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A alegria

dez
2012
17

escrito por | em Futebol, Vidinha | 1 comentário

Ontem o Corinthians foi campeão mundial, de novo.

Ontem eu não seria capaz de escrever nada. Por isso mesmo resolvi escrever hoje, após um longo, tenebroso e silencioso período onde eu preferi ouvi a falar por aí. Porque acho que mais do que o futebol, merece o registro a manhã de ontem.

Ontem, que acordei cedo e feliz num domingo. Eram 7h, e a Dé virou pra mim, ainda na cama e perguntou “Amor? Você tá bem? Tá nervoso?”, num primeiro momento dos já quase 3 anos de casamento onde lembro que, pela primeira vez, ela (não) acordou mais lúcida que eu. Tomei meu banho, vesti a camisa e saí pra buscar minha mãe, que mora a pouco mais de 5km daqui de casa. Pouca gente na rua, sendo metade com o manto alvinegro. Poucos minutos depois estava na casa da Paquinha, onde ela e a Pimpolhinha (a cachorrinha) estavam prontas pra vir pra cá. Entre um “vai Corinthians” daqui e um “é hoje!” dali, chegamos rapidamente em casa.

Ontem a Dé decidiu deitar na rede, e de lá acompanhar meu sofrimento. A mãe na poltrona, o sofá pra mim e meus tapas, berros e pulos. E lá ficamos, todos, calmamente sofrendo por um time cirúrgico e cuja eficiência já não preciso mais detalhar. A esposa curtindo a bagunça, a mãe que dizia estar muito preocupada comigo a cada jogo, mas que se mostrou mais nervosa que eu por tantas vezes. Eu? Nem sei descrever como eu era naquele momento. Mas fomos, todos, Corinthians a cada defesa do Cássio, e no gol do Guerrero.

Ontem eu chorei feito criança a cada momento que pude. Fosse no gol, num milagre, no apito final, na taça erguida ou no hino, tocando alto e lindamente no outro lado do mundo. Acabou ali, saímos pra comprar a cerveja e a carne pro almoço. A festa na rua sempre miúda e silenciosa, o cumprimento provocativo mas extremamente gente boa do santista da adega, do pessoal do mercadinho, do cara no ponto do ônibus que eu nem conhecia, mas que me deu um abraço. Quem era essa gente “que estava tão feliz por nada…?” Essa gente é aquela que não se incomoda em comemorar um momento de pura alegria como se fosse o último, não importando sob qual motivo.

Ontem o motivo foi o Corinthians – um motivo que quem vive sabe o quanto é capaz de unir uma família num momento espontaneamente perfeito. E sem dúvida, desde ontem, eterno. Que seja hoje o registro dessa felicidade, e que seja eterna a lembrança de umas 4 ou 5 horas das quais eu não seria capaz de retocar uma vírgula.

32 anos, e dias

fev
2012
01

escrito por | em Umbigo, Vidinha | Nenhum comentário

Meu ano novo coincidentemente começa um mês após o ano novo de todo mundo. Eu gosto muito dessa minha data de janeiro – mas só agora que fiquei velho, dado que quando criança festinhas de aniversário eram absolutamente impensáveis, com todo mundo viajando de férias. Estar em casa também me ajudou a ter um dia ideal, com cafés, almoços e jantares condizentes, mensagens e telefonemas deliciosos, e um clima de recomeço que faz com que sim, eu goste de adicionar unidades às minhas já três dezenas.

De certa forma, dei uma boa sumida daqui desse espaço. Mas nada pessoal – não faltou vontade nem história pra contar, existe toda uma viagem que ainda precisa ser dissertada e concluída; acontecimentos – bons e ruins – não faltaram nas últimas semanas, e não, minha vida não virou um tédio absoluto. O que aconteceu (e ainda acontece, que bom) é muito trabalho. E nesse mundo corporativo, mesmo que de casa, eu aprendi que quanto menos se fala, mais se consegue. Divulgar, somente resultados, quando a galinha já botou ovo e o pintinho está crescendo (ah, que saudade das dubiedades… ahahahah!).

