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(Ou como meu desenho ganhou vida)

Tudo começou exatamente aqui.

Foi no texto sobre a mudança de Fórmulas (da Um pra Indy) que eu resolvi fazer uma caricatura do Barrichello. E foi um rabiscão mesmo, que virou um vetor rapidinho e pronto: bora ilustrar o texto, que nem era lá essas coisas. Mas foi pro ar, os de sempre deram uma vasculhada e o desenho chamou a atenção de alguns amigos – amigos esses que tinham outros amigos, sendo alguns deles envolvidos com o universo da comunicação e do jornalismo esportivo.

E um deles me manda algo como “vai rolar uma entrevista com o Barrichello semana que vem… tá a fim de encontrar o cara e dar o desenho pra ele?“, enquanto outra me diz algo como “tenho uma amiga que pode te colocar em contato com ele… ele não costuma receber muito desse tipo de coisa, então é certeza que ele vá curtir!“.

Pausa. Preciso explicar uma coisa:

Eu já falei trocentas vezes nesse raio de blog sobre a minha paixão por Formula Um. Coisa de gente fanática mesmo, de acordar de madrugada pra assistir corrida no frio e quase em silêncio. Ficava puto durante a Copa do Mundo do Japão/Coreia porque estavam passando futebol em horário de corrida. E de repente, ventilam a possibilidade de eu conhecer o Rubinho. Mais ainda: de eu “presentear” o cara com um negócio que eu fiz em 20 minutos. Eu pirei.

E rolou aquela expectativa básica. Passaram os dias, e nesse meio tempo dei um tapinha no desenho. Deixei mais ajeitado… afinal de contas, se é pra virar presente, que pelo menos seja bonitinho. Dias viraram semanas, e a história esfriou. Essas coisas acontecem… bola pra frente, desenho pro portfolio.

Eis que semana passada a mesma amiga entra estabanada do MSN. Dia de Corinthians e Santos, semifinal da Libertadores. A pergunta é “teu coração tá em dia?“… Já pensei “puta merda, pode me dar ingresso que eu não vou nesse jogo nem fodendo… não vou zicar o Corinthians agora“. Respondi que estava, e em seguida a frase que tirou meu chão:

– Semana que vem você vai entregar o desenho pro Rubinho.

Ok, aí eu não sabia mais o que escrever. Minha primeira reação depois do fôlego voltar foi abrir o Illustrator e começar a arrumar o desenho. Tudo o que me incomodava, que dava pra fazer melhor, precisava encher cenário, caprichar em detalhes, fazer aquela joça ficar boa. Mexi na quinta, na sexta, aproveitei o fim de semana e pisei fundo segunda. Pedi ideias, sugestões e opiniões à minha cúpula criativa pessoal, e a coisa andou. Terça corri atrás de gráfica rápida, e imprimi a bagaça (com menos qualidade do que de fato gostaria, mas o tempo urge e a gente só quer ter as coisas na mão na hora certa). Cheguei em casa e durante o resto do dia descansei.

Quarta-feira, gravação do Linha de Chegada. Estamos lá.

Pra começar a tremedeira, o programa é o do Reginaldo Leme mesmo. Equivale mais ou menos ao católico que vai apertar a mão do Papa cruzar com o cara, e o besta aqui já patina na tremedeira. Chega para a entrevista Emerson Leão, que acabou de ser mandado embora do time do Jardim Leonor. “Good for him”, dado que prefiro a imagem dele como goleiro zebrado do meu time, e não como comandante das madames. Pouco depois chega o Rubinho, todo humilde e falando baixo.

Aí a amiga da amiga que me levou lá diz que “esses caras vieram aqui por sua causa“. Ele continua todo quietão e sorridente, e vai pra entrevista. Vamos pra trás do set, e disparamos trocentas fotos da entrevista. Leão dá o tom, é o Maluf da triangulação. Rubinho fala, os fãs se deleitam. Termina a entrevista, vamos entregar o desenho pra ele. O cara vem cumprimentar, e eu preocupado em não engasgar:

– Rubinho, é uma lembrança, a impressão saiu uma merda.

Disse a amiga que os meus olhos brilharam, que os do cara também quando viu os detalhes todos. Eu não lembro de nada disso, pois estava ocupado demais tentando parecer tranquilo, mesmo com as mãos tremendo daquele jeito – a esperança era falar que eu tinha Parkinson…

– Porra, os capacetes todos, até meu pai tá aqui…
– Tem até o do Kanaan, pra ele não encher teu saco.

