Pílulas

dez
2010
02

escrito por | em Umbigo | 4 comentários

Mais uma noite que eu sonho com meu pai. E não meu pai, mas aquele cara que o câncer transformou numa espécie de ameaça, a pessoa que mais me causava receio do que simpatia, e trazia mais medo que saudade. Mais do que qualquer sonho, que costumeiramente eu não lembro logo após abrir os olhos, me entristece que sejam esses os poucos detalhes que eu saiba depois de acordar. A sensação de desconforto, a vergonha que sejam essas as lembranças mais recorrentes, o medo que seja essa a frequência de memórias, e mais do que tudo, o ódio e a revolta que eu tenho de tudo isso ter acontecido dessa forma. Meu pai não era uma pessoa que merecia esse tipo de destino, mas em momento algum fugiu dele, ou tomou pra si a responsabilidade que acompanha essa porra desse vício – da qual eu já falei aqui e não preciso repetir, apesar de alguns acéfalos virem apontar dedo na minha cara (e se eximindo da mesma merda de responsabilidade). Foi-mais de um ano, e como pode-se notar, não é na morte que as coisas se encerram. A vida continua sim, pra quem foi, pra quem fica e pra quem vem. Dia a dia. E às vezes, com manhãs muito indigestas. Porque não é só de coisa boa que a gente lembra: às vezes, as dores sobressaem-se aos prazeres.

E vida é isso mesmo. E às vezes, é bem foda.

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  1. Fares
  2. Delay
  3. Mel

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