, creio que cada época tenha sim seu valor – senão imediato, digno de atenção neste e nos anos que seguirão. E não as comparo, da mesma forma que não comparo Pelé com Neymar, Fangio com Schumacher, feijão com morangos. Cada um tem seu valor, sua hora e seu espaço na nossa vida.

Dito isso, vim aqui pro meu canto exemplificar em dez momentos bandas que vieram após os (sim, valorosos) anos 80, e que ao menos a mim dizem que a música ainda tem sim muito a acrescentar além daquela nossa discografia básica dos dinossauros do rock, pop, soul, enfim… chame do que quiser. Eu acredito que nunca é tarde pra se descobrir um novo e bom momento em 3 ou 4 minutos de uma melodia que você nem sabia que existia. E existe. Não existe ordem, melhor ou pior. São somente dez exemplos. E logo abaixo, as datas e os discos…

The Detroit Cobras (1995-)
Bad Girl
Mink Rat or Rabbit (1998)

Garbage (1993-)
Why Do You Love Me?
Bleed Like Me (2005)

Keane (1997-)
Somewhere Only We Know
Hopes And Fears (2004)

Mika (2006-)
Love Today
Life in Cartoon Motion (2007)

Duffy (2006-)
Warwick Avenue
Rockferry (2008)

Ryan Adams (1991-)
Come Pick Me Up
Heartbreaker (2000)

The Killers (2002-)
Bones
Sam’s Town (2006)

The Donnas (1993-)
Take It Off
Spend The Night (2002)

John Mayer (1996-)
Belief
Continuum (2006)

Jamie Cullum (1999-)
All At Sea
Twentysomething (2003)

Obviamente utilizei critérios:

1) As bandas devem possuir mais de um disco;
2) As banda não precisam necessariamente de hits (dado que todo rockeiro curte se meter a desbravador underground, e eu não sou diferente);
3) As bandas podem tocar estilos de outras épocas (estamos discutindo qualidade musical, não inovações de gênero);
4) As bandas DEVEM ser boas de palco (por isso mesmo todos os vídeos serem ao vivo, uma vez que metade das bandas dos anos 80 não conseguiria emplacar um hit que fosse sem efeitos de estúdio, comerciais de cigarro e filmes do John Hughes).

Dito isso, aproveitem, comentem, sugiram e se divirtam.

That’s life

ago
2011
31

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Estávamos assistindo Sister Act anteontem, um dos filmes preferidos da Debs e que eu gosto (e muito) também. Se você por algum motivo não assistiu, a história se passa numa igreja, onde Whoopi Goldberg se esconde após ter testemunhado um crime, e por lá tumultua geral a vida das freirinhas. Não estou aqui pra falar do filme, muito menos fazer análise de coisa alguma. Mais do que o desfecho da história, vale mesmo cada uma das cenas onde a música surge como revolução pessoal e de grupo: seja quando as moças invadem um boteco, seja quando se organizam num coral e acabam atraindo a comunidade de volta às missas. A grande virada está ali, mergulhada em melodia.

O grande milagre que as pessoas subestimam. A música não existe somente para compor a trilha sonora de determinados momentos da sua vida. Quais não são as lembranças que ela nos traz? Minhas memórias mais fortes de infância acontecem em frente à vitrola Phillips de casa, ou acordando ao som das músicas da Jovem Pan AM. Os Natais nunca aconteceram sem as vozes do Fischer Choir, pontuais na virada do dia 24, deixando em segundo plano até mesmo Papai Noel. Meus domingos começavam melhores com o tema da vitória, de Eduardo Souto Neto ao final das corridas de F1. O hino do meu time, a música lenta dos bailinhos de aniversário (sim, uma das músicas que mais me traz recordações – morram de rir – é “Vou de Táxi” da Angélica), até mesmo o hino nacional em dias de Copa. Tem gente que até hoje cantarola os temas de alguns desenhos animados…

E eu falei somente de momentos da infância. Pra exemplificar.

