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E a sorte enfim sorriu para Barrichello.

Sim, sorte. Pela primeira vez em muito tempo. Um piloto cujo primeiro registro que me lembro ter em mãos é um comercial da Arisco impresso no 4Rodas de eras atrás, e que de lá pra cá se tornou a esperança brasileira na Formula 1 após uma época dourada de gênios nacionais do esporte: Fittipaldi, Piquet e Senna. Não há sucessão que segure uma barra dessas.

Equivale a esperar quem serão os novos Beatles. Sim, a pressão imposta (e aceita) principalmente pela Rede Globo, quando perdemos o ídolo natural desse esporte naquele 1º de maio pesou nas costas do sujeito. Uma pressão absurda, diga-se de passagem, porque ninguém tem a obrigação de ser genial por ter nascido no mesmo chão que outros gênios – algo tão lógico que é absurdo ter que explicar uma coisa dessas. E ele reclamou (muito), e chiou (demais), e entre espasmos nacionalistas e desilusões técnicas, nunca atingiu metade do sucesso dos três nomes já citados. Jordan, Stewart, Ferrari, Honda, Brawn e Williams. Uma montanha-russa de equipes: ascendentes, consolidadas, estreantes e roubadas. Uma carreria de esperanças e desesperanças que justificam o sobe-desce da comparação anterior.

Rubinho deu sim muito azar. Estava no lugar errado na hora errada quando Senna morreu. A Jordan ascendente não era a Williams ou a Benneton. Quase ganhou com a Stewart – fez até pole com ela, uma equipe nanica mas extremamente profissional. Saltou pra Ferrari, naquele que seria seu grande momento na Formula 1. Mas ao seu lado, Schumacher, que foi e é o melhor piloto de todos os tempos dessa categoria. Barrichello foi Berger e Patrese – um coadjuvante de luxo numa equipe que clara e logicamente privilegiou seu melhor piloto. Migrou pra Honda, uma equipe horrorosa, que quando acabou e aparentemente acabaria também com sua carreria, virou Brawn – aquela equipe que durou um ano e foi “só” campeã. Seu último suspiro de saúde antes de passar pela hoje agonizante Williams. Parecia

Mas não dá pra tirar os méritos de um cara que se mostrou ser um baita carregador de pianos. Além de ótimo acertador de carros, um piloto com pouquíssimos erros de pista, algumas vitórias espetaculares (a sua primeira na Alemanha foi coisa que valia um filme) e momentos memoráveis (pro bem e pro mal), e um cara persistente – um baita mérito em tempos de gente preguiçosa que desiste por qualquer coisa. Vindo de uma época ainda dourada da F1, Rubinho vivenciou a revolução tecnológica de duas décadas numa categoria absurdamente exigente e visionária. Sobreviveu, e se não foi um mártir, da mesma forma não merecia uma carreira como a que teve ser desligada abuptamente. Stock Car? Me perdoem, mas automobilismo no Brasil nesse momento é motivo de piada. Merecia coisa melhor sim, e a Indy apareceu em boa hora. De um jeito muito legal, com o apoio do Kanaan (que é outro baita piloto, mas que nunca vai figurar no hall daqueles 3 por justamente ter sido vencedor somente na Indy – assim como Gil de Ferran e Helinho).

Qual o grande barato dessa história?

Infelizmente haverá uma transferência de nacionalismo – sai a Globo, entra a Band, e o “Rubinho do Brasil” continua existindo, coisa que ninguém precisa. Mas a exposição da categoria pros fãs daqui ganha em muito com o ingresso de Rubens. Da mesma forma, a pressão que ele carregava como esperança nacional numa categoria cada vez menos competitiva perde-se na distribuição de equipamentos muito semelhantes na Indy. Sim, Barrichello pode agora falar de vitórias (e por que não, de títulos) com base em possibilidades, e não em sonhos. Nos EUA, novos circuitos, uma galera que compete de forma completamente diferente, ovais e novos desafios. E quem não precisa de renovação nessa vida?

Rubens renasce num momento em que seu desempenho ainda é de alto nível, e chega forte num novo e (sim) empolgante universo, onde aquele não-me-toque todo limpo e requintado da F1 dá lugar a um espírito de certa forma mais “precário e garagista” – coisa que todo piloto gosta e preza. Sem desculpas nem comparações, dado que é novo na brincadeira. Os carros, igualmente novos, reinauguram a categoria esse ano.

Quem diria que nossa melhor novidade seria um velho conhecido. Eu desejo sim boa sorte e torço muito… e que aquela imagem amarga e caricata dê lugar à de bom e competente piloto que ele sempre foi.

*Eu estou postando esse texto ANTES do anúncio oficial, porque nunca foi tão óbvia uma notícia dessas. Pra ter coletiva de imprensa e transmissão ao vivo por rádio e TV pelo Grupo Bandeirantes, eu pessoalmente duvido que marquem um evento desse tipo pra nego chegar e falar “vou ficar em casa e vocês que se virem em promover o próprio espetáculo”…

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  1. O dia em que eu conheci o Barrichello | masili | 3minutos
    [...] Tudo começou exatamente aqui. [...]

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