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Rio de quê?

jun
2012
04

escrito por | em Rio | Nenhum comentário

Nada é fácil pra gente.

Eis que antes de sairmos de São Paulo, o frentista me avisa: “seu óleo tá baixo”. E eu pensei “ok, da última vez andei quase 5000 km com óleo baixo e deu tudo certo”. Carro revisado, arrumado, tudo em dia, soou quase como um “boa noite”. Pois bem… viajamos bem demais, apesar do trânsito pra sair de SP (praticamente duas horas e meia antes da Dutra virar estrada pra valer). Passamos pedágios, comemos no caminho – já que o horário tinha ido pro saco mesmo, passamos divisa, encaramos duas tempestades e a Serra das Araras debaixo d’água, que foi uma das grandes aventuras da minha vida de motorista. Eis que chegamos em Seropédica. Pedágio pago, bora acelerar. Segunda, terceira, quarta… o carro não responde, reduz pra terceira, segunda, nada… o carro vai parando.

Estávamos no acostamento, e havia um descampado à direita com uma casinha iluminada. Joguei o carro lá, onde ele escorregou devagar até parar. Uma puta chuva. Enquanto eu estava desesperado tentando fazer o carro funcionar e pensando “cacete, botei as duas num perigo desgraçado por inconsequência MINHA!”, ambas mantinham o bom humor e riam da própria desgraça – e da minha cara, de quem tá fazendo merda até debaixo d’água.

Merda assimilada, e uma torcida desgraçada pra que ninguém aparecesse naquele breu e matasse a gente (no caso, ambas), bora botar a cabeça no lugar e ligar pro seguro. Sim, seu plano cobre guincho e táxi – pro Rio ou pra São Paulo, o valor contempla. Ok né… estamos aqui do lado, vamos pro Rio! Em mais ou menos uma hora o guincho chega. Nesse meio tempo, a chuva pára, e até sair do carro eu saio. Não lembro o teor das piadas, mas era tanta risada dentro do carro que justificava-se a cada instante ter casado com uma e não desgrudar da outra – dois dos melhores contrapontos à minha consciência ranzinza.

Chega o guincho. São quase 3h da manhã. Renato, que é a cara do André Matias (do Tropa de Elite) diz que identificou minha origem pelo sotaque, e chama a gente pra conversar. Não abrem mecânicas no RJ durante o fim de semana, portanto se vocês deixarem o carro no Rio, provavelmente só segunda pra alguém mexer no dito. A gente volta no domingo, como fica? Levem o carro pra SP e fiquem no Rio… deixar o carro com quem por lá? Não tem ninguém, o preço da passagem de volta dos 3 arrebenta o orçamento da viagem. Já estamos aqui na porta, e aí… Rio ou São Paulo?

A maior broxada da vida acontece: de comum acordo, de volta pra São Paulo.

Equivale a chegar na porta da Disney e perceber que você esqueceu a carteira em casa. Então ligo pro seguro e peço pra realocarem o destino do táxi que ainda não havia chegado, do Rio pra São Paulo. Sem problemas. Então durante o guinchamento do táxi, o tal Renato me conta que pra esses tipos de deslocamentos, equivalentes a viagens, eles enviam carros mais confortáveis, às vezes até picapes.

Detalhe importante:

“Demos sorte” do carro não quebrar na Serra das Araras – ser engolido por um caminhão ou um ônibus ali seria facílimo. Da mesma forma, o Renato me diz que não fazem resgates de guincho na Linha Vermelha (onde chegaríamos em aproximadamente meia hora). Paramos num lugar iluminado, plano e de fácil referência. Fomos resgatados, e não invadidos, molestados ou perturbados. A chuva parou. Esses foram alguns argumentos usados para levantar nossa moral. E nos suprir de piadas.

