That’s life

ago
2011
31

escrito por | em Música | 1 comentário

Estávamos assistindo Sister Act anteontem, um dos filmes preferidos da Debs e que eu gosto (e muito) também. Se você por algum motivo não assistiu, a história se passa numa igreja, onde Whoopi Goldberg se esconde após ter testemunhado um crime, e por lá tumultua geral a vida das freirinhas. Não estou aqui pra falar do filme, muito menos fazer análise de coisa alguma. Mais do que o desfecho da história, vale mesmo cada uma das cenas onde a música surge como revolução pessoal e de grupo: seja quando as moças invadem um boteco, seja quando se organizam num coral e acabam atraindo a comunidade de volta às missas. A grande virada está ali, mergulhada em melodia.

O grande milagre que as pessoas subestimam. A música não existe somente para compor a trilha sonora de determinados momentos da sua vida. Quais não são as lembranças que ela nos traz? Minhas memórias mais fortes de infância acontecem em frente à vitrola Phillips de casa, ou acordando ao som das músicas da Jovem Pan AM. Os Natais nunca aconteceram sem as vozes do Fischer Choir, pontuais na virada do dia 24, deixando em segundo plano até mesmo Papai Noel. Meus domingos começavam melhores com o tema da vitória, de Eduardo Souto Neto ao final das corridas de F1. O hino do meu time, a música lenta dos bailinhos de aniversário (sim, uma das músicas que mais me traz recordações – morram de rir – é “Vou de Táxi” da Angélica), até mesmo o hino nacional em dias de Copa. Tem gente que até hoje cantarola os temas de alguns desenhos animados…

E eu falei somente de momentos da infância. Pra exemplificar.

É muito difícil crescer no silêncio. Alguma voz tem que ser capaz de nos representar, e aquilo que sentimos. Acabamos imergindo pouco a pouco e encontrando em um punhado de ídolos a identidade não só de nossas melodias, mas de nosso significado. Gritamos, choramos, bradamos aos quatro cantos aquilo que somos e aquilo que sonhamos ser. Alguns permanecem, outros são trocados por coisas que desdenhávamos quando nossos pais ouviam. Dali em diante, passamos a entender que o mundo não começou quando nascemos, e que sim, pessoas já amavam, sofriam, viviam e morriam há algumas gerações. Um pouco cafonas, um pouco datados, mas ignoramos detalhes em prol do talento e da evidente atemporalidade de quem se fez ouvir com competência e acompanhou vidas e mais vidas sem sequer saber. Essa é a grande magia da coisa.

A música é nossa companhia eterna. Talvez a única, que você deseja encontrar quando mais ninguém é capaz de te entender. E não que ela consiga suprir nossas necessidades, mas ela dá voz ao que não temos coragem ou saúde de externar. Outras vezes, ela serve apenas de base para que possamos abrilhantar ainda mais nosso sucesso. Não é qualquer papel que se cumpre. E exatamente por isso, compreendê-la como somente um pano de fundo pras nossas ações é completamente leviano.

Dedicar ou compartilhar música exige respeito. Responsabilidade. Saber que três ou quatro minutos são suficientes para mudar toda uma vida de alguém, e por isso mesmo tratá-la como qualquer coisa é tratar a vida como inércia. Nunca se sabe o que uma memória musical é capaz de carregar para qualquer outra pessoa – às vezes, até mesmo pra gente. Já fiz uma amiga chorar por escolher “Everybody Hurts” para ilustrar certo momento da minha vida; após a morte do meu pai, passei meses sem conseguir ouvir a voz de Sinatra; voltei choroso e por dias assim fiquei após meu primeiro show, e ouvir Guns N’ Roses naqueles dias era invocar um verdadeiro hecatombe de sentimentos; escolhi dezenas de músicas para embalar minhas paixões, e centenas para freá-las após cada decepção. Escolhemos somente uma para nosso casamento. Todas, absolutamente todas, marcaram. Não há música certa. Não há filme certo. Não há nome certo. O que há de fato é um momento, que começa quando você nasce, e termina quando você morre.

Mais do que qualquer recordação, música – assim como a vida – a gente vive. Trate-as, ambas, muito bem. Ou, assim como sua vida, suas músicas de nada servirão ao final de sua história. Afinal, como fazer de uma vida marcante se seus melhores momentos são encarados sem a devida importância?

P.S.: Justiça seja feita: terminemos com música, e voltando ao início desse texto, com aquilo que ele teve de melhor. Musique mais alguns minutos de seu dia.

1 comment

  1. Mel

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