Histórico

32 anos, e dias

fev
2012
01

escrito por | em Umbigo, Vidinha | Nenhum comentário

Meu ano novo coincidentemente começa um mês após o ano novo de todo mundo. Eu gosto muito dessa minha data de janeiro – mas só agora que fiquei velho, dado que quando criança festinhas de aniversário eram absolutamente impensáveis, com todo mundo viajando de férias. Estar em casa também me ajudou a ter um dia ideal, com cafés, almoços e jantares condizentes, mensagens e telefonemas deliciosos, e um clima de recomeço que faz com que sim, eu goste de adicionar unidades às minhas já três dezenas.

De certa forma, dei uma boa sumida daqui desse espaço. Mas nada pessoal – não faltou vontade nem história pra contar, existe toda uma viagem que ainda precisa ser dissertada e concluída; acontecimentos – bons e ruins – não faltaram nas últimas semanas, e não, minha vida não virou um tédio absoluto. O que aconteceu (e ainda acontece, que bom) é muito trabalho. E nesse mundo corporativo, mesmo que de casa, eu aprendi que quanto menos se fala, mais se consegue. Divulgar, somente resultados, quando a galinha já botou ovo e o pintinho está crescendo (ah, que saudade das dubiedades… ahahahah!).

Mas da mesma forma, ensaiar um retorno significa a volta por si só. E isso já é muito bom. Mesmo porque nos próximos dias esse blog que já me causou tanta coisa que eu nem sei enumerar direito completa dez anos: de dores de cabeça, de discussões acaloradas, de infindos desabafos pessoais, de uma certa petulância, de várias comemorações, de agrados e relatos, de amizades que vieram, de outras tantas que se foram, e de registros – quaisquer que fossem: bons, ruins, necessários ou não. Eu sou isso mesmo, e nem sempre todo mundo gosta (às vezes, nem eu mesmo). A gente vive momentos, e eu acho que muitos deles não devem se perder na memória – que sim, com o tempo, começa a falhar.

Por isso mesmo eu vim aqui pagar uma dívida comigo mesmo, e religar o motor. Afinal de contas, se o MEU ano começa hoje, o de todo mundo não parou por um segundo. E é na união desses mundos que eu conto a minha história. Portanto Marcelo, continue trabalhando, mas trate de arranjar tempo (não interessa como) de guardar as recordações aqui de novo. 2012 já tem um mês, e eu, pelo menos 31 dias de lembranças recentes. E outras tantas que nem precisam ser lembranças, mas são minhas coisas.

Então, simbora arrumar essa porra e registrar. A história continua sendo escrita.

Um santo de todos

jan
2012
05

escrito por | em Futebol | Nenhum comentário

Se algum dia fosse possível resgatar minha imagem enquanto criança odiosa ao clube do Parque Antártica, no ápice de sua seca de títulos, seria impossível imaginar que dia desses eu faria alguma homenagem ao Palmeiras – clube ao qual tenho profundo respeito desde a ascenção fulminante (e justa) daquele time aqui do Jardim Leonor, cuja torcida tornou-se tão áspera e prepotente que mereceu pra si um universo que eles mesmos enxergam sua equipe: um lugar isolado, onde somente eles importam e o mundo gira ao seu redor. Deixem-nas lá, então. Eu prefiro a rivalidade, a história e o respeito a adversários históricos. Somos centenários, assim como os alviverdes estão prestes a se tornar, e quando de sua queda à série B, aprendi que um campeonato sem os “rivales” não é um campeonato que mereça muito carinho. Creio que, num momento particular de humildade e pureza, tenham sentido nossa falta quando caímos também. E ambas as torcidas assim o fizeram, tenham certeza, após esgotar a tiração de sarro dos arquirrivais. Afinal de contas, isso aqui é futebol, e legal mesmo é ganhar – principalmente se for em cima deles.