Mas da mesma forma, ensaiar um retorno significa a volta por si só. E isso já é muito bom. Mesmo porque nos próximos dias esse blog que já me causou tanta coisa que eu nem sei enumerar direito completa dez anos: de dores de cabeça, de discussões acaloradas, de infindos desabafos pessoais, de uma certa petulância, de várias comemorações, de agrados e relatos, de amizades que vieram, de outras tantas que se foram, e de registros – quaisquer que fossem: bons, ruins, necessários ou não. Eu sou isso mesmo, e nem sempre todo mundo gosta (às vezes, nem eu mesmo). A gente vive momentos, e eu acho que muitos deles não devem se perder na memória – que sim, com o tempo, começa a falhar.

Por isso mesmo eu vim aqui pagar uma dívida comigo mesmo, e religar o motor. Afinal de contas, se o MEU ano começa hoje, o de todo mundo não parou por um segundo. E é na união desses mundos que eu conto a minha história. Portanto Marcelo, continue trabalhando, mas trate de arranjar tempo (não interessa como) de guardar as recordações aqui de novo. 2012 já tem um mês, e eu, pelo menos 31 dias de lembranças recentes. E outras tantas que nem precisam ser lembranças, mas são minhas coisas.

Então, simbora arrumar essa porra e registrar. A história continua sendo escrita.

Dois mil e doze

jan
2012
03

escrito por | em Vidinha | Nenhum comentário

O ano que tinha tudo pra começar mal resolveu subverter minhas certezas e começar bem. Mesmo com planos de comemoração frustrados, o dia 31 resolveu amanhecer chuvoso e promissor a um bode dos mais mal-encarados. Encarnamos a preguiça e assim seguimos até o início da tarde. A Debs resolveu me ajudar na cozinha após as compras da manhã – frutas pras caipirinhas e a macarronada do final de semana – fazendo seu momento Kylie Kwong na célebre frase: “This is my own version of linguiça picadinha”. Mitológico.

A tarde veio, e eu fui até minha mãe colocar uns pingos nos is. E acho que é assim que a gente resolve algumas coisas na vida: entre nós, de frente e com o coração aberto. Eu precisava disso, e assim nos despedimos antes do ano novo para nos reencontrarmos aqui em casa no dia seguinte. Ser responsável pelos próprios atos. Dessa vez eu fui, conscientemente, e deu tudo certo. O ano de 2011, que foi absolutamente incrível, poderia ser comemorado de fato.

Chego em casa, e a Debs me prepara uma surpresa da qual eu vou guardar aqui pra mim e vocês não precisam saber. Nossa lousa nunca teve palavras tão bonitas, e eu vi aquilo como uma baita recompensa a um ano tão bonito. O Sol saiu. Chamem-me de brega, mas eu vi naquilo tudo uma resposta. O ano que terminava dava passagem a outro ainda mais promissor, e as coisas se sucediam de uma forma que eu de fato gostaria que acontecesse.

Fizeram falta o restante da família que estava lá em Floripa, assim como a irmãzinha de olhos claros que fez muito bem em ficar com as outras flores em casa, e os padrinhos que foram churrascar em outro quintal. Estávamos só nós dois, e o clima que tinha mudado em questão de horas fez a gente descontrair com tanto desencontro. Resolvemos sorrir, e fomos pra cozinha. Pra boa surpresa, de repente (assim, separado, viu povo do Facebook e do Twitter?) toca o interfone e os padrinhos estão lá embaixo. Sobem, e temos docinhos, um tal de Valdorella (que eu nunca tinha ouvido falar, e que foi o melhor espumante que eu tomei na vida), mas principalmente um brinde – a um ano devidamente vivido e viajado. Sim, fomos pro Perú, todos nós, em momentos e situações diferentes. Tivemos por lá um banho de mundo real. Umas imagens inesquecíveis, e histórias únicas pra contar. Foi incrível, e a gente SABE disso. Obrigado, 2011.

