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20/set/2011 – dia 7
Machu Picchu/Cusco

Depois de um dia absolutamente indescritível e um jantar bacanudo, obviamente uma mini dor de cabeça aconteceu com o chuveiro estrábico do hostel em que estávamos, e cuja água quente só funcionava após uma forcinha da caldeira, ligada por um dos funcionários do lugar. Óbvio que serviu somente para aumentar o número de histórias acumuladas (e dar um banho não só na gente, mas no banheiro todo do quarto). Por sinal, o mesmo cara que arrumou o chuveiro nos instruiu a chegar cedo no segundo dia e pegar um horário bacana para a subida de Huayna Picchu. Nos preparamos pra estar lá em cima (na cidade, não na “montanhinha” – como Huayna Picchu ficou carinhosamente conhecida após o apelido atribuído pela Dé) por volta das 7h45.

O café da manhã dessa vez foi bem modesto, mas mesmo assim deu pro gasto, e assim, fomos pro ônibus novamente. Quando o caminho já é conhecido e a ansiedade ficou pra trás, aparentemente os percursos acontecem de forma mais rápida. Chegamos lá em cima, e a paisagem cinzenta do dia anterior deu lugar a um dia absolutamente azul e glorioso. A manhã era irretocável, e toda uma nova imagem se desenhava na cidade, agora plenamente iluminada pelo Sol. Como chegamos cedo, pudemos pegar um pouco disso com ela ainda esvaziada – cenário que mudaria sem demora, uma vez que com o tempo aberto a invasão de turistas era iminente. Tiramos algumas poucas fotos (por sinal, nesse dia eu apareço somente em duas), e nos separamos. Fiquei com a minha mãe na parte baixa da cidade, enquanto a Dé e a Mel foram encarar a montanhinha (que assim será chamada a partir de agora, sem aspas, dado que a explicação já foi feita).

A PARTE DE BAIXO
por Masili

Com o tempo seco, gramado e pedras menos escorregadios, o passeio com a velha mãe foi BEM mais tranquilo. Tivemos tempo de explorar de cima a baixo toda a cidade, e ter um tempo que há muito não tínhamos pra conversar sobre coisas da vida – aquelas realmente importantes, que nem sempre a gente se atenta, mas na hora do aperto sente falta. E assim seguimos, durante toda a manhã. Dos detalhes gerais, vale citar o encantamento da Paquinha pelos esquilinhos que se escondiam debaixo de algumas pedras, nossa completa perplexidade com os grupos de viagem japoneses e suas vestimentas coloridas e tecnologias absolutamente denecessárias (depois dessa viagem, não consigo imaginar um japonês acampando), e a ajuda providencial à mãe de um cara chamado Manolo, espanhol que encantou os olhos da velhinha.

Muita água depois, nos postamos numa área mais aberta e visível da cidade, pois fizemos a grande besteira de não combinar um lugar de encontro quando as meninas voltassem. Por sorte, minha mãe usava uma blusa rosa que seria visível até de Marte, e minha indefectível camisa do Timão certamente ajudaria quando da volta de ambas, o que aconteceu no começo da tarde. A história do dia certamente não foi minha e da Paquinha, mas das duas. E esse espaço está aberto aos relatos, de ambas, quando e como quiserem.

A PARTE DE CIMA
por Debs

[e aqui entram o texto e as fotos…]

A PARTE DE CIMA
por Mel

[e aqui entram o texto e as fotos…]

Santa Alpaca

maio
2012
23

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19/set/2011 – dia 6
Cusco/Machu Picchu

Pegamos o ônibus e descemos a montanha. A sensação geral era um misto de êxtase e cansaço – sim, agora ele era sentido. A tensão toda fica pra trás e aquilo tudo que era sonho, expectativa, essas coisas vira realidade. Era fim de tarde e a fome apertava (além do friozinho óbvio).

Porém, esqueçam os detalhes sobre onde e como era o local em que resolvemos jantar – o almoço do dia seguinte seria lá também, com novas e melhores histórias. Fato é que fomos felizes na escolha, e quando já acomodados, tivemos a inteligência aventureira de pedir o que mais se destacava naquele cardápio.

Alpaca. Ao ponto.

Pedimos vinho, Coca-Zero, o que fosse pra acompanhar. Deixo abaixo a imagem, e digo novamente: voltamos no dia seguinte. Qualquer outro comentário que não seja um litro de água na boca e a saudade desse prato não condizem com o que de fato foi experimentar uma iguaria tão gostosa.

O dia estava quase acabando, mas ainda cabia uma última emoção.

