Histórico do mês de julho 2009

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Durante toda a vida, fomos àqueles churrascos de família, onde mais de cem pessoas orgulhosamente reunidas falavam mal umas das outras, baixinho, pelas costas. Frequentamos e muito a casa das nossas avós, onde não foram poucas as vezes em que ouvíamos as histórias escabrosas daquele primo que bebe demais, ou daquele outro que não consegue guardar dinheiro e vive pedindo emprestado pra esse ou aquele tio ou tia mais abastados. Lembro também da ostentação incontida e da necessidade contínua de reafirmação de sucesso da grande maioria, mesmo que por trás de tanta maquiagem houvessem quilos de dívidas e “probleminhas” escondidos.

Me afastei dessa corja chamada “família” desde que ela virou as costas pra gente.

Meu pai não foi pedir ajuda pra titia. Não foi bater na porta de ninguém às 6h da manhã de um sábado depois de bater o carro numa bocada por dirigir bêbado. Não omitiu os pecados católicos. Não ficou com o rei na barriga enquanto faltava comida na mesa. Meu pai nunca foi santo, e muito menos impassível de erros. Por sinal, de tanto errar, se fodeu. Mas tentou, e mesmo na merda sempre estivemos juntos. Em casa ninguém jogou garrafa na parede, fugiu de casa ou deu o golpe da barriga. E das nossas ações, restaram aqueles que de fato nos amam. E nesse meio, “a família” resolveu se interessar nos porquês da nossa sobrevivência.

Conto nos dedos de uma mão aqueles dos quais ainda gosto, seja pela presença constante (mesmo que essa presença aconteça via mail ou aqui mesmo no blog vez ou outra), seja pela real preocupação. Mas afastei por completo os traíras. Aqueles que certamente serão noticiados da morte do meu pai quando ela ocorrer; que se aproximaram ultimamente “pra não pegar mal”; mas principalmente, aqueles que fazem dos “escândalos da família” assunto de almoço. Almoço que eu participei aos montes há 20 anos.

Vocês não sabem da real situação do meu pai. Não sabem que mais da metade do cérebro dele já está morta desde quarta. Não sabem da infecção generalizada que tomou conta do corpo dele e que ainda não chegou em locais que trariam o alívio ao nosso sofrimento, pois o sofrimento dele não aconteceu, graças a Deus e ao AVC de segunda, que literalmente o apagou.

Portanto, se quiserem achar um Judas agora pelas decisões tomadas, sim, somos nós. Culpem-nos. Comentem-nos. Julguem-nos, e depois que essa situação terminar, esqueçam-nos, pra sempre. Porque durante a vida do meu pai, nós fomos os únicos com os quais ele realmente sempre pôde contar. E assim sendo, sabemos exatamente o que ele faria neste momento.

E assim será.

Mais e menos

jul
2009
21

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E é tudo silêncio.

O nome limpo na praça, a primeira concorrência ganha… nada disso fez o menor sentido hoje, porque minha cabeça não sai daquele maldito leito onde meu pai está agora, com mais dois senhores, entubado e respirando por aparelhos num coma induzido devido ao AVC que aconteceu ontem pela manhã, exatamente um dia após ele me dizer que se sentia melhor e que estava sem tantas dores. E como é difícil ser forte pra si, pros outros, pra segurar de pé minha mãe que tenta a todo custo demonstrar que está tudo bem, e que as coisas vão dar certo. E eu aqui, tentando acreditar nisso, mas meu ceticismo não deixa e eu só fico aqui, pensando o que foi o sonho dessa noite, quando eu pedi a Deus pra que cuidasse do meu pai e ele me enviou em pensamento uma mulher ruiva, vestida de branco, de imagem das mais tranquilas e que me acalmou o peito às duas da manhã. Eu não entendi, e sinceramente, não quero.