A noite passou, eles infelizmente saíram, e nós resolvemos preparar a comida. Nós? Sim, nós, e a Debs limpou a carne com a habilidade de um Top Chef. Dia inspirado, não? Batatas da vovó, arroz e um naco de boi. A casa cheirosa, o ano vira e a gente sabe: deu tudo certo sim. Quem a gente ama se faz presente, sempre. Fizemos muito bem a nossa parte. Ligamos pra mães, ligaram pra gente, falamos o que devíamos, enviamos fotos aos amigos mais especiais. A vida seguiu, e 2012 começou. A comida ficou pronta, e jantamos de madrugada assistindo TV Pirata.

Lembro que começamos o ano passado convidando todos a participar de um sonho. Esse ano, fazemos diferente. Porque mudar é bom, e melhorar, necessário. Planos, acho que todos temos. Mas aprendemos – eu e ela – a valorizar algumas coisas especiais. Algumas pessoas especiais. Nos aproximamos de algo mais autêntico e essencial, eu pude ver isso lendo aquela parede. Crescemos. Um ano a mais, mais um em nossas vidas. Temos muito o que fazer, mas começamos bem. Vai melhorar. A viagem – aquela que eu vinha descrevendo – vai voltar pra cá agora. Entre outras coisas, afinal, estamos vivos.

Dois mil e onze

dez
2011
20

escrito por | em Vidinha | 3 comentários

O ano de 2011 começou ontem, e termina amanhã. Pra mim, comprovou que com o passar do tempo, a gente perde mais tempo cuidando da vida dos outros do que da nossa, e com isso fica com a impressão de que o tempo encurta. Não é verdade. A gente que se descuida de si mesmo, e quando nota, bum. Acabou o ano. Por diversas vezes eu tive essa impressão, acelerando e reduzindo a velocidade num ano inconstante.

Ano que eu comecei numa agência, arrisquei a sorte em outra e acabei seguindo um caminho solitário e muito difícil, mas recompensante, após um acidente de percurso. De certa forma, que me mostrou que é sim possível ser dono da própria vida. Que consolidou minha força complementar na Debs, que segurou uma puta bucha enquanto eu questionava meus próprios caminhos e me botou no eixo quando eu mais precisei. Que afirmou a confiança de muitos amigos nas coisas em que eu faço, fosse num telefonema, num email ou numa mesa de boteco. Foi possivelmente o ano em que mais conversei com muita gente diferente. O saldo é positivo, e desse capítulo eu me orgulho nesse fechamento de ciclo.

Foi em 2011 que eu também vi o tempo passar em dois sobrinhos que cresceram e muito. Já são crianças, e não mais bebês. Inspiram sim, trazem felicidade espontânea. “Amor incondicional”, disse bem a Debs. Há algum tempo assustava não ser mais a geração da vez. O tempo passa, e a gente de fato passa a gostar da ideia, de tentar renovar um mundo que cada vez mais deixa a gente entre o desgosto e a vontade.

Desgosto de ver que as pessoas curtem, seguem, retuitam, compartilham mas não são capazes de conversar. De pegar um telefone e ao invés de escrever, telefonar. Um mundo que parece cada vez mais impessoal, onde ganha força o número de amigos quando chega ao milhar de pessoas que a gente mal conhece, uma fila de madrugada pra comprar o lançamento da hora, ou o check-in initerrupto a cada passo. Onde se fotografa e se filma um show ou um jogo sem sequer assistí-lo. Um universo de gente que depende de um aparelho, mas que não é capaz de um abraço ou de um olhar na cara e uma meia dúzia de palavras. Um mundo triste esse, repleto de pessoas sozinhas.