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19/set/2011 – dia 6
Cusco/Machu Picchu

Assim que terminamos o almoço, entramos na cidade histórica.

A frase acima traz a única impressão de normalidade possível em Machu Picchu, porque logo após os primeiros passos já é possível avistar a clássica imagem das duas montanhas ao fundo, e as ruínas logo à frente. Algo que desde pequena toda e qualquer criança sabe o que é, assim como a praia de Copacabana ou a Estátua da Liberdade. Copacabana, quando eu conheci num final de tarde num longínquo 2001, me emocionou profundamente por concretizar aos olhos algo que nenhuma foto, filme ou desenho são capazes de fazer.

Machu Picchu não foi diferente. Pelo contrário.

Da mesma forma que creio eu, seja absolutamente impossível descrever o que se sente no primeiro contato com a cidade. A emoção sim se apodera de você, e naquele momento eu, a Dé, a Mel e minha mãe de uma forma ou de outra fomos afetados diretamente pela grandeza e magnitude daquele lugar. Qualquer pessoa sonha, e realizar um sonho é sempre algo cuja plenitude de sensações e emoções só cabe a quem vive. Eu não seria responsável se tentasse explicar o que sentimos, acho que nem mesmo o que eu senti. Esqueçam os nomes, as explicações históricas, as curiosidades… eu não consigo descrever Machu Picchu dessa maneira.

Consigo sim dizer que a grandeza e a imponência da cidade te deixa com a clara impressão de sua insignificância perante o mundo. Seus níveis e caminhadas são feitas quase que na totalidade subindo ou descendo para algum lugar. Tente (eu sei, não dá, mas tente) imaginar o que significa uma cidade vertical no alto de uma montanha, cujo visual em qualquer um de seus arredores é o cume de uma cadeia montanhosa enorme e absolutamente linda. Lá embaixo, um rio corre minúsculo (nessa perspectiva), mas se faz ouvir. Somos paulistas desacostumados com tanto verde. As paredes de pedra são enormes, impossíveis de serem construídas numa época e altitude tão grandes. Mas estão lá, assim como um sistema de escoamento de água que faz frente a qualquer projeto moderno. Respira-se história de uma forma densa, mas isso não predomina sobre o deslumbre que é estar ali, inserido num cartão postal – ou num sonho real, se preferirem.

Por isso mesmo, vou tentar colocar em palavras alguns dos acontecimentos da tarde, pra identificar nossa viagem com nossas coisas. A começar pelo ímpeto de explorador que dominou todos nós… existem setas e umas indicações de rotas sugeridas pelo caminho em toda a cidade. Todas foram solenemente ignoradas, e fizemos nosso passeio. Os “degraus” das “escadarias” são sim conjuntos de pedras, e os incas eram altos, ou seja… sim, cansa o sobe-e-desce. Mas não se esqueça: você está na pilha por estar ali, e esse cansaço só é sentido na hora que você volta pro hostel, portanto fique tranquilo. Leve água, porque é necessário. E no mais, simplesmente aproveite… foi o que fizemos. Pouco a pouco fomos descobrindo cada um dos locais, as casas, seus caminhos, curvas e becos. Em alguns pontos – muitos deles – é possível observar todo o vale, e parece que cada visão é cada vez mais especial e diferente. Não é exagero.

O dia vinha meio nublado, e a cidade estava com bastante gente. Percorremos uma linha geral, nos aproximando de Huayna Picchu inclusive, que seria a montanha a ser vencida no dia seguinte. Subimos, descemos, demos voltas atrás de voltas e fizemos questão de “nos perder” entrando onde bem entendêssemos. No meio da tarde, uma chuvinha chata começa a cair. Mas esse “chata” acabou dando um tempero a mais na tarde, pois havíamos nos preparado MUITO para aquele momento, e enfim poderíamos testar na prática nossos casacos impermeáveis. Parece coisa de bobo, eu sei, mas tamanha era a felicidade e a plenitude daquele momento que não havia chuvisco que nos atrapalhasse. O passeio ganhou nova cara. Subimos ainda mais, e lá de cima tivemos uma visão geral daquela cidade fantástica. A tarde foi passando e pouco a pouco as pessoas foram embora, até resolvermos fazer o mesmo – a fome já voltava a perambular e em determinado momento a Mel percebeu que ela e o curry não serviam um para o outro. Saímos aos poucos, tirando mais e mais fotos (pois a cidade estava esvaziada e enevoada agora, e essa era uma combinação absolutamente fantástica para qualquer registro). E quando nossa integrante germânica se livrou de todo o curry de sua alma, estávamos plenamente cansados e prontos para descer e jantar. Havia ainda uma manhã e metade de uma tarde naquele lugar, e o dia seguinte prometia ser ainda mais especial. Ainda havia muito a se fazer por ali.

