Histórico

escrito por | em [Viagem] Peru/Bolívia 2011 | 2 comentários

15/set/2011 – dia 1
São Paulo/Santa Cruz de la Sierra/La Paz

Tá, chegamos.

Malas no quarto, beliches divididos, pulseirinhas (sim macacada, fomos de albergue – uma opção excelente pra você que quer sair do país gastando o valor de um chiclete por dia de hospedagem), tudo muito bonito. Uma linha para o chuveiro do nosso quarto, cuja ducha possuía requintes de massagem. Porém, após alojados e muito felizes com as instalações do hostel – um casarão ou coisa que o valha pra lá de bem cuidado, com lounge de pufes, armários por todos os cantos e um pub irlandês ali dentro – estava na hora de jantar.

E saímos para conhecer as redondezas. As ruas estreitas eram cruzadas por verdadeiras ladeiras, e as calçadas de pedra mostraram rapidamente (e principalmente para a minha mãe) que a moleza havia acabado ao descermos do avião. Ainda não havíamos nos climatizado (óbvio), e o passeio pelos arredores tornou-se um pequeno desafio. Era necessário entendermos onde estávamos, conciliarmos os ritmos (os nossos não eram os mesmos da minha mãe, e a viagem era de todos) e principalmente, acharmos um lugar pra comer. Nada parecia muito promissor, e a única indicação que havíamos pego num flyer que estava na recepção simplesmente inexistia. Derrotados, voltamos ao albergue, prontos para jantar alguns de nossos infindáveis Nutry.

O tal pub do hostel parava de servir comida às 22h, horário que há muito já havia vencido. Então, num surto de inteligência e coragem, resolvemos arriscar um delivery. Sim, um delivery. Desceríamos, e junto à recepção ligaríamos para uma pizzaria e tentaríamos um pedido.

Fomos eu e a Mel falar com o guri. Ela então mostrou que cara-de-pau seria um dos (bons) tons da viagem, e em inglês mesmo soltou para o cabrón a seguinte sentença: “Hi! We’re hungry! Wanna pizza!“. E o cucaracho, rindo de lado, foi até o armário, nos mostrou o verdadeiro cardápio (aquele que contém os sabores), e se habilitou prontamente a nos ajudar, pedindo ele mesmo a redonda. Estávamos salvos. Perguntamos como ele nos avisaria, ele disse: “Eu encontro vocês”. O tal Loki Hostel já havia conquistado nossos corações.

Subimos felizes, exaltando nossa conquista, e brindamos com nossa primeira (de muitas) Heineken. A viagem havia começado mesmo. E pouco depois, experimentávamos o primeiro quitute em terras bolivianas. Não tão bom quanto o nosso aqui de São Paulo, é verdade. Mas estava bem gostosa. E pra falar a verdade… urubu na guerra é frango. Não sobrou pedaço pra contar história.

[Mel] Como tínhamos ainda alguns bolivianos, resolvemos comprar água para abastecer nossas garrafinhas mega-design-cor-de-carne. Eis que a surpresa boa da noite foi o careca SEN-SA-CIO-NAL (ênfase para o sensacional, por favor) que nos vendeu o elixir da vida. Qualquer água de bueiro com cheiro de mijo de rato seria a melhor água do mundo com aquele careca. Alou careca, me liga lindo.

Noite vencida, que viesse de fato o primeiro dia.

A paz e a altitude

out
2011
05

escrito por | em [Viagem] Peru/Bolívia 2011 | 3 comentários

15/set/2011 – dia 1
São Paulo/Santa Cruz de la Sierra/La Paz

Se você, caro amigo, assim como eu culpou a seleção e não a altitude por aquela vexatória derrota nas eliminatórias para a Copa em 1993, deveria reconsiderar sua decisão após nosso pouso em La Paz. Descemos do avião num frio do cão (extremamente bem-vindo após o calor relatado na primeira perna da viagem), e ao sair da pista nos deparamos com uma rampinha, que conduzia os passageiros à área de desembarque. Uma rampinha, que quase matou quem não considerou aquilo um obstáculo. Sim, esse papo de altitude é real. Muito mais do que qualquer um de nós imaginaria.