Por isso mesmo me entristece sim a aposentadoria do Marcão. Um goleiro tão brilhante que ofusca nesse momento alguns grandes ídolos da história palmeirense. Oras, os caras já tiveram Velloso, Zetti, Leão e até Oberdan Cattani e Valdir Joaquim de Moraes – dois monstros históricos os quais eu não vi jogar. Uma unanimidade na torcida rival, o tal São Marcos era sim senso comum entre todos os outros apaixonados por futebol. Sua simplicidade caipira lembra em muito os verdadeiros boleiros que fizeram história nesse país. Nada de R10, F9, L12 ou essa putaria americanizada. Marcão sempre foi Marcão, e eu não conheço uma pessoa que não pare e sorria ao ouvir meia dúzia de palavras da boca do sujeito.

Assim como assistí-lo jogando. Sim – eu, corinthiano e sofrido com o rapaz jogando ali do lado oposto, sentia que o chute do Marcelinho não seria tão eficiente quando encontrasse do outro lado um cara com a competência do Marcão. Ele nos enterrou duas Liberators, acabando com os celestiais pés do nosso meia. Xinguei, emputeci, odiei o cara por alguns bons dias. Mas como não admitir que a coisa ali era parelha, a ponto de ambos os talentos se equivalerem? Era o Palmeiras grande, que nos causava temor a cada clássico, e que justificava derrotas ou vitórias com a grandiosidade de confrontos igualmente bíblicos.

Por isso mesmo, estranho foi vê-lo jogando a série B dois anos depois de ser pentacampeão mundial (jogando como titular, fica a dica). O cara tinha amor à camisa. Coisa que a gente, que colecionava álbum de figurinhas e viu uns caras como o próprio Marcelinho, Ronaldo Giovanelli, Wladimir, Biro-Biro e o próprio Dr. Sócrates sente tanta falta hoje em dia. O bicho não saiu do chiqueiro nem quando a lama passou o cercadinho.

Muito respeito. Nunca desmereceu adversário. Nunca justificou um fracasso pontual (como a goleada pro Vitória ou a própria série B) falando das glórias passadas. Marcão jogou o presente. Arrepiou a estrutura política e esportiva dos rivais sendo somente sincero. Jogava uma bola surreal, e arrebentou com muito sonho nosso. Não importa. Engrandeceu o Palmeiras, e a gente também, pois grandes rivais são feitos de grandes histórias. Saiu por cima, em silêncio e ídolo, tenha certeza, de todos nós.

Dois mil e doze

jan
2012
03

escrito por | em Vidinha | Nenhum comentário

O ano que tinha tudo pra começar mal resolveu subverter minhas certezas e começar bem. Mesmo com planos de comemoração frustrados, o dia 31 resolveu amanhecer chuvoso e promissor a um bode dos mais mal-encarados. Encarnamos a preguiça e assim seguimos até o início da tarde. A Debs resolveu me ajudar na cozinha após as compras da manhã – frutas pras caipirinhas e a macarronada do final de semana – fazendo seu momento Kylie Kwong na célebre frase: “This is my own version of linguiça picadinha”. Mitológico.

A tarde veio, e eu fui até minha mãe colocar uns pingos nos is. E acho que é assim que a gente resolve algumas coisas na vida: entre nós, de frente e com o coração aberto. Eu precisava disso, e assim nos despedimos antes do ano novo para nos reencontrarmos aqui em casa no dia seguinte. Ser responsável pelos próprios atos. Dessa vez eu fui, conscientemente, e deu tudo certo. O ano de 2011, que foi absolutamente incrível, poderia ser comemorado de fato.

Chego em casa, e a Debs me prepara uma surpresa da qual eu vou guardar aqui pra mim e vocês não precisam saber. Nossa lousa nunca teve palavras tão bonitas, e eu vi aquilo como uma baita recompensa a um ano tão bonito. O Sol saiu. Chamem-me de brega, mas eu vi naquilo tudo uma resposta. O ano que terminava dava passagem a outro ainda mais promissor, e as coisas se sucediam de uma forma que eu de fato gostaria que acontecesse.

