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Todo mundo desce a ripa no Rubinho. Absolutamente todo mundo, inclusive eu. E eis que desde a morte da Honda na F1, mataram também nosso Judas favorito, colocando-o de lado na disputa com Bruno Senna pela vaga naquilo que sobrou da equipe, e que vai pra pista do jeito que for pra fazer número na temporada deste ano. Eis que no andar da carruagem, um pouco de bom senso prevaleceu nos bastidores da F1, e Nick Fry aparentemente é carta fora do baralho, deixando o comando da escuderia para Ross Brawn – esse sim, um gênio indiscutível de bastidores.

E Brawn deve mesmo anunciar que a equipe existe, e que vai pra pista em 2009 com Button e… Barrichello.

Então, façamos uma breve análise do que de fato é a História de Rubens Barrichello na F1. Coisa que a gente esquece rápido, mas que a própria categoria faz questão de relembrar, principalmente na hora de escolher um piloto pra chefiar uma berinjela do tamanho que é essa BrawnF1 Brawn GP:

JORDAN [1993/1996]

Rubens Barrichello estreou na F1 nos idos de 1993, na finada Jordan, equipe em que permaneceu durante 4 anos, desenvolvendo (e muito bem) seu carro com o sofrível motor Hart em 93 e 94 (substituído pelo virgem Peugeot em 95 e 96) – e com esse mesmo motor fuleiro conseguiu seu primeiro pódio em 1994. Ao seu lado, competiram pela mesma equipe pilotos de qualidade extremamente duvidosa, como Eddie Irvine, Martin Brundle, Aguri Suzuki e o inimitável Andrea de Cesaris. E ainda assim, Rubens sobreviveu.

Ainda pela Jordan, Rubinho passou pelo momento mais crítico de sua carreira, no fatídico fim de semana em Ímola, também em 94, quando nos treinos de sexta, ao contornar a chincane do estádio, se arrebentou no muro de proteção, ficando de fora da prova e projetando a tragédia tamanha que as mortes de Ratzenberger e Senna viriam a concretizar.

Nesse mesmo final de semana, Rubinho herdaria, querendo ou não, a responsabilidade de substituir um ídolo nacional e mundial do porte de Ayrton Senna, e com um ano e meio na categoria, carregar a bandeira que Piquet, Senna e Fittipaldi demoraram anos para consagrar – e sempre o puderam fazer em equipes de ponta, em épocas distintas e com talentos individuais que ninguém tem o direito de comparar a outros desportistas.

STEWART [1997/1999]

Na Stewart, Rubens desenvolveu uma equipe dirigida por um garagista e ex-piloto dos mais competentes da História. Certamente alguém da estirpe de Jack Stewart não confiaria o desenvolvimento de seu carro a um qualquer, e chamou alguém notoriamente competente pra isso. Rubens desenvolveu a segunda equipe pequena da carreira.

Pela Stewart, logo no primeiro ano, obteve um segundo lugar em Mônaco, sendo essa apenas a quinta corrida da equipe – um feito absurdo. Pela equipe conseguiria ainda mais 3 pódios nos 3 anos de permanência. Nessa mesma época, a Ferrari descobriu que Eddie Irvine – aquele estabanado que só conseguia resultados medíocres na escuderia (sendo que seus únicos resultados bons aconteceram quando Schumacher se arrebentou e tiveram que promovê-lo temporariamente a primeiro piloto), não fazia metade do que Barrichello fazia na Stewart. Coisas como essa:

O desenvolvimento da equipe foi tamanho que antes da sua aquisição pela Jaguar em 2000, a dita obteve uma pole com Rubinho na França, e uma vitória com Johnny Herbert no GP da Europa – ambas em 1999, ano em que a Stewart terminou o campeonato de construtores na 4ª posição. Fatos esses que nenhuma escuderia com tão pouco tempo de existência conseguiu superar desde então.

FERRARI [2000/2005]

Rubens “só” dividiu o cockpit da Ferrari com o piloto mais vitorioso de todos os tempos. Mas antes de lidarmos com Schumacher, vale a ressalva: Rubinho PILOTOU a FERRARI, coisa que nenhum brasileiro havia feito na História da F1. Mais que isso: Rubinho GANHOU CORRIDAS com uma FERRARI. Mais ainda? Barrichello esteve na equipe durante 6 anos, e saiu da mesma por livre e espontânea vontade (e muito saco cheio e inconformismo), deixando a porta aberta pra outros brasileiros, entre eles um tal de Felipe Massa, que sem os tabus e o companheiro de equipe que Barrichello teve, já fez o que fez em 2 anos na escuderia de Maranello.

Schumacher não precisa de adjetivos. Ser seu companheiro foi um tremendo azar. Algo como colocar o Pepe ao lado do Pelé, Paula ao lado de Hortência, e na própria F1, Berger ao lado de Senna. Talentos inegáveis, mas que dividiram espaço com atletas únicos. Foi o mesmo caso, e isso meu amigo, é AZAR.

Rubinho pecou ao falar demais. Ao reclamar demais. Virou um chato. Nada poderia derrubar Schumacher, e assim foi. Mesmo assim, Barrichello foi o único que acertou-lhe uma rasteira, que sujou a história vitoriosa do alemão, e da própria Ferrari, quando expôs publicamente a palhaçada a que era submetido. Dos momentos mais chocantes, marcantes, engraçados e bizarros da F1. Vale lembrar:

A primeira vitória chegaria, numa largada em que sua posição era a 18ª do grid. Que teve padre invadindo pista. Que teve Sol. Que teve chuva. Que não faltou ultrapassagem. E que merece a devida lembrança:

Mais um pouquinho, porque esse momento foi sim MUITO legal e bem emocionante…

HONDA [2006/?]

De saco cheio de jogar pros outros, foi pra Honda, equipe em que dinheiro, tradição e competência não seriam problema. Mas a Honda tinha Nick Fry – o fanfarrão-mor da categoria, um dirigente lamentável e extremamente incompetente. Que em 3 anos afundou a montadora em resultados medíocres, e queimou completamente tanto Rubens quanto Jenson Button – e ainda sob esse cenário, Rubens esteve sempre à frente de Button.

Porém, em 2008, entra em cena Ross Brawn, o responsável direto pelos títulos de Schumacher tanto na Ferrari quanto na precária Benetton, na metade da década de 90. Com o projeto do ainda manda-chuva Fry, Brawn assiste ao fracasso da equipe, e ganha de brinde o pepino de comandar aquilo que já foi a Honda na temporada de 2009. Limpa-se a casa, e qual o piloto ideal pra desenvolver aquilo que restou da equipe?

Pretere-se a aposta Bruno Senna, aposta-se na experiência do piloto com o maior número de corridas na história da categoria. Rubinho ganha esta semana a chance de continuar fazendo o que gosta, e faz muito bem: correr na categoria mais importante do automobilismo mundial. E na minha opinião, prova que após 16 anos, ainda tem muita lenha pra queimar, e escreve com fatos aquilo que muita gente (inclusive meu ídolo, Nelsão Piquet) discute: sua competência.

Rubinho, boca fechada e pé embaixo. A gente adora e odia – mais adora que odeia – tudo isso.

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