Uma tarde que não seria (e não será) esquecida.

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19/set/2011 – dia 6
Cusco/Machu Picchu

Saímos do hostel a toque de caixa, dado que toda ansiedade é pouca quando seu próximo destino é “só” Machu Picchu. Descemos a rua, que equivale à “avenida principal” do vilarejo de Águas Calientes. Lá perto do final, ladeando o riozinho, estão estacionados os microônibus que levam os turistas que optam pela subida motorizada (e não pela trilha inca, um desafio pra um mochilão futuro – quem sabe). Do lado oposto da ruazinha, um guichê minúsculo onde são compradas as passagens – só de ida, ou de ida e volta – para chegar à cidade histórica. A subida não é pequena, mas uma ideia geral sobre esse caminho até lá em cima em fotos, mais pra frente.

Compramos e voltamos pra fila. Os ônibus saem um atrás do outro, portanto quase não há espera. Confortáveis, bonitinhos e ligeiros, pegamos o seguinte e fomos em frente. A subida demora mais ou menos uns 20 ou 25 minutos, se não estiver falando besteira. A montanha é cortada de lado a lado, e a trilha obedece um zigue-zague que vai exibindo aos poucos a maravilha que é o vale e seus relevos.

Vale registrar também a dificuldade do trajeto, onde somente um ônibus sobre ou desce pela pista, e os recuos para que quem fica desvie de quem passe eram feitos nas curvas, com os motoristas exibindo uma perícia assustadora – fosse seguindo em frente, fosse numa marcha ré que beirava à insanidade. Tudo parte de um pacote de emoções inesquecíveis. Era final de manhã, quase começo de tarde, quando chegamos a Machu Picchu.

Antes de realizar o sonho, uma última parada. Sim, a Debs havia conseguido uma promoção em que almoçaríamos no Machu Picchu Sanctuary Lodge (que é um hotel bem do chiquetoso literalmente colado à cidade, e o único lá em cima), com buffet self-service completo e irrestrito, bebidas e sobremesa, por módicos U$ 20.00 por cabeça. Acreditem: não é qualquer besteira uma mamata dessas, e sim, a pequena pensou em tudo pra todos.

Assim sendo, entramos pouco antes que uma horda de orientais povoasse o local. Restaurante bonito, comida BEM gostosa e local (leia-se “curry”, e isso será explicado mais adiante também), e um início de jornada que qualquer celebração seria incapaz de traduzir. Havíamos chegado lá. Era limpar o prato, levantar da cadeira e entrar em Machu Picchu.

E assim, fomos.

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19/set/2011 – dia 6
Cusco/Machu Picchu

Ainda era cedo, mas muito cedo mesmo quando acordamos… coisa de 3 ou 4h da manhã, não me lembro bem. No hostel, o aviso de que banhos de madrugada corriam o risco de não serem quentes – devido ao racionamento que estava acontecendo naquela época, poderiam cortar a energia dos chuveiros. Pra nossa sorte, ainda não era hora de banhos gelados durante a viagem.

Descemos e pedimos um táxi. Colocamos nossas bagagens e seguimos em direção à Estação de Poroy, onde pegaríamos o trem que nos levaria a Águas Calientes – o vilarejo onde está localizada a cidade histórica. Porém, como nada pra gente é fácil…

…pouco antes de chegarmos à Estação, nosso motorista – Ruben – foi parado numa blitz policial que estava a alguns metros de Poroy. Pediram os documentos e rá – ele estava completamente ilegal! Sim, quanta alegria! Mas sabe-se lá como as coisas funcionam por lá, que ele deixou os documentos todos com o policial, e nos levou até nosso destino, anotando inclusive meu nome* para que no dia seguinte, quando chegássemos à noite ele pudesse nos buscar na mesma Estação. Tudo acertado, desembarcamos em Poroy e por lá esperamos até a partida do trem. Um salão amplo, limpinho e lotado de turistas. Essa é a “enorme estação”, e nada além disso. Um baita frio lá fora, nos protegemos com aquela enxurrada de roupas de frio que compramos por aqui e que estávamos loucos pra estrear.