E como eu queria deixar por aqui as boas notícias e parar de narrar os piores dias da minha vida e da minha família, e também me entregar ao silêncio. Mas eu preciso falar, e tirar um pouco dessa carga gigante que vem aumentando todos os dias, e pedir pra que se alguém estiver lendo ou sabendo do que está acontecendo, que ore assim como eu tenho feito, porque alguém ir embora aos poucos, desse jeito, é triste demais. E como eu gostaria de dizer que tudo isso não passou de um susto.

Um sopro

jul
2009
14

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“Nenhum problema pode ser resolvido pelo mesmo grau de consciência que o gerou.”

Albert Einstein

Um trago

jul
2009
13

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Existiu uma época em que as pessoas tinham a possibilidade de serem imortais, heróicas, invencíveis e nunca erravam. De um tempo em que não era possível julgar as ações, e era mais fácil acreditar nas histórias contadas do que tentar entender um contexto, por mais bobo que fosse. Os dias demoravam mais a passar, e cada ano parecia cinco. E a saudade nem era tão grande assim, mas quando acontecia apertava o peito e fazia chorar.

E hoje, tudo isso parece que foi ontem, e mesmo assim já está tão distante que dá vontade de mandar uma carta pro responsável por toda essa zorra e pedir pra voltar cada uma das besteiras que nós e os nossos fizemos, viver mais o que foi bom e impedirmos tudo de ruim que aconteceu até hoje.

Assim, os sonhos poderiam durar mais, e os pesadelos, muito menos.

Obrigado por fumar

jul
2009
08

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Meu pai entrou ontem em sessão de hemodiálise.

E não vim aqui fazer sermão contra você, amigo fumante. Mas vim esclarecer algumas coisas que acontecem com famílias que, como a minha, foram destruídas por causa desse seu hábito idiota. A pessoa que fuma e um dia descobre que tem câncer na bexiga (como aconteceu com o meu pai) inevitavelmente terá que usar uma bolsa coletora de urina. Ou seja, mijar com o pau, nunca mais, e você terá um furo na barriga exposto pra sempre, que vive conectado numa mangueira de borracha que vira e mexe escapa, e te deixa molhado de mijo. Sim, você vai feder mijo pra sempre.

Seu sangue perde oxigenação, uma vez que seu pulmão está podre e seus rins sofrerão uma total mudança depois da cirurgia para retirada dessa bexiga cancerígena. Passarão a não funcionar corretamente, e isso influenciará no restante do seu corpo. Alterações de memória, de humor, de disposição. Você se torna uma pessoa anti-social e isolada. Suas idéias não farão mais sentido, e você fará visitas constantes ao pronto-socorro. No final, acabará ou sendo operado novamente, com um risco de morte muito maior do que aquele que você já passou durante a cirurgia de retirada da bexiga (afinal de contas, anestesias gerais e cirurgias de 8 horas de duração são “um tanto arriscadas”), ou passará 3 dias por semanas conectado a uma máquina de hemodiálise, esperando o dia em que isso não adiante mais e seu corpo finalmente pare de funcionar.

E vale lembrar que por trás de um imbecil egoísta que fuma e compra seu próprio câncer, está uma família que naturalmente faz de tudo pra que ele se recupere do próprio buraco que cavou orgulhosamente durante décadas. Essa família se desintegra, com mães e filhos não suportando mais um susto por dia, e a perda constante de qualquer esperança de melhora. A ponto de um dia, rezarem para que tudo isso acabe logo e que o sofrimento seja somente o da perda.

Não é sermão. E também não é por falta de aviso que as pessoas fumam. Achar que com você não acontece é exatamente o que meu pai fez durante toda a vida, e hoje ele recebe todos os dias a recompensa por ter engrossado a massa consumidora mais burra da face da Terra. Tenha certeza, amigo fumante: as empresas tabagistas não faltam com suas obrigações, e oferecem a cada cigarro fumado as devidas consequências a seu corpo. Mas, pior que isso, e o que talvez você não tenha pensado – egoísta que é, que por trás desse seu hábito cretino existam pessoas que se importam com você e que planejam passar suas vidas em sua companhia. Planos esses que muito provavelmente serão interrompidos em algum momento. Mas isso você me conta quando acontecer, e tenha certeza: você me contará um dia.