É muito difícil crescer no silêncio. Alguma voz tem que ser capaz de nos representar, e aquilo que sentimos. Acabamos imergindo pouco a pouco e encontrando em um punhado de ídolos a identidade não só de nossas melodias, mas de nosso significado. Gritamos, choramos, bradamos aos quatro cantos aquilo que somos e aquilo que sonhamos ser. Alguns permanecem, outros são trocados por coisas que desdenhávamos quando nossos pais ouviam. Dali em diante, passamos a entender que o mundo não começou quando nascemos, e que sim, pessoas já amavam, sofriam, viviam e morriam há algumas gerações. Um pouco cafonas, um pouco datados, mas ignoramos detalhes em prol do talento e da evidente atemporalidade de quem se fez ouvir com competência e acompanhou vidas e mais vidas sem sequer saber. Essa é a grande magia da coisa.

A música é nossa companhia eterna. Talvez a única, que você deseja encontrar quando mais ninguém é capaz de te entender. E não que ela consiga suprir nossas necessidades, mas ela dá voz ao que não temos coragem ou saúde de externar. Outras vezes, ela serve apenas de base para que possamos abrilhantar ainda mais nosso sucesso. Não é qualquer papel que se cumpre. E exatamente por isso, compreendê-la como somente um pano de fundo pras nossas ações é completamente leviano.

Dedicar ou compartilhar música exige respeito. Responsabilidade. Saber que três ou quatro minutos são suficientes para mudar toda uma vida de alguém, e por isso mesmo tratá-la como qualquer coisa é tratar a vida como inércia. Nunca se sabe o que uma memória musical é capaz de carregar para qualquer outra pessoa – às vezes, até mesmo pra gente. Já fiz uma amiga chorar por escolher “Everybody Hurts” para ilustrar certo momento da minha vida; após a morte do meu pai, passei meses sem conseguir ouvir a voz de Sinatra; voltei choroso e por dias assim fiquei após meu primeiro show, e ouvir Guns N’ Roses naqueles dias era invocar um verdadeiro hecatombe de sentimentos; escolhi dezenas de músicas para embalar minhas paixões, e centenas para freá-las após cada decepção. Escolhemos somente uma para nosso casamento. Todas, absolutamente todas, marcaram. Não há música certa. Não há filme certo. Não há nome certo. O que há de fato é um momento, que começa quando você nasce, e termina quando você morre.

Mais do que qualquer recordação, música – assim como a vida – a gente vive. Trate-as, ambas, muito bem. Ou, assim como sua vida, suas músicas de nada servirão ao final de sua história. Afinal, como fazer de uma vida marcante se seus melhores momentos são encarados sem a devida importância?

P.S.: Justiça seja feita: terminemos com música, e voltando ao início desse texto, com aquilo que ele teve de melhor. Musique mais alguns minutos de seu dia.

O som e o silêncio

jun
2011
13

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Setenta e oito mil músicas em quatro anos. É o que aponta o contador da minha Last.FM daqui a alguns instantes. Multiplique esse milhar por 3 minutos (o tempo médio de uma música, o tempo médio de leitura dos textos que coloco aqui há quase 10 anos, e essa combinação não é uma coincidência), e você terá um apanhado daquilo que pode-se dizer “a trilha sonora de uma vida”. Uma vida que foi de altos celestes a profundos mergulhos. Que teme o silêncio da solidão, e grita num coração por pouquíssimas vezes tranquilo, e eternamente inquieto (pra explicar o conceito, e não deixar nada mal-entendido). Sim, eu tenho medo do silêncio, que normalmente traz a dúvida, envenena o pensamento, soca o estômago. A vida não merece essa inércia de marasmo, e pra isso serve a música. Música que me ajuda, me atrapalha, me inspira, me traduz e me sufoca por tantas e tantas vezes, mas que nunca me abandona. A companhia de sempre, em todos os momentos. Não existe nada de grandioso, muito menos que mereça comemoração num momento desses. É apenas um registro. Números são números, e pouco dizem normalmente. Mas certamente se algum dia, alguém quiser perder tempo escrevendo sobre mim, um conselho: não o faça. Aperte o play.

