“Anti-Patia”

jul
2012
12

escrito por | em Futebol | 4 comentários

Torcer pro São Paulo é uma grande moleza.

Lembro perfeitamente dessa frase no início dos anos 90, quando o sabe-tudo Milton Neves pronunciava aos 4 cantos tal enunciado, em vista à de fato espetacular fase do time do Morumbi. O São Paulo saltava de time comum a um fenômeno mundial, com duas equipes (a titular e o “expressinho”, que tinha entre outros Rogério Ceni, Juninho Paulista, Caio Ribeiro e Jamelli) que ganhavam absolutamente tudo o que disputavam. Era um exemplo de gestão bem-feita, com elencos preparados e cuja cobrança da torcida não era maior do que a de seus rivais. O Palmeiras estava numa fila indigesta de mais de 15 anos, mas sua torcida permanecia fiel (sem trocadilhos) e fervorosa. O Corinthians havia acabado de conquistar seu primeiro Brasileirão, e deixado pra trás um estigma de time regional carregado por décadas.

E então acontece a primeira cagada. Mas amigo sãopaulino, antes de qualquer outra coisa, saiba que esse texto não é um alerta pra você, mas pros corinthianos (tomando uma história que começou em vocês por exemplo). Duvida? Leia até o fim.

A tal frase que inaugura esse texto foi proferida a plenos pulmões, e aos olhos dos adversários, colocou o SPFC acima do bem e do mal. Se o time faturasse mais um título (e faturou vários desde então, de fato a gestão iniciada anos antes rendeu muitos e muitos frutos, além de cópias aperfeiçoadas pelos próprios rivais – como o meu Corinthians, por exemplo, e seremos eternamente gratos por isso), “normal, esse time só ganha”. Se perdesse, qualquer sarro era respondido com “dane-se, somos bicampeões mundiais”. Eu nunca havia ouvido esse “argumento” de amigos santistas, sendo que eles já eram bicampeões mundias há 30 anos. E com o Pelé.

“We have a Hulk”, diria Tony Stark. Se eu fosse santista, mandaria um “we had Pelé”. Mesmo peso, menos verde, é verdade…

Enfim, o problema é que tal frase tornou-se mais ou menos um pensamento implícito no universo tricolor, naquela maioria que prefere ter razão a qualquer custo, do que simplesmente ter razão. E não, isso não é um mal exclusivo: soltamos fogos madrugada adentro semana passada, a porcada fez o mesmo ontem, e sim, todos têm direito a comemorar conquistas. Não somos freiras. Mas cacete… pessoas trabalham no dia seguinte, crianças têm aula, essas coisas…! Se eu não passo na frente de um hospital buzinando, vou fazer pior de dentro de casa? Posso chorar, encher a cara, beijar a TV, comemorar com os amigos, virar a noite cantando o hino do meu time, e mesmo assim não tornar a vida dos outros um inferno.

Voltando: o tal “pensamento genial” e marqueteiro do brilhante jornalista deu o tom a toda uma nova geração de torcedores. Conclusão: a antipatia pelo SPFC aumentou a níveis abissais. A ponto da rivalidade com o Palmeiras tornar-se quase uma questão de vida ou morte (enumere o número de pancadarias entre as torcidas de cada time), e o Corinthians – e sua torcida, incluo-me – que resolveu “rebaixar” o São Paulo a inimigo, não mais a rival. A asca era uma realidade.

2012. Ganhamos a Libertadores.

E a Nike, fazendo seu papel de Milton Neves, exalta loucamente a história dos “anti”. Que todos estão contra o Corinthians, que é o time contra o mundo, essas besteiradas. Cacete, eu sempre torci CONTRA os adversários sim, é fato na história do futebol que a alegria de uma torcida é uma equação que soma dois fatores: a alegria pelas vitórias (sim, vitórias, se meu time não visa títulos, adianta competir? Inteligência, minha gente…) com a desgraça alheia. Torcer contra FAZ PARTE, e TODO MUNDO torce. A graça é essa, Deus do céu… o sarro no dia seguinte, as apostas, o assunto no churrasco. Futebol é diversão, ou pelo menos deveria ser.

Pois bem: agora vejo os corinthianos batendo no peito, mandando geral “calar a boca”, e que “mesmo com os antis, ganhamos”. Sério? Mesmo com a lição vivida pelos rivais tricolores, vocês terão a mesma postura idiota de se colocar acima do bem e do mal? Nosso rebaixamento há 5 anos não serviu pra nada? A lição que deveria ser tomada, ou melhor, a frase que realmente todo torcedor tem que levar como lema não vem e nem virá pronta de nenhum jornalista, fornecedor de material esportivo, nem texto do Arnaldo Jabor. A paixão pelo time é sim vivê-lo, pro bem e pro mal, mas sem esquecer que hoje o dia é nosso – amanhã pode não ser, e as probabilidades disso são sempre maiores do que nossa chance de sucesso. Aí vem o esforço, a superação, a torcida, o talento, e pronto… olha o futebol de verdade aí.

As soluções prontas estão acabando com o mundo. Sejamos mais autênticos, mesmo que um ponto de partida possa ser a futilidade de se torcer por onze caras de uniforme correndo atrás de uma bola.

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  1. Mel
  2. Ana
  3. Thiago Aranha

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