La Boca

out
2009
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escrito por | em [Viagem] Argentina 2008/2009 | Nenhum comentário

30/dez/2008 – dia 5
La Boca, Buenos Aires

Posso dizer que o passeio pela Boca foi um dos momentos mais aguardados da viagem, especialmente por mim. E não, isso não aconteceu por causa do Boca Juniors, da Bombonera nem nada ligado ao futebol. Por sinal, não visitei o glorioso gramado do time de Maradona e Carlitos, nem seu museu. Pode parecer uma heresia, mas o que eu queria ver por lá era isso aqui, de verdade…

PARTE 1 – dolores…

Mas antes da chegada ao bairro, uma historinha:

Pegamos o Subte até o estação Constitución, que não era nada perto, diga-se de passagem. Ao chegar na dita, notamos o porquê de tantos conselhos quanto ao cuidado com a segurança pros lados da Boca: com sobras, era o lugar com mais cara de periferia que havíamos ido até o momento. Estação suja, movimentada pra burro. Saímos dali com certa pressa, e fomos atrás de um taxi que nos levasse ao Caminito.

O critério, porém, para a escolha do taxi em momento algum foi o estado do carro. Por sinal, encontrar um carro de frota “inteiro” em Buenos Aires é praticamente impossível. Então as regras se estabeleceram: a cara mais confiável será a que nos levará até lá. Passou um mulambo, e nós dispensamos. Em seguida, chegou um velhinho todo simpático. Com cara de “é lógico que esse aí é confiável”, entramos rapidinho no carro do vovô e pedimos para que nos levasse a nosso destino.

E ele foi. E não demorou para que notássemos que o tiozinho não ligou taxímetro algum. Uns 15 minutos depois, a umas três quadras do Caminito (num lugar que parecia um misto de zona cerealista com rua do Hipódromo), o senhor pára o carro e sentencia: “17 pesos. E é só caminhar um pouco que vocês chegam…”.

Cara de idiota vezes dois. Enfim, caímos em um golpe…

Trauma superado e meia dúzia de xingamentos à falecida progenitora do velhinho, entramos no Caminito. E rapidamente um enxame de vendedores, garçons, dançarinos, e todo tipo de comerciante local nos assediava periodicamente. Pra quem já foi à Porto Seguro, é mais ou menos o que acontece com os vendedores de camarão e os moleques que fazem tatuagem de henna. Mas a delicadeza é uma característica comum a mim e à Debs, e nos desvencilhamos de todos com a devida educação.

Fizeram um baita terrorismo quanto ao lugar ser infestado de malandros e coisa do tipo. Com essa estatura espetacular, fiquei bancando o segurança enquanto a Debs fotografava o lugar. E olha… falar de malandragem, violência e essa pataquada toda pra quem vive em São Paulo às vezes soa como brincadeira. Ainda mais quando a coisa não se mostra nada disso… portanto, chega de reclamar e vamos à parte boa do passeio…

PARTE 2 – y colores…

Pra abrilhantar ainda mais as cores do lugar – porque sim, é tudo tão vivo que parece de brinquedo – novamente o Sol deu o ar da graça e o céu azulou sem piedade. Das poucas referências visuais que tínhamos antes da viagem, provavelmente a mais forte fosse essa (que todo mundo conhece). E vê-la ao vivo foi pra lá de bom…

Dos postes aos bancos, tudo grita. A arquitetura do local de fato é única, e apesar dos moradores (ou você acha que não mora ninguém nessas casinhas coloridas?) serem aparentemente bastante pobres, o turismo segura as pontas do local com méritos. Casais dançam tango e posam o tempo todo para fotos com os que passam por ali. O idioma local era o Português, disparado. Eu estava extasiado vendo meu desenho mais bacana tomar vida na minha frente. A Debs disparava clique atrás de clique, e aos poucos fomos percorrendo o pequeno e colorido trajeto, felizes da vida.

