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Primeiramente, metaleiro é o caralho. Quem curte barulho é headbanger, rockeiro mesmo, ou qualquer coisa que não tenha sido definida pelo Pedro Bial num termo desses. Somos nós, os agora calvos, mas que já cultivamos a podridão em nossos corações pretos e peludos – e hoje, nem tão malvados assim.

Sendo bem sincero, eu comecei a pensar nesse post devido ao insistente nickname do Soul, contando os dias para o show do Iron Maiden. Maiden, que é a banda que mais preenche minhas prateleiras de cd (hoje em dia, bastante empoeiradas graças aos trocentos giga de mp3 acumulados). E essa poeira às vezes esconde muita coisa boa.

Num surto saudosista desenterrei alguns dos cds e botei pra rolar. E sim, é melodioso pra cacete. Bem-cuidado, pesado e bom, muito bom (e inevitavelmente imagina-se o quão difícil seria encarar qualquer som dos caras num Guitar Hero da vida). E sem perceber estamos lá, de novo, cantando aquelas letras idiotas e aumentando o volume até o humanamente suportável. E o prazer é o mesmo de antes.

Porque a MÚSICA de algumas bandas já vêm de 30 anos ou mais. Idiotas, vazias, oportunistas… quem se importa? Quem leva a sério o Heavy Metal? A graça nisso tudo está justamente em juntar um monta de cabeças-ocas, assaltar o isopor de cervejas e bradar loucamente cantos vikings, odes a lúcifer e signos malditos. Exatamente como num bom jogo de Copa.

Não é algo que alguém “de fora” compreenda. O espírito “fuck all” da coisa dá o tom de quanto qualquer crítica ao estilo passa longe da preocupação de quem gosta da coisa toda. Passamos dias e mais dias da nossa vida discutindo quem é melhor guitarrista, qual banda é mais bacana, que show foi mais foda ou que absurdo seria pensar numa cena dessas… O tesão da coisa era a discussão da qualidade, da música sim e da diversão num todo. Ninguém ligava nos enchimentos pro pau parecer jamântico, nas roupinhas de onça ou nos trajes de guerra (claro, tem gente que extrapolava e esses a gente nem ouvia – pra tudo tem limite nessa vida). Quem liga pra sexualidade diante de um som bom desses? Quero mais é que o Bruce continue cantando alto pra cacete, que os amps entupam nossos ouvidos de guitarras enlouquecidas e que a gente possa pular por muito tempo. E que vez ou outra algum maluco atualize a bagaça e mostre que o estilo está longe do esquecimento.

Ainda mais dado o cenário atual da coisa. Os ídolos musicais sumiram. O universo rockeiro é infestado por essa merda de Emo, com trocentas bandas tocando a mesma música (que é ruim pra cacete, e não vai melhorar – percam as esperanças aqueles que as tiverem), com carinha de choro e pedindo carinho. Na boa… eu dava meio Dave Mustaine pra quebrar na porrada toda essa babacaiada: não existem nomes, instrumentistas, ídolos. Não existem bandeiras (nem mesmo as falsas – porque até elas são mais dignas do que esse sonzinho descartável). Das capas dos discos às brigas, tudo parecia um delicioso Telecatch, onde torcia-se pela banda preferida, apontava-se os malvados e sabia-se que tudo aquilo era um delicioso circo sem fim.

E por falar em circo, neste show do Maiden eu não irei (outra coisa me espera pra dali a uma semana). Mas bateu um arrependimentosinho. Claro que hoje em dia minha vontade de me esgoelar apertado numa grade cercado por gente suada e cabeluda é bem menos que antes (graças a Deus), e a idade conta sim. Mas eu tenho a impressão que esses cds vão cair na mão das crianças daqui a algum tempo e – se tudo continuar como está, com essa mediocridade musical infestando o mundo – alguns pirralhos vao sair por aí correndo e fazendo chifrinho com as mão. Aposto.

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É um post dedicado aos meus companheiros farofeiros, aos headbangers declarados e aos curiosos pelo movimento. E que engraçado escrever tudo isso ouvindo Bon Jovi, Pavement, Megadeth e me achar o cara mais normal do mundo, quando há 15 anos isso seria uma atitude digna de auto-flagelo…

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  1. Klein
  2. Ariett

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