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Acho que o post de hoje merece um pouco mais de dedicação. Afinal de contas, dedicação é a chave para que façamos bem aquilo que nos agrada, e que nos faz bem.

É engraçado como às vezes fatos isolados nos fazem retomar o fôlego e rever nosso trabalho e dos outros com olhos completamente novos. Ontem à noite, assisti ao lado dos outros seis monstros à palestra do Kiko Goifman. Não conhecia o trabalho do cara, e gostei bastante do que vi. Um resumo rápido da obra é que ele trabalha com diversos tipos de mídia, mas principalmente com meios digitais (vídeo, internet, cd-rom). Está lançando seu primeiro longa (33) que também foi destacado na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo nos últimos dias, e dentre diversos trabalhos alguns curta-metragens e trabalhos em multimedia que foram destacados pelo próprio ontem à noite.

O enfoque do trabalho do Kiko gira em torno principalmente dos diversos aspectos da violência. Durante a exibição dos trabalhos, fiquei bastante empolgado pelo tipo de linguagem adotada por ele (que me era familiar, e depois descobri que era óbvio que aquela “linguagem de penitenciária” que ele utiliza era muito próxima da utilizada nos encartes e vídeos do Racionais MC’s, porém bem melhor trabalhada e com mais personalidade e variações). Desde a edição e cuidados estéticos às trilhas sonoras (em Morte Densa, ele utiliza diversas músicas do álbum Murder Ballads, de Nick Cave – nada mais violento e depressivo do que isso…), um trabalho com estudo e dedicação bastante apurados.

E vendo essa enxurrada de informações, retomo ao início do post e lembro que há algum tempo atrás não pensava que algum dia fosse considerar “arte” algo que não fosse feito com papel, tinta e pincéis. O sentido da palavra me dizia respeito somente àquilo que vem à mente quando dizemos que alguém é um “artista”, que tal trabalho é uma “obra”, e imaginava que tudo isso fizesse parte de um conjunto de coisas que pudesse ser exposto em uma galeria, com paredes brancas enormes e com um silêncio sepulcral em cada ambiente.

Com um pouco mais de esclarescimento, ficou claro que o papel do designer e de qualquer outro artista está na qualidade do seu trabalho e naquilo que ele propõe, não importando se é algo erudito ou popular, ou ainda o meio no qual é executada a proposta. E de fato, o universo de informações que estão à nossa disposição a todo momento vai muito além do que nossos gostos reconhecem. Para mim, por exemplo, ficou claro que ontem à noite meu modo de enxergar principalmente a arte em vídeo ganhou porporções diferentes, simplesmente por me identificar de alguma forma com a obra de um artista (e que por sorte, é brasileiro). Certamente meu nível de interesse aumentou, e meu repertório consequentemente tornou-se mais escasso do meu ponto de vista, pois vi que tenho ainda mais informações e elementos para buscar. Puro tesão em querer aprender.

E a arte vai muito além disso, quando lembramos que cada um de nós pode ser um artista naquilo que faz. Se fizer com paixão, interesse, identidade e dedicação, dá samba – pode ter certeza disso.

Em tempo: ontem foi dia do designer. Se bem que eu não sei bem o porquê.

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