Até lá, curta bastante.

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Todo mundo com um pouquinho de sensibilidade e um mínimo de bom gosto musical assistiu ao Michael Jackson’s Memorial na tarde desse dia 7, e em algum momento se emocionou, pois não é necessária muita inteligência pra saber da importância da obra desse verdadeiro mito.

O ano que certamente fica marcado por uma das maiores perdas da história da música marca também, numa infeliz coincidência, o aniversário de 50 anos da Motown. E no que vimos naquele que aparentemente seria um evento estrambólico e que se mostrou uma cerimônia das mais sóbrias e tocantes, que foi justamente a celebração da vida do artista por músicas e intérpretes com qualidade incontestável.

O aniversário da gravadora talvez passasse batido, mas revisitá-la no momento em que a revisita da obra de Michael Jackson é feita quase que por inércia, senão uma questão de inteligência, é uma atitude de reverência aos que de fato prestaram um serviço inestimável à história musical desse planeta.

Encontramos em seu esplendor Stevie Wonder, Marvin Gaye, Supremes, Smokey Robinson, Temptations, Diana Ross, Lionel Richie, e claro, Michael Jackson e os Jackson 5, em quase 3 horas e meia da mais pura música. Não música negra. Não jazz. Não blues. Não baladas nem rock. Música, daquela que você ouve sorrindo e presta reverência a quem nasce com o dom de enxergar na vida a poesia que somente artistas desse porte foram capazes de ilustrar em melodia.

Portanto meu amigo, se você assim como eu sente que o mundo perdeu sim muito mais do que um habitante, e para preencher esse vazio recorre à matéria-prima da genialidade musical que nos restou, preencha três horas e meia com esse verdadeiro presente que a vida nos oferece. Música, simples e maravilhosa. E o resto veio daqui: muito pro bem, muito pro mal. E normalmente os adeptos do mal não aguentam mais ouvir falar de Michael Jackson.

Troque o conflito com a mediocridade pela celebração à vida. Ouça.

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Alguém já viu dia chuvoso mais feliz que esse?

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29/dez/2008 – dia 4
Centro, Buenos Aires

Estava (novamente) um céu azul típico das cores da bandeira. Descansados pela manhã, pois percorremos somente as redondezas, saímos com calma à tarde pra sacar o que se passa pela 9 de Julio – aquela monstruosidade que faz Buenos Aires lembrar em determinados momentos a cidade de São Paulo. Ainda não constavam em nossos registros as famosas fotos da própria avenida, do obelisco, e uma geral da Casa Rosada. Além disso, vendo todo aquele novo ambiente e tantas coisas diferentes das que são cenário da rotina, encomendei à Debs algumas fotos que algum dia virarão desenhos como aqueles que eu já coloquei no portifólio. Convenhamos que produzir um material desse tipo é bem mais legal do que ficar caçando foto no Google…

Fomos devagar, sem pressa mesmo, curtindo o calçadão e aquele dia bonito. E algumas coisas aos pouco tornam-se evidentes:

– Se a Paulista tivesse 8 pistas de cada lado, e São Paulo um céu despoluído, provavelmente se pareceria muito com a 9 de Julio;

– A tal Lei Cidade Limpa do Kassabão aqui em São Paulo evidencia-se quando você nota que o que mais existe nos prédios de lá são outdoors, letreiros, faixas e o escambau. Imaginar aquele lugar sem esse monte de sujeira, sendo que ele já é naturalmente bem do bonito dá um aperto de leve no peito;

– Como em qualquer lugar, os caras picham a cidade. Mas nota-se um tremendo movimento político e nacionalista por trás disso. O que não falta é stencil pelas ruas, praças e bairros. Claro que isso não é regra: havíamos chegado lá logo após uma vitória do Boca Juniors no Torneo Apertura. Consequentemente…

