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(sem conotação sexual)

Quando somos crianças, não aprendemos a sonhar.

Mas sonhamos. Com paraísos feitos de doce, com gols no time de futebol da escola, com um fim de semana na piscina, com o primeiro olhar e o primeiro sorriso da garotinha de tiara vermelha. Somos felizes pelo simples fato de viver, e brincar nada mais é do que externar essa nossa felicidade em forma de sonho. Queremos pegar, pular, passar. Queremos crescer logo para que os obstáculos não pareçam mais tão grandes.

E crescemos.

E aprendemos, nos educamos, vencemos e perdemos o tempo todo. O tempo que some de nossas mãos e nos vemos cercados de velhas fotografias, de bilhetes escritos pela metade e imediatamente rasgados. De memórias parciais e de coisas misturadas. O que queremos e não queremos, entre os sonhos e os pesadelos. A vida já não é mais azul e e nem os dias são tão longos. O ano agora é feito de dias, e não de tempo. Sabemos contar, olhar, desejar, escapar. Sabemos viver.

Não?

Não, quando nos damos conta que passamos a nos preocupar muito mais do que sonhar. Que agora coisas como rancor, indiferença, frustração, ciúme, impaciência, intolerância e outros sentimentos perfeitamente repugnantes vivem colados ao nosso peito. Que convivem pacificamente com coisas boas, mas que quando tocados se manifestam de forma feroz. Nos devoram, e a tudo que nos pertence sem que sequer notemos. São quase soberanos – domináveis, mas com os quais devemos tomar cuidado o tempo todo, ou atacam.

Sim – mais uma preocupação.

E então os sonhos se tornam confusos, as distâncias voltam a parecer enormes, os obstáculos aumentam, e nos sentimos pequenos novamente. Se fosse um retorno à nossa infância, talvez soubéssemos o que fazer, já que os pequenos não se importam de ralar um joelho ou arrancar uma farpa ao se meter numa enrascada. Será que temos uma solução pra nossa própria vida? Será que ao escrever esse texto, eu pensava que depois de vomitar alguns parágrafos, chegaria a um fechamento digno de aplausos para um pensamento tão difuso?

É nesse labirinto em que às vezes nos perdemos. Essa vida que não nos faz feliz o tempo todo. As dúvidas que cercam nossa cabeça, e o desejo eterno de soluções imediatas. Ao final de alguns dias de um relativo descanso, o prazer chegou em linhas perdidas neste pensamento sem nenhuma dúvida ou conclusão. Sim, porque viver não precisa de perguntas e respostas, mas sim de ações, e do eterno encontro com o alívio de nos livrarmos dos nossos próprios monstros.

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