Além disso, vale o adendo: já tínhamos as passagens desde São Paulo. Essas coisas não se compra por lá. Assim como outras, que a Debs providenciou com uma tremenda antecedência. Já tínhamos destinos, horários e locais meses antes, o que permitiu além de um planejamento sem riscos antes da viagem, uma tranquilidade tremenda quando dentro dela. Poucas agências de turismo são tão eficientes quanto a pequena…

Eram 6 ou 7h quando nos chamaram para o embarque. Sentamos em mesas para 4 pessoas: eu e a Debs no lado direito, a Mel e a Paquinha do lado esquerdo. Não conseguimos sentar na mesma mesa, e os casais de ambas não pareciam muito sociáveis, simpáticos ou abertos a trocar as posições, e assim partimos. A Debs teve o cuidado de pesquisar um pacote mais bacana, dada a importância da viagem: estávamos indo pra Machu Picchu, caceta, e sim, aquilo era um sonho realizado que começou na cabeça dela – e eu me lembro do dia que ele me foi dito, lá pelos idos de 2006. Cinco anos até fazer uma vontade virar verdade é coisa que merece respeito e requinte, e ela não se absteve de ambos. Portanto, simbora aproveitar direito.

A viagem dura aproximadamente 4 horas, mas não, isso não equivale à distância. O trajeto é feito calma e lentamente nesse horário, por esse tipo de trem, pois as paisagens entre origem e destino merecem sim contemplação. Nada se perde aos olhos de quem encontra ali pequenos vilarejos, plantações e pequenas criações, casinhas que parecem desenhadas, montanhas nevadas e o rio que acompanha o trajeto e rabisca de lá pra cá todo o caminho. Da mesma forma, o trem parece abraçar os passageiros durante o amanhecer, e o serviço prestado por sua tripulação dá balão em muita companhia aérea. A pequena havia caprichado…

Nos foi servido um café da manhã muito do bonitinho, e enquanto a Debs debulhava as fotos do nosso lado, a Mel fazia o mesmo do lado dela (e desviando da senhora que parecia o David Coverdale que sentava-se à sua frente e fazia a mesma coisa). Levamos trocentos cartões de memória e HD externo pra que justamente os momentos mais esperados – como esse, por exemplo – não fossem economizados. Surtiu efeito, e todo mundo arrebentou em fotos. Até uma leve chuvinha caiu, mas nada que comprometesse a viagem, que foi linda.

Chegando a Águas Calientes, uma menina do hostel em que ficaríamos hospedados nos aguardava, e nos guiou dali até o dito (à pé mesmo, pois era tudo muito próximo e Águas Callientes é de fato um vilarejo – bem do arrumado, mas um vilarejo). Chegando lá, deixamos nossas coisas e saímos em seguida, já com a chave do quarto. Tínhamos um almoço dali a pouco, e não era qualquer almoço. Mas jajá eu conto.

* Essa informação causará uma piada infame daqui a pouco, e cuja qual sofro até hoje – e possivelmente levarei comigo pro resto da vida. Porque meu nome nunca é Marcelo: meu nome é Masili. Mas nem todo mundo assimila essas seis letras tão complexas…

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19/set/2011 – dia 5
Cusco/Vale Sagrado

Na saída de Chinchero, um até logo ao nosso amigo Grant, que voltava para a terra do Tio Sam no dia seguinte e se mostrou um cara muito gente boa inclusive depois da viagem, quando nos escreveu por diversas vezes. Até hoje lhe devemos uma resposta de seu último e-mail, a qual pretendo fazer ainda hoje (e publicamente me comprometo a isso).

No microônibus, pouco mais de meia hora até voltar a Cusco. Nesse meio tempo, fomos entretidos por um cara que vendia o DVD de um tour 3D pelas principais atrações turísticas peruanas. Foi engraçado no começo, depois foi ficando chato e no final queríamos espancar o sujeito. Na real, a gente estava era morrendo de fome, e já tínhamos nosso menu na cabeça: o raio da pizza de alpaca, que daquele dia não passava.

Chegamos, e como tínhamos mais do que algumas moedas pra sopa, resolvemos arriscar a sorte e peneirar um restaurante que servisse a iguaria no centro histórico. Sabíamos que existia, mas não tínhamos ideia de onde. Aí aconteceu um momento bizarro da viagem…

Encontramos um lugar todo bonito, elegante, que servia a desgraçada da pizza. As três entraram na frente, e eu em seguida. Porém, assim que fechei a porta de vidro, olhei pra direita e duas mulheres sentadas uma de frente pra outra deram as mãos. Normal… casalzinho de meninas, a gente vê em qualquer lugar. Olhei ao fundo, e… mais duas. Olhei pra esquerda, mais duas. As três estavam sentando quando eu soltei um “vambora, que eu acho que não pertneço ao ambiente”. As três não entenderam nada, até cruzarem a porta e eu explicar o ocorrido. Virei piada na hora. E o restaurante chamava “Brava”. Tudo passou a fazer sentido.

Enfim, achamos outro lugar. Pizza e vinho, além de torradinhas de alho com preço convidativo. Subimos, e fomos entretidos com uma bandinha local (dessa vez sem playback), que com suas encantadoras flautas conseguiu fazer com que minha mãe aumentasse sua discoteca em um CD. Torradas, vinho (esses dois, na faixa) e uma pizza boa pra caceta. Quando chegou a conta, adoramos ainda mais a cidade. Vontade saciada com o devido requinte que o dia pedia, era hora de descansar. Afinal, acordaríamos dali a poucas horas, e o destino era Machu Picchu. Faltava pouco e a noite seria curta.

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19/set/2011 – dia 5
Cusco/Vale Sagrado

Dentro do ônibus, a sensação era de cansaço. A tarde caía aos poucos, e o caminho era sempre pra cima. Em curvas sinuosas, áimos aos poucos cada vez mais alto. Quando parecia que estávamos chegando, não estávamos sequer na metade da subida. E assim foi. O céu acinzentando, e lá fora parecia cada vez mais frio. Algumas vezes a Debs ou a Mel tentavam uma foto externa. Abriam um pouco o vidro, e o vento vinha cortando como navalha. A chuva havia cessado, e caía agora uma garoa gelada – nada comparável ao aguaceiro do nosso destino anterior, e por isso mesmo havia esperança de coisa melhor em nossa chegada.

E enfim chegamos a Chinchero, um distrito que fica a mais de 3700m de altitude. Descemos do ônibus e o frio de fato era descomunal. Minha mãe já estava num ritmo mais devagar que a gente, e foi preciso um pouco de calma pra acompanhá-la até o ateliê que ficava localizado no alto de uma escadaria logo após a entrada. Subimos e ao chegar lá em cima, nos acomodamos ao redor de duas artesãs, que nos explicariam durante alguns minutos como são feitas as peças de lá tecidas pelos locais, e seu jeito absolutamente rústico e natural de coloração, que humilha qualquer processo mais moderno, tal a força que as cores ganham após o tingimento – que é feito com sucos naturais, seivas e até com bichinhos esmagados. Um barato.

Vale também atentar que assim que todos chegam e se acomodam para a demonstração, duas ou três cholas vão distribuindo chá de coca para os turistas – para esquentar um pouco o corpo naquele frio todo, e para amenizar os efeitos da altitude. Sim, porque não é por ser de um lugar simples que as pessoas tratam mal seus visitantes (e potenciais clientes). A demonstração foi divertidíssima, com a artesã/mestre de cerimônias brincando com todos, mostrando suas ferramentas de trabalho e contando um pouco mais da história do povo peruano. Após concluir a demonstração, dá-se uns 20 minutos para as compras – que são volumosas, praticamente de todos, e nos incluímos nisso. As peças são lindas e valem o investimento. Mas esqueça a pechincha: as artesãs são duras na queda e o preço só baixa depois de muito bate-boca.

Nosso guia então nos levou à igrejinha (Iglesia Virgen de Natividad) no alto do distrito, onde antes mesmo de nos reunirmos pudemos observar a chegada da noite lá do alto. Uma paisagem absolutamente fantástica, pra fechar de forma maiúscula um dia espetacular. Entramos, e na igreja soubemos maiores detalhes sobre as crenças, deuses e significados da cultura peruana, e de que forma eles foram capazes de camuflar seus próprios credos de forma que os espanhóis não notassem que sua cultura sobrevivia implícita em obras e mensagens aparentemente européias. Pra gente se emocionar, tamanha a capacidade e força de um povo que a gente conhece tão pouco. Saímos de lá babando por mais informação, e querendo mergulhar de cabeça no universo dos incas. Se existia alguma dúvida de que tanta correria durante a viagem valeria a pena, ela acabava ali. E o dia também.

Jajá, as despedidas e umas novidades.

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19/set/2011 – dia 5
Cusco/Vale Sagrado

Pegamos o microônibus e seguimos viagem até um restaurante no meio do Vale Sagrado, afinal, almoçar é algo tão sagrado quanto qualquer sítio que visitássemos… Nossa parada foi em Urubamba, onde pudemos durante uma hora desfrutar mais um pouco do rango local, com seus milhos gigantes e até um feijãozinho apimentado (que estava meio duro, mas quem se importa nessas horas?). Vale o registro que no restaurante “tocavam” uns artistas locais – sim, música ao vivo era um dos atrativos – porém, num playback descarado, e ao lado obviamente aquela pilha imensa de CDs. Comida, xixi e baterias renovadas, bora seguir viagem.

