escrito por | em Chacotas | 4 comentários

Desde que a Democracia foi inventada, imagina-se que os seres humanos que dela façam parte sejam capazes de além de falar, ouvir, e a partir desse momento configura-se uma situação chamada diálogo, que gera acordo, desacordo e discussão sobre qualquer idéia que habite a cabeça dos seres ditos racionais: todos nós, aqueles mesmos seres humanos do início deste parágrafo.

A racionalidade é a capacidade que temos de analisar, discutir e decidir sobre determinado assunto. A análise consiste em observar ambientes, situações e contextos (internos e externos); discutir significa expor os pontos de vista tomados a partir da análise; e a decisão cabe a quem conseguir executar todas essas tarefas.

O problema é a capacidade dessa execução. Uns tem. Outros, não.

Porque nesse nosso contexto aqui, verde-amarelo colonial, nós já passamos por regimes democráticos, parlamentares e militares. Instituições tomaram a frente, cada qual a seu tempo e tendo em mãos o devido poder relativo à sua época: dinheiro, comida, recursos naturais, tecnologia, cada qual teve sua capacidade de atribuir a este ou aquele mandatário o devido poder sobre os desprovidos ou dependetes dessas coisas.

E o poder de hoje chama-se INFORMAÇÃO.

Imensurável, inesgotável, e mais poderosa do que qualquer riqueza anteriormente citada. Excita e atiça a quem a possui, pois nunca satisfaz aos curiosos, aos pesquisadores, aos interessantes. Enobrece, e quem a possui sabe que disseminá-la potencializa a aquisição de mais e mais desse precioso bem.

Porém, alguém disse há tempos que “a ignorância é uma bênção”.

Claro. Uma vez que você não conhece o potencial do prazer de saber, de se comunicar e ver que seus braços alcançam muito além dos poucos centímetros de seu corpo, fica muito difícil se frustrar ou se revoltar contra a cessão desse prazer. O conhecimento incomoda justamente aos chucros, aos limitados, aos acomodados – aqueles mesmos que provavelmente já o provaram e, egoístas e ignorantes, não dividem as porções com quem está na mesa.

A esse tipo de gente, é bom avisar: conhecimento só tem valor se compartilhado. Informação só vale se existe intercâmbio. Levar pra debaixo da terra o repertório adquirido nao tem valia alguma pra ninguém, uma vez que sua história não pode ser repassada adiante, aumentada, enriquecida. De que vale conversar consigo mesmo, se ninguém pode repassar o que se sabe, ou acrescentar ao seu repertório? De que vale a comunicação unilateral, uma vez que sem retorno o desinteresse é natural, e o esquecimento torna-se consequência.

Os feudos funcionavam assim: eram repúblicas autosuficientes, que valiam-se do que existia em seu interior, e naquilo se fechavam. Os senhores feudais proibiam os seus vassalos de sair, de se comunicar com os que estavam no mundo exterior. Aos que precisavam a todo custo desse tipo de contato, era cobrada uma taxa. E assim os feudos resistiram, até o momento em que com seus insumos esgotados (pois a terra/base perde nutrientes/consistência, e não rende mais o que deveria, deixando os donos do feudo sem alternativa a não ser recorrer ao mundo exterior – até então desconhecido e inexplorado), ficando assim à mercê dos leões, uma vez que sem horizonte corremos a esmo e inevitavelmente nos perdemos.

Logicamente, pra qualquer um dos seres humanos lá do primeiro parágrafo, esse tipo de relação de trabalho/sociedade é natimorta. Com o tempo a necessidade trouxe as revoltas, as revoluções e o ideal de democracia nasceu, cresceu, se desenvolveu e, mesmo aplicada tortamente, hoje rege a vida deste que vos escreve e de todos.

Infelizmente, alguns feudos resistem às mudanças. Mas, assim como todos os outros, acreditar que a ignorância dos seus é uma bênção já traz e ainda trará muitos malefícios à sua existência (e uma imagem pra lá de negativa a todos os outros que estão aqui fora, que conhecem os que estão lá dentro, e que sem mordaças que somos, repassamos aos quatro cantos os absurdos desse tipo de política). E aos que acreditam que a ignorância ainda é uma bênção, que rezem para que a própria ignorância não os sufoque, assim como sufocou a ditadura, os regimes semitistas, e outras políticas totalitárias e unilaterais. Censurar o direito à informação e à discussão é tão grave quanto proibir a educação, negar um prato de comida ou julgar sumariamente aos que são diferentes do que somos. Parece exagero, mas poder é poder.

O mesmo poder que a democracia me assegura de defender aqui o direito de expressão de uma amiga, de um amigo e de todo mundo que eu gosto.

P.S.1: Post dedicado à minha amiga Ariett, que mais uma vez permanece numa postura profissional, com prazos em dia e com um trabalho cuja qualidade quem a conhece sabe do valor, mas cujos direitos à informação e à comunicação permanecem cerciados por uma parede bem alta, cuja qual eu já saltei e posso dizer que o texto aí de cima se encaixa perfeitamente no contexto ao qual está inserido.

P.S.2: O porteiro desse feudo é de uma incompetência impressionante…

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  1. Saulo

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