As placas também são um show à parte, assim como a decoração das sacadas, jardins e janelas, que não possuem nada parecido que possa ser comparado para situar a quem não conhece. A tecnologia passa longe do Caminito, a não ser pelos trocentos celulares e câmeras que registram tudo o que acontece naquela quadra. O passeio ali te faz sentir num desenho animado.

Logicamente, depois do estímulo visual inédito que tivemos ao passar pelo local, algumas cores relembram a você que sim – aquela é La Boca. Onde azul e amarelo falam muito mais alto que vermelho e branco. Evita, Dieguito e Gardel são presença frequente em qualquer produto que se veja pelas alamedas. Canecas, pratos, quadros, camisetas, chaveiros, pôsteres… são eles os donos da festa, definitivamente. A torcida boquense, como pode-se notar logo abaixo, veste e honra as cores de seu time…

Bem, o passeio pelo Caminito não é só esse comercial da Sony Bravia modelo latino. Havia muita coisa pra ser vista por ali ainda, e tínhamos esperanças de prestigiar o comérico local adquirindo algumas bugigangas portenhas para presentear a família e os amigos. Mas pra fechar os comentários sobre o passeio em si (e antes de falar de todo o outro universo que faz parte daquelas poucas ruas), duas fotos que trazem pra perto o clima que sentíamos ao estar ali. E também a repercussão local com a nossa presença…

E daí em diante, partimos pra tão esperada jornada em busca da foto de um casal dançando tango. Nada mais turístico, mais local e mais óbvio. Afinal de contas, se os gringos vêm pra cá tomar caipirinha, é justo que queiramos tais lembranças em nossa primeira visita…

PARTE 3 – …del tango.

Logo de cara, chega-se a uma conclusão: se você quer imagens de pessoas bonitas dançando, o local pra isso não é ali, custa mais de $100 e pede trajes mais nobres. Os casais no Caminito, se não eram muito feios, eram muito sofridos. Uma dançarina posa em frente à Havanna com quem passar… agarra a cuecada mesmo, sem dó nem piedade. E logicamente, pede unzinho “por tal privilégio”. Nunca agarrei tão forte o braço da Pequena.

Após um anda-pra-cá, anda-pra-lá daqueles, a Debs encontrou nossas vítimas. Mas antes de arriscar a tal foto, impossível não se comover e curtir o vovozinho que mandava um tango nervosíssimo em frente a uma das casas. Assim como os casais (e todos ali), contando sempre com a contribuição e a generosidade dos turistas. Merecia várias moedinhas o danado…

Velhinho registrado, fui esperar a tal foto numa vila dentro do Caminito onde vende-se toda aquela bugiganga que se espera encontrar ali. Novamente o “sentimento Embu das Artes” tomou conta, e depois de muito vasculhar e nada encontrar por ali, a debs chega pra mim e pergunta:

– Quanto dinheiro você tem aí?
– Sei lá… por quê?
– Eu tirei umas fotos dos dois… e assim que terminei, o cara chegou pra mim com cara de que queria o dele…
– …
– …

Juro. Dei uma apalpada nos bolsos, e só veio moedinha. Deviam ter mais umas notas lá, mas todas graúdas. E a decisão de ambos foi: “deixa começar a música, e a gente passa por lá com cara de paisagem e se manda”. Dito e feito. E afinal de contas, algum argentino ia acabar pagando pela malandragem do safado do taxista… mas as fotos ao menos ficaram boas.

Era quase metade da tarde quando saímos de lá. Varados de fome, a Debs me perguntou por várias vezes se eu não queria mesmo ir à Bombonera. Não fiz questão – nosso programa a dois vinha dando muito certo e eu não trocaria aquilo por uma satisfação pessoal que nem era tão grande assim. Escolhemos um taxi pra voltar. Taxi esse devidamente fiscalizado, conversado e divertido. Cobrou direitinho e com tarifa de taxímetro. Não fugiu muito do valor do velhinho pilantra. E pra compensar a não-ida ao reduto futebolístico boquense, ganhei de presente um almoço no Locos Por El Fútbol

…que se nós soubéssemos como seria, provavelmente faríamos outra opção…

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