Fizeram falta o restante da família que estava lá em Floripa, assim como a irmãzinha de olhos claros que fez muito bem em ficar com as outras flores em casa, e os padrinhos que foram churrascar em outro quintal. Estávamos só nós dois, e o clima que tinha mudado em questão de horas fez a gente descontrair com tanto desencontro. Resolvemos sorrir, e fomos pra cozinha. Pra boa surpresa, de repente (assim, separado, viu povo do Facebook e do Twitter?) toca o interfone e os padrinhos estão lá embaixo. Sobem, e temos docinhos, um tal de Valdorella (que eu nunca tinha ouvido falar, e que foi o melhor espumante que eu tomei na vida), mas principalmente um brinde – a um ano devidamente vivido e viajado. Sim, fomos pro Perú, todos nós, em momentos e situações diferentes. Tivemos por lá um banho de mundo real. Umas imagens inesquecíveis, e histórias únicas pra contar. Foi incrível, e a gente SABE disso. Obrigado, 2011.

A noite passou, eles infelizmente saíram, e nós resolvemos preparar a comida. Nós? Sim, nós, e a Debs limpou a carne com a habilidade de um Top Chef. Dia inspirado, não? Batatas da vovó, arroz e um naco de boi. A casa cheirosa, o ano vira e a gente sabe: deu tudo certo sim. Quem a gente ama se faz presente, sempre. Fizemos muito bem a nossa parte. Ligamos pra mães, ligaram pra gente, falamos o que devíamos, enviamos fotos aos amigos mais especiais. A vida seguiu, e 2012 começou. A comida ficou pronta, e jantamos de madrugada assistindo TV Pirata.

Lembro que começamos o ano passado convidando todos a participar de um sonho. Esse ano, fazemos diferente. Porque mudar é bom, e melhorar, necessário. Planos, acho que todos temos. Mas aprendemos – eu e ela – a valorizar algumas coisas especiais. Algumas pessoas especiais. Nos aproximamos de algo mais autêntico e essencial, eu pude ver isso lendo aquela parede. Crescemos. Um ano a mais, mais um em nossas vidas. Temos muito o que fazer, mas começamos bem. Vai melhorar. A viagem – aquela que eu vinha descrevendo – vai voltar pra cá agora. Entre outras coisas, afinal, estamos vivos.

Dois mil e onze

dez
2011
20

escrito por | em Vidinha | 3 comentários

O ano de 2011 começou ontem, e termina amanhã. Pra mim, comprovou que com o passar do tempo, a gente perde mais tempo cuidando da vida dos outros do que da nossa, e com isso fica com a impressão de que o tempo encurta. Não é verdade. A gente que se descuida de si mesmo, e quando nota, bum. Acabou o ano. Por diversas vezes eu tive essa impressão, acelerando e reduzindo a velocidade num ano inconstante.

Ano que eu comecei numa agência, arrisquei a sorte em outra e acabei seguindo um caminho solitário e muito difícil, mas recompensante, após um acidente de percurso. De certa forma, que me mostrou que é sim possível ser dono da própria vida. Que consolidou minha força complementar na Debs, que segurou uma puta bucha enquanto eu questionava meus próprios caminhos e me botou no eixo quando eu mais precisei. Que afirmou a confiança de muitos amigos nas coisas em que eu faço, fosse num telefonema, num email ou numa mesa de boteco. Foi possivelmente o ano em que mais conversei com muita gente diferente. O saldo é positivo, e desse capítulo eu me orgulho nesse fechamento de ciclo.

Foi em 2011 que eu também vi o tempo passar em dois sobrinhos que cresceram e muito. Já são crianças, e não mais bebês. Inspiram sim, trazem felicidade espontânea. “Amor incondicional”, disse bem a Debs. Há algum tempo assustava não ser mais a geração da vez. O tempo passa, e a gente de fato passa a gostar da ideia, de tentar renovar um mundo que cada vez mais deixa a gente entre o desgosto e a vontade.

Desgosto de ver que as pessoas curtem, seguem, retuitam, compartilham mas não são capazes de conversar. De pegar um telefone e ao invés de escrever, telefonar. Um mundo que parece cada vez mais impessoal, onde ganha força o número de amigos quando chega ao milhar de pessoas que a gente mal conhece, uma fila de madrugada pra comprar o lançamento da hora, ou o check-in initerrupto a cada passo. Onde se fotografa e se filma um show ou um jogo sem sequer assistí-lo. Um universo de gente que depende de um aparelho, mas que não é capaz de um abraço ou de um olhar na cara e uma meia dúzia de palavras. Um mundo triste esse, repleto de pessoas sozinhas.

Mas a vontade ao reconhecer o aumento das fronteiras. Onde existem lugares, pessoas e realidades das quais a gente só ouviu falar. Mas que agora sabe o sabor, o cheiro, o clima. Onde nossa língua não vale muita coisa, e outros idiomas precisam ser experimentados. O vício nas alturas. A emoção da chegada. O olhar de cima quando se atinge o limite. Acordar de madrugada. Dormir de madrugada. Não saber de mais nada de ninguém, e com isso pensar em si mesmo. Se redescobrir, se reinventar e querer mais. Por sinal, querer mais é o maior dos troféus de quem experimenta vida e nota que não sabe nada.

Vi gente chorar de emoção, de raiva, de alegria. Aproximei amigos, perdi pessoas. Voei. Vi minha mãe virar criança, minha esposa concretizar sonho, minha amiga descobrir o mundo, meu irmão virar pai, meu amigo tomar vergonha na cara e virar adulto, outro amigo repensar os hábitos. Fomos casal, pais, tios, amigos, cúmplices. Tivemos muita sorte, e diversos sonhos adiados. Outros, sonhados sem nem termos como realizá-los, e não damos a mínima pra isso.

Parar e olhar pra trás é talvez o melhor dos hábitos de um fechamento de ano. E eu não me arrependo em nada desse que termina daqui a pouco mais de dez dias. O primeiro texto que foi pro ar nesse mesmo blog no início do ano foi plenamente realizado, e marca o possível maior momento de uma viagem que resumiu um esforço enorme de quem nela esteve, uma empolgação condizente de quem a acompanhou e torceu, e uma história pessoal de cada um de nós que possivelmente somente nós temos noção do tamanho e importância. Respirar com um pouco de calma. Tentar reduzir os erros. Olhar pra dentro de si. Nos darmos tempo. Eu acho que meu maior desejo no dia de hoje é esse: calma.

Pra que novos frutos venham: viagens, trabalhos, amigos (novos, antigos, mas sempre presentes), a família que somos (de sangue ou não), momentos importantes. Que sejam muitos, sempre. Foi um ano extremamente intenso. E intensidade nada mais é do que viver a vida naquilo que nos é permitido – por vezes, um pouco acima desse limite, seja sonhando, arriscando ou indo contra a maré. Ainda faltam alguns dias. Mas 2011 não deixa saudade: deixa sim muitas e muitas memórias, e histórias incríveis pra contar. Pra quem esteve comigo, obrigado. E pra quem continua comigo – e vocês sabem o que é “estar” nesse prisma, obrigado ainda mais, de verdade. A vida é essa, e Janis Joplin um dia disse: “It’s all the same fuckin’ day, man“. É verdade.

Um bom amanhã pra cada um, e um hoje ainda melhor.

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18/set/2011 – dia 4
Cusco

Depois de um almoço digno da viagem que fazíamos, uma voltinha pra dar uma assentada até a hora da sobremesa. E justamente nessa voltinha, Debs e Mel começam a causar. Explico: as tais cholas que vira e mexe cruzam seu caminho – seja carregando a filhota toda arrumada e bonitinha, seja conduzindo uma lhama – obvimaente estão à caça de turistas: para aquela fotinho, e sua consequente propina*. E muita gente mesmo tira as tais fotos, afinal de contas, o dinheiro de lá não vale nada mesmo e uma viagem que se preze tem que ter recordações fotográficas – as mais típícas possíveis. Porém, sem desembolsar, as velhotas e suas crias desviam, se esondem, exercem seu lado ninja. E gastar dinheiro com fotos nunca foi nossa especialidade mesmo, vide o resultado mais bacana de nossas memórias. As duas foram (e são) mais criativas do que as fotos-clichê que a gente costuma ver, e eu sou muito grato por isso a ambas. Não só eu: os registros ficaram realmente incríveis.