Pegamos nossas malas, e saímos do aeroporto em dois táxis, que fizeram a precariedade desse tipo de condução na Argentina parecer tecnologia de ponta. O fato de termos tirado dinheiro em Santa Cruz garantiu nossa viagem até o hotel, dado que estavam na minha carteira as únicas moedas bolivianas do grupo – e assim fomos.

O trânsito em La Paz merece destaque nesse texto.

Algo que se assemelha a andar à pé no meio de algum mercado indiano. Nunca vi tamanho caos e desordem num mesmo lugar. Pra vocês terem uma ideia por cima, depois de voltar tenho achado o trânsito de São Paulo coisa tranquila, de primeiro mundo mesmo. Os carros – em sua grande maioria, sucatas, e cuja maioria da maioria é sim de táxis e vans – são movidos a buzina. Nego muda de faixa, passa por cima e desvia na contramão com a naturalidade de quem descasca uma banana. Os pedestres esperam os carros se aproximarem para exercitarem a arte do drible. Criança e velho valem tanto quanto um pedaço de jornal. A coisa é sem controle. De repente, no meio da rua, um monte de areia, um monte de pedra, uma barricada. Semáforo e sinalização são ítens de decoração. Se funcionam, ninguém nota. Cinto de segurança? Capacete? Esqueçam… Descrever é impossível, mas eu resumo: foi uma das “viagens” mais emocionantes dessa história toda.

La Paz é uma cidade no meio de um vale. O aeroporto fica no topo, o que nos fez descer numa espécie de Marginal em espiral, que vai adentrando o vale. As cores da cidade só saberíamos posteriormente, mas a descida perante aquele universo de luzes numa noite bem escura e fria foi coisa das mais bonitas. Não perceberíamos ali que haviam outras coisas que a faziam mais bonita, mas as coisas acontecem aos poucos. O trânsito quando chegamos lá embaixo (uma cidade congestionada numa noite qualquer me trouxe lembranças imediatas de onde vinha) era absolutamente caótico. Porém, poucos minutos depois, já estávamos em frente ao Loki.

Sim, o táxi parou no meio da rua. Descarregamos sob o som de infindáveis buzinas. E aquilo seria coisa cada vez mais normal e frequente dali em diante. Valeu para estrearmos um de nossos vários e novos hábitos. E chegamos ao hostel. O qual descrevo depois.

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15/set/2011 – dia 1
São Paulo/Santa Cruz de la Sierra/La Paz

Aparentemente, a tal Aerosur não ficaria devendo em nada às Aerolineas Argentinas de três anos antes. Aviãozinho modesto, corredor central entre fileiras de três bancos. Nos acomodamos aonde deu: Eu na fileira oposta à da minha mãe, que faria seu primeiro vôo na vida dentro de poucos instantes. Na minha fileira, masis atrás, a Dé. E na outra, um pouco mais atrás, a Mel.

O vôo era de São Paulo a Santa Cruz de la Sierra. Faríamos a escala antes de chegar a La Paz no início da noite. E esses vôos não costumam ter muito a se contar. Não foi diferente, com exceção feita ao calor egípicio que se instaurou na aeronave. Voamos nos sentindo num verdadeiro banho turco, dado que o sistema de ventilação do bicho devia ter um porco entalado entre os canos. A coisa desandou de neguinho de fato se enxugar. Pobre da minha mãe, que inaugurou sua era aérea numa verdadeira sauna.

Lembro do cara da minha frente se espreguiçando e quase deitando no meu colo, do casal de bolivianos discretos e tecnológicos viajando a meu lado, e somente isso. As meninas/mulheres têm histórias de vôo mais interessantes do que as minhas.

Após a Debs preencher os documentos migratórios de todos e comermos um lanchinho maomeno, paramos em Santa Cruz e já rolou um frescorzinho básico. Primeiros contatos com a língua vizinha, primeiro caixa eletrônico e primeiros dinheiros bolivianos (que foram utilizados no primeiro táxi pouco depois, e em outras coisas que entro em detalhes mais adiante – mas sim, a parada foi absolutamente necessária).

