Estávamos no aeroporto de Congonhas. Eu, possivelmente no colo da minha mãe, ou caminhando meus primeiros metros (ou nem tão primeiros, realmente eu não me recordo). E Paquinha sempre me contou essa história com um sorriso na cara… que avistou aquele rapaz e me levou até ele. Um cara barbudo, cabelo desgrenhado, magro de dar pena. Se aproximou, e me disse:
– Olha Celo, é o Sócrates…
– Que homem feio, Paquinha…!
E o doutor, que poderia emputecer, vira pra minha mãe – que já estava completamente sem jeito – e com toda a calma do mundo, após me dar um beijo no rosto, diz:
– Esquenta não senhora. Criança é sincera mesmo.
Foi esse o meu vexatório encontro com o Magrão. Eram meus primeiros dias como corinthiano, e aquele cara feio de doer se tornaria na minha vida um dos nomes mais importantes da minha paixão alvinegra. Num dia como o de hoje, onde disputaremos uma final ideal contra nosso arqui-rival, num Pacaembu todo preto e branco, lotado e lindo, valendo nossa quinta conquista nacional e com enormes probabilidades de terminarmos o dia em festa, é absolutamente triste pensar que esse cara não estará aqui, neste plano, com a gente. Seja pra comemorar ou pra xingar. Sócrates foi uma das personalizações mais perfeitas desse time do povo, e um brasileiro daqueles que todo mundo devia se orgulhar. Imperfeito como todo ser humano, um monstro com a bola nos pés, uma voz completamente respeitável.
Vai em paz Magrão. Que puta sacanagem você nos deixar.
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Que lindinho! Minha mãe conta que eu fiz algo parecido com um ator, já falecido também, chamado Carlos Augusto Strazzer. Num elevador de prédio comercial, ele entrou e começou a dizer que eu era uma lindinha. Na hora que o elevador chegou no destino, ele falou: você sabia que você é linda? Eu respondi: pois você devia saber que fica horroroso com essa barba e esse cabelo. Minha mãe queria encontrar um vão para mergulhar a cabeça e ele falou: deixa ela, as crianças só dizem o que pensam! Acho que o Sócrates não ficou triste com você e vai curtir – seja lá qual for a forma de curtir quando a gente vai pro estágio da não existência nesse mundo – a homenagem que o time dele vai fazer questão de prestar nos campos do brasileirão.
Beijo em ti!