Ele conta a história da aposta com o Kanaan, sobre o primeiro futuro pódium dos dois. Que ele vai deixar a barba crescer, e o Kanaan os cabelos. E que o cabelo do Kanaan é ruim, e que ele vai parecer um Globetrotter quando isso acontecer…
– Tem tudo aqui.
– E a flâmula, óbvio.
– Putz, hoje vai ser foda… e o Dudu tem prova amanhã!
– Deixa ele dormir mais tarde, vale a pena.
– Vou sim. Cara, valeu mesmo, muito legal! Eu vou postar no Twitter, posso?

PORRA RUBINHO! COMO “POSSO?”!

Aí sai em foto, o cara tira foto com todo mundo. Assinou a camisa do Corinthians do cara que estava lá por ele também. Humilde chegou, humilde saiu, e eu fiquei com uma baita cara de idiota, todo emocionado. Passou um dia, meu desenho saiu no Twitter dele mesmo: “Love my fans…obrigado Marcelo pelo lindo desenho/pintura ‪#Tamojunto‬ pic.twitter.com/hILdMpd2“.

Corinthians empatou com o Boca 10 horas depois. Eu quase infartei, naquele que foi possivelmente o dia de maior ansiedade da minha vida. Estive pleno no espaço entre acordar e dormir, e realizei um dos (possivelmente, aquele até então dos) melhores momentos profissionais que já tive. Quando um ídolo teu recebe um presente mais teu ainda, gosta, espalha e se mostra melhor do que qualquer imagem que você já viu na mídia, saiba: você venceu.

E eu venci, muito, ontem. Valeu Rubinho. Foi sensacional.

*Especialmente pra Fê, pra Erica e pro Bucha, que fizeram o caminho entre sonho e realidade virar uma memória das mais legais que já tive na vida.

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E a sorte enfim sorriu para Barrichello.

Sim, sorte. Pela primeira vez em muito tempo. Um piloto cujo primeiro registro que me lembro ter em mãos é um comercial da Arisco impresso no 4Rodas de eras atrás, e que de lá pra cá se tornou a esperança brasileira na Formula 1 após uma época dourada de gênios nacionais do esporte: Fittipaldi, Piquet e Senna. Não há sucessão que segure uma barra dessas.

Equivale a esperar quem serão os novos Beatles. Sim, a pressão imposta (e aceita) principalmente pela Rede Globo, quando perdemos o ídolo natural desse esporte naquele 1º de maio pesou nas costas do sujeito. Uma pressão absurda, diga-se de passagem, porque ninguém tem a obrigação de ser genial por ter nascido no mesmo chão que outros gênios – algo tão lógico que é absurdo ter que explicar uma coisa dessas. E ele reclamou (muito), e chiou (demais), e entre espasmos nacionalistas e desilusões técnicas, nunca atingiu metade do sucesso dos três nomes já citados. Jordan, Stewart, Ferrari, Honda, Brawn e Williams. Uma montanha-russa de equipes: ascendentes, consolidadas, estreantes e roubadas. Uma carreria de esperanças e desesperanças que justificam o sobe-desce da comparação anterior.

Rubinho deu sim muito azar. Estava no lugar errado na hora errada quando Senna morreu. A Jordan ascendente não era a Williams ou a Benneton. Quase ganhou com a Stewart – fez até pole com ela, uma equipe nanica mas extremamente profissional. Saltou pra Ferrari, naquele que seria seu grande momento na Formula 1. Mas ao seu lado, Schumacher, que foi e é o melhor piloto de todos os tempos dessa categoria. Barrichello foi Berger e Patrese – um coadjuvante de luxo numa equipe que clara e logicamente privilegiou seu melhor piloto. Migrou pra Honda, uma equipe horrorosa, que quando acabou e aparentemente acabaria também com sua carreria, virou Brawn – aquela equipe que durou um ano e foi “só” campeã. Seu último suspiro de saúde antes de passar pela hoje agonizante Williams. Parecia

Mas não dá pra tirar os méritos de um cara que se mostrou ser um baita carregador de pianos. Além de ótimo acertador de carros, um piloto com pouquíssimos erros de pista, algumas vitórias espetaculares (a sua primeira na Alemanha foi coisa que valia um filme) e momentos memoráveis (pro bem e pro mal), e um cara persistente – um baita mérito em tempos de gente preguiçosa que desiste por qualquer coisa. Vindo de uma época ainda dourada da F1, Rubinho vivenciou a revolução tecnológica de duas décadas numa categoria absurdamente exigente e visionária. Sobreviveu, e se não foi um mártir, da mesma forma não merecia uma carreira como a que teve ser desligada abuptamente. Stock Car? Me perdoem, mas automobilismo no Brasil nesse momento é motivo de piada. Merecia coisa melhor sim, e a Indy apareceu em boa hora. De um jeito muito legal, com o apoio do Kanaan (que é outro baita piloto, mas que nunca vai figurar no hall daqueles 3 por justamente ter sido vencedor somente na Indy – assim como Gil de Ferran e Helinho).

Qual o grande barato dessa história?

Infelizmente haverá uma transferência de nacionalismo – sai a Globo, entra a Band, e o “Rubinho do Brasil” continua existindo, coisa que ninguém precisa. Mas a exposição da categoria pros fãs daqui ganha em muito com o ingresso de Rubens. Da mesma forma, a pressão que ele carregava como esperança nacional numa categoria cada vez menos competitiva perde-se na distribuição de equipamentos muito semelhantes na Indy. Sim, Barrichello pode agora falar de vitórias (e por que não, de títulos) com base em possibilidades, e não em sonhos. Nos EUA, novos circuitos, uma galera que compete de forma completamente diferente, ovais e novos desafios. E quem não precisa de renovação nessa vida?

Rubens renasce num momento em que seu desempenho ainda é de alto nível, e chega forte num novo e (sim) empolgante universo, onde aquele não-me-toque todo limpo e requintado da F1 dá lugar a um espírito de certa forma mais “precário e garagista” – coisa que todo piloto gosta e preza. Sem desculpas nem comparações, dado que é novo na brincadeira. Os carros, igualmente novos, reinauguram a categoria esse ano.

Quem diria que nossa melhor novidade seria um velho conhecido. Eu desejo sim boa sorte e torço muito… e que aquela imagem amarga e caricata dê lugar à de bom e competente piloto que ele sempre foi.

*Eu estou postando esse texto ANTES do anúncio oficial, porque nunca foi tão óbvia uma notícia dessas. Pra ter coletiva de imprensa e transmissão ao vivo por rádio e TV pelo Grupo Bandeirantes, eu pessoalmente duvido que marquem um evento desse tipo pra nego chegar e falar “vou ficar em casa e vocês que se virem em promover o próprio espetáculo”…

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Num campeonato onde brilharam duas equipes, e algumas outras soltaram vez ou outra lampejos de esperança, uma análise de equipe por equipe, e de piloto por piloto, creio eu, é completamente desnecessária. Quem acompanhou sabe o quão problemático foi o ano de 2009 para a categoria. Ao invés disso, resolvi abordar outra coisa nesse provável último post sobre Formula 1 no ano:

O que nos aguarda daqui pra frente?

Com a saída das montadoras (Honda, BMW e Toyota – até o momento), e a chegada dos times pequenos, a F1 ganha ares de categoria mais pobre/menos glamurosa. Eu acho isso tudo muito bom. Mesmo que num primeiro momento a competição fique novamente concentrada em duas ou três equipes. Coisa que, por sinal, nunca foi muito diferente disso, e sendo assim é perfeitamente considerável.

Lembro muito bem de ver sessões de classificação com 32, 34 carros… Rial, AGS, Life, Lola, Dallara, FootWork e outras porcarias brigavam pra simplesmente largar. O circo não era tão limpinho… via-se motor estourando, piloto grotesco destruindo carro, chefes de equipe bizarros que penhoravam a família em troca de um motor, propagandas de cigarro, vadias no paddock (isso ainda acontece, pelo menos), e circuitos poeirentos, com guard-rails remendados e grama alta. Era muito legal, porque era perigoso, mambembe e cheirava gasolina.

Com a vinda das montadoras e o avanço desenfreado da tecnologia, a coisa ficou com cara de hospital. Esse maldito e infeliz circuito de Abu Dhabi é a mais perfeita imagem do sabor de plástico que somos obrigados a engolir, graças à nossa devoção e resistência em não abandonar essa paixão. Claro que os avançoes e o desenvolvimento são ótimos, benéficos e o escambau, não só pra competição, como pra aplicação na nossa vida cotidiana. Mas observe:

A saída das montadoras abre espaço para a volta dos garagistas. Claro, hoje em dia não se monta um carro de F1 com peças recicladas, alugadas ou reaproveitadas – os custos para se fazer parte da categoria são elevadíssimos. Mas equipes novas precisam de gente boa desenvolvendo os carros, dentro e fora: bons pilotos, bons engenheiros, e uma equipe afiada de mecânicos. Novos nomes sempre são bem-vindos, e eu acho que a dedicação para se desenvolver uma estrutura competitiva de gente pequena tem a ver com sangue. Vindo de montadoras, isso é uma obrigação – que por sinal, foi muito mal cumprida pelas três que já se foram.

Portanto, que venham os novos ares. E as novas histórias mirabolantes, que só gente pequena, nova ou ambos é capaz de conceber. É um respiro de vida pra algo que anda muito sem sabor, de tão certinho.

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Eu não comentei nada sobre a F1 por aqui durante a temporada, com exceção da etapa de abertura. Dessa vez, me contentei em simplesmente acompanhar essa que foi sem sombra de dúvida a mais conturbada, inesperada e absurda competição na categoria de todos os tempos: brigas entre FIA e FOCA, difusores duplos, inversão de grandezas, Nelsinhogate, abandono das montadoras, a escuderia estreante faturando título de construtores e pilotos, nova geração de autódromos tecnológicos… foi areia demais pra qualquer caminhão. E de tudo isso, sequer citei o campeonato em si.

E acho que nem seria possível. Não dá pra resumir num textinho tanta coisa. Nem introduzir o assunto aos que não o acompanham, porque é muita explicação pra pouco espaço, além de desenvolver tudo isso. Então, sejamos breves no balanço da coisa toda:

Foi um bom campeonato. Não foi um baita, porque baita é quando as pistas são ótimas, as equipes estão equiparadas e há disputa e imprevisibilidade rolando. Nada disso aconteceu. A Brawn dominou a primeira parte da temporada, e a RedBull a segunda. McLaren, Ferrari e Renault foram ridículas, pífias, insignificantes. BMW involuiu, e abandonou o barco. Williams e Toyota prometiam algo um pouquinho melhor, mas nada. Toro Rosso ocupou espaço. Force India apareceu. E esse foi o mundial de construtores, onde brilharam os gênios Ross Brawn e Adrian Newey, e a Mercedes, com seu motorzão que deu sobrevida à McLaren e fez da Brawn metade do que foi. A outra metade foi o projeto soberbo de Brawn, com seu difusor mágico – melhor que o das concorrentes que também o tinham, e fator determinante frente às equipes que não.

De mais, a ressurreição da velha guarda: Jenson Button, de desempregado a campeão indiscutível. Longe de ser gênio, mas o mesmo quanto a ser medíocre. É regular, cerebral e competente. Bastou. Usou o que tinha da melhor forma possível. Se entendeu com os freios, Barrichello não. Levou, pra infelicidade do Galvão (que a cada temporada, merece uma camisa de força mais apertada e uma mordaça). Rubens passou pelo mesmo processo, e caso se entendesse com os freios desde o início, peitaria e provavelmente levaria de Jenson, pois é mais piloto. Calou a boca de muita gente, adotou uma postura inteligente (social e esportivamente falando) na segunda metade da temporada, e quase chegou lá. Ano que vem estará na Williams, competindo lá no meio e se divertindo. E só. Pra quem também não tinha mais emprego, um ótimo negócio. Fisichella fez pole, e quase ganhou com uma equipe que possui um carro certinho, mas ainda irregular, que é a Force India. Foi realizar um sonho no lugar de Massa, e fez o que pôde – que é muito pouco, perto do que a Ferrari precisa. Mas o carro também era uma merda, sempre é bom lembrar. Foi divertido enquanto durou, mas acabou. Webber arrebentou. Veterano (e com o qual eu não simpatizava muito), me ganhou durante o campeonato e mostrou-se suficientemente perigoso pra dar dor de cabeça ao companheiro de equipe.

As revelações (ou nem tanto) foram a afirmação de Sebastian Vettel como o novo talento a ser batido, e o surpreendente Kobayashi, que nas duas últimas provas do campeonato simplesmente fez vibrar a qualquer um que goste de F1. No mais, Buemi não comprometeu, mas também não brilhou. Nelsinho (enquanto corria) e Grosjean foram medíocres. A F1 anda precisando de mais pilotos, e menos meninos-com-dinheiro.

E vale um parágrafo sim para os malditos circuitos sonolentos de Hermann Tilke, que são lindos na estrutura, mas cujas pistas são absolutamente medíocres. O alemão dublê de engenheiro foi responsável pelos malditos hightech tracks, onde o que brilha são os hotéis, as pontes, os lagos, os iates e os milionários. E a corrida que se foda. Malditos traçados malfeitos, que estão ocupando o espaço de onde foi feita a história da maior categoria do mundo: Ímola, Hockenheimring, Paul Ricard, Hermanos Rodriguez, Estoril, Jerez, Montreal… e hoje temos lindas provas ao pôr-do-sol, onde ninguém ultrapassa ninguém, é impossível de se errar, não existe árvore, muro ou alambrado, e as pessoas presentes não sabem do que se trata aquele monte de carrinho correndo, um atrás do outro.

Enfim, foi uma zona. Mas eu acompanhei, do início ao fim, e tenho muita fé na temporada que vem. Um pouco mais, talvez, eu fale mais pra frente. Ainda nem fiz o balanço do ano, nem as prospecções pro ano que vem. Por enquanto, acho que é isso…

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O que se viu na pista australiana foi a demonstração do quão surpreendente, emocionante e imprevisível pode ser uma corrida. Desde os treinos de sexta, a BrawnGP sobrou. Barrichello e Button não deixaram por momento algum a dúvida de quem dominaria a corrida pairar no ar. E antes que me perguntem que imprevisibilidade existe numa corrida após uma afirmação dessas, eu digo que desde o momento em que as cinco luzes vermelhas se apagaram, à exceção da belíssima largada de Jenson Button, que fugiu na frente, só sendo visto depois de quase duas horas no topo do pódio, o restante dos acontecimentos mereceu todo tipo de manifestação da torcida.

Aplausos pra belíssima corrida de recuperação de Lewis Hamilton, que saiu da última posição pra chegar em quarto lugar (que se tornaria terceiro após a ultrapassagem proibida de Jarno Trulli, que até quando dá uma bola dentro, ela sai). Aplausos também para o belíssimo desempenho da BMW, que até o momento da prova vinha mostrando-se discreta e menos eficiente que nos últimos anos. Vaias para o talentosíssimo Robert Kubica, que teve um lapso mental e se enroscou com o também velocíssimo, talentosíssimo e, neste final de semana, idiota Sebastian Vettel. Tomates pra ambos. Aplausos para a estréia discreta mas pontuada de Sebastien Buemi, que levou um dos dois carros da Toro Rosso aos pontos. Ovos na Ferrari, que vinha constante e bonita até deixar seus dois pilotos na mão – e instabilidade mecância numa equipe seria algo perdoável na BrawnGP, e não na Scuderia de Maranello. Nelsinho Piquet continua desonrando o nome do pai – é rápido, mas mentalmente incapaz de resistir à pressão. Ou seja, pra F1 ele não serve. Ao contrário de seu companheiro, o sensacional Fernando Alonso, que fez uma disputa por posições digna dos grandes campeões com Hamilton, apesar de ambos estarem andando no meio do grid. A Toyota e a Williams estão muito fortes, pra completar nossa cara de assombro ao assistir às brigas por posições dentro da pista. E Barrichello, o eterno azarado, mesmo largando mal contou com um carro maravilhoso, com seu incontestável talento (apoiado pelo retorno da auto-estima e do tesão por estar correndo, e disputando), e uma sorte danada com a fanfarra aprontada por Kubica e Vettel, que lhe deram de mão beijada o segundo degrau do pódio.

A primeira prova do ano fez com que até o inevitável sono das 3h da manhã se tornasse euforia. Não assistimos às corridas para torcer por este ou aquele piloto. Logicamente temos nossas preferências, mas nós, que não ficamos sem o ruído dos motores nos finais de semana, certamente estamos maravilhados com a inversão total que aconteceu na categoria: uma equipe estreante lidera treinos e faz uma dobradinha histórica em sua primeira corridda; equipes gigantes e milionárias brigam na rabeira; novos nomes surgem; velhos nomes ressurgem; o equilíbiro acontece de maneira torta, mas muito eficiente.

E de todas as delícias de você ver muitas ultrapassagens, erros e acertos, brigas e mais brigas, certamente a satisfação de ver dois de três pilotos com macacões lisos, comemorando como crianças que acabaram de tirar as rodinhas da bicicleta e deram a primeira volta no parque sem cair é coisa que não se explica. Assim como foi a vitória de Vettel ano passado, a de Panis em Mônaco em 1996 ou aquela primeira vitória de Rubens em Hockenheim em 2000, você esquece a bandeira de seu país e torce de fato para que aquele cara que está ali, debaixo do capacete e detrás do volante a mais de 300 km/h tenha de fato o mérito por uma atuação heróica e fora do comum. É inerente ao ser humano torcer pelos menores, pelos coadjuvantes. E aquela equipe de carro branco, que até sábado sequer patrocínio tinha, e que pouco mais de um mês antes tinha nos mecânicos sobreviventes da falecida Honda a maior das desconfianças sobre que tipo de ridículo aquela carroça que vinha sendo desenvolvida em sua garagem, sem apoio de ninguém passaria na Austrália. A desconfiança aumentou quando a carroça criou asas e voou por cima de todos. E ontem, ela tornou-se uma enorme e maravilhosa gargalhada e um grito de “SURPRESA!!!”, que aquele povo desacreditado devolveu em pura competência e muito trabalho. Nós, os apaixonados por essas máquinas, estamos orgulhosos dessa BrawnGP. E apaixonados também pelo capítulo maravilhoso construído nessas duas madrugadas.

A emoção voltou, e ela é branca, amarela e preta.

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CLASSIFICAÇÃO FINAL DO GP DA AUSTRÁLIA

1. Jenson Button (GBR) Brawn GP – 58 voltas
2. Rubens Barrichello (BRA) Brawn GP – a 0s8
3. Jarno Trulli (ITA) Toyota – a 1s6
4. Lewis Hamilton (GBR) McLaren – a 2s9
5. Timo Glock (ALE) Toyota – a 4s4
6. Fernando Alonso (ESP) Renault – a 4s8
7. Nico Rosberg (ALE) Williams – a 5s7
8. Sebastien Buemi (SUI) Toro Rosso – a 6s
9. Sebastian Bourdais (FRA) Toro Rosso – a 6s2
10. Adrian Sutil (ALE) Force India – a 6s3
11. Nick Heidfeld (ALE) BMW – a 7s
12. Giancarlo Fisichella (ITA) Force India – a 7s3
13. Mark Webber (AUS) Red Bull – a 1 volta
14. Sebastien Vettel (ALE) Red Bull – a 2 voltas
16. Robert Kubica (POL) BMW – a 3 voltas
13. Kimi Raikkonen (FIN) Ferrari – a 3 voltas (problema mecânico)
17. Felipe Massa (BRA) Ferrari – a 13 voltas (problema mecânico)
18. Nelsinho Piquet (BRA) Renault – a 34 voltas (escapada)
19. Kazuki Nakajima (JAP) Williams – a 41 votas (batida)
20. Heikki Kovalainen (FIN) McLaren – a 58 voltas (suspensão)

Clube dos 5

mar
2009
27

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Semana que vem começa o campeonato. A Formula 1 volta a dar o ar da graça e eu fico todo felizinho de acordar às 3h da manhã pra ver uma corrida na Austrália. E pra completar a festa, a FIA voltou atrás e suspendeu aquela decisão unilateral ridícula que dava o título ao piloto que mais vencesse, e não ao que mais pontuasse.

Todos nós, fãs, espectadores, torcedores, pilotos, equipes, jornalistas, enfim… qualquer um que goste de acompanhar essa maldita e viciante competição, agradecemos e muito ao lampejo de bom senso (e ao barulho feito ao redor disso, com críticas severas, entrevistas contundentes e aquele abaixo-assinado que eu também assinei – quem disse que a comunidade virtual e as redes sociais não têm poder de decisão?).

Este post é pra completar o assunto levantado no parágrafo postado há 3 dias, e pra indicar alguns blogs automobilísticos pros que, assim como eu, gostam do Reginaldo Leme mas precisam de um pouco mais de informação. Segue a lista (frequentada por mim a muito tempo), e altamente recomendada:

O mais legal:
FLÁVIO GOMES [http://colunistas.ig.com.br/flaviogomes/]

O mais crítico:
FÁBIO SEIXAS [http://fabioseixas.folha.blog.uol.com.br/]

O complementar e gente boa:
TÉO JOSÉ [http://teojose.zip.net/]

O mestre supremo:
PANDINI [http://pandinigp.blogspot.com/]

O mix dos 4 anteriores:
CAPPELLI [http://www.blogdocapelli.com.br/]

Nçao vou ficar aqui descrevendo o que ou como cada um escreve. Confira um pouco de cada um, e se gostar, adote seu cronista preferido. O fato é que nunca fiz uma pré-temporada tão boa quanto essa. Melhor que eu, só a BrawnGP (que será assunto do meu próximo post automobilístico.

See ya.

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Eu acho lamentável. O sistema de pontuação da F1 acaba não valendo grandes coisas e a regularidade menos ainda. Premiar quem vence mais (sendo que a média de vitórias de um campeão fica entre 6 a 7 num ano competitivo) pode matar o cameponato na metade do ano. É ridículo. Tão ridículo quanto aquela idéia estapafúrdia do sistema de medalhas. Por sinal, são idéias irmãs. E eu que estava tão feliz com as possíveis mudanças abruptas no campeonato – ao menos no impacto dessa novidade – estou bastante decepcionado.