Pouco depois chega o tal táxi. Um Uno. Novo Uno, mas um Uno. Ele vai conversar com o sujeito, que mal-humorado, diz que pensava que íamos pra Botafogo, que ninguém havia dito nada a ele, que estava despreparado e coisa e tal. Mas fica lá… esses caras ganham por quilometragem, e o sujeito não queria perder a teta da madrugada. Carro içado, Renato segue pra SP, enquanto nós nos apertamos no táxi do sujeito. Preciso pegar dinheiro, ele diz, então seguimos pra um posto que era um dormitório de caminhões. Ali, por um BOM tempo ele espera o tal cara que lhe traria a grana pro combustível e pros pedágios. Nego enche o tanque, e em teoria vamos enfim a caminho de casa.

Em teoria.

Viramos cada um pra um lado e dormimos o que podíamos (já passava das 4h). Eis que durante o sono, uma baita freada acorda todo mundo. Continuamos sonados, mas notando que o cara vira e mexe comia faixa, freava da mesma forma, fazia curvas por cima das tartarugas, enfim… resolvi ficar de olho no sujeito, e era notório: ele também estava dormindo. Tossidas estratégicas, uns rosnados que eu fazia quando minha mãe roncava em nosso quarto durante a viagem pro Peru, a intenção era manter o filho da puta acordado. A Mel pediu pra ele desligar o ar condicionado, o que foi atendido com uma cara feia do cão e uns desaforos a mais. Babaca mal-educado do inferno… “Preciso ir no banheiro”, ele diz, enquanto coça o olho, solta o cinto e coisa e tal. “Vou parar em Resende”. RESENDE?

Sim, já passavam das 5h e ele havia feito 60 QUILÔMETROS EM UMA HORA. Nesse ritmo, estaríamos (se vivos) em São Paulo dali a mais ou menos 8 HORAS. No que ele encosta no Graal e sai do carro, a Mel resolve ir ao banheiro também. A Dé vira pra mim e pergunta: “Ele tá dormindo né?”. Eu digo que sim, e pergunto se é filhadaputice demais ligar pra Porto e pedir um substituto. De forma alguma, ela responde, e nisso eu ligo e os caras prontamente se habilitam a mandar outra pessoa no que descrevo o que havia sido o regresso até o momento. Nisso a Mel já voltou, e quando a Dé conta o que estamos fazendo todo mundo faz cara de alívio.

O cara demora pra voltar, e quando volta – rápido que nem uma lesma, traz uma Coca-Cola na mão. Peço pra que ele abra o porta-malas pra que a gente possa pegar nossa bagagem, “porque o senhor não tem a menor condição de dirigir caindo de sono desse jeito”. E ele retruca:

– Sono…?

Quando o cara me respondeu isso, a vontade era de enfiar um guarda-chuva na bunda do sujeito e abrir. Pegamos nossas coisas, ele panguou no posto mais um tempo e foi-se. Demorou um bom tempo pro novo táxi chegar (ele procurava um Corsa guinchado – que naquela altura já estava chegando em SP – daí o atraso). Comunicações refeitas, chegou o tal Giovanni – um mineiro que guiava um Vectra, para nooooooooossalegriiiiiia.

Pegou dinheiro e encheu o tanque ali do lado. Carro enorme, educação das mais polidas que já tive notícia, teve o cuidado de assim que as duas dormiram no banco de trás, ir baixando gradativamente o som até desligar, “pra deixar elas descansarem”. E pisou. “Você não vai me sentir pisando no freio”, e de fato de lá até aqui foi assim. Conversa civilizada, respeitou até minhas pescadas no meio do caminho. Eram 11 e pouco quando chegamos na porta de casa, onde o Renato me esperava para descarregar o carro.

Tem gente que se encontra num boteco pra botar o papo em dia. A gente fez isso indo e voltando do Rio na mesma madrugada, em 3 carros diferentes. Foi “o caminho pra casa” mais longo que já fiz. E mais uma história bizarra que a gente insiste em colecionar… porque não, nada é fácil pra gente, definitivamente.

Em homenagem e consideração às Caróis, à Aninha, à Bruna e à Beta, que da mesma forma que nós acreditaram num Rio ou pouco mais paulista nesse fim de semana, e souberam somente agora da história em detalhes. O próximo relato, espero eu, será de histórias e fotos, e não de tragédias desse tipo.

