escrito por | em Trabalho, Vidinha | 2 comentários

Eu aprendi a destruir.

Porque habitualmente, quando era pequeno, não era a vítima preferida dos populares do colégio, mas também não engrossava o pelotão dos idiotas. Eu era aquele cara que se faltasse à aula, uns três notavam. Tímido, cagão, gago. Poucas vezes arriscava, e quando o fazia, normalmente me estrepava. Com isso, me habituei ao “complexo de menos”. Isso me jogou lá na frente pra dentro do buraco, e só saí após ano e meio de tratamento. Outros tempos, que pouca gente que convivo hoje teve contato. Meus amigos vêm de depois dessa época.

Nesse período de reconstrução, virei do avesso, literalmente. E aprendi a me defender, e a me proteger. Com o tempo, ganhei adjetivos como “ogro”, “grosso” e “boca suja”. De certa forma, aprendi a abreviar as relações sociais, e reduzí-las ao alcance da sinceridade. Quem aguentasse o tranco, sobrevivia. Muitos não resistiram, outros se identificaram e fidelizei novas e ótimas relações. Me encontrei, e adotei alguns novos e úteis valores para esse novo momento da minha vida. Um momento que venho aperfeiçoando há anos, às vezes na porrada, outras em detalhes. Mas tem dado certo…

Porém, proteger-se nem sempre significa ser bom. Por várias vezes pisei, da mesma forma que pisaram em mim. Me arrependi às vezes, me orgulhei em outras. Mas de berço, aprendi claramente sobre certo e errado, e errar sempre me pesou, fosse notando o que fazia, fosse num puxão de orelha por não ter notado a cagada que fazia. Mas também aprendi a conviver com essa inconstância, e minimizar sempre que possível sua importância, dado que como qualquer ser humano, imperfeição é coisa que também exercemos todos os dias. Sim, a gente sempre tem o que melhorar, mas adotar a natação na merda como diversão pessoal não me pareceu a opção correta pra acompanhar esse processo todo. A gente já tem muito o que se preocupar, e o que provar a todo momento…

Assim, quando a vida te dá uma puxada de tapete como a que eu levei há duas semanas, tudo isso vem à tona. Você se contesta, questiona as suas escolhas, e por vezes até mesmo os seus valores, dependendo do tamanho do susto levado. No meu caso em especial, o susto foi total, e por isso mesmo coloquei em jogo algumas coisas que fazem parte da minha essência. Coisas em que acredito, e que poderiam ter feito de mim alguém “inadequado” pra algumas funções ou pessoas. Sim, autocrítica: aquela coisa que pra gente crescer, tem que deixar o ego e a cabecisse de lado e de vez em quando, exercitar.

Felizmente, os resultados foram melhores que o esperado.

E notar que dentre uma multidão, dois ou três de fato se sentem incomodados com você e seu jeito de levar as coisas me serviu de alento – sim, porque de fato unanimidades são burras, e sempre existirão espíritos de porco no seu caminho. Mais: as respostas de seu primeiro novo desafio (durante sua correria desesperada em buscar aquilo que te tiraram) serem absolutamente positivas – e isentas de outras relações senão profissionais – funcionam como efeito inverso ao balde de água fria que pouco antes jogaram na sua cabeça. É um respiro. Ou melhor – e sim, é melhor: é a esperança de dias melhores em muito breve.

Esperança. Um artigo tão raro hoje em dia, que a gente cultiva pra si, que às vezes alguém faz questão de te arrancar, e que de repente, sem mais nem menos, te devolvem com juros. Pisar e destruir é coisa que a gente não devia fazer, mas faz. Alguns, por engano ou por algum desvio idiota que deve ser corrigido sempre que possível; outros, por esporte. Faço parte do primeiro exemplo, convicta e felizmente. Conheço minha índole. Mas em nenhum dos casos, você readquire a esperança sendo assim. E nem o respeito.

Coisas que ultimamente, eu tenho buscado e muito. E conseguido, pra quem quiser ver.

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  1. Mel
  2. Ana

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