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Quando éramos minúsculos, ganhei a primeira referência futebolística da qual me recordo: uma camiseta do São Paulo. É, do São Paulo. Existe uma foto dessa catarse, a qual eu logicamente jamais publicarei aqui ou em qualquer outro lugar. Depois vieram os jogos de botão (lembro bem de ter um do Coritiba e outro do Guarani, meus favoritos naquelas semanas de incessantes jogos de futebol de botão no quarto da minha avó). E lembro também de quase ter me tornado palmeirense, quando assisti a um Flamengo x Palmeiras – jogo esse histórico, em que o Zetti quebrou a perna numa disputa de bola, e em que o atacante Gaúcho foi pro gol, e fez coisa que dificilmente eu conseguirei ver novamente no futebol sob qualquer circunstância (mas isso o vídeo abaixo conta melhor que eu)…

Lembro que em casa tinha bola do São Paulo. Botão do São Paulo. E apesar de tanto empurrão de família, foi naquele histórico gol do Viola contra o Guarani (aquele mesmo que eu tinha o joguinho de botões) que eu me tornei corinthiano. Pra desespero do meu pai, que era o maior opositor à ideia. Lembro também de ser o Corinthians o time mais difícil de completar naquele maldito álbum de figurinhas da Copa União…

De qualquer forma, são essas as minhas primeiras memórias. E minha opção pelo Corinthians – sem incentivo de ninguém, e na minha cabeça justificada apenas por ser contra a todos os sãopaulinos da minha família – permaneceu injustificada. Mas definitiva, e cada vez mais a cada jogo acompanhado. Gostava muito do time, do escudo, e principalmente daquela torcida que não deixava espaço em branco na arquibancada. Das bandeiras gigantes e da maior das bagunças.

Veio o título brasileiro em 90. Em cima do São Paulo, no Morumbi, pra fúria do meu pai, que pela primeira vez fez questão de assistir ao jogo em uma TV diferente da que eu assistia. Por sinal, foi exatamente essa crescente intolerância dele ao Corinthians que alimentou a minha em relação ao São Paulo (e explica muito da minha forma de lidar com o futebol). Já tinha meus 10 anos, começava a ter algumas poucas opiniões próprias, e a festa naquela vitória diante do total descontentamento do meu velho criou o primeiro desvínculo quanto a certos e errados que herdamos de quem nos cria. Meu certo era campeão, o dele, vice. E cada um que lidasse com sua verdade dali em diante.

Torci pro São Paulo nos mundiais de 91 e 92. Pro Santos no Brasileirão de 95 e pra apaixonante Lusa em 96. Lembro dos esquadrões, das zebra, das Copas. Me apaixonei de vez pelo futebol.

O tempo passou, e o fanatismo também. Fica sempre a rixa e a provocação, mas passa longe a incoerência que me fez detestar o time do Morumbi (e quem sabe um dia eu perca essa ojeriza). Fui a jogos do São Paulo, do Palmeiras também. Já chorei muito e dei muita risada com o tal do futebol. Hoje, estou vivendo a ansiedade de nossa eterna dívida. A tal da Libertadores nos trouxe o Flamengo já nas oitavas, enquanto nossos compatriotas aparentemente possuem caminhos mais fáceis daqui em diante. Será um jogão, e sabe-se lá quem leva. Eu tenho fé que passamos, mas passo longe de ter certeza. A graça de toda essa coisa é exatamente essa completa incoerência. Continuo apaixonado pelo meu Timão, e independentemente do resultado, amanhã é com o manto alvinegro que vou ao trabalho. Sexta estive no Parque São Jorge, e pro Santo Guerreiro confiei minhas preces.

É nessa eletricidade da incerteza que eu deixo minhas primeiras palavras sobre o esporte bretão nesse ano e nessa noite, em que estará em campo o maior duelo desse país. O jogo do ano, ao menos por enquanto. Não espero nada que não seja sofrimento, angústia e superação. Qualquer coisa fora disso, os cariocas passam.

São 18h15 e faltam pouco menos de 4 horas pro jogo. A partir de agora, eu me retiro pra contradizer tudo o que acabei de escrever, e me tornar um típico corinthiano. Até amanhã, e se Deus quiser, nas quartas.

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  1. Salemme

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