Voltamos ao avião, para uma quase ponte aérea até La Paz. Agora sim, juntos, e até com um lanchinho melhor, pudemos entre outras coisas conversar – coisa boa de se fazer numa viagem. E contemplar uma bela chegada a La Paz, uma cidade cujos (muitos) detalhes eu começo a descrever daqui a pouco. Detalhes esses que começam ao abrir da porta do próprio avião. Sim, o mundo é diferente a mais de 3650 metros de altitude.

Um mundo bonito, mas com muito pouco oxigênio. Jajá, detalhes.

Quase voando

out
2011
04

escrito por | em [Viagem] Peru/Bolívia 2011 | 1 comentário

15/set/2011 – dia 1
São Paulo/Santa Cruz de la Sierra/La Paz

Fato é que chegamos ao aeroporto por volta das 13h15. A Mel chegou um pouco depois, culpa de morar quase no Chipre (a distância relativa de Interlagos a Cumbica é equivalente). Mas de certa forma, isso possibilitou que eu e a Debs já tivéssemos a primeira surpresa da viagem logo de cara.

[Mel]
Interlagos não é tão longe assim, mas o problema é o trânsito. Momento de sabedoria: Você não está preso no trânsito, você É O TRANSITO.

Fomos trocar nossa graninha pelos ínfimos e míseros bolivianos (sim, esse é o nome da moeda deles… piada pronta desde antes do embarque). Mas não, não há bolivianos em Cumbica. Por sinal, a besta da menina da casa de câmbio nos forneceu, num lapso de inteligência, “bolívares venezuelanos”. Com a graça de Deus, a Debs presta atenção e lê as coisas, exigindo nossos Reais de volta, e com isso tínhamos como primeira certeza da viagem que nossa escala em Santa Cruz de la Sierra serviria também para o abastecimento pessoal das primeiras 600 moedas locais*.

*Nota: como correntista Bradesco (Glória, Deus), eu poderia sacar diariamente 600 pesetas locais onde estivesse (600 dólares nos USA, 600 libras no Reino Unido, 600 bolivianos na Bolívia, 600 soles no Peru, onde a comparação entre os dois primeiros e os dois últimos exemplos é necessária, uma vez que dólares e libras valem bastante, e bolivianos e soles não valem quase nada). Essa explicação didática vai esclarecer muito das aventuras presentes nessa viagem, onde as jogadas monetárias determinaram rumos bizarros e alguns litros de suor.

[Mel]
Meu nome é Melissa, e eu sou correntista do Santander, o pior banco do mundo que, além de cobrar taxas abusivas, mente para o cliente prestes a viajar para um destino internacional. Responsabilidade é tudo!

Obviamente eu não poderia deixar de contribuir na emoção do embarque, esquecendo meu RG em casa e com a graça divina trazendo meu passaporte no lugar. Sim, dei um rabo do tamanho de um jacaré, e após um diz-que-me-diz com a atendente da Aerosur, assumi a cagada e minha nova identificação numérica, a qual até então sequer havia tomado conhecimento desde a expedição. Sorte ou azar, fato é que o menino ficou todo bonito depois da viagem, como vocês podem notar.

[Mel]
Alguém consegue me explicar, quem, em sã consciência esquece o RG em casa antes de viajar?

Fomos então, eu, Debs, Paquinha e Mel, separados após um check-in de última hora e uma correriazinha básica no embarque (MelCorre negada – parte 1). Ah sim, vale registrar que a única barrada no baile na verificação de bagagem, que carregava uma perigosa embalagem de creme para alguma coisa que eu não sei o que era, e cujo mesmo foi barrado e enviado de volta às mãos do meu irmão.

E também fui lembrado pela Mel sobre o bloqueio técnico de seu desodorante, o que lhe valeu a fama de fedida atribuída pela Debs, e que certamente perdurará ad eternum.

