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O que se viu na pista australiana foi a demonstração do quão surpreendente, emocionante e imprevisível pode ser uma corrida. Desde os treinos de sexta, a BrawnGP sobrou. Barrichello e Button não deixaram por momento algum a dúvida de quem dominaria a corrida pairar no ar. E antes que me perguntem que imprevisibilidade existe numa corrida após uma afirmação dessas, eu digo que desde o momento em que as cinco luzes vermelhas se apagaram, à exceção da belíssima largada de Jenson Button, que fugiu na frente, só sendo visto depois de quase duas horas no topo do pódio, o restante dos acontecimentos mereceu todo tipo de manifestação da torcida.

Aplausos pra belíssima corrida de recuperação de Lewis Hamilton, que saiu da última posição pra chegar em quarto lugar (que se tornaria terceiro após a ultrapassagem proibida de Jarno Trulli, que até quando dá uma bola dentro, ela sai). Aplausos também para o belíssimo desempenho da BMW, que até o momento da prova vinha mostrando-se discreta e menos eficiente que nos últimos anos. Vaias para o talentosíssimo Robert Kubica, que teve um lapso mental e se enroscou com o também velocíssimo, talentosíssimo e, neste final de semana, idiota Sebastian Vettel. Tomates pra ambos. Aplausos para a estréia discreta mas pontuada de Sebastien Buemi, que levou um dos dois carros da Toro Rosso aos pontos. Ovos na Ferrari, que vinha constante e bonita até deixar seus dois pilotos na mão – e instabilidade mecância numa equipe seria algo perdoável na BrawnGP, e não na Scuderia de Maranello. Nelsinho Piquet continua desonrando o nome do pai – é rápido, mas mentalmente incapaz de resistir à pressão. Ou seja, pra F1 ele não serve. Ao contrário de seu companheiro, o sensacional Fernando Alonso, que fez uma disputa por posições digna dos grandes campeões com Hamilton, apesar de ambos estarem andando no meio do grid. A Toyota e a Williams estão muito fortes, pra completar nossa cara de assombro ao assistir às brigas por posições dentro da pista. E Barrichello, o eterno azarado, mesmo largando mal contou com um carro maravilhoso, com seu incontestável talento (apoiado pelo retorno da auto-estima e do tesão por estar correndo, e disputando), e uma sorte danada com a fanfarra aprontada por Kubica e Vettel, que lhe deram de mão beijada o segundo degrau do pódio.

A primeira prova do ano fez com que até o inevitável sono das 3h da manhã se tornasse euforia. Não assistimos às corridas para torcer por este ou aquele piloto. Logicamente temos nossas preferências, mas nós, que não ficamos sem o ruído dos motores nos finais de semana, certamente estamos maravilhados com a inversão total que aconteceu na categoria: uma equipe estreante lidera treinos e faz uma dobradinha histórica em sua primeira corridda; equipes gigantes e milionárias brigam na rabeira; novos nomes surgem; velhos nomes ressurgem; o equilíbiro acontece de maneira torta, mas muito eficiente.

E de todas as delícias de você ver muitas ultrapassagens, erros e acertos, brigas e mais brigas, certamente a satisfação de ver dois de três pilotos com macacões lisos, comemorando como crianças que acabaram de tirar as rodinhas da bicicleta e deram a primeira volta no parque sem cair é coisa que não se explica. Assim como foi a vitória de Vettel ano passado, a de Panis em Mônaco em 1996 ou aquela primeira vitória de Rubens em Hockenheim em 2000, você esquece a bandeira de seu país e torce de fato para que aquele cara que está ali, debaixo do capacete e detrás do volante a mais de 300 km/h tenha de fato o mérito por uma atuação heróica e fora do comum. É inerente ao ser humano torcer pelos menores, pelos coadjuvantes. E aquela equipe de carro branco, que até sábado sequer patrocínio tinha, e que pouco mais de um mês antes tinha nos mecânicos sobreviventes da falecida Honda a maior das desconfianças sobre que tipo de ridículo aquela carroça que vinha sendo desenvolvida em sua garagem, sem apoio de ninguém passaria na Austrália. A desconfiança aumentou quando a carroça criou asas e voou por cima de todos. E ontem, ela tornou-se uma enorme e maravilhosa gargalhada e um grito de “SURPRESA!!!”, que aquele povo desacreditado devolveu em pura competência e muito trabalho. Nós, os apaixonados por essas máquinas, estamos orgulhosos dessa BrawnGP. E apaixonados também pelo capítulo maravilhoso construído nessas duas madrugadas.

A emoção voltou, e ela é branca, amarela e preta.

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CLASSIFICAÇÃO FINAL DO GP DA AUSTRÁLIA

1. Jenson Button (GBR) Brawn GP – 58 voltas
2. Rubens Barrichello (BRA) Brawn GP – a 0s8
3. Jarno Trulli (ITA) Toyota – a 1s6
4. Lewis Hamilton (GBR) McLaren – a 2s9
5. Timo Glock (ALE) Toyota – a 4s4
6. Fernando Alonso (ESP) Renault – a 4s8
7. Nico Rosberg (ALE) Williams – a 5s7
8. Sebastien Buemi (SUI) Toro Rosso – a 6s
9. Sebastian Bourdais (FRA) Toro Rosso – a 6s2
10. Adrian Sutil (ALE) Force India – a 6s3
11. Nick Heidfeld (ALE) BMW – a 7s
12. Giancarlo Fisichella (ITA) Force India – a 7s3
13. Mark Webber (AUS) Red Bull – a 1 volta
14. Sebastien Vettel (ALE) Red Bull – a 2 voltas
16. Robert Kubica (POL) BMW – a 3 voltas
13. Kimi Raikkonen (FIN) Ferrari – a 3 voltas (problema mecânico)
17. Felipe Massa (BRA) Ferrari – a 13 voltas (problema mecânico)
18. Nelsinho Piquet (BRA) Renault – a 34 voltas (escapada)
19. Kazuki Nakajima (JAP) Williams – a 41 votas (batida)
20. Heikki Kovalainen (FIN) McLaren – a 58 voltas (suspensão)

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