escrito por | em Vidinha | 6 comentários

Eram 4h50 quando o despertador tocou. Pulei logo da cama, sabendo que se eu ameaçasse fazer uma horinha a mais, o combinado iria por água abaixo. Buscar a mãe às 5h30 enquanto a esposa tomava banho. Voltava pra casa, pegava a Debs e íamos os três ao hospital, chegando com folga para o parto. A Agnes havia sido internada às 5h, a cesariana estava marcada para as 7h. Pode parecer besteira, mas esse tipo de sensação de alguém chegando na família nunca foi tão próxima, não nesses últimos 30 anos. O primeiro dos irmãos, dela e meu. O filho do Denis agora, a filha do Mauricio no final do ano. E indiretamente a gente dá uma babada de ovo aqui, outra ali, e a disposição e o atropelo na ainda madrugada davam a perfeita noção de que fazíamos sim parte daquele contexto todo.

Chegamos cedo ao São Luis. Procura-se o quarto, a recepção, a sala de espera, a cafeteria – pois isso não é hora de acordar e o sono se faz ouvir quase tanto quanto o choro de um bebê. Aos poucos a família é reunida. Tentamos conectar o notebook à rede do hospital para assistirmos ao parto. Paga-se mais uma taxa, e nada de conexão. E tenta-se, e tenta-se, e tenta-se de novo, até um comercial em loop entrar numa nova janela e nos servir de alento. Sim, quando nascer, a gente vai ver. Nisso, um bebê chega ao berçário. O primeiro do dia, mesmo nome do nosso: Lucas. Lembro bem desse ser um dos nomes que eu gostava quando pequeno. Mas esse era japonês, amassado, um pezinho torto. Bebê grande, com cara de bebê, o que significa que nem identidade tem ainda: parece sim um joelhinho, com uma boquinha minúscula e bracinhos que não entendem bem o que fazer fora da barriga da mamãe. Chora, dorme, se sacode, e a família dele ali, abarrotada no vidro. O pai que tira foto atrás de foto e não pára de sorrir. Chegam mais e mais pessoas, e cada uma o abraça comemorando aquele momento que, sabe-se muito bem, muda a vida de qualquer um.

Eram mais de 8h e nada do Lucas, o nosso, chegar. Desce mais um pacotinho, chamado Rafael. Uma família italiana ali ao lado, fazendo o que os italianos fazem numa hora dessas: abraços, pulos, mais abraços, comentários babões, sorrisos descabidos. Esse até parecia mais calminho, mas dada a família que lhe espera, isso com certeza durará pouco. Nosso vídeo continuava em loop, e enquanto isso fui lá fuçar os bebês alheios. Achava que um dos caras da tal família usava peruca. Cinto branco, camisa polo, calça esquisita, falei mal das roupas do tal senhor em off, e quando menos esperava ele dá um tapa nas minhas costas, segura no meu braço e emenda: “Tá explicado porque o Rafael chora tanto! Olha a camisa desse cara!”…

Bambi italiano engraçadinho.

Eis que a imagem na tal da câmera que só exibia o tal comercial em loop muda para a Agnes, já recebendo o bebê nos braços. Denis meio atrapalhado, logo atrás, fotografava e verificava se o bebê tinha de fato os dez dedinhos nos pés. Pouco depois, era ele a segurar aquele montinho de gente, e em seguida abraçava e beijava a agora mamãe. A gente aqui, meio com cara de paspalho, se divertindo naquele momento fofinho. Corta a imagem. Acabou. Fomos fazer fila em frente ao berçário.

Loteamos as poltronas. Preparamos as máquinas fotográficas. Chega aquele bolinho de pele cor de rosa, cara de quem preferia estar de volta ao quentinho lá de dentro da mamãe. Assim que deitam o pequeno na incubadora, um monte de marmanjos desmantelam-se do lado de cá do vidro. Já começa-se a procurar semelhança com pai ou mãe, mas na real todo bebê é amassado. Mas nessa hora vale tudo. Fui incumbido de buscar o pai após a enfermeira procurar por ele. Subi correndo, e encontro aquele ser descabelado, com um sorriso descabido na cara. Sorriso inédito, de quem sacou que a vida mudou quando aquela coisinha apareceu. Descemos falando pouco, felizes, eu por ele, ele por tudo. Ali tinha cansaço, sono, mas tinha também um novo carinho, um negócio diferente, um orgulho de tudo ter dado certo. A vida recomeçava ali, de certa forma, pra todos nós. E começava pro Lucas.

Bem-vindo, molequinho. Um beijão do seu tio.

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  1. Rachel
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  4. Talita Campione Mateus

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  1. Tweets that mention marcelo spacachieri masili | 3M » Afinal, não é todo dia que a gente é tio… -- Topsy.com
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