[Mel]
Detalhe que barraram meu desodorante, mas o body splash com 150ml não! Vai saber né? Logo, a teoria do FEDIDA NA VIAJEM, caiu.

Tudo em dia, simbora pro avião.

E foi assim…

out
2011
03

escrito por | em [Viagem] Peru/Bolívia 2011 | 5 comentários

…nós viajamos. Em quatro pessoas: eu, Debs, Paquinha e Mel.

E o relato será o mais completo possível. Da viagem, e de tudo de bom que ela nos trouxe. Foram dezessete dias intensos o suficiente para que algumas coisas ainda não tenham sido devidamente assimiladas. A grandiosidade da vida, do mundo, e a completa insignificância da gente perante um planeta tão grandioso que mesmo em nosso continente nos sentirmos completos iniciantes numa vida que já nos vai levando há décadas.

Pudemos sentir da pele uma diferença assombrosa que separa São Paulo de La Paz. Nos sentirmos modernos demais para uma história que há muito já existe – numa época em que sequer colônia éramos – escrita nas paredes e ruas de Cusco. Nas estradas entre os dois países – Bolívia e Peru – nos deparamos com cenas que nem mesmo nos livros de História poderiam ser mais encantadoras, e às vezes, chocantes até. Redescobrimos um universo. Vivemos na realidade aquilo que desde sempre vimos somente em fotos. Machu Picchu é sim real. Linda. Enorme. Alta. Viva. Mais que ela, o sol que nasce pra todos, todos os dias, surgiu pela primeira vez num universo branco e gelado, em meio ao nada. E foi lindo. Foi absolutamente perfeito.

Será uma história contada em vários textos. Cuidadosos, porque perder os detalhes é atropelar nossa própria história, onde os segundos de cada dia foram vividos em sua plenitude. Nada parece mais adequado do que começar esse relato dizendo aquilo que resume o sentimento de uma viagem como a que tivemos:

– obrigado.

Pela oportunidade de entrarmos de cabeça num mundo tão real e ao mesmo tempo, tão lúdico. Por realizarmos sonhos, enfrentarmos desafios pessoais, mudarmos de rumo. Por sermos capazes de valorizar algo que não se resume somente a um bocado de fotos e milhas no passaporte. Fomos além. Entendemos o que lugares tão diferentes, e às vezes até difíceis, são capazes de significar para toda uma vida. Obrigado Dé, por ter sonhado e aberto a boca, nos contado e nos levado pra dentro do seu peito. Obrigado Paquinha, por ter topado essa loucura e não ter amarelado nos degraus projetados para Incas, e não para mães. Obrigado Mel, por ter cuidado da minha mãe, da minha esposa e dividido com ela a possível experiência mais grandiosa da vida dela (e que eu não teria sido capaz de fazer sem ser resgatado por um helicóptero ao final do dia). Foi lindo. Foi foda mesmo. E eu vou começar a contar pra todo mundo jajá.

Malas prontas

set
2011
14

escrito por | em [Viagem] Peru/Bolívia 2011 | Nenhum comentário

Num churrasco, há muito tempo, surgiu o papo. Debs e Lu estavam nele, e num momento todos queriam ir a Machu Picchu. Todos se empolgaram, e o assunto, assim como nasceu, morreu naqueles ímpetos de sonhos coletivos que a gente vive por alguns instantes e desaparecem em seguida. Mas eu lembro, e até fotos eu tenho desse tal encontro.

Passaram-se (muitos) anos.

Amanhã ambas embarcam. Eu, que casei com uma delas, também. Minha mãe, idem. Lu sempre carrega a Sol – que topou a empreitada, e eu há pouco mais de ano carrego a Mel. Foram meses e meses de um aprofundamento absurdo nesse sonho que começou coletivo e de fato agora se realizará coletivo, mesmo que sejam coletivos diferentes. Não importa.

