Pisac

fev
2012
28

escrito por | em [Viagem] Peru/Bolívia 2011 | Nenhum comentário

19/set/2011 – dia 5
Cusco/Vale Sagrado

Nossa primeira parada foi num mirador, logo no início do passeio. A chegada até Pisac demora coisa de uma hora e meia, se não me falha a memória, e alguns lugares vão dando uma dica das belezas do Vale Sagrado. O caminho é feito entre montanhas, numa estrada sinuosa e bastante “emocionante”, mas longe de ser coisa descuidada. Sim, passeios históricos não significam uma imersão na precariedade, e tanto a pavimentação como a estrutura turística peruana eram sim simples, mas extremamente eficientes. Nada de calor, e nada de frio. Nuvens e mais nuvens, mas o dia prometia bastante.

Antes de chegar ao sítio, uma parada prévia num mercadinho de artesanatos locais. O de Pisac , especificamente, é bem requisitado e indicado aos turistas, mas no nosso caso acabamos parando em outro por motivos até hoje desconhecidos. Ali mesmo, após uma chorada aqui e outra ali, conseguimos boas bugigangas e algumas lembrancinhas bem bacanas pra trazer na mala. Pechinche: é um povo que chora, chora, mas cede. Não estamos falando de coreanos, mas sim de peruanos. E eles acabam cedendo após algumas lágrimas e verbetes balbuciados pra dentro.

Vinte minutos de compras e mais um pouco de trilha, chegamos ao sítio. Na descida do ônibus, uma nova fila (que passa MUITO rápido) para perfurar os bilhetes – sim, nada de tecnologias avançadas, papéis especiais e hologramas: o guia faz uma espécie de chamada dentro do ônibus, e confere os tipos de entrada adquiridas por cada um dos passageiros. Os vouchers, em fotos no texto anterior, são perfurados assim que você chega à localidade em questão. Estávamos em número de mais ou menos 25 a 30 pessoas, então não existe caos. Pois bem… assim que desci do ônibus, me deparei com uma velhota peruana e sua panelona de água fervente. Um dos principais alimentos do Perú é o milho, e suas trocentas variedades cultivadas lá. Já havíamos provado algo diferente no ceviche, mas eis que me deparo com essa maravilha de grãos estufados que mais parecia um mostruário de almofadinhas – o tamanho dos grãos é ridículo de grande, e a velhinha ainda joga no canto um naco de queijo fresco. Pela bagatela de 3 soles, eis a refeição local do momento…

Saio me lambuzando nessa beleza, e aí bate a vontade e tanto a minha mãe quanto a Mel pedem um cada. Enquanto vou entrando no local, cruza comigo um canadense muito gente boa (e meio perdido), perguntando “Where did you buy it?”… eu aponto a senhora lá no canto e digo que custou 3 dinheiros. O cara pira e sai voando atrás da velhinha, enquanto eu vou pra dentro de Pisac. Certo cuidado em acompanhar minha mãe num terreno de terra, grama, pedras, desníveis e buracos (não muitos, mas presentes), além obviamente da altura de cada um dos níveis do solo – suficiente pra te fazer um belo estrago em caso de estabanagem. Era de fato o primeiro desafio mais puxado da Paquinha. Ouvimos atentamente a introdução histórica do guia, que nos sugere pequenos avanços numa rota já pensada pra dentro do local. Com isso, temos 20 minutos daqui pra lá, 30 minutos de lá pra cá e por aí vai – é assim que funciona, pros grupos não se perderem num espaço tão grande e tão novo (pra gente). Ah, cada guia usa uma bandeirinha, e a nossa vocês verão mais pra frente. A amplitude das ruínas só é notada no momento em que você se vê lá dentro. E é absolutamente espetacular. As fotos são registros, e somente isso, pois novamente o sentimento é de que certas coisas são intraduzíveis quanto a estar ou não ali.

É meio complicado tentar definir agora a ordem cronológica em que as coisas aconteceram lá dentro. Mesmo assim, alguma coisa ainda se ordena aqui na minha cabeça, e as memórias surgem. A começar pela minha mãe, que foi a primeira a extravazar o sentimento de magnitude que aquele local passava. Estender os braços e tentar fazer com que aquilo tudo coubesse num abraço era desejo implícito de todos nós; lembro também de uma sequência de fotos em cima de uma pedra, que ficava bem próxima da beirada do “degrau” em que estávamos – foto que eu saio com a Debs, e que podia-se pensar ter sido perdida pelo caminho, mas a Mel não deixou de registrar nada e cá está ela, num ângulo ainda mais legal; outra lembrança – essa, absolutamente inevitável – é que por ter sido o primeiro desafio de fato em relação a “degraus” e obstáculos naturais, minha mãe aos poucos foi se cansando. Os caminhos normalmente eram feitos em fila, pois as trilhas comportavam somente uma pessoa – pra subir ou descer. Então o Grant (o americano do ônibus) tomou a frente e começou a “carregar” minha mãe pra cima e pra baixo. Não preciso dizer o quanto ele foi bacana e solícito, o que obviamente nos aproximou e dali em diante começou uma amizade que até hoje sobrevive (mesmo em débito nesse exato momento) em nossas caixas de e-mail; outra recordação é de uma travessia que fiz, numa altura até então bastante considerável – e eu tenho medo de altura. Assim que atravessei, sentei na primeira pedra que vi e tive ali um acesso de choro tal a emoção da coisa. Estar se superando é mais ou menos isso, duma forma ou de outra e pra cada um de nós. Também está registrado abaixo, assim como o saldo final do que foi esse passeio.

Descrever o lugar, suas peculiaridades e curiosidades… bem, isso façam vocês – preferencialmente ao vivo, assim como fizemos. Eu descrevo nossa viagem e nossas experiências, emoções e descobertas. As em Pisac foram enormes, e nem havíamos chegados na hora do almoço ainda.

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