Pouco mais à frente, o ônibus faz uma pausa rápida num lugar todo bonito, de onde sai Grant, nosso herói americano que havia comprado um pacote mais chique que o nosso e havia almoçado coisa bem mais gourmet. Obviamente o fato somou-se às piadas internas que já fazíamos. Segumos em frente. E o tempo foi fechando…

…até nossa chegada a Ollantaytambo. Não havíamos levado nossos casacos impermeáveis, dado que pela manhã estava um Sol bem do bonito. Conclusão? Capas de chuva, que os locais avançaram oferecendo sobre a gente assim que descemos do coletivo. Não lembro quando pagamos, mas foi coisa ridícula de barato. Porém, ridícula também era a capa, como vocês podem notar nas fotos seguintes. Mas protegidos que estávamos, era hora de encarar a pedreira. Literalmente.

Vou colar a definição da Wikipédia pra facilitar o trabalho sobre as explicações necessárias – e são necessárias mesmo:

“Ollantaytambo ou Ullantaytanpu é uma obra monumental da arquitetura incaica. É a única cidade da era inca no Peru ainda habitada. Em seus palácios vivem os descendentes das casas nobres cusquenhas. Os pátios mantêm sua arquitetura original. Trata-se de um dos complexos arquitetônicos mais monumentais do antigo Império Incaico. Comumente chamado “Fortaleza”, devido a seus descomunais muros, foi na realidade um tambo ou cidade-alojamento, localizado estrategicamente para dominar o Vale Sagrado dos Incas. O tipo arquitetônico empregado, assim como a qualidade de cada pedra, trabalhada individualmente, fazem de Ollantaytambo uma das obras de arte mais peculiares e surpreendentes que realizaram os antigos peruanos, especialmente o Templo do Sol e seus gigantescos monólitos. Algumas das rochas utilizadas na construção são somente encontradas a alguns quilômetros da cidade, o que revela o domínio de técnicas avançadas de transporte de rochas. As pedras eram trabalhadas antes de serem transportadas e nesse trabalho eles deixavam sulcos para facilitar o transporte, mediante amarração de cordas.”

Um lugar lindo, impressionante e alto pra burro. E naquele momento, molhado. Começamos a subir as escadarias* e logo no primeiro recuo minha mãe resolveu (sabiamente) não encarar o desafio. Enquanto ela ficou lá embaixo, subimos junto com o guia e o grupo para conhecer o complexo. Entre muitas explicações sobre as portas, as estruturas e tudo mais, ficou um sentimento de frustração implícito pela chuva. Aquele lugar é realmente muito bonito, mas a água não ajudava e as paisagens estavam todas enevoadas. Subimos um pouco mais, vasculhamos alguns cantos mas certamente não aproveitamos aquele local como gostaríamos. Descemos, reencontramos a véia, tomamos um pouco mais de chuva e o grupo então regressou.

Minha mãe, que é tão dada quanto eu, ganhou a simpatia do nosso guia – que lhe entregou a bandeirinha do grupo e emprestou seu lugar a ela por alguns instantes. Pra desmentir qualquer possibilidade da Paquinha não ter se divertido durante a viagem, ou achado ruim que choveu, que estava frio, que estava desconfortável, enfim… algumas imagens, que valem sim mais do que qualquer palavra escrita.

É impossível negar que a gente já estava num razoável bagaço, e que a tarde com esse tempo não prometia muita coisa além daquilo que já havíamos vivido. Porém, viagem é viagem, e a gente sempre acaba se surpreendendo quando menos espera. De volta ao ônibus, ainda havia um último destino antes de cair a noite.

*Sempre que esse tipo de referência surgir num sítio arqueológico, entendam como sendo um conglomerado de pedras nada simétricas que possui a mesma função de uma escada. Porém, seus acessos são absolutamente distintos. Os incas eram altos – e os degraus também são. Da mesma forma, são pedras pouco trabalhadas, apenas na suficiência de atingir a esses objetivos de acesso.

Pisac

fev
2012
28

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19/set/2011 – dia 5
Cusco/Vale Sagrado

Nossa primeira parada foi num mirador, logo no início do passeio. A chegada até Pisac demora coisa de uma hora e meia, se não me falha a memória, e alguns lugares vão dando uma dica das belezas do Vale Sagrado. O caminho é feito entre montanhas, numa estrada sinuosa e bastante “emocionante”, mas longe de ser coisa descuidada. Sim, passeios históricos não significam uma imersão na precariedade, e tanto a pavimentação como a estrutura turística peruana eram sim simples, mas extremamente eficientes. Nada de calor, e nada de frio. Nuvens e mais nuvens, mas o dia prometia bastante.

