Até quando esperar?

maio
2006
14

escrito por | em Brasilidades | Nenhum comentário

Há pouco mais de um mês eu falava neste mesmo blog sobre um povo paspalho, acomodado e burro, que vive de ilusão, sonho, esperança, novela e futebol. Que está mais preocupado com a lista de 23 (homens milionários) convocados do Parreira do que com seu próprio futuro. Pois muito bem.

Agora há pouco incendiaram uma agência do Itaú que fica a 3 km aqui de casa. Sim, porque já não basta todo o estrago feito em São Paulo neste final de semana, agora a coisa bateu aqui perto.

Sim, porque eu sou egoísta, e só fico preocupado quando a violência chega perto da minha casa. Porque durante o resto do ano, ou da vida, sei lá, eu esqueço que nos bairros mais distantes daqui, esse tipo de coisa rola solta o tempo todo. Eu nem ligo pro Nordeste, quanto mais pro Norte, pois eu nem conheço e pra mim São Luís, Macapá ou Bagdá dão na mesma e eu dou graças a Deus por morar num lugar civilizado.

Eu também sou honesto o suficiente pra admitir que esse meu comodismo, minha imbecilidade, minha ignorância e minha completa indiferença são culpa minha sim, porque não me posto a respeito de coisa nenhuma. Eu não mandei um e-mail pros deputados que votei, não sei o nome do governador do Amazonas, e não acompanho nada que não seja os boletins do Terra.

Mas eu sei que pelo menos um mínimo de senso crítico eu tenho. Pra saber que o que está acontecendo lá fora é culpa dos políticos SIM, mas também é culpa minha. Porque os hermanos aqui do lado saem na rua quando a coisa fica feia. Armas? Panelas. Movimentos populares? Reuniões em praça pública, Sindicatos? O caso é pessoal, meu chapa. E olha que nesses países a população é menos numerosa que no meu Estado.

Se os tais 190 milhões de técnicos resolvessem fazer valer os seus direitos (que não são poucos) e tomassem vergonha na cara pra botar as coisas no lugar, talvez o caos não fosse tão grande. Talvez se cada um de nós tivesse uma posição, um ideal, quisesse seu futuro melhor e conseguisse explicar por onde, em quantos passos e qual cada uma das metas a serem atingidas, já seria um grande avanço.

Mas não. Continuamos esperando John McLaine salvar o dia. Provavelmente em algum momento futuro, algum líder da moda nos incite a comprar um pote de guache preta e irmos às ruas cantar algum hino tropicalista. Não seria de todo mal, mas poderíamos fazer coisa melhor.

Pobre de ti, Estado de São Paulo. As pessoas continuam pensando INHO, ao invés de pensarem ÃO. Os únicos ÃOS que nos interessam nesse momento são os de SELEÇÃO e HEXACAMPEÃO. Gancho publicitário propício esse, que mostra talvez sem querer a completa falta de objetivos do povo deste país.

Amanhã eu vou passar bem em frente ao banco queimado, e ao Distrito Policial que fica ao lado do estádio do Morumbi. Claro que eu tenho medo – a violência chegou à porta da minha casa. Mas o que me resta agora é torcer – não pela seleção, mas para que não seja o meu ônibus o próximo a ser incendiado, e que eu não seja a notícia da próxima hora no Plantão da Rede Globo.

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