Porém, quem abre mão de uma foto de chola + lhama, estando no Perú? Pois é, nem a gente. E com isso, as meninas resolveram exercer seu talento de fotojornalismo para conseguir as imagens sem botarmos a mão no bolso. Esconde daqui, se mexe dali, encaixa a máquina num cantinho, e olha aí o resultado…

Da mesma forma que ocorreu quando, sem querer, passamos por um grupo que fazia alguma dança típica na meioca da Plaza de Armas. Daqueles momentos legais que você não planeja, e que de alguma forma tem que registrar. As duas se meteram entre o povaréu, e entre cabeças e pernas, foram clicando mais uma memória que pretendíamos levar pra casa. Obviamente, antes de acabar a apresentação, saímos de mansinho e mais uma vez economizamos uma graninha. Não que eles não merecessem, mas a gente tinha outras coisas em mente.

O passeio seguiu e minha mãe deu a primeira pipocada geográfica da viagem. Mas antes de condená-la, sim, ela foi muito bem na escolha. As subidas e descidas do centro de fato não são fáceis, e botar a saúde à prova num dia que precede ao começo das viagens pelos sítios arqueológicos seria uma grande burrice. A deixamos no rodapé da ladeira, e fomos conhecer a Plazoleta de San Blas. Que sim, é um lugar calminho, isolado e que deve ter seus atrativos. Mas pra quem esperava um charme a mais após tamanha subida (e acho que nós 3 tínhamos essa expectativa), acabou sendo uma pequena decepção. Nada de menos, mas também nada de mais. Fotos, e descida.

Chegando lá embaixo, o almoço já havia deixado seu espaço para a sobremesa. E numa rápida tateada pelos arredores, nos deparamos com o Inka…Fé. Sim, o nome é infame. Um lugar pequenininho e simpático. Sentamos os quatro (minha mãe esperava pela gente perto dali), e providenciamos nossos doces. E os tais foram provavelmente alguns dos melhores que eu já experimentei na vida. Com exceção da torta de limão, que é um verdadeiro desafio tamanho azedume, o restante justifica a água na boca gerada pelas imagens.

Era metade da tarde, e ainda havia um lugar importantíssimo a ser visitado. Nossa primeira incursão histórica. E estava a alguns minutos de lá. Com isso, fomos em frente.

*Gorjeta, pra você que não sabe usar o Google Translator.

Doutor

dez
2011
04

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Estávamos no aeroporto de Congonhas. Eu, possivelmente no colo da minha mãe, ou caminhando meus primeiros metros (ou nem tão primeiros, realmente eu não me recordo). E Paquinha sempre me contou essa história com um sorriso na cara… que avistou aquele rapaz e me levou até ele. Um cara barbudo, cabelo desgrenhado, magro de dar pena. Se aproximou, e me disse:

– Olha Celo, é o Sócrates…
– Que homem feio, Paquinha…!

E o doutor, que poderia emputecer, vira pra minha mãe – que já estava completamente sem jeito – e com toda a calma do mundo, após me dar um beijo no rosto, diz:

– Esquenta não senhora. Criança é sincera mesmo.

Foi esse o meu vexatório encontro com o Magrão. Eram meus primeiros dias como corinthiano, e aquele cara feio de doer se tornaria na minha vida um dos nomes mais importantes da minha paixão alvinegra. Num dia como o de hoje, onde disputaremos uma final ideal contra nosso arqui-rival, num Pacaembu todo preto e branco, lotado e lindo, valendo nossa quinta conquista nacional e com enormes probabilidades de terminarmos o dia em festa, é absolutamente triste pensar que esse cara não estará aqui, neste plano, com a gente. Seja pra comemorar ou pra xingar. Sócrates foi uma das personalizações mais perfeitas desse time do povo, e um brasileiro daqueles que todo mundo devia se orgulhar. Imperfeito como todo ser humano, um monstro com a bola nos pés, uma voz completamente respeitável.

Vai em paz Magrão. Que puta sacanagem você nos deixar.

Gourmet

nov
2011
25

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18/set/2011 – dia 4
Cusco

Escolhemos um restaurante cujo nome estará aqui assim que eu lembrar (ou procurar), exatamente em uma das esquinas da Plaza de Armas. Outra coisa espetacular de viajar é justamente perder referências, e arriscar não por vontade, mas por necessidade. Obviamente esse risco não englobava uma nova incursão hamburguística – resolvemos elevar os padrões e procurar aquilo que de fato merecíamos. Subimos as escadas e nos aconchegamos num cantinho próximo à janela. A escolha foi fundamentada.

Logo após nos servirem a cortesia de pisco sour, metemos a cara nos cardápios. E aí, com aquele monte de espanhol rolando solto, e a gente com nossas poucas (mas bastante suficientes) referências, fomos tateando o que poderíamos comer. Eis que surge ali o nome que nos despertaria a curiosidade, e serviria de gatilho para nossa incursão ao desconhecido da cozinha peruana: alpaca.

Enquanto eu e a Mel estávamos na larica de experimentar o ceviche – outra especialidade local, previamente pedida como entrada, debatemos em quatro os rumos gastronômicos a serem tomados. A Debs preferiu a tradição ao desconhecido, e pediu palmitos gratinados. Minha mãe foi num promissor franguinho, recomendado pelo mozo que nos atendia. E novamente, dona Melissa e este que vos escreve resolvemos partir pro desconhecido e pedir a danada da alpaquinha – cada um de um jeito.

Resultados logo abaixo:

A satisfação foi geral, em todos os aspectos. Experimentar a comida local num lugar bonito desses, contemplando um cenário tão sonhado nos últimos meses, e curtindo as melhores companhias possíveis. Havíamos começado bem nossa incursão peruana. E depois de aproveitar o momento, respiramos fundo e fomos em frente. Afinal, a tarde ainda estava começando e havia muito a se fazer.

As diferenças

nov
2011
25

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18/set/2011 – dia 4
Cusco

Chegando à praça central, pudemos de fato ter o real contato com a população e aquela festa toda. Pra onde se olhava, estudantes de todas as idades, professores e famílias inteiras celebravam a data, ou o evento – não sabíamos. Fato que aquilo era realmente algo a ser comemorado, e a quantidade de pessoas (para o tipo de encontro, “ao qual estamos acostumados” como sendo uma coisa brega, piegas até) nos impressionou.

Acho que de certa forma a gente espera que algo assim, inesperado, aconteça durante uma viagem dessas. Acaba se tornando o contato com aquilo que o povo do país tem pra si, e não um evento turístico. Entrar em contato com a cultura verdadeira de pessoas que não estão dentro das nossas fronteiras é algo especial, e sim, a emoção de se sentir um pouco parte de algo que não é nosso acontece. Pode parecer besteira falar isso de algo aparentemente tão simples, mas assim como qualquer aventura sob domínios inéditos, é impossível quantificar ou qualificar sensações e reações. Estávamos há apenas algumas horas em Cusco, e pode-se dizer que já havia valido a pena investir uma manhã naquela caminhada. Os planos da Debs não contemplavam esse “evento”, muito menos o paro cívico em La Paz. Estávamos presentes em ambos, e aprendendo/entendendo um pouco mais da cabeça e da cultura dessa gente que vive no mesmo continente que a gente, mas que conhecemos tão pouco. Talvez sejam esses os grandes valores que a gente consegue ao visitar um país diferente.

Logicamente no meio daquele mundaréu de gente, algumas cenas engraçadas, inusitadas e bonitas que rapidamente me vêm à memória: a emoção da Paquinha e da Mel, a Debs encontrando um hidrante pequenininho (que nem ela), a foto da lhama dentro da loja (essas cenas todas retratadas em fotos nesse texto). E algumas coisas que rapidamente foram notadas por lá. Coisas que parecem com algo que a gente conhece por aqui, mas que assim como cita Vincent Vega em Pulp Fiction, it’s the little differences

…como por exemplo o tipo de “ambulante” que te aborda durante o passeio: desenhistas e pintores que se aproximam exibindo seus trabalhos; vendedoras de prata, de roupas, de coisinhas; cholinhas com filhotes pra você fotografar; velhinhas com aquele maldito lacinho local, loucas pra espetar sua blusa e ganhar um trocado (mas ao menos dessas eu já estava vacinado, lembram?). E entre desvios e caminhadas, fomos explorando o centro histórico.

E entre subidas e descidas – muitas, de ambas – encontramos em uma de suas vielas aquele famoso muro dos incas, que parece uma imagem chavão, mas que sim, impressiona pela perfeição. Mas não só ele. As ruas possuem um sistema de escoamento absolutamente simples e muito inteligente. Toda a arquitetura é extremamente bem cuidada e preservada. Mais do que isso: notoriamente funciona contra o inimigo mais comum das antigas civilizações – o tempo. A limpeza de Cusco impressiona, e suas ruas apertadinhas são aconchegantes (e íngremes). Pequenas praças estão escondidas entre um acesso e outro, e após certo tempo, tanto exercício fez a fome bater. Estando próximos à Plaza de Armas, nada mais justo que se deleitar por ali mesmo, de preferência, com alguma iguaria local.

Após sermos assediados por alguns restaurantes (sim, um “representante” de cada local é designado pra abordar os que por ali passam, oferecendo o cardápio a quem se aproxima – mesmo que não muito), optamos por um com uma panorâmica das boas pra praça central.

Sentido contrário

nov
2011
21

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18/set/2011 – dia 4
Cusco

Saímos com destino à Plaza de Armas, que é o ponto de partida para se conhecer o centro histórico de Cusco. Estávamos a 3 ou 4 quadras de distância, e chegar ao local à pé era questão de 5 minutos de caminhada. Logo na saída do hostel, e seguindo adiante no calçadão, as diferenças entre o destino atual e o anterior eram notáveis. Apesar de básica (sem grandes requintes, com lojinhas pequenas e tradicionais, pequenos cafés e algumas repartições), a área central de Cusco é absolutamente bem cuidada, limpa e receptiva. Os mais chatos podem falar “claro, é uma cidade turística!”, e estarão certos. Mas o Rio também é, e a gente sabe o tamanho da latrina.

Chão de pedra, muros históricos, e aquele povo predominantemente indígena. Cusco é um pedacinho muito bonito do país, e o Perú mostrou-se um lugar pra lá de receptivo com a gente desde os primeiros momentos. Quando chegamos à parte central, entramos na Basilica Menor de La Merced enquanto as meninas fotografavam a fachada e o movimento do povo. Mais uma vez, minha mãe se emocionou – acho que cada um deixa a ficha cair na hora que mais lhe parece propício, e no caso da Paquinha, os motivos religiosos sempre pegavam mais as emoções mais fortes da velhinha.

Enquanto isso, uma verdadeira muvuca acontecia na Plaza, e a gente sem saber ainda o que era, resolveu ao invés de fazer o roteiro imaginado (e sugerido pelo mapinha do Pariwana), percorrê-lo do contrário. Assim, evitávamos aquela zona e podíamos nos programar para invadí-la na hora certa.

Voltamos então ao ponto de início e tomamos como primeira parada a Plaza San Francisco, onde fica a Iglesia do mesmo santo. Pouco depois de experimentar a chicha morada – muito gostosa – de uma cholinha no meio do caminho (estava rolando uma quermesse, e eu comecei meu ataque às comidas de rua), visitamos a igreja em questão, onde estava chegando uma procissão no mesmo instante. Não preciso dizer se minha mãe se emocionou novamente ou não.

