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Segunda-feira eu enfim assisti ao James. Que é uma banda, e não um cara.

Digo “enfim” porque é daquelas bandas que a gente adota sem ajuda externa. Assim como aquele filme que só você viu, a roupa que só você tem, quem gosta do James normalmente tem que explicar que “sim, é uma banda”, “sim, com certeza você conhece alguma(s) música(s) deles” e esse tipo de coisa. E quando anunciam um show desses pelo caminho, acontece uma via de mão dupla: a imensa (e inevitável) vontade de ir, e a total falta de companhia pra uma empreitada dessa natureza – ainda mais na emenda meioca gelada de um feriado. Mas justifica-se o sacrifício pela qualidade dos caras, por uma expectativa enorme quanto ao ótimo som da banda, pelo carisma dos músicos, e aquele “enfim” do início desse parágrafo foi devidamente explicado.

Depois de me perder por duas vezes, cheguei ao Cine Jóia faltando 20 minutos pro show começar. Entrei em seguida e a casa estava bem mais cheia do que no Mark Lanegan duas semanas antes, mas mesmo assim ainda havia conforto suficiente pra você ficar onde quisesse. Numa olhada rápida, notava-se que a média de idade do público era sim a minha, dali pra até um pouco mais. E que havia sim muita gente sozinha por lá também – mas não, longe de ser um índice depressivo, rolava mesmo era uma ansiedade pela entrada dos 7 no palco. Além disso, uns indies sempre meio perdidos nessas situações – padrão para o local, deu pra comprovar – e uma meia dúzia de pessoas pra filmar o show. Vale uma linha pra falar do chato que estava atrás de mim, e que no alto de seus 40 anos, de boné e jaqueta, só sabia gritar “eeeEEEÊÊEEEeee” no meio das músicas após o início do show, em horas que ninguém estava se manifestando. Sim, com muito ou pouco público, sempre alguém destoa – e esse alguém tá sempre perto de mim, porque nada é fácil nessa vida.

Vinte minutos de atraso e os caras sobem ao palco. Após um início equivocado com duas músicas fracas, parecia que a coisa desandaria. Eis que surge “Seven” (uma das meia dúzia de músicas que as pessoas conhecem sem saber), e Tim Booth (o vocalista) já vem pra cima da galera e dá um mosh tímido mas eficiente o suficiente pra levantar a galera. E emenda com “Ring The Bells” e “Laid”. A coisa engrena definitivamente, e eu penso “os caras vão queimar os pouquíssimos hits assim de cara?”…

O que se seguiu foi um show de idas e vindas, intercalando gostos de banda e público. Músicas deles, músicas pra gente. Em “Born Of Frustration”, Booth sai do palco e reaparece em cima do bar, perto da entrada do Jóia. Vai cantar no meio da galera, e a coisa parece aquele show dos teus amigos, em que todo mundo curte, dança e canta sem se preocupar muito com os arredores.

Virou pista de dança o cinemão, e antes da saída dos caras do palco, seria indiscutível a chegada da música mais conhecida deles por aqui. E “Sit Down” foi devidamente berrada e pulada. Um barato. Vieram os bis (dois deles), sendo o segundo uma exigência dos fãs: ninguém demoraria 30 anos pra vir a um país e esqueceria de tocar “Sometimes”, e um a um, os músicos voltaram pro palco durante a música.

Até eu apareço no videozinho…

Ao final do show, a impressão que dava era a mesma: tanto a banda quanto o público estavam plenamente satisfeitos, e de uma certa forma com cara de surpresa. Algo como em cima do placo surgir um balãozinho escrito “Demoramos 30 anos, esses caras não falam nossa língua e eles cantam e conhecem a gente desse jeito?”, enquanto na pista lia-se “Aqui é assim mesmo… acostumem-se e tratem de voltar logo, cambada de magrela”. Foi-se o frio, a ansiedade e todo o resto. Pros poucos que esperavam, de fato o James é aquilo que se imaginava. Às vezes, até melhor. E de fato, é muito difícil entender como esses caras não estouraram.

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