Divino

fev
2005
13

escrito por | em Cinema | Nenhum comentário

Existem as lendas, as fábulas, os contos de fada, as biografias, e as histórias. Mas alguns caprichos divinos às vezes misturam um pouco isso tudo e acabam entregando a certas pessoas um destino simplesmente inacreditável. Escrito nas estrelas com passagens pelo inferno, o destino de algumas pessoas parece ter sido esculpido de forma única por alguém capaz de te apontar o dedo e dizer: “Você vai fazer História”.

E assim foi com Ray Charles Robinson.

Pelo amor de Deus, que filme é esse? O Jamie Foxx teoricamente faria o papel “do homem”, mas o desempenho dele como Ray Charles vai muito além de mais uma interpretação de um ator em um filme. Os cenários, a ambientação, a edição e as inserção das músicas num contexto geral… tudo é perfeito. Mas eu juro: isso é o que menos importa. Estamos falando da história de Ray Charles, e isso não é qualquer coisa.

Não mesmo. Olhando a infância de Ray, você não sabe se ri (pela forma como ele aprendeu a tocar piano, pelo amor que tinha pelo irmão e pela mãe, pela pureza de uma infância que se passa na primeira metade do século passado) ou chora (por tudo o que acontece com ele durante a vida – da morte do irmão à cegueira, a exclusão, as drogas e os golpes).

É uma história magnifica, sofrida, intensa. Longe do heroísmo atribuído a alguns grandes ídolos, Charles foi antes de qualquer coisa um ser humano – que se encantou por dinheiro, que amou sua família (mas que nunca foi fiel), que sacrificou grandes amizades por valores pessoais e que não teve medo de encarar sua maior dificuldade (citando o filme, “não se tornou um aleijado por ser cego”).

Mas é claro que ainda falta uma coisa: a música. Se você não conhece Ray Charles, se não sabe quem é um tal de Quincy Jones (o encontro de ambos beira o surreal – e alguns não acreditam em destino…), se quer começar a entender o que foi esse cara pro mundo, pelo amor de Deus – assista o filme! É um batizado digno de catedral, tal o gigantismo da obra desse cara!

Não dá pra definir Ray Charles como lenda, mito, fábula, ou qualquer outra coisa que extrapole os limites humanos. Talvez seja melhor lembrar desse mestre ouvindo seu piano nervoso, sua voz rouca rasgada e principalmente, sabendo que por trás de cada álbum lançado por ele havia um homem. De carne, osso e com muito coração – e talvez aí esteja uma grande injustiça: caras como Ray Charles não deviam morrer.

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