Vale o registro de que, enquanto atravessávamos a Avenida, havia um cara esperando o semáforo de pedestres abrir. E enquanto isso, ele… escovava os dentes. De pé, ali, no meio da rua. Infelizmente não vimos se, onde e como ele cuspiu, mas cá entre nós: tenha santa paciência né amigo…

Do começo ao fim da avenida, a tarde passou e a noite chegou, com o Sol que desnorteia qualquer relógio. Voltamos à Casa Rosada pra trazer mais fotos bacanas de recordação – agora sem a ansiedade do primeiro dia e com alguns locais em vista além do já citado. A Plaza de Mayo é o local onde acontecem as manifestações populares e panelaços. É extremamente bem cuidada e toda florida. Novamente, gente aproveitando o local, lendo nos bancos e passeando com a família. Sarmiento ficaria orgulhoso.

E quando a Debs quis fotografar a Casa, de tanto nos afastarmos eu acabei soltando algo como “nossa, como é grande essa bagaça…”, que acarretou num ataque de risos da pequena que até hoje eu não sei bem explicar…

E continuamos o passeio…

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29/dez/2008 – dia 4
Recoleta, Buenos Aires

A Havanna é uma instituição argentina, de fato. Mais até do que Dieguito Maradona. A loja está espalhada aos quatro cantos, e nunca está vazia. Docerias e livrarias são encontradas por Buenos Aires a torto e a direito. Dizer que você viajou pra lá e não comeu um docinho ou não achou determinado livro é praticamente uma heresia.

Existe uma Havanna no Paseo De La Recoleta, que é o boulevard onde ficam as mesas dos melhores (dizem, porque é tudo caro demais) restaurantes, bares e afins do bairro. A Havanna porém não integra esse contexto, e continua tão acessível quanto qualquer outra loja no país.

Além da oportunidade única de se deliciar comendo os alfajores mais gostosos do planeta a preços módicos, a Havanna ocupa provisoriamente o lugar das nossas padarias (que inexistem por lá), sendo uma excelente opção para comer um sanduichinho e tomar um suco ou um chocolate com aquela qualidade a qual estamos acostumados quando passamos pelas filiais tupiniquins.

Alguns alfajores depois, voltamos ao Subte, e de lá, à Casa Rosada…

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O que faz um corinthiano se orgulhar da equipe?

– Simples, histórico, evidente. Raça.

Mas agora, no intervalo do jogo e com a gente passeando em duas parcelas de dois a zero em cima das choronas gaúchas, o orgulho vem desse toque de bola bonito, desse futebol inteligente e bem jogado que o Todo Poderoso vem exibindo no “inferno”, que pelo jeito será um inferno mesmo pro coitado do Tite, provável ex-técnico do Inter.

Sim, já somos campeões. Se acontecer um absurdo matador e a gente levar 5 gols e perder o título, este post registrará. Mas caso contrário, com a lógica prevalecendo, o Corinthians mostra mais uma vez que com um planejamento sério, um projeto de futebol e essa torcida maravilhosa que só nós temos mesmo, o resultado só podia ser esse: da série B à série A, campeões regionais invictos, e brasileiros novamente (sim, nosso 7º título nacional, contra 6 das nossas freguesas).

Felipe, Alessando, Chicão, William e André Santos. Cristian, Elias e Douglas. Jorge Henrique, Dentinho e Ronaldo. Mano Menezes. Obrigado esquadrão, pela alegria proporcionada e por esse futebol bonito, competitivo e limpo que a gente espera encontrar na seleção (e não encontra). Mesmo com emoção, a segurança que existe num time que sabe tocar a bola, armar jogadas e chutar ao gol, e chutar pro mato quando necessário, nos faz relaxar durante uma final – quem diria! E obrigado ao Inter e a seu presidente, por valorizarem ainda mais a nossa conquista.

E aguardamos vocês, queridos amigos, no vôo de primeira classe que começa em 2010 e percorre o continente americano.