Nesse meio tempo, venho tentando descobrir o que será essa viagem na minha vida. Porque tem gente que viaja de um jeito relativamente fácil, e nem sempre se empolga tanto com uma nova empreitada. Não é meu caso. Estou indo novamente sob a sombra do desemprego (duas viagens até agora, e ambas assim – porque emoção não falta, né minha gente?), e nem um pouco preocupado com isso. Lembro bem do que foi o impacto de pisar fora do país pela primeira vez. Que se dane se era no país vizinho, fato é que foi espetacular – e mesmo em somente oito dias, poucas foram as vezes em que pude contar tantas histórias acumuladas num período tão pequeno de tempo. Conquistamos uma nova oportunidade. A minha segunda.

E meus significados aos poucos foram surgindo, tão óbvios que citá-los me parece redundante. O maior de todos, sem dúvida, é estar próximo de tanta gente querida em lugares absolutamente espetaculares; dividir minha primeira grande viagem após o casamento, numa pseudo lua-de-mel tardia mas especialíssima; inaugurar minha mãe ao mundo, 64 anos após esse mesmo mundo tê-la recebido; inaugurar também a mais nova e nesse momento mais próxima amiga da mesma maneira; ladear a pseudo-irmã de cabelos coloridos em locais capazes de nos unir ainda mais; aprender um pouco da latinidade sempre exaltada pela chileninha estando junto dela; reencontrar a outra amiga chilena no meio da viagem, e conhecer um novo amigo pelo caminho. São óbvias essas percepções, mas relembrá-las mesmo antes de embarcar já deixa essa nova conquista ainda mais especial.

De tudo isso, uma coisa já aconteceu: o vício pela vida. O mesmo que a Debs me mostrava a cada nova descoberta, fosse onde fosse a pesquisa, a qualquer momento. O valor de uma inquietude que nunca tive alimentada em meus sonhos, ela trouxe. E trouxe com força. Mostrou ser possível sonhar E realizar, mesmo que para que essa soma se tornasse possível meses de esforço fossem necessários. Nenhum esforço é em vão, e a prova está aí, a poucas horas de tornar-se história. E da mesma maneira, esse sonhar junto que hoje a gente vê no que dá nunca esteve atrelado a rótulos: namoro, casamento, fosse o que fosse, tive nela a base do conciliamento entre planejamento e execução. De um sonhar contínuo que renova espírito(s) todos os dias. E hoje, vendo que tudo o que cogitamos, planejamos, adaptamos e executamos está aí, pronto a acontecer, só me mostra que sim: é possível, pequenininha. Olha a gente aí, voando de novo.

Então fica assim: meu último texto por aqui nas próximas quase 3 semanas. Um período sabático se inicia agora, quando ao lado de cinco pessoas que eu posso entregar amor, carinho e essência sem meias-palavras, vou lá viver essa experiência que foi citada aqui mesmo, nos primeiros minutos desse ano. Não é somente um tempo pra mim. Mas sim, alguns dos possíveis dias mais marcantes das nossas vidas. Um sonho coletivo, mas cujas imagens cada um vai guardar do seu jeito.

Falta um dia. E em breve, cada um dos outros 17 seguintes eu faço questão de descrever, derramar e esmiuçar por aqui, daquele mesmo jeito que fiz há quase 3 anos. Possivelmente de uma maneira ainda melhor, e mais compartilhada. Fico feliz que palavras não sejam capazes de quantificar essa experiência: só isso já prova o quanto ela é especial. E vem sendo, desde novembro, quando pela primeira vez conversamos, eu e a Debs, sobre isso.

Taí. Agora é pra valer. Até a volta, molecada.

That’s life

ago
2011
31

escrito por | em Música | 1 comentário

Estávamos assistindo Sister Act anteontem, um dos filmes preferidos da Debs e que eu gosto (e muito) também. Se você por algum motivo não assistiu, a história se passa numa igreja, onde Whoopi Goldberg se esconde após ter testemunhado um crime, e por lá tumultua geral a vida das freirinhas. Não estou aqui pra falar do filme, muito menos fazer análise de coisa alguma. Mais do que o desfecho da história, vale mesmo cada uma das cenas onde a música surge como revolução pessoal e de grupo: seja quando as moças invadem um boteco, seja quando se organizam num coral e acabam atraindo a comunidade de volta às missas. A grande virada está ali, mergulhada em melodia.