Mas a vontade ao reconhecer o aumento das fronteiras. Onde existem lugares, pessoas e realidades das quais a gente só ouviu falar. Mas que agora sabe o sabor, o cheiro, o clima. Onde nossa língua não vale muita coisa, e outros idiomas precisam ser experimentados. O vício nas alturas. A emoção da chegada. O olhar de cima quando se atinge o limite. Acordar de madrugada. Dormir de madrugada. Não saber de mais nada de ninguém, e com isso pensar em si mesmo. Se redescobrir, se reinventar e querer mais. Por sinal, querer mais é o maior dos troféus de quem experimenta vida e nota que não sabe nada.

Vi gente chorar de emoção, de raiva, de alegria. Aproximei amigos, perdi pessoas. Voei. Vi minha mãe virar criança, minha esposa concretizar sonho, minha amiga descobrir o mundo, meu irmão virar pai, meu amigo tomar vergonha na cara e virar adulto, outro amigo repensar os hábitos. Fomos casal, pais, tios, amigos, cúmplices. Tivemos muita sorte, e diversos sonhos adiados. Outros, sonhados sem nem termos como realizá-los, e não damos a mínima pra isso.

Parar e olhar pra trás é talvez o melhor dos hábitos de um fechamento de ano. E eu não me arrependo em nada desse que termina daqui a pouco mais de dez dias. O primeiro texto que foi pro ar nesse mesmo blog no início do ano foi plenamente realizado, e marca o possível maior momento de uma viagem que resumiu um esforço enorme de quem nela esteve, uma empolgação condizente de quem a acompanhou e torceu, e uma história pessoal de cada um de nós que possivelmente somente nós temos noção do tamanho e importância. Respirar com um pouco de calma. Tentar reduzir os erros. Olhar pra dentro de si. Nos darmos tempo. Eu acho que meu maior desejo no dia de hoje é esse: calma.

Pra que novos frutos venham: viagens, trabalhos, amigos (novos, antigos, mas sempre presentes), a família que somos (de sangue ou não), momentos importantes. Que sejam muitos, sempre. Foi um ano extremamente intenso. E intensidade nada mais é do que viver a vida naquilo que nos é permitido – por vezes, um pouco acima desse limite, seja sonhando, arriscando ou indo contra a maré. Ainda faltam alguns dias. Mas 2011 não deixa saudade: deixa sim muitas e muitas memórias, e histórias incríveis pra contar. Pra quem esteve comigo, obrigado. E pra quem continua comigo – e vocês sabem o que é “estar” nesse prisma, obrigado ainda mais, de verdade. A vida é essa, e Janis Joplin um dia disse: “It’s all the same fuckin’ day, man“. É verdade.

Um bom amanhã pra cada um, e um hoje ainda melhor.

As estradas

ago
2011
22

escrito por | em [Viagem] Peru/Bolívia 2011, Vidinha | 1 comentário

Ontem e anteontem pudemos viver mais algumas migalhas pré-viagem. E nas conversas que têm surgido, dúvidas e questionamentos dão o tom de nossas pautas. Variamos entre as curiosidades: um lê e indica, outra, começa a se perguntar sobre hábitos e necessidades dos quais nunca tivemos contato e sequer imaginávamos ter, mais uma procura e envia fotos e mais fotos, outra conta histórias de infância e amplia ainda mais nossos horizontes. As coisas fluem, e as lacunas que se multiplicam pouco a pouco são preenchidas com um misto de curiosidade e ânsia por conhecimento e repertório. Somos testados a todo instante por nós mesmos, e justamente essas dúvidas nos mostram a cada instante o quanto não sabemos nada. Sim, somos ínfimos perante a grandiosidade de um mundo repleto de vidas qua sequer imaginamos ter contato um dia. Damos um passo de cada vez, e notamos que certas distâncias são de fato gigantes, mas o contato com essa estrada não nos cansa – pelo contrário, nos incentiva a, passo a passo, descobrir o que cada novo avanço nos reserva.