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Todo mundo desce a ripa no Rubinho. Absolutamente todo mundo, inclusive eu. E eis que desde a morte da Honda na F1, mataram também nosso Judas favorito, colocando-o de lado na disputa com Bruno Senna pela vaga naquilo que sobrou da equipe, e que vai pra pista do jeito que for pra fazer número na temporada deste ano. Eis que no andar da carruagem, um pouco de bom senso prevaleceu nos bastidores da F1, e Nick Fry aparentemente é carta fora do baralho, deixando o comando da escuderia para Ross Brawn – esse sim, um gênio indiscutível de bastidores.

E Brawn deve mesmo anunciar que a equipe existe, e que vai pra pista em 2009 com Button e… Barrichello.

Então, façamos uma breve análise do que de fato é a História de Rubens Barrichello na F1. Coisa que a gente esquece rápido, mas que a própria categoria faz questão de relembrar, principalmente na hora de escolher um piloto pra chefiar uma berinjela do tamanho que é essa BrawnF1 Brawn GP:

JORDAN [1993/1996]

Rubens Barrichello estreou na F1 nos idos de 1993, na finada Jordan, equipe em que permaneceu durante 4 anos, desenvolvendo (e muito bem) seu carro com o sofrível motor Hart em 93 e 94 (substituído pelo virgem Peugeot em 95 e 96) – e com esse mesmo motor fuleiro conseguiu seu primeiro pódio em 1994. Ao seu lado, competiram pela mesma equipe pilotos de qualidade extremamente duvidosa, como Eddie Irvine, Martin Brundle, Aguri Suzuki e o inimitável Andrea de Cesaris. E ainda assim, Rubens sobreviveu.

Ainda pela Jordan, Rubinho passou pelo momento mais crítico de sua carreira, no fatídico fim de semana em Ímola, também em 94, quando nos treinos de sexta, ao contornar a chincane do estádio, se arrebentou no muro de proteção, ficando de fora da prova e projetando a tragédia tamanha que as mortes de Ratzenberger e Senna viriam a concretizar.

Nesse mesmo final de semana, Rubinho herdaria, querendo ou não, a responsabilidade de substituir um ídolo nacional e mundial do porte de Ayrton Senna, e com um ano e meio na categoria, carregar a bandeira que Piquet, Senna e Fittipaldi demoraram anos para consagrar – e sempre o puderam fazer em equipes de ponta, em épocas distintas e com talentos individuais que ninguém tem o direito de comparar a outros desportistas.

STEWART [1997/1999]

Na Stewart, Rubens desenvolveu uma equipe dirigida por um garagista e ex-piloto dos mais competentes da História. Certamente alguém da estirpe de Jack Stewart não confiaria o desenvolvimento de seu carro a um qualquer, e chamou alguém notoriamente competente pra isso. Rubens desenvolveu a segunda equipe pequena da carreira.

Pela Stewart, logo no primeiro ano, obteve um segundo lugar em Mônaco, sendo essa apenas a quinta corrida da equipe – um feito absurdo. Pela equipe conseguiria ainda mais 3 pódios nos 3 anos de permanência. Nessa mesma época, a Ferrari descobriu que Eddie Irvine – aquele estabanado que só conseguia resultados medíocres na escuderia (sendo que seus únicos resultados bons aconteceram quando Schumacher se arrebentou e tiveram que promovê-lo temporariamente a primeiro piloto), não fazia metade do que Barrichello fazia na Stewart. Coisas como essa:

O desenvolvimento da equipe foi tamanho que antes da sua aquisição pela Jaguar em 2000, a dita obteve uma pole com Rubinho na França, e uma vitória com Johnny Herbert no GP da Europa – ambas em 1999, ano em que a Stewart terminou o campeonato de construtores na 4ª posição. Fatos esses que nenhuma escuderia com tão pouco tempo de existência conseguiu superar desde então.

FERRARI [2000/2005]

Rubens “só” dividiu o cockpit da Ferrari com o piloto mais vitorioso de todos os tempos. Mas antes de lidarmos com Schumacher, vale a ressalva: Rubinho PILOTOU a FERRARI, coisa que nenhum brasileiro havia feito na História da F1. Mais que isso: Rubinho GANHOU CORRIDAS com uma FERRARI. Mais ainda? Barrichello esteve na equipe durante 6 anos, e saiu da mesma por livre e espontânea vontade (e muito saco cheio e inconformismo), deixando a porta aberta pra outros brasileiros, entre eles um tal de Felipe Massa, que sem os tabus e o companheiro de equipe que Barrichello teve, já fez o que fez em 2 anos na escuderia de Maranello.