O grande milagre que as pessoas subestimam. A música não existe somente para compor a trilha sonora de determinados momentos da sua vida. Quais não são as lembranças que ela nos traz? Minhas memórias mais fortes de infância acontecem em frente à vitrola Phillips de casa, ou acordando ao som das músicas da Jovem Pan AM. Os Natais nunca aconteceram sem as vozes do Fischer Choir, pontuais na virada do dia 24, deixando em segundo plano até mesmo Papai Noel. Meus domingos começavam melhores com o tema da vitória, de Eduardo Souto Neto ao final das corridas de F1. O hino do meu time, a música lenta dos bailinhos de aniversário (sim, uma das músicas que mais me traz recordações – morram de rir – é “Vou de Táxi” da Angélica), até mesmo o hino nacional em dias de Copa. Tem gente que até hoje cantarola os temas de alguns desenhos animados…

E eu falei somente de momentos da infância. Pra exemplificar.

É muito difícil crescer no silêncio. Alguma voz tem que ser capaz de nos representar, e aquilo que sentimos. Acabamos imergindo pouco a pouco e encontrando em um punhado de ídolos a identidade não só de nossas melodias, mas de nosso significado. Gritamos, choramos, bradamos aos quatro cantos aquilo que somos e aquilo que sonhamos ser. Alguns permanecem, outros são trocados por coisas que desdenhávamos quando nossos pais ouviam. Dali em diante, passamos a entender que o mundo não começou quando nascemos, e que sim, pessoas já amavam, sofriam, viviam e morriam há algumas gerações. Um pouco cafonas, um pouco datados, mas ignoramos detalhes em prol do talento e da evidente atemporalidade de quem se fez ouvir com competência e acompanhou vidas e mais vidas sem sequer saber. Essa é a grande magia da coisa.

A música é nossa companhia eterna. Talvez a única, que você deseja encontrar quando mais ninguém é capaz de te entender. E não que ela consiga suprir nossas necessidades, mas ela dá voz ao que não temos coragem ou saúde de externar. Outras vezes, ela serve apenas de base para que possamos abrilhantar ainda mais nosso sucesso. Não é qualquer papel que se cumpre. E exatamente por isso, compreendê-la como somente um pano de fundo pras nossas ações é completamente leviano.

Dedicar ou compartilhar música exige respeito. Responsabilidade. Saber que três ou quatro minutos são suficientes para mudar toda uma vida de alguém, e por isso mesmo tratá-la como qualquer coisa é tratar a vida como inércia. Nunca se sabe o que uma memória musical é capaz de carregar para qualquer outra pessoa – às vezes, até mesmo pra gente. Já fiz uma amiga chorar por escolher “Everybody Hurts” para ilustrar certo momento da minha vida; após a morte do meu pai, passei meses sem conseguir ouvir a voz de Sinatra; voltei choroso e por dias assim fiquei após meu primeiro show, e ouvir Guns N’ Roses naqueles dias era invocar um verdadeiro hecatombe de sentimentos; escolhi dezenas de músicas para embalar minhas paixões, e centenas para freá-las após cada decepção. Escolhemos somente uma para nosso casamento. Todas, absolutamente todas, marcaram. Não há música certa. Não há filme certo. Não há nome certo. O que há de fato é um momento, que começa quando você nasce, e termina quando você morre.

Mais do que qualquer recordação, música – assim como a vida – a gente vive. Trate-as, ambas, muito bem. Ou, assim como sua vida, suas músicas de nada servirão ao final de sua história. Afinal, como fazer de uma vida marcante se seus melhores momentos são encarados sem a devida importância?

