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Infelizmente adquiri o hábito de ler durante minhas viagens de ônibus. Digo “infelizmente” pois nelas estavam alguns minutos de sono que normalmente faço questão de jogar fora toda noite, pois acho que dormir é perda de tempo – e acabo esquecendo que é uma necessidade, sendo que o próprio sono acaba me lembrando disso em horas das mais impróprias.

Aprendi a não enjoar enquanto leio, e estou “celebrando” isso retomando a leitura de 1984, de George Orwell, livro que eu tinha deixado de lado havia algum tempo. E durante este fim-de-semana a leitura foi das minhas companhias mais freqüentes.

O maior problema de quem gosta de ler é a sede absurda de saber mais, descobrir a cada página, a cada novo parágrafo, fatos e acontecimentos que ainda inéditos em nossa vida, acabam por nos acrescentar novos pontos de vista, que geram opiniões, e causarão discussões entre defesas e ataques.

A impessoalidade e o pragmatismo dos personagens desse clássico de Orwell me fazem tremer nas bases a cada linha, tamanho o cinza que predomina nesse mundo de 1984 (que poderia muito bem se passar em São Paulo, em 2003). E não antecipando muito da história, fico muito feliz em saber que ainda sobrevivem seres pensantes e sentimentais nessa nossa realidade não muito distante da retratada no livro. Acabamos por nos tornar (sim, me incluo com fervor nessa “minoria”) a resistência perante a massificação de informações e banalização das relações humanas.

Nem vale discutir novamente por aqui quais minhas opiniões sobre os modos de vida e as ações tomadas por grande parte de nossos “camaradas”, mesmo porque acho que cada um defende aquilo que acredita (e que bom que as coisas sejam assim). Não trabalho no Departamento de Registro, quero que o Grande Irmão se exploda e acredito na força de outros meios de comunicação mais arcaicos que televisão e internet. Acho que nada substitui o valor da letra escrita, que a voz falada e que o calor do toque. E continuo convencido que o sucesso e as vitórias chegam depois do esforço, que é possível sonhar com coisas boas, e se precaver com os pesadelos. Nada vem fácil, e se vier é bom desconfiar.

Nossa vida continua sendo um organismo vivo dentro de cada um de nós. E enquanto nossos problemas puderem ser resolvido por nós – melhor ainda, enquanto PUDERMOS ter problemas, poderemos continuar contestando nossos valores e crenças, reciclando cada um deles a cada nova etapa e nova experiência que temos (exatamente o que eu mais fiz durante este fim-de-semana), e buscando um passo à frente. Ainda temos esperança. Mais próxima para alguns, mais distante para outros. Mas ela existe, ao alcance de todos, e só precisamos buscar os caminhos corretos para alcançar nossos sonhos.

Nem sempre é tão fácil, mas quem pensa em desistir quando se tem algo que te incentiva a fazer isso batendo dentro do teu peito?

Mil novecentos e oitenta e quatro é um lugar estranho, um ano distante e uma realidade que eu quero – pra bem longe daqui.

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