Libertador

jul
2012
05

escrito por | em Futebol | 4 comentários

Era 2007, e a gente caiu.

Foi sim um dos momentos mais tristes da minha vida, com meu pai sãopaulinando num telefonema pra mim assim que o jogo acabou. Sim, eu havia fugido pra Ubatuba, tentando bestamente escapar do inevitável. “E a segunda?”, foi a pergunta. Uma das tantas piadinhas tricolores que por anos tive que enfrentar dentro de casa, e que me deixaram com asca da postura daquela torcida do time do Jardim Leonor.

E o time jogou a série B, sem reclamar. Não ouvi em momento algum alguém dizer “o Corinthians não joga a segundona”. Fomos lá e encaçapamos geral. Voltamos com sobras, bonito, com uma molecada raçuda e uns caras bons pra burro. Mais ainda: com uma torcida inflamada – não menos fanática, mas certamente mais intensa. Por pouco não levamos a Copa do Brasil no mesmo ano, mas em 2009 estávamos lá, com Ronaldo decidindo e tudo mais. Foi bonito, um novo momento, um time que renascia e uma torcida que a gente sempre soube como funcionava. O orgulho da ressurreição era algo novo pra minha geração. Talvez não fosse pra anterior, que assistiu ao título de 77, mas pra mim aquele sentimento implícito trazia à tona a essência da torcida da qual sempre fiz parte, mas que ainda hoje aprendo a cada dia o que de fato significa.

Veio a Libertadores.

Perdemos pro Flamengo na Libertadores em 2010. O tal ano do centenário que não nos trouxe títulos – e isso pode parecer de fato um problema pra quem estava de fora, mas redescobrir uma história de cem anos em tantas comemorações, livros e filmes só intensificava ainda mais a força da tradição de uma equipe nascida nas mãos de cinco sujeitos, com meia dúzia de patacas e que desde sempre ralou a bunda pra mostrar seu valor. Levantamos um estádio. Uma piada a menos. A equipe lutou pelo Brasileiro, mas classificamos, na bacia das almas, pra Pré-Libertadores.

Veio o Tolima.

E acabou Ronaldo, acabou o oba-oba, voltou o sofrimento. Sim, porque nunca foi fácil, e quando foi a gente estranhou. De 98 a 2000 a gente passeava. Ganhamos um Mundial tão tranquilamente que parecia o Torneio Início. Brasileirão que vira obrigação, nada de lista de dispensas, e um time em pleno crescimento e comprometimento. Avassalador de início, o time nunca deixou de frequentar o topo da tabela. Era pra ser tranquilo, mas só garantimos nos minutos finais do último jogo. Porque aqui é Corinthians, e a gente sofre. Mas sofre de verdade, porque o Doutor morre na manhã da final, e à tarde a imagem é essa logo abaixo. Contra o Palmeiras. Porque história a gente escreve com as melhores palavras.

Veio a Libertadores. De novo. E eu escrevi isso.

Time seguro, goleiro novo, atacante novíssimo, volantes mágicos, zagueiros monstruosos, inspiração aleatória. Nenhum medalhão. Do outro lado, Diego Souza, Neymar, Ganso, Riquelme. Um baita técnico, que em algum momento disse “não querer enfrentar brasileiros ou o Boca”. Pegamos dois brasileiros, E o Boca. Na final.

Já havia me escangalhado de chorar no gol do Romarinho lá na Bombonera. Foi-se o primeiro tempo no Pacaembú, e eu passei quase todo em silêncio. A Dé, vendo toda a minha crescente tensão durante a Libertadores, resolveu me fazer companhia no último jogo. Saí da rede, fui pro sofá. “Pro meu lugar de sorte”, eu disse. E uns minutos depois, o Emerson manda aquela bala pro gol. Eu grito gol, e o grito emenda um choro compulsivo. Um filme passa pela cabeça, enquanto o corpo treme. Jamais tentarei explicar esse tipo de sentimento, e o que esse time faz comigo. A Dé me abraça, “eu só não entendo”, ela me diz. Eu sei que não dá pra entender, amor. Ela tava ali, eu no meu lugar da sorte. A lua cheia. Era sim a nossa noite.

Desce o Emerson, vem o segundo gol, eu saio pulando descontrolado e agora sim, gargalhando. Chegam torpedos. Um alívio inesperado, pela primeira vez eu me preocupo em quanto falta pra acabar. Mais uns minutos. “Cacete, vamos ganhar a Libertadores!”, a ficha cai. Rola um medo de acreditar, por mais besta que pareça. Faltam menos de 5… dá pra acreditar sim.

O juíz apita. Pronto, aconteceu. O choro volta, incrédulo. Minha mãe me liga, eu quase não consigo falar de tanto que choro. Passa um filme na cabeça, um monte de brigas estúpidas por causa de futebol, mas um monte de tiração de sarro, muita alegria, aquela sensação que sempre sinto quando saio com o manto sagrado, e algum desconhecido cumprimenta ou simplesmente manda o clássico “vai Corinthians”. Eu viro pra Dé e digo “parece besteira né”. Mas ela entende sim, mesmo achando não entender. Felicidade besta e pura, passional e irrestrita. Os amigos aparecem – por Facebook, SMS, e são palmeirenses, sãopaulinos, botafoguenses e flamenguistas. Um barato, uma delícia absurda… uma noite em que fomos campeões.

Da América, enfim.

4 comments

  1. Rebeca
  2. joakina

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