P.S.: Justiça seja feita: terminemos com música, e voltando ao início desse texto, com aquilo que ele teve de melhor. Musique mais alguns minutos de seu dia.

escrito por | em Amigos | 2 comentários

É uma homenagem a um baluarte da inteligência esse texto, que por sinal nem texto é. Num daqueles momentos em que a gente sai por aí procurando alguma coisa marcante na nossa vida e se depara com pérolas como a descrita aqui abaixo, nota-se que tortamente algumas escolhas e pessoas foram sim muito importantes na sua vida desde determinado momento. Algumas a gente perde; outras se perdem sozinhas. A Van, que por diversas vezes eu mesmo disse por aqui inclusive ter sido a responsável pelo nascimento e amadurecimento dos meus textos, foi hoje motivo de busca pelo sempre confiável WebArchive. Tudo começou quando ela mesma redescobriu essas tirinhas infames, feitas em 2009, e cujas artes, de tão precárias e porcas (portanto, ideais), só deixam ainda mais ricos e destacados os textos da moça.

Então, numa lacuna entre os trabalhos do dia, lá fui eu procurar o que há quase dez anos me fez escrever o primeiro texto horroroso desse blog. Achei isso, e depois ela mesma achou isso – que é de fato a fonte, vide data. Foi-se quase uma década, e texto bom não vence. Vale visita, mesmo via WebArchive, que ao lado do Google é o site mais útil da internet (ok fãs do XVideos, vamos enumerar os três). E aí eu penso que desde aquela época cismei em incomodar a moça, que surpreendentemente topou uma cerveja com o até então estranho do Taboão da Serra, e bem… o resto é história. Por sinal, história que dentre tantos momentos de amizade verdadeira, tem uma imagem que me lembrei existir ontem, e por um lapso do destino não havia sido publicada ainda: essa.

Te adoro viu, fala mole. E pra não te expor completa e gratuitamente desse jeito, deixo aqui aos que insistem em frequentar o meu blog (que continua sendo infinitamente menos interessante do que o seu, mesmo pós-morte), a primeira aloprada pública que eu levei de você. Com muito orgulho. Um beijo Van.

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Quinta-feira, Novembro 13, 2003

:: morfina pornô ::

Esta é uma singela homenagem ao Masili.
apresento-lhes Chorão, o Messias da Juventude Brasileira:

Chorão não está muito esbelto, é verdade. Sua silhueta assemelha-se à de um barril de carvalho (sem trocadilhos, por favor). Além disso, ele tem dado maus exemplos à horda de adolescentes que o admiram: há três ou quatro semanas, Chorão compareceu ao Domingão do Faustão completamente chapado. A cada dez palavras proferidas pelo mítico músico, pelo menos nove eram “foda”. Bem feito para o Faustão, aquele bolha egocêntrico. O Chorão, apesar de ser meio mala, também pode ser considerado um cara legal. Digamos que ele é uma personalidade paradoxal. Chorão compõe versos verdadeiramente profundos em suas melodias, versos estes que direcionam os caminhos da juventude de nosso país. Exemplos:

“Ela achou meu cabelo engraçado. Proibida pra mim, no way”
breve análise: por ter achado o cabelo dele engraçado, a garota pode ser considerada proibida. Ela está em outro nível, em outro ponto do organograma social. Chorão, um pobre suburbano, lamenta-se por não ser bom o suficiente para ter a garota de seus sonhos.

“Eu sei como é difícil acreditar mas essa porra um dia vai mudar”
breve análise: Denota a consciência política da banda. Chorão é o cara que vai mudar o mundo, escutem o que estou falando.

“Nem tudo lhe cai bem é um risco que se assume quando é dono de ninguém”
breve análise: Sinceramente, não faço a menor idéia do que ele quis dizer com esta frase. Mas deve ter muita sabedoria embutida aí no meio.

