Abismal*

nov
2009
29

escrito por | em Música | 2 comentários

Esse post chega dois dias atrasado. Em termos, pois foram necessários sim dois dias para se recuperar do show arrasa-quarteirão do AC/DC. Puxando os textos do post anterior, aquilo tudo que eu disse sobre o som dos caras… sim, é verdade. Sim, é melhor ainda ao vivo. E sim, é MUITO melhor quando Angus Young se joga no chão a poucos metros de você e fica rodando com a guitarra, solando como se aquilo fosse a coisa mais fácil e natural do mundo, enquanto chove papel picado na sua cabeça e nas cabeças de outras 70 mil pessoas ao mesmo tempo ao som de Let There Be Rock.

Sobre a chuva que não se decidia sobre foder ou desocupar a moita, as imensas filas (que sabiamente não foram enfrentadas pela Caravana Campineira, o Delay e a Naomi – minhas ilustres companhias nesse evento), e os babacas decora-refrão que encheram o saco durante o show, nem vale muito a pena se aprofundar. Sempre existe um chato no meio do show, e normalmente onde está um, estão cinco, sem camisa, se agarrando, se batendo e se amando, mas mantendo a cara de macho. As capas de chuva seriam mais úteis se fossem armaduras, mas não foram. As filas, nós já desistimos de encarar. Somos velhos, e os telões, enormes. Fomos felizes, principalmente quando acabou o horripilante show de abertura do Nasi, que poderia perfeitamente ter caído do palco e nos poupado das sete covers extremamente mal cantadas pelo mesmo do nosso rock tupiniquim. O AC/DC merecia um showzinho de abertura melhor. Ou talvez, nenhum, se era pra fazer o que fizeram.

Fato é que quando as luzes se apagaram e a projeção da animação que introduz Rock N’ Roll Train tomou conta do telão, a galera veio abaixo. E quando o telão se partiu em dois, dando lugar à absurda locomotiva no meio do palco, foi a deixa para que soubéssemos que a noite seria épica. E não, isso não é um exagero…

Introdução do show. Ao final, o palco praticamente explode. O telão se divide em dