17h19

maio
2011
27

escrito por | em Umbigo | Nenhum comentário

Eu lembro de ter uma coisa muito minha com esse negócio de dias frios. Gostar de ficar num canto, quietinho, absorvendo pensamentos. Por sinal, pensar é um exercício de gente cabeçuda, coisa que eu nunca neguei ser. Confabular fantasias, imaginar hipóteses, fazer novos planos. Essa coisa de estar dentro de um microcosmo se desafiando a dar o próximo passo às vezes é tão necessário quanto realizar essas coisas todas. E a gente normalmente só realiza uns 10%, acumula 90 e planeja mais 30. E depois se sente incompetente por não conseguir entregar mais do que tudo, o que é de uma imbecilidade ímpar.

Mas é isso mesmo o que nós somos. Devoradores de sonhos, eternos navegantes de primeira viagem. Consertamos um problema, e tropeçamos nele daqui a pouco, mais uma vez, e outra, e outra. Alguns poucos possuem a disciplina e a inteligência suficientes pra evoluir dentro desse mundinho que só nossa cabeça conhece plenamente. Cada um com o seu, cada pessoa com seu caminho. Somos donos das nossas vidas até a página dois, onde tudo muda de novo e voltamos ao começo. Tem gente que cansa desse ciclo, sem notar que a cada recomeço a história muda. Os rituais de acordar e dormir, amanhecer e anoitecer, contar os dias, sim… a gente está sempre recomeçando. Viver de saudade, vangloriar as dores passadas como sendo nossas grandes conquistas – os extremos de vida – é desperdiçar esse recomeço. Ninguém disse que as coisas são simples. Por sinal, essa é a maior das lições a cada cabeçada que a gente dá. Rancores esfriam. Dores amansam. O tempo existe pra isso. As pessoas também. E o essencial, o verdadeiro, é sim a única coisa que permanece. Que torna-se imaculada, a imagem mais próxima da perfeição. A gente chama de esperança, de amor, de vida, de tudo. A gente vive pra isso. Pra sofrer até onde aguenta, e amar até o fim. Pra quem acredita no fim.

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