Antes de chegar ao sítio, uma parada prévia num mercadinho de artesanatos locais. O de Pisac , especificamente, é bem requisitado e indicado aos turistas, mas no nosso caso acabamos parando em outro por motivos até hoje desconhecidos. Ali mesmo, após uma chorada aqui e outra ali, conseguimos boas bugigangas e algumas lembrancinhas bem bacanas pra trazer na mala. Pechinche: é um povo que chora, chora, mas cede. Não estamos falando de coreanos, mas sim de peruanos. E eles acabam cedendo após algumas lágrimas e verbetes balbuciados pra dentro.

Vinte minutos de compras e mais um pouco de trilha, chegamos ao sítio. Na descida do ônibus, uma nova fila (que passa MUITO rápido) para perfurar os bilhetes – sim, nada de tecnologias avançadas, papéis especiais e hologramas: o guia faz uma espécie de chamada dentro do ônibus, e confere os tipos de entrada adquiridas por cada um dos passageiros. Os vouchers, em fotos no texto anterior, são perfurados assim que você chega à localidade em questão. Estávamos em número de mais ou menos 25 a 30 pessoas, então não existe caos. Pois bem… assim que desci do ônibus, me deparei com uma velhota peruana e sua panelona de água fervente. Um dos principais alimentos do Perú é o milho, e suas trocentas variedades cultivadas lá. Já havíamos provado algo diferente no ceviche, mas eis que me deparo com essa maravilha de grãos estufados que mais parecia um mostruário de almofadinhas – o tamanho dos grãos é ridículo de grande, e a velhinha ainda joga no canto um naco de queijo fresco. Pela bagatela de 3 soles, eis a refeição local do momento…

Saio me lambuzando nessa beleza, e aí bate a vontade e tanto a minha mãe quanto a Mel pedem um cada. Enquanto vou entrando no local, cruza comigo um canadense muito gente boa (e meio perdido), perguntando “Where did you buy it?”… eu aponto a senhora lá no canto e digo que custou 3 dinheiros. O cara pira e sai voando atrás da velhinha, enquanto eu vou pra dentro de Pisac. Certo cuidado em acompanhar minha mãe num terreno de terra, grama, pedras, desníveis e buracos (não muitos, mas presentes), além obviamente da altura de cada um dos níveis do solo – suficiente pra te fazer um belo estrago em caso de estabanagem. Era de fato o primeiro desafio mais puxado da Paquinha. Ouvimos atentamente a introdução histórica do guia, que nos sugere pequenos avanços numa rota já pensada pra dentro do local. Com isso, temos 20 minutos daqui pra lá, 30 minutos de lá pra cá e por aí vai – é assim que funciona, pros grupos não se perderem num espaço tão grande e tão novo (pra gente). Ah, cada guia usa uma bandeirinha, e a nossa vocês verão mais pra frente. A amplitude das ruínas só é notada no momento em que você se vê lá dentro. E é absolutamente espetacular. As fotos são registros, e somente isso, pois novamente o sentimento é de que certas coisas são intraduzíveis quanto a estar ou não ali.

É meio complicado tentar definir agora a ordem cronológica em que as coisas aconteceram lá dentro. Mesmo assim, alguma coisa ainda se ordena aqui na minha cabeça, e as memórias surgem. A começar pela minha mãe, que foi a primeira a extravazar o sentimento de magnitude que aquele local passava. Estender os braços e tentar fazer com que aquilo tudo coubesse num abraço era desejo implícito de todos nós; lembro também de uma sequência de fotos em cima de uma pedra, que ficava bem próxima da beirada do “degrau” em que estávamos – foto que eu saio com a Debs, e que podia-se pensar ter sido perdida pelo caminho, mas a Mel não deixou de registrar nada e cá está ela, num ângulo ainda mais legal; outra lembrança – essa, absolutamente inevitável – é que por ter sido o primeiro desafio de fato em relação a “degraus” e obstáculos naturais, minha mãe aos poucos foi se cansando. Os caminhos normalmente eram feitos em fila, pois as trilhas comportavam somente uma pessoa – pra subir ou descer. Então o Grant (o americano do ônibus) tomou a frente e começou a “carregar” minha mãe pra cima e pra baixo. Não preciso dizer o quanto ele foi bacana e solícito, o que obviamente nos aproximou e dali em diante começou uma amizade que até hoje sobrevive (mesmo em débito nesse exato momento) em nossas caixas de e-mail; outra recordação é de uma travessia que fiz, numa altura até então bastante considerável – e eu tenho medo de altura. Assim que atravessei, sentei na primeira pedra que vi e tive ali um acesso de choro tal a emoção da coisa. Estar se superando é mais ou menos isso, duma forma ou de outra e pra cada um de nós. Também está registrado abaixo, assim como o saldo final do que foi esse passeio.

