escrito por | em Vidinha | 1 comentário

Três meses depois e com a vida relativamente encaminhada após a mudança que o casamento traz – pra rotina, pra personalidade, enfim… pra tudo – é hora de dar mais alguns passos. Passos novos, de quem nota que alguma coisa de fato mudou, e outras que a princípio não faziam tanta diferença. Pois agora fazem, e devem acompanhar essa nova realidade.

Realidade, por sinal, é algo com que se tem um contato ainda maior após a divisão de teto. Contas pra pagar e supermercado deixam de ser bichos de sete cabeças, e incorporam-se à rotina. O que de fato se modifica é o conceito de responsabilidade, e o fato de saber que qualquer atitude que se tome dali em diante fará diferença não somente na sua vida, mas na vida de outra pessoa também.

As vitórias são maiores, e as derrotas idem.

Portanto, joga-se somente com o que vale de fato a pena. Não há mais espaço para poesia vazia, ou indagações sobre o rumo da humanidade. Nao se pode deixar de sonhar (pois isso seria pragmatismo demais, e ninguém merece viver uma vida tão amarga), mas quem toma o rumo de aceitar ao próximo com suas qualidade e seus defeitos, sabe também que vivemos sim num mundo imperfeito, de regras tortas e onde nem sempre aquilo que funciona vai de acordo com nossas convicções. Fazemos o que podemos, e nem sempre podemos tanto. Por isso mesmo, nos esforçamos pra mudar sim o nosso microcosmo, e fazer com que aquele mundo de pais, irmãos e meia dúzia de amigos funcione da forma mais azeitada possível. É esse o nosso grau de alcance, e é nele que nossa voz consegue ser ouvida. A propagação disso que se faça naturalmente, e que seja interessante a quem quiser se aproximar. E antes que chamem isso de comodismo, eu respondo: nossos braços infelizmente não são capazes de abraçar o mundo.

Deixamos de ser crianças, e de acreditar no Coelhinho da Páscoa, no Papai Noel, no mundo perfeito, no mágico e sua cartola e na paz mundial.

E pode parecer triste desromantizar as coisas, mas é um passo. Ainda mais quando a parte ruim da rotina exige consultas médicas, visitas hospitalares e essas coisas chatas que fazem parte da vida e acabam mudando nosso conceito sobre o tamanho e a importância de determinadas coisas. Olhamos com mais cuidado, analisamos mais a fundo e nos damos mais alguns segundos antes de responder determinadas provocações. Por sinal, de tanto não pensar e bater no peito afirmando que ser explosivo era sinônimo de personalidade, que dia desses fui perguntado se queria de fato continuar empregado. E aí você lembra que não é só você, e que tem alguém ali do lado que também precisa de você e da sua renda, que não é só sua, mas de vocês. Tudo muda, e a personalidade dá lugar à capacidade de engolir sapos com mais frequência (e com refluxos menos intensos). Pisa-se no freio, e a responsabilidade grita ao seu ouvido coisas como “e aí amigo… vai estragar tudo agora?”

Por isso mesmo, resolvi colecionar diariamente somente os problemas que de fato importam. Vou continuar me preocupando em cuidar (e quando der, mudar) do tal microcosmo de dez pessoas, escovar meus dentes, não queimar o arroz e temperar direito o feijão, colocar minha menina pra dormir e garantir a ela e a mim um dia seguinte melhor do que o que passou. Além disso, encontrar alegria nas 8 ou 9 horas remuneradas diariamente. De resto, é tudo menos importante. Ficar por aí batendo boca ou comprando briga com os rumos da humanidade, tentando idealizar a realidade pública, política e social… bem, eu prefiro deixar essa tarefa pra quem tem saúde e tempo pra gastar com isso. E eu imagino que de fato alguém tenha que fazê-lo, mas a partir desse momento me incluam fora dessa. Tenho mais força pra agir em outras coisas nesse momento, e nos próximos.

Já descobri o mundo que de fato me importa. Respeitoso, inteligente, tranquilo, aberto e interessante. E esse mesmo mundo, com poucos e ativos habitantes, sabe cada vez mais disso. Pouco me pede explicações, pois sabe exatamente o que importa daqui pra frente. Com as prioridades em seus devidos lugares, cada vez mais. Porque sonhar é bom. A realidade, nem sempre é como queremos. E conciliar ambos talvez seja sim o grande desafio do ser humano. Poesia é coisa bonita, às vezes até necessária, mas não paga as contas; rotina é parca, e precisa de um pouco de ludicidade todos os dias; e o mundo, admitam, é sim imperfeito. Como todos nós.

Cuidemos, então, do que nos consta.

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