De lá caminhamos calmamente pela praça, onde pouco depois chegaria “aquela bagunça” que estava acontecendo na Plaza de Armas. Descobrimos ser uma espécie de fanfarra escolar… um encontro de turmas de escolas particulares cusquenhas. Velhinhas, molecada, professores, todo mundo junto com suas famílias. Aquelas coisas que a gente sabe que existem ou existiram, mas que não imagina ver de novo. A cidade estava com suas ruas cheias, e todo mundo curtindo muito. Quando apontaram na praça, de novo a velhinha (a minha) caiu no choro. Não era nem meio-dia, e eu já sabia que aquele estava sendo um dia pra lá de especial pra ela.

E ladeando os desfiles, chegamos à Plaza de Armas.

Não estranhem. Serão posts de textos relativamente curtos e bastante fotográficos. Daqui pra frente, melhor do que qualquer história é a imagem impressa em nossas memórias. As histórias somente ilustram, mas o impacto visual – tenham certeza – é muito maior.

Prazer, Pariwana

nov
2011
11

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18/set/2011 – dia 4
Cusco

Chegamos ao Pariwana, um baita hostel indicado pelo Thiagão bem antes da viagem. Ainda era de madrugada, e a recepção ainda não funcionava (em teoria), mas conseguimos fazer nosso check-in. Entre malas e sono, a Debs tomou a frente da situação e pediu para que verificassem nossa reserva, feita há meses: um quarto para o número certo de pessoas, com banheiro privativo. O rapaz da recepção procurou, procurou, e encontrou.

Para o dia seguinte.

Tantas foram as adaptações, apertos e ajustes que a pequena teve que fazer para que a viagem coubesse em 17 dias, que alguma coisa passaria reto. E foi essa reserva, que acabou não sendo reagendada. Partimos para o portunhol advanced, tendo em vista que o espanhol não era falado até então naquela sala, e com alguma negociação conseguimos um quarto. Pra 10 pessoas, que estava vazio, e que eles tentariam não ocupar com mais ninguém até o final de nossa estadia. No final das contas, os caras foram muito bacanas com a gente e o atendimento – assim como no Loki – foi excelente. E sim, merdas acontecem.

Chaves, pulseiras e camas distribuídas, nos alojamos no Valle Sagrado/305. O Pariwana é um destino recomendadíssimo (o Loki também, mas dele eu falo mais pra frente, tendo em vista que voltamos ao dito mais duas vezes), com quartos bacanas e beliches bem honestos. Os banheiros merecem comentários à parte. Estão por toda a parte, bastante limpos e modernos. São boxes de chuveiros (todos os que experimentei, excelentes), alguns com vaso em conjunto, e boxes sanitários em separado. Existe um hall de convivência central a céu aberto muito gostoso, onde você consegue ver todo o casarão. No andar de cima, uma sala de internet bastante grande e boa, e o bar, que foi nosso primeiro destino, tendo em vista que chegamos ao amanhecer. Pra quem gosta de viajar mas está liso e quer economizar inclusive na comida, existe uma cozinha honesta, com geladeira, fogão, microondas e uns acessórios, para ser usada por quem quiser no hostel. Do lado de fora, na área central, uma mesinha com vários tipos de chá, e um cestinho com folhas secas de coca.

Resumindo: estávamos alojados e muitíssimo bem servidos de estrutura. Tomamos nosso banho e fomos experimentar o café da manhã. Aquele, da foto de uns posts atrás, mas que eu repito aqui sem cerimônia.

Um jabazinho dos meninos: eles merecem…

Nesse momento encontramos a comunidade chilena da viagem. Pablo e Macarena aparecem no corredor do hostel, e nos acompanham no café. Com o portunhol já a passos largos do desenrosco, o Pablo saca alguns roteiros e vouchers de passeios que poderíamos fazer nos próximos dias. Dicas de grande valia, demos uma olhada geral e nos programaríamos durante nosso início de estadia peruana assim que terminássemos o café. Pãezinhos, chás, manteigas e geleias depois de uma noite de viagem funcionam como uma força da natureza, e revigoram qualquer ânimo. E não que precisássemos, uma vez que sair de um país e amanhecer em outro me parece motivo suficiente pra qualquer sono dar lugar à empolgação. Correspondemos de bate-pronto.

Com o mapinha de Cusco na mão, era hora de conhecer um pouco da cidade. E nós fomos.