Descrever o lugar, suas peculiaridades e curiosidades… bem, isso façam vocês – preferencialmente ao vivo, assim como fizemos. Eu descrevo nossa viagem e nossas experiências, emoções e descobertas. As em Pisac foram enormes, e nem havíamos chegados na hora do almoço ainda.

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19/set/2011 – dia 5
Cusco/Vale Sagrado

O quinto dia de viagem começou cedo. Se eu não me engano, por volta das 6h. Banho e café da manhã antes de um dia todo de tour pelo Vale Sagrado. Ou seja, por volta das 7h – que era o horário em que o bar do Pariwana abria – estávamos prontos para o desjejum. Já havíamos experimentado o menu óbvio de pães, geléia e manteiga, além de leite e do indefectível e necessário chá de coca. Faltava um desafio… algo que determinasse o punch que teria nosso dia.

A Debs pediu omelete. A Mel, ovos mexidos. E eu resolvi experimentar, ambos.

Pausa dramática: nesse momento, você, ilustre desconhecido ou desconhecedor de meus hábitos alimentares, pergunta “desde quando omelete e ovo mexido é desafio, meu filho?”… pois muito bem. Esclareça-se aqui, por escrito, que em (hoje) 32 anos de vida, eu NUNCA comi ovo (enquanto ovo). O motivo resume-se a uma palavra: refluxo. Mas sabe-se lá por quê nesse dia resolvi desafiar até o refluxo, e entre olhares engraçados de todos, experimentei uma garfada de cada. O da Debs em nada doeu, exceto pelo cagaço de aprontar uma sujeirada logo cedo. O da Mel aproximou-se mais da temível sensação, mas ambos desceram. E eu me senti um vencedor. O espírito para encarar nossa maratona estava preparado.

Eram quase 8h quando fomos atrás da agente que nos venderia os vouchers que davam direito ao tour pelo Vale. O voucher pode ser comprado pra um passeio completo, feito em dois dias, ou com algumas atrações específicas, com duração diária – essa foi a nossa opção, dentro do cronograma que havíamos topado antes da viagem. Os destinos do dia seriam Pisac, Ollantaytambo e Chinchero – esse último que a Debs sequer imaginava do que se tratava e estava completamente fora de nossa ideia original de percurso. Mas alterações de planos estavam aos poucos tornando-se uma constante nessa viagem, e vamos ser sinceros… é o que normalmente acontece mesmo, e o que dá mais graça a todo o processo.

Pontualmente às 8h30 um guia foi buscar a gente no vão central do hostel, e de lá partimos em direção ao microônibus, que estava estacionado na Plaza San Francisco. Estrutura ótima, tudo muito arrumadinho e bacana, partimos em direção ao Vale Sagrado. Nosso guia do passeio era outro, um baixinho muito simpático que durante o percurso foi contando todas as histórias possíveis, e fazendo aquelas piadas que todo grupo turístico é submetido. E não, não estou reclamando… descontrair é válido de todas as formas. Se apresentou a cada um de nós (descobriu que eu era corinthiano, sabe-se lá como, ainda mais comigo de camiseta verde), descreveu os procedimentos, lendas e curiosidades, e tudo em duas línguas – por certos momentos era mais fácil entendê-lo em inglês do que em espanhol.

Nesse momento, passamos a conhecer de tabela um sujeito que se tornaria peça-chave nesse dia (e depois da viagem também): ao lado da minha mãe sentou-se um americano comprido, meio gerjulentão mas muito simpático, chamado Grant. Na conversa com o guia, foi perguntado de onde era – e sendo de Utah, descobriram-se ambos mórmons e afinaram o discurso. Apesar de americano*, o cara era bastante simpático e extrovertido, e mais pra frente saberíamos mais sobre ele.

Apresentações feitas, o ônibus adentrou ao Vale. Jajá, o começo real da jornada.

* Não é discriminação, mas não dá pra comparar a desenvoltura de latinos e americanos. É quase como tentar misturar água e óleo. Reconhecer um americano no exterior ou aqui é algo extremamente fácil.