Admitir nossa própria ignorância, não nos conformarmos com ela, e buscar esse conhecimento que notoriamente não possuímos. Isso é o que nos move. Não somente o fato de estarmos presentes num cenário espetacular. Muito menos a presença dos amigos. Mas sim encontrar nesse conjunto uma oportunidade enorme de dividir e multiplicar uma experiência que nos fará mais vivos e prontos a dar um próximo passo. Ainda temos muito fôlego, e todos nós, muito tempo. A vida só é curta pra quem não sabe valorizar cada um de seus dias, de suas horas, de seus minutos. Estamos prontos para essa plenitude, e insaciáveis por novos caminhos. Têm sido assim esses dias: de satisfações pessoais, de momentos coletivos, de histórias compartilhadas. Estamos aumentando nossas famílias com o que de melhor essa vida nos oferece: as pessoas. Eu faria aqui uma contagem regressiva, mas certamente ao seu final, uma nova começa. Quem pisa na estrada sempre quer voltar. Afinal, se o mundo dá voltas, por que eu me conformaria em ficar parado?

escrito por | em Trabalho, Vidinha | 2 comentários

A gente tem que ver um lado bom pra tudo, diria Poliana.

Pois bem. Vamos a ele então. Sim, minha vida, apesar de absurdamente atrelada às necessidades financeiras (às quais tenho que atender, nem que seja vendendo esse corpinho não tão bonito assim), tem agora novas possibilidades.

Momentaneamente pelo menos, meu escritório fica no quarto ao lado. E sim, isso é muito bom – pra quem consegue resistir à delícia do sofá da sala ou àquele joguinho da série C que passa às 14h30 de uma segunda-feira. Trabalhar é trabalhar, mesmo que em casa, e exige comprometimento. Da mesma forma, saber quando parar é tão importante quanto começar (e às vezes essa é minha maior dificuldade, mas pra isso também serve a Debs e seu charminho feminino irresistível). Em todo o caso, estar disponível (e se ocupar estando assim) é bem mais gostoso do que qualquer rotina de escritório, não há dúvidas. Sem trânsito, sem viagens de ida e volta, sem ter que encarar chuva e frio, o home office é uma modalidade deliciosa.

Ao mesmo tempo, a mobilidade que o desemprego te permite (vejam vocês, que maravilha não?) permite que esse mesmo escritório dê espaço a outro, quando solicitado. Depois, volta-se ao primeiro, ou vai-se ao terceiro, e a gente acaba conhecendo muita gente e mostrando e colaborando e contribuindo pro trabalho de muito mais gente. Esse tipo de serviço temporário evita o tédio e o empapuçamento, te leva direto ao ponto, com foco e faz do seu dia-a-dia uma constante provação. Tem gente que se incomoda em ser testada, pois nem sempre consegue provar a estranhos aquilo que só o “chefe” e camarada de boteco consegue ver. Coisas da vida.

Com o seu tempo sendo seu, construir relações e equalizar trabalhos passa a ser também responsabilidade sua. Atualmente, o que tenho feito está sendo entregue na Chácara Santo Antônio, em Foz do Iguaçu e em Santiago do Chile. Escritório grande esse né? Mas é assim mesmo, e você nota que pra um trabalho bem-feito, o mundo é sim sem fronteiras.

Assim como será daqui a 50 dias, quando embarcarmos pros dois países, e adicionarmos Peru e Bolívia à lista “pedaços do mundo que agora fazem parte de nós”. Como eu disse, tudo tem seu lado bom (e consequentemente ruim, como por exemplo nesse momento conseguir o dinheiro necessário pra viver essa viagem com o devido conforto que há quase um ano é alimentado em nossas vontades). Mas assim como o mundo, um bom trabalho não tem limites. Chega onde tiver que chegar, do jeito que chegar, e é sempre bonito de ser recebido. Mesmo que sua reunião com o cliente seja por celular, e sua roupa social, cueca e pantufas.

O mundo não é redondo por acaso.

escrito por | em Trabalho, Vidinha | 2 comentários

Eu aprendi a destruir.

