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Ontem fez um ano que meu pai saiu de casa pela última vez, naquilo que seria mais uma internação para exames de rotina e uns ajustezinhos aqui e ali. Porém, a gente não sabe prever quando algo novo vai surgir, e muito menos as consequências disso. Desse dia em diante foram praticamente três semanas, sendo duas de coma e desesperança, até o dia 2 de agosto, quando as forças do velhão se esgotaram e ele resolveu descansar.

É uma época bem difícil pra mim, que pela primeira vez vivo essa saudade. E que tentei durante alguns meses evitar qualquer lembrança daqueles dias. Julho de 2009 é um mês extremamente longo na minha memória, de muito sofrimento e de uma completa revolta quanto às escolhas que meu pai fez pra própria vida. Um momento em que se contesta qualquer credo em prol de uma solução médica que reverta aquilo que já sabemos ser irreversível, e que nos dias de desesperança naturalmente nossa ciência dá espaço à fé, qualquer que seja ela. Que pedimos que haja um conforto pra alma, e que os caminhos trilhados, certos ou errados, dêem num lugar de paz e descanso.

Momento em que somos egoístas na dor da perda. Em que buscamos no próximo apoio pra poder suportar um peso do mundo que não sabíamos existir. Um de nossos dois heróis nos deixa à mercê da própria sorte, e crescemos e envelhecemos em horas. Decidimos muita coisa, nos tornamos senhores da nossa própria vida, e tentamos cuidar com carinho de cada memória, cada coisa boa e cada lição aprendida. Eu levei muito dele comigo, e hoje ele está aqui, certamente muito orgulhoso de tudo o que aconteceu nesse último ano. Porque a gente chora a perda, mas oferece cada pulso de gratidão a quem nos deu a chance de dividir nossa vida com alguém tão iluminado, feliz e filho da puta (no sentido mais cômico da expressão). Inevitavelmente julho lembra você, mas eu faço questão que essas lembranças sejam das suas piadas e daquela risada rasgada de gostosa.

Poucos pais seriam como você foi. Um beijo, velhão.

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