Schumacher não precisa de adjetivos. Ser seu companheiro foi um tremendo azar. Algo como colocar o Pepe ao lado do Pelé, Paula ao lado de Hortência, e na própria F1, Berger ao lado de Senna. Talentos inegáveis, mas que dividiram espaço com atletas únicos. Foi o mesmo caso, e isso meu amigo, é AZAR.

Rubinho pecou ao falar demais. Ao reclamar demais. Virou um chato. Nada poderia derrubar Schumacher, e assim foi. Mesmo assim, Barrichello foi o único que acertou-lhe uma rasteira, que sujou a história vitoriosa do alemão, e da própria Ferrari, quando expôs publicamente a palhaçada a que era submetido. Dos momentos mais chocantes, marcantes, engraçados e bizarros da F1. Vale lembrar:

A primeira vitória chegaria, numa largada em que sua posição era a 18ª do grid. Que teve padre invadindo pista. Que teve Sol. Que teve chuva. Que não faltou ultrapassagem. E que merece a devida lembrança:

Mais um pouquinho, porque esse momento foi sim MUITO legal e bem emocionante…

HONDA [2006/?]

De saco cheio de jogar pros outros, foi pra Honda, equipe em que dinheiro, tradição e competência não seriam problema. Mas a Honda tinha Nick Fry – o fanfarrão-mor da categoria, um dirigente lamentável e extremamente incompetente. Que em 3 anos afundou a montadora em resultados medíocres, e queimou completamente tanto Rubens quanto Jenson Button – e ainda sob esse cenário, Rubens esteve sempre à frente de Button.

Porém, em 2008, entra em cena Ross Brawn, o responsável direto pelos títulos de Schumacher tanto na Ferrari quanto na precária Benetton, na metade da década de 90. Com o projeto do ainda manda-chuva Fry, Brawn assiste ao fracasso da equipe, e ganha de brinde o pepino de comandar aquilo que já foi a Honda na temporada de 2009. Limpa-se a casa, e qual o piloto ideal pra desenvolver aquilo que restou da equipe?

Pretere-se a aposta Bruno Senna, aposta-se na experiência do piloto com o maior número de corridas na história da categoria. Rubinho ganha esta semana a chance de continuar fazendo o que gosta, e faz muito bem: correr na categoria mais importante do automobilismo mundial. E na minha opinião, prova que após 16 anos, ainda tem muita lenha pra queimar, e escreve com fatos aquilo que muita gente (inclusive meu ídolo, Nelsão Piquet) discute: sua competência.

Rubinho, boca fechada e pé embaixo. A gente adora e odia – mais adora que odeia – tudo isso.

A vez da BMW

jan
2009
20

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Se alguém te perguntar (ou me perguntar) se haverá alguma diferença entre os carros de F1 dos últimos anos e os desta temporada, eu deixo a Sauber BMW responder essa:

E os carros de corrida vão ficando cada vez mais com cara de… carros de corrida. Os fãs agradecem, e muito, que seja assim, e não aquelas geringonças espaciais que cada vez mais pareciam… coisas.

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Ao final do ano passado eu fiz um balanço sobre quem era e o que seria a Formula 1 em 2009. Obviamente que aos olhos leigos de quem está excluído do contexto econômico (e naquele momento todos nós estávamos), não se prevê uma crise econômica das proporções que esta de agora tomou. E conseqüentemente, toda e qualquer base de argumentação vai pela privada.

Sendo assim, voltemos ao foco. Façamos aqui os primeiros apontamentos sobre a temporada 2009, embasando as opiniões no bom e velho feeling:

Essa história de aumentar as asas dianteiras e diminuir MUITO as traseiras ainda me ofende um pouco, mas no geral eu gosto. Por sinal, arrancar aqueles varais aerodinâmicos das laterais fez um bem danado à estética dos carros. E claro, um carro de F1 de pneus slick tem sim cara de carro de F1. A velha guarda agradece e MUITO.

Quanto às equipes, os testes estão começando agora com os modelos do ano. Ferrari e McLaren saem com larga vantagem, seguidos pela Renault e só. Com a BMW ninguém sabe o que vai acontecer. A Honda se mandou. As equipes da Redbull serão notoriamente menos competitivas, na minha opinião. A Force India com motor Mercedes é coisa que eu quero ver. A Toyota vai continuar servindo de lombada…

…e a Williams… é o último suspiro romântico da F1. Apresentou um carro nos boxes, com piloto reserva e sem pintura definitiva. Frank Williams é o derradeiro garagista, o último verdadeiro chefe de equipe. Dá dó ver a equipe nessa maré, e eu torço MUITO pra que eles marquem um pontinho durante o ano. Uma escuderia tão vitoriosa não merecia um final tão melancólico.