Porque habitualmente, quando era pequeno, não era a vítima preferida dos populares do colégio, mas também não engrossava o pelotão dos idiotas. Eu era aquele cara que se faltasse à aula, uns três notavam. Tímido, cagão, gago. Poucas vezes arriscava, e quando o fazia, normalmente me estrepava. Com isso, me habituei ao “complexo de menos”. Isso me jogou lá na frente pra dentro do buraco, e só saí após ano e meio de tratamento. Outros tempos, que pouca gente que convivo hoje teve contato. Meus amigos vêm de depois dessa época.

Nesse período de reconstrução, virei do avesso, literalmente. E aprendi a me defender, e a me proteger. Com o tempo, ganhei adjetivos como “ogro”, “grosso” e “boca suja”. De certa forma, aprendi a abreviar as relações sociais, e reduzí-las ao alcance da sinceridade. Quem aguentasse o tranco, sobrevivia. Muitos não resistiram, outros se identificaram e fidelizei novas e ótimas relações. Me encontrei, e adotei alguns novos e úteis valores para esse novo momento da minha vida. Um momento que venho aperfeiçoando há anos, às vezes na porrada, outras em detalhes. Mas tem dado certo…

Porém, proteger-se nem sempre significa ser bom. Por várias vezes pisei, da mesma forma que pisaram em mim. Me arrependi às vezes, me orgulhei em outras. Mas de berço, aprendi claramente sobre certo e errado, e errar sempre me pesou, fosse notando o que fazia, fosse num puxão de orelha por não ter notado a cagada que fazia. Mas também aprendi a conviver com essa inconstância, e minimizar sempre que possível sua importância, dado que como qualquer ser humano, imperfeição é coisa que também exercemos todos os dias. Sim, a gente sempre tem o que melhorar, mas adotar a natação na merda como diversão pessoal não me pareceu a opção correta pra acompanhar esse processo todo. A gente já tem muito o que se preocupar, e o que provar a todo momento…

Assim, quando a vida te dá uma puxada de tapete como a que eu levei há duas semanas, tudo isso vem à tona. Você se contesta, questiona as suas escolhas, e por vezes até mesmo os seus valores, dependendo do tamanho do susto levado. No meu caso em especial, o susto foi total, e por isso mesmo coloquei em jogo algumas coisas que fazem parte da minha essência. Coisas em que acredito, e que poderiam ter feito de mim alguém “inadequado” pra algumas funções ou pessoas. Sim, autocrítica: aquela coisa que pra gente crescer, tem que deixar o ego e a cabecisse de lado e de vez em quando, exercitar.

Felizmente, os resultados foram melhores que o esperado.

E notar que dentre uma multidão, dois ou três de fato se sentem incomodados com você e seu jeito de levar as coisas me serviu de alento – sim, porque de fato unanimidades são burras, e sempre existirão espíritos de porco no seu caminho. Mais: as respostas de seu primeiro novo desafio (durante sua correria desesperada em buscar aquilo que te tiraram) serem absolutamente positivas – e isentas de outras relações senão profissionais – funcionam como efeito inverso ao balde de água fria que pouco antes jogaram na sua cabeça. É um respiro. Ou melhor – e sim, é melhor: é a esperança de dias melhores em muito breve.

Esperança. Um artigo tão raro hoje em dia, que a gente cultiva pra si, que às vezes alguém faz questão de te arrancar, e que de repente, sem mais nem menos, te devolvem com juros. Pisar e destruir é coisa que a gente não devia fazer, mas faz. Alguns, por engano ou por algum desvio idiota que deve ser corrigido sempre que possível; outros, por esporte. Faço parte do primeiro exemplo, convicta e felizmente. Conheço minha índole. Mas em nenhum dos casos, você readquire a esperança sendo assim. E nem o respeito.

Coisas que ultimamente, eu tenho buscado e muito. E conseguido, pra quem quiser ver.

Sweet and sour

jul
2011
25

escrito por | em Vidinha | 1 comentário

Meia noite e vinte e seis minutos.

