Talvez sejam eles

mar
2012
08

escrito por | em Futebol | 2 comentários

Fim do segundo jogo da primeira fase da Libertadores. Ganhamos (num sufoco desgraçado de início – porém nunca ameaçados de fato), que foi virando tranquilidade tal a fragilidade do adversário, o “temível” Nacional do Paraguai pelo placar de 2×0. No mesmo dia de hoje, o Santos passeou sobre o forte (mesmo) Internacional, num show inspiradíssimo da dupla Neymar e Ganso, o Fluminense meteu 2×1 no Boca lá na Bombonera – um resultado memorável, e o Barcelona enfiou 7×1 no Bayern (sendo 5 gols só do Messi).

Deveríamos nos envergonhar…? Acho que não. E explico.

Enquanto corinthiano, já vi meu time em fases gloriosas (1995, 1998, 1999, 2005) e medíocres (malditos 1996 e 2007). Em ambos os casos, haviam certezas – fossem de vitória ou derrota, o time era aquele. E assim seria, de fato… o histórico tanto de êxitos quanto de vergonhas se seguiram e marcaram os anos. Em outros momentos, não tivemos grandes equipes, mas um ou outro astro – um batedor de faltas, um artilheiro, um meia ofensivo, um talismã. Nos apoiávamos neles, e assim, entre tropeços e saltos nos fizemos novamente.

Acontece que há mais ou menos ano e meio, nossa equipe mostrou-se uma coisa à qual não estávamos acostumados. Um time coeso, arrumado, mas em nada genial, apesar de termos no elenco jogadores capazes de decidir partidas em lampejos criativos: Alex, Danilo, Jorge Henrique, Liedson… contratamos até o Adriano, arriscando num cara de talento inquestionável – mas de péssimos hábitos. Nossos volantes são outro caso à parte: Paulinho e Ralf, que apareceram sendo nada, tornaram-se peças-chave num elenco extremamente ajeitado. Uma zaga com titulares e reservas muito bons – não são nenhum Gamarra, mas são mais confiáveis do que a concorrência. E até nosso goleiro, que depois de jogar com dedo quebrado e sair de campo batendo no peito e dizendo “aqui é Corinthians!” acabou com crédito com a Fiel. Enfim, temos uma casa conhecida, confiável e atualmente campeã nacional.

Mas que costuma se contentar em tocar bola no meio de campo, em não se impor se não houver espaço, e se ousar, que seja na última hora – precisando pra valer. Que quando marca um golzinho, continua na mesma pegada, sem vislumbramento nem grandes magias. 20 do segundo tempo, 1×0 pra gente? Tome meia, volante e zagueiro. E nesse quase regime de fome, vamos ganhando um pontinho ali, três aqui, e num dia de falta de sorte, perdendo aqui ou ali de vez em quando. Sim, porque apesar de tudo, a camisa grita, e nós continuamos ganhando de virada aos 47 do segundo tempo, com bola desviada na zaga adversária; conseguindo gols espíritas e inacreditáveis; quando precisando do resultado improvável do adversário em outro jogo, ele acontece; e quando erramos, eles erram também e fica tudo bem. Porque dá pra mudar estilo de jogo, elenco, mas mística… bem, essa não muda nunca.

Por isso mesmo, tem sido um trabalho danado torcer pra esse time de resultados: que comemora empate com Deportivo Táchira, e que sua litros pra ganhar em casa do Jabaquara paraguaio. Mas antes de arrancar o que me sobrou de cabelo, entre um “putaquepariu Jorgenrique!” e “juíz doentedocaralho!” me veio uma luz: talvez esse seja o Corinthians “mais Corinthians” que eu já vi, e existem motivos de sobra pra se acreditar nisso.

Quando o time é bom, a gente não sofre, e quando é ruim, também não – a gente espera a desgraça com esperança de um mínimo de vexame. Da mesma forma, quando tem um medalhão em campo, vira tudo ou nada em cima das costas do sujeito. Dessa vez, não tem nada disso: o técnico não é gênio nem estrela, o maior nome do time não joga (graças à incompetência dele mesmo, nem relacionado o cara é), e não existe um comandante de fato lá dentro de campo. Ou seja…

…é um time comunitário, onde todo mundo joga pra todo mundo. Joga junto, feio quando precisa, com lampejos de alegria e criatividade. Caga de medo e trinca os dentes quando o jogo é importante, mas não foge da pancadaria. Se abstém das egotrips dos estrelas, em prol de uma molecada voluntária. Não dá show, nem tem vergonha de chutar pra cima e afastar o perigo pra onde o nariz estiver virado. Ganha de meio a zero e chama de goleada. E peça a peça, avança num efeito dominó esquisito, deixando uma ou outra peça no caminho e sempre parecendo que hora mais, hora menos, a corrente vai quebrar. O time reticente, mas seguro e que joga de um jeito técnico e só dele… que talvez nunca tenha feito o torcedor sofrer tanto – não de desespero, mas justamente com essa proposta de “resultado a qualquer custo” – coisa que a gente comumente se acostumou a conhecer em outras equipes, e que nos causa estranhamento absoluto ser dessa forma, com a nossa camisa. Foi assim no Brasileiro. Tem sido assim na Libertadores.

É o Corinthians. Talvez mais corinthiano que nunca.

2 comments

  1. Saulo Doricco

Trackback e pingback

  1. Libertador | masili | 3minutos
    [...] Veio a Libertadores. De novo. E eu escrevi isso. [...]

Comente