E foi bom DEMAIS!

jul
2005
20

escrito por | em Rio | Nenhum comentário

Che Lagarto Hostel
Rua Anita Garibaldi, 87
Quarto 26 – cama 1

É incrível como 4 dias são capazes de fazer com que a gente se sinta vivo de novo. Sim, porque durante o ano algumas pessoas e a normalmente estressante rotina nos mata aos poucos. As forças vão embora, o ânimo desaparece e cada novo golpe – venha do jeito que vier – parece cada vez mais pesado.

Me enfiei num albergue no Rio de Janeiro desde sexta-feira, e voltei a São Paulo na madrugada desta terça. Nada em vão, e menos ainda um retorno – não estou pronto pra isso, ainda. Dessa vez Copacabana foi o local escolhido pra renovar as forças, pra recomeçar muita coisa e me abrigar durante os encontros que tive com três pessoas especiais (que ao final da viagem, eram cinco).

Soube de última hora que este cara também estaria no mesmo programa que eu. E que nesse mesmo programa também estaria a folgada que me zoou num momento chat insane promovido pela sempre arruaceira Vanessa Marques, mas que após conhecer pessoalmente simplesmente pirei nesta pessoa extremamente sexy e performática (e sim, NÓS CANTAMOS O HINO DO AMÉRICA-RJ NO FIM DA BALADA). Sim, eu banquei o desinformado completo, uma vez que a princípio eu estava indo pra lá pra enfim conhecer as três Carols.

Carol – a Divagando:
A moça da língua de fora, e que me recebeu na Novo Rio. Que me levou pra conhecer Madureira, que me apresentou o Empório (sim, tocam Muse no Rio). Que simplesmente era a mesma graça que eu conheci um dia, há tanto tempo que já nem me lembro. A menina que esteve na balada, no churrasco e no bota-fora, mas que sumiu por dois dias – sendo então chamada de pequena meliante. Uma prova viva de que de fato churrasco é uma atividade de integração entre povos, e que mesmo desgastada comprovou sua amizade comparecendo no Happy Hour do albergue após o sumiço.

Carol – a do Refrigerador:
Que já me chamou de amor paulista (e que por causa disso, posso perfeitamente chamar de meu amor carioca). Que depois de penar e não me encontrar enquanto esteve em SP, foi encontrada e me arrastou pra balada no RJ. Com quem me diverti à vera, que dividiu comigo o colchão da balada, que me intimou a comer o tal dog de lingüiça (coisa de carioca, equivalente ao Killer Pernil do Pacaembú) e que certamente me mostrou que esse encontro já devia ter rolado faz tempo.

Carol – a Appothekaryum:
A que tem um N a mais no nome (as três são Anas, mas ela é ANNA), uns centímetros a mais e um segredo que eu não conto. É a que eu menos conhecia, e que por muito pouco não passou em branco. Mas se redimiu a tempo, me encontrou e daí em diante adquiriu meu nome do meio, disse que eu ronco (eu não sei se é verdade – estava dormindo e não ouvi), me mostrou metade do Rio, tirou fotos nossas na praia de Copacabana (onde também estavam mais duas pessoas correndo, e um frio filho da puta), e me zoou MUITO. E mesmo assim eu adorei essa garota, que de fato é um doce – e dos grandes.

E sabe o que é mais legal nessa história toda? Eu sei que nunca conseguiria trazer num post todas as histórias colecionadas nesta viagem (e não foram poucas, isso eu AFIRMO). E isso é ótimo… portanto, fica apenas o registro de que eu adorei esse povo todo, que definitivamente eu adoro o Rio de Janeiro (isso eu já sabia, mas confirmo a cada nova viagem), e que vale muito a pena MESMO enfiar a cara na estrada.

É na alegria que eu tenho hoje que dá até pra dizer que vale a pena agüentar os exús do serviço e os assexuados da faculdade. No final das contas, a recompensa sempre chega…!