Param as máquinas: a eletrônica, e a de carne e osso. O final se semana inexistiu, do ponto de vista do descanso. Não há tempo a perder, e de fato o que não se faz é o que não se ganha atualmente. Pra compensar um pouco tamanho cansaço, carinho de sobra. Da pequena, dos velhos amigos, das amigas de sempre. Carinho que tem me feito seguir em frente dignamente, e nessa pressa eu não tive tempo ainda pra remoer o que houve, muito menos me deixar abalar. Talvez a ficha caia daqui a pouco, a revolta aconteça na primeira real necessidade que eu não consiga atender. Ainda não sei o que vai acontecer amanhã. Esforço não tem faltado, nem meu nem dos meus. Poucas vezes pude contar com tamanho apoio, e isso também serve de força pra continuar em frente e não desanimar.

Mas esse “não desanimar” não é simples assim. Ainda mais pra quem há pouco tempo andava se debatendo pelas paredes por aí, procurando algumas verdades pra própria vida. As respostas vieram, o mundo parecia no prumo, e de repente a coisa desaba. Não é mole. Chegar em casa, ter que encarar a esposa e ficar com vergonha de si mesmo é uma sensação que eu nunca havia sentido. E é ruim, machuca. Saber que nem tudo depende de você, mas que grande parte desse todo é sim tarefa sua, e você não poder cumprí-la por algum motivo (quer ele exista ou não) é coisa pesada. Nessas horas, a gente coloca tudo à prova: a própria coragem, a consistência de um casamento, os laços de confiança. A desilusão com algo tão repentino te faz repensar muita coisa. Se arrepender de algumas outras. E te choca.

Com esse choque é que a gente no final das contas tem que lidar: sofre o impacto, e vai ou pra frente, ou pra baixo. Acabei não me deixando cair, e continuei andando. Mas o peso e o cansaço agora são muito maiores, e cabe a mim resistir a ambos o quanto eu puder. Não sei de onde veio essa postura de levar a coisa adiante; esquentar a cabeça com as coisas certas; repensar e fazer algo a respeito. Talvez seja a idade. Talvez seja o casamento. Ou talvez ainda seja o saco cheio que vez ou outra me pesa ainda mais, como se já não bastassem as complicações diárias.

A gente segue. À base de Dorflex, de ânimo (que surge de uma forma bizarra nas horas em que estamos completamente fodidos), de trabalhos. Os dias parecem mais longos quando não se sabe o que virá amanhã. E curtos nos intervalos das contas. Mas é isso… ou a gente faz por si, ou espera o final da história. Novamente: esperar não é opção dessa vez.

Música, beleza e poesia. Pra aliviar a segunda que começa, e dar esperança a cada novo dia. Esse amargor todo é um desabafo tão pessoal que eu escrevo pra mim mesmo. Pra registrar. E pra cada vez que eu reler um texto desses, que subitamente troca dúvidas e incertezas por um pouco de magia, possa traçar um paralelo e criar dentro de mim a esperança de uma virada iminente, prestes a acontecer, mas que eu não sei como, se e quando virá. Essa é a ansiedade boa. É essa a que eu quero ter.

Curtam a semana. Eu vou curtir e construir a minha, de novo. Nesse ritmo.

O agora

jul
2011
21

escrito por | em Trabalho, Umbigo, Vidinha | 4 comentários

De uma hora pra outra, tudo muda.

Foi assim que aconteceu comigo, há oito dias. Terça eu tinha um emprego, quarta estava na rua. Circunstâncias não serão expostas, porque convenhamos, depois de um fato dessa natureza, de que vale a gente ficar pensando nos porquês (principalmente quando eles não são tão simples de serem encontrados)?

