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O post de hoje era pra ser sobre a maravilha armada por Quentin Tarantino em seu Kill Bill Vol.2. Você volta pra casa todo empolgado, pronto para falar sobre esse filmásso, e sem querer acaba deitando um pouco na cama e assistindo a um trechinho do Fantástico.

E se alguém fez o mesmo que eu, já sabe sobre o que virá nas próximas linhas deste textinho de 3 minutos de leitura.

Reportagens sobre desigualdade social sempre são um chute no estômago quando são bem-feitas (apesar do fato da Globo ter pego um momento no mínimo “oportuno” pra mostrar seu parcialismo político, descendo o pau em alguns partidos justamente em época de eleição, quando seu dever seria denunciar toda e qualquer sacanagem o tempo todo, de qualquer um que fosse, tal o seu alcance perante a população).

E aí você vê como os “planos de governo milagrosos”, como o Bolsa Família (especificamente neste caso) possuem um projeto próximo a uma piada; como os responsáveis por certas áreas do nosso país são ignorantes, prevendo controles eletrônicos integrados em rede em pleno sertão brasileiro*; como todos somos corruptíveis em um país onde cada oportunidade não tem cara, mas sim vantagens. E vimos o show de crianças desnutridas, de desencontro de informações, de dito pelo não dito e de toda a calamidade que insistimos em esquecer quando aparecem os gols da rodada.

*Nós, metropolitanos, eletrônicos e urbanizados, sequer imaginamos o que seja essa realidade tão absurda que nos parece ficção. Não imaginamos a vida sem nossas regalias, o dinheiro sem o nosso valor e a comida fora de nosso prato. E nos culpar por erros de terceiros até parece heresia – afinal, ao que parece a culpa de todos os erros desse mundo sempre é nossa.

Mas quando percebemos que até nossa comoção pode ser dividida em antes e depois dos comerciais, a insensibilidade do ser humano me faz sentir medo. Medo que se alguém não começar a pensar em mudar o que parece impossível, em refletir sobre milagres eleitoreiros (sem explicações sobre verbas, gastos e orçamentos que nunca parecem suficientes), em notar que mais interessantes do que ataques pessoais ou rixas de interesses devem ser as propostas e PROJETOS para a melhoria deste país, vamos acabar levando tudo pra cucuia de vez…

Não é possível que continuemos omissos e conformados sobre a derrota de nossa própria memória e que congratulemos nossa apatia a cada nova manhã. Os empregos são escassos, os benefícios são medíocres e restritos, as oportunidades inexistem e qualquer melhoria em nossas vidas beira ao impossível. Nada comparável às belezas e proezas que somos capazes de retratar em nossa arte – poesia, música, esporte, festejos – que insistem em mostrar que nosso povo é um dos mais resistentes à tamanha calamidade humana.

Que não seja esta denúncia a única. Que não nos deixemos acostumar com tais desgraças, e que possamos ver até onde podemos mudar alguma coisa. Que este texto não seja mais um entre tantos, e que possa causar um mínimo de reflexão ou de revolta em você. Pois só quando somos provocados, de fato partimos para a ação – mesmo que essa ação comece pelo seu voto.

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