Oráculo, messias, profeta: não existem palavras suficientes para traduzir a representatividade deste brilhante rapaz perante seus fãs. Neste recinto, Chorão foi e sempre será a grande fonte de inspiração e conhecimento, independente do seu discurso ébrio e de suas roupas ensebadas. Respeitem o que hoje é um homem, mas amanhã será uma lenda.

injetado por Vanessa Marques às 10:46 AM

As estradas

ago
2011
22

escrito por | em [Viagem] Peru/Bolívia 2011, Vidinha | 1 comentário

Ontem e anteontem pudemos viver mais algumas migalhas pré-viagem. E nas conversas que têm surgido, dúvidas e questionamentos dão o tom de nossas pautas. Variamos entre as curiosidades: um lê e indica, outra, começa a se perguntar sobre hábitos e necessidades dos quais nunca tivemos contato e sequer imaginávamos ter, mais uma procura e envia fotos e mais fotos, outra conta histórias de infância e amplia ainda mais nossos horizontes. As coisas fluem, e as lacunas que se multiplicam pouco a pouco são preenchidas com um misto de curiosidade e ânsia por conhecimento e repertório. Somos testados a todo instante por nós mesmos, e justamente essas dúvidas nos mostram a cada instante o quanto não sabemos nada. Sim, somos ínfimos perante a grandiosidade de um mundo repleto de vidas qua sequer imaginamos ter contato um dia. Damos um passo de cada vez, e notamos que certas distâncias são de fato gigantes, mas o contato com essa estrada não nos cansa – pelo contrário, nos incentiva a, passo a passo, descobrir o que cada novo avanço nos reserva.

Admitir nossa própria ignorância, não nos conformarmos com ela, e buscar esse conhecimento que notoriamente não possuímos. Isso é o que nos move. Não somente o fato de estarmos presentes num cenário espetacular. Muito menos a presença dos amigos. Mas sim encontrar nesse conjunto uma oportunidade enorme de dividir e multiplicar uma experiência que nos fará mais vivos e prontos a dar um próximo passo. Ainda temos muito fôlego, e todos nós, muito tempo. A vida só é curta pra quem não sabe valorizar cada um de seus dias, de suas horas, de seus minutos. Estamos prontos para essa plenitude, e insaciáveis por novos caminhos. Têm sido assim esses dias: de satisfações pessoais, de momentos coletivos, de histórias compartilhadas. Estamos aumentando nossas famílias com o que de melhor essa vida nos oferece: as pessoas. Eu faria aqui uma contagem regressiva, mas certamente ao seu final, uma nova começa. Quem pisa na estrada sempre quer voltar. Afinal, se o mundo dá voltas, por que eu me conformaria em ficar parado?

escrito por | em [Viagem] Peru/Bolívia 2011 | 3 comentários

Duas de cinco casas. Uma padaria. Um mercado, um café, um shopping center, uma loja de material esportivo. Três almoços, dois jantares e uns vários quitutes. Algumas compras: de roupas, comida, taças, passagens, entradas. Planilhas: listas do que fazer, como e quando, transportes, acomodações, o que levar, o que deixar aqui. Novidades na língua, nos pratos, nos hábitos, nos sonhos. Possibilidades, encontros e desencontros. Uma desistência quando éramos sete. Um retorno e agora somos 8 por dois dias. Três idiomas (ou quatro, se considerarmos a mistura de dois deles). Dois países, visitando outros dois países. Planos que deram certo. Planos que não deram, mas que fizemos caber. Várias piadas internas, diversos causos, muito que já foi dito, muito que ainda será. Seis pessoas. Apenas eu de voz grossa. Cinco meninas: a esposa, a mãe, as amigas que já são família também, então desconsideremos rótulos. Dias (ou melhor, semanas – meses) de planejamento. Fichas caindo. Sonhos surgindo.

As coisas vão tomando forma, e agora podemos nos orgulhar que absolutamente tudo está encaminhado. Na cabeça e dentro do peito, uma sensação espetacular de que estamos de fato vivendo uma coisa nossa, e “ser” esse “nós” já parece tão natural e intenso que fica difícil imaginar esse objetivo, nascido num distante novembro de 2010, sem qualquer uma dessas pessoas. Contas e equações que couberam. Empregos que se mudaram, ou deixaram de existir. A vida de fato muda de uma forma que foge ao nosso controle. Tudo isso já é nossa viagem, mas poderemos chamá-la de nossa de fato quando, ao mesmo tempo, todos nós sentirmos as nuvens debaixo de nossos pés.

Faltam 30.