No fim, acaba-se agradecendo aos céus pela “sorte” de não se ter entrado naquele consórcio, de ter-se feito uma economia voluntária de uns trocados que agora fazem toda a diferença. Ainda estou passando por um fato inédito na minha vida, que é cobrar aquilo que eu nem deveria exigir, dado que me é de direito. Mas esquecimentos e confusões alheias à parte, eu espero que tudo fique bem. E é única coisa que espero mesmo, uma vez que esperar não era opção dessa vez: reagir imediatamente ao ocorrido foi o que me restou. Contei com a ajuda dos de sempre, dos nem tão de sempre, e uma ou outra surpresas que me fizeram saber quem de fato continua comigo. Sou grato, todos os dias, por essas pessoas. Uma ou outra falsidadezinha ali, um oportunismozinho aqui, e ignoradas as miudezas, as rodas giraram quase instantaneamente.

Devido à viagem em setembro, acho quase uma utopia conseguir um emprego até o início de outubro. Quem em sã consciência contrataria um cara que tiraria folga de três semanas um mês depois? Sim, esse é o buraco em que fui jogado, mas que acabou revelando uma outra face completamente contrária àquilo que normalmente eu esperaria de situações desse tipo.

Trabalhar por conta é um tremendo desafio. Quase uma insanidade, pra quem está começando há pouco mais de ano uma vida a dois. Mas eu tenho todos os dias me conscientizado de que sim, pode dar certo. Incomodo diariamente meus clientes – cultivados ao longo do tempo com bastante esforço – e aos poucos entrego aquilo que faço de melhor. Tenho aprendido tecnicamente e profissionalmente em dias coisas que muita gente não foi capaz de me mostrar em anos (ou meses, dependendo da paciência ou capacidade de lidar comigo). A vida continua, e de fato, se fosse possível escolher sobre ter ou não que depender de outras pessoas, certamente a independência predominaria sobre os demais sentimentos. Pode ser mais difícil, mais inconstante e dar muito mais medo. Mas se eu, sem medo, de uma hora pra outra tive metade dos meus sonhos de curto prazo jogados pela janela, de que adianta considerá-lo nessas decisões?

Medo a gente tem de ser passado pra trás. De não receber o que é nosso. De bancar o bobo. E isso pode acontecer, qualquer que seja a situação. O que a gente não pode é temer nossa capacidade, nosso talento, e nossa vontade de transformar os tais desejos em realidade. Somos o que somos, e pra melhorar, que sejamos melhores. Colecionemos boas histórias. Tenhamos boas pessoas por perto. Façamos o que sabemos, e não tenhamos medo de aprender e recomeçar. Eu poderia me acovardar agora, bancar o coitado e bradar aos ventos sobre a canalhice desse mercado prostituído, ou culpar as injustiças do mundo por ter me tornado mais uma vítima desse contexto podre.

Foda-se tudo isso. Eu só quero (e vou) trabalhar. E bem.

escrito por | em Vidinha | 3 comentários

Hora do almoço. Frio, e eu de blusão. Na fila do caixa eletrônico do Bradesco, no shopping Light. Ao lado da sempre enorme e vexatória fila da Polícia Federal. Aguardando minha vez, um senhor mirrado me pergunta se aquela é a fila do Bradesco. Eu, no bom humor que tematiza essa sexta-feira cinza, apenas aceno com a cabeça afirmativamente, e volto ao meu lugar. Ele então insiste, e tenta puxar assunto:

“Será que tem muito corinthiano nessa fila (da Polícia Federal)? Precisa avisar esses caras que pra ir pra Bahia não precisa de passaporte. Eu sou são-paulino, sabe…”

Eu então viro de frente pro agora bambi declarado, e sem abrir a boca ou expressar emoção (porque quando o mau humor prevalece, qualquer expressão que não seja a default me parece desnecessária), tiro meu blusão, exibindo a camisa 77 do Corinthians. O velhinho muda de cor. Volto ao meu lugar, com a sensação de dever cumprido, uma vez que a estupidez do dia teve como alvo alguém que mereceu. Alguém, hoje, teve um dia pior que o meu.

Nego às vezes tem que aprender a calar a boca e chorar no canto.