Dois mil e onze

dez
2011
20

escrito por | em Vidinha | 3 comentários

O ano de 2011 começou ontem, e termina amanhã. Pra mim, comprovou que com o passar do tempo, a gente perde mais tempo cuidando da vida dos outros do que da nossa, e com isso fica com a impressão de que o tempo encurta. Não é verdade. A gente que se descuida de si mesmo, e quando nota, bum. Acabou o ano. Por diversas vezes eu tive essa impressão, acelerando e reduzindo a velocidade num ano inconstante.

Ano que eu comecei numa agência, arrisquei a sorte em outra e acabei seguindo um caminho solitário e muito difícil, mas recompensante, após um acidente de percurso. De certa forma, que me mostrou que é sim possível ser dono da própria vida. Que consolidou minha força complementar na Debs, que segurou uma puta bucha enquanto eu questionava meus próprios caminhos e me botou no eixo quando eu mais precisei. Que afirmou a confiança de muitos amigos nas coisas em que eu faço, fosse num telefonema, num email ou numa mesa de boteco. Foi possivelmente o ano em que mais conversei com muita gente diferente. O saldo é positivo, e desse capítulo eu me orgulho nesse fechamento de ciclo.

Foi em 2011 que eu também vi o tempo passar em dois sobrinhos que cresceram e muito. Já são crianças, e não mais bebês. Inspiram sim, trazem felicidade espontânea. “Amor incondicional”, disse bem a Debs. Há algum tempo assustava não ser mais a geração da vez. O tempo passa, e a gente de fato passa a gostar da ideia, de tentar renovar um mundo que cada vez mais deixa a gente entre o desgosto e a vontade.

Desgosto de ver que as pessoas curtem, seguem, retuitam, compartilham mas não são capazes de conversar. De pegar um telefone e ao invés de escrever, telefonar. Um mundo que parece cada vez mais impessoal, onde ganha força o número de amigos quando chega ao milhar de pessoas que a gente mal conhece, uma fila de madrugada pra comprar o lançamento da hora, ou o check-in initerrupto a cada passo. Onde se fotografa e se filma um show ou um jogo sem sequer assistí-lo. Um universo de gente que depende de um aparelho, mas que não é capaz de um abraço ou de um olhar na cara e uma meia dúzia de palavras. Um mundo triste esse, repleto de pessoas sozinhas.

Mas a vontade ao reconhecer o aumento das fronteiras. Onde existem lugares, pessoas e realidades das quais a gente só ouviu falar. Mas que agora sabe o sabor, o cheiro, o clima. Onde nossa língua não vale muita coisa, e outros idiomas precisam ser experimentados. O vício nas alturas. A emoção da chegada. O olhar de cima quando se atinge o limite. Acordar de madrugada. Dormir de madrugada. Não saber de mais nada de ninguém, e com isso pensar em si mesmo. Se redescobrir, se reinventar e querer mais. Por sinal, querer mais é o maior dos troféus de quem experimenta vida e nota que não sabe nada.

Vi gente chorar de emoção, de raiva, de alegria. Aproximei amigos, perdi pessoas. Voei. Vi minha mãe virar criança, minha esposa concretizar sonho, minha amiga descobrir o mundo, meu irmão virar pai, meu amigo tomar vergonha na cara e virar adulto, outro amigo repensar os hábitos. Fomos casal, pais, tios, amigos, cúmplices. Tivemos muita sorte, e diversos sonhos adiados. Outros, sonhados sem nem termos como realizá-los, e não damos a mínima pra isso.

Parar e olhar pra trás é talvez o melhor dos hábitos de um fechamento de ano. E eu não me arrependo em nada desse que termina daqui a pouco mais de dez dias. O primeiro texto que foi pro ar nesse mesmo blog no início do ano foi plenamente realizado, e marca o possível maior momento de uma viagem que resumiu um esforço enorme de quem nela esteve, uma empolgação condizente de quem a acompanhou e torceu, e uma história pessoal de cada um de nós que possivelmente somente nós temos noção do tamanho e importância. Respirar com um pouco de calma. Tentar reduzir os erros. Olhar pra dentro de si. Nos darmos tempo. Eu acho que meu maior desejo no dia de hoje é esse: calma.

Pra que novos frutos venham: viagens, trabalhos, amigos (novos, antigos, mas sempre presentes), a família que somos (de sangue ou não), momentos importantes. Que sejam muitos, sempre. Foi um ano extremamente intenso. E intensidade nada mais é do que viver a vida naquilo que nos é permitido – por vezes, um pouco acima desse limite, seja sonhando, arriscando ou indo contra a maré. Ainda faltam alguns dias. Mas 2011 não deixa saudade: deixa sim muitas e muitas memórias, e histórias incríveis pra contar. Pra quem esteve comigo, obrigado. E pra quem continua comigo – e vocês sabem o que é “estar” nesse prisma, obrigado ainda mais, de verdade. A vida é essa, e Janis Joplin um dia disse: “It’s all the same fuckin’ day, man“. É verdade.

Um bom amanhã pra cada um, e um hoje ainda melhor.

3 comments

  1. Mel
  2. carol
  3. Ana

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