Isso autentica de fato quem eu sou.

Hold On

jun
2011
06

escrito por | em Música | 1 comentário

Algumas coisas são simplesmente bonitas. Há dias essa música está na minha cabeça. E apesar da melancolia da melodia e da letra, foi essa a trilha sonora que eu escolhi sem nenhum critério pra um momento de recomeço. A escolha foi instintiva. O caminho, eu já sei. Agora é só trabalhar. E trabalhar é comigo mesmo.

Tem gente que não tem sorte. Felizmente, não é o meu caso.

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Estávamos eu e a Debs dia desses na Saraiva do Shopping Eldorado. Ela, folheando livros de viagem. Eu, pesquisando DVDs do Hitchcock. Somente eu encontrei o que queria (ela também encontrou, sempre encontra, mas nem sempre esses livros cabem no nosso bolso), e fui até o caixa levar a habitual mordida. Eis que na loja, começa a tocar “Imagine”. Justamente na hora em que sou chamado pelo caixa, que sem grandes constrangimentos, canta a música na minha frente, do começo ao fim. E sim, se emociona com a dita.

Essa é a grande graça da música. O grande mérito. Só ela é capaz de carregar essa carga emocional, e essa coisa tão pessoal que cada um de nós sente, de um jeito diferente. E por isso mesmo, tentar falar sobre ela é um desafio dos grandes. Como tentar traduzir uma paixão em palavras, coisa que a gente passa a vida tentando fazer, e normalmente acha que sequer chegou perto de conseguir. Algo que eu sempre gostei, e vez ou outra arrisco, deixando umas dicas por aqui. Porque eu vivo música mesmo, não suporto silêncio, e detesto ficar na inércia. Então vou atrás, me aprofundo e estudo, mesmo que seja só pra mim. Há algumas semanas, esse hábito ganhou corpo em outro lugar. Com mais dois amigos.

O Música Por 3 é um canto que a Mel montou, e que juntamente com o Allan, eu escrevo justamente sobre ela: a música. E como toda nova paixão, tem roubado minha atenção – atenção inclusive, que normalmente eu dedico a esse espaço exclusivamente nos últimos (quase) dez anos. E tem sido uma delícia essa coisa de encarar de frente e declaradamente o desafio de tentar aproximar, em palavras, as sensações geradas pelo meu universo musical particular. Redescobrir discos, estudar um pouco mais os artistas, garimpar algumas coisas, é um tesão essa coisa de aprender mais e mais justamente sobre aquilo que você gosta de verdade. Nunca tive talento nem capacidade de tocar nada, mas me sinto plenamente capaz de opinar, indicar e comentar muita coisa que normalmente eu costumo mesmo é ouvir, e só.

Tivemos um retorno até que bom de quem já leu. Eu pessoalmente não ligo muito pra esse negócio de audiência – escrevo mesmo é pra mim e praquela meia dúzia com quem costumo comentar diretamente o que escrevo: isso é lição aprendida justamente num blog que está prestes a completar uma década, e cujos índices de acesso não me interessam em nada. Mas o mais legal de tudo isso tem sido justamente triangular dicas de coisas que a gente conhece, que nem sempre a gente gosta, ou mesmo coisa que a gente nunca ouviu falar, e quando ouve gosta (ou não). Produzir um conteúdo que sempre me encantou, e que de certa forma rege minha vida (dada a quantidade e qualidade de música que eu escuto todos os dias, o tempo todo) é das coisas mais prazerosas que eu já provei. Os textos dos dois têm sido ótimos, e já dá pra garantir que a ideia deu certo. E tende a melhorar com o tempo.

Portanto, fica o registro. De que ele existe, e está lá, pronto a ser conhecido por vocês. De um pedido de desculpas também, pelas lacunas nas publicações nesse espaço. E da coincidência, de poder apresentá-lo por aqui, introduzindo o assunto com um “causo” sobre uma música que é das coisas mais lindas já feitas, e que hoje ganhou corpo por lá, num texto ótimo. E que não é meu. Divirtam-se!