a vida da atriz

set
2005
24

escrito por | em Vidinha | Nenhum comentário

por Bibi.

essa tal coisa de internet deu acesso fácil a vida alheia. beatriz praticava todo dia seu voyeurismo. aqui e acolá, tentando desvendar as entrelinhas, entender uma história, observar os detalhes, pensar qualquer coisa. beatriz gostava daqueles sítios de todo dia onde talvez algumas palavras batessem com aquilo que ela sentia, pensava. a busca no outro pelo acolhimento. uma coisa leva a outra, quando algo parecia sem sentido, ela tentava de qualquer maneira achar pelo menos uma resposta. a gente falava pra beatriz que isso era loucura. era um jeito detetive de ser que ela por vezes engraçado. beatriz não ligava nem um pouco. no fundo faltava mais presença, aquela garotinha miuda, com pretos cabelos, escondida atrás de uma tela de computador. claro que ela curtia o mundo aqui fora, vivia sua vidinha pacata de um jeito qualquer, ela sabia das coisas, mas essas coisas ficavam guardadas. perguntamos pra beatriz se algum dia tirassem isso dela, essa prática, esse hobby, como ela ficaria. a resposta? ela disse que do mesmo jeito, normal, a vida segue. enfim, acreditamos na beatriz. outro dia ela chegou indignada na mesa do bar, uma das tantas pessoinhas que ela vivia observando tinha terminado um relacionamento, já tava engatilhando outro, juras de amor eterno. engraçado como ela estava perplexa… “como assim? mas já? curou? e o vazio, os planos, tudo?” dava pra perceber que a vontade dela era falar com as pessoas envolvidas. “vai lá mulher, pergunta, manda e-mail, descobre mais coisa.” beatriz não era de se revelar. infelizmente a miuda tem um sério problema em talvez aceitar ela mesma, aceitar que o mundo tá louco mesmo, as coisas estão do avesso, ela não consegue entender tudo isso. pra ser sincera eu nem sei porque comecei a falar da beatriz, faz tanto tempo que ninguém tem notícia dela. a garota se esconde, nada de exposição em lugar algum. vai ver tá por aí, tentando sacar qual é do mundo, dela mesma. é, ser bem resolvido não é tão simples ou tarefa fácil, pelo menos para beatriz. o que conforta saber é que às vezes ela dança no sétimo andar mas ainda achando que é perigoso ser feliz. quem sabe nas andanças dela por esse mundo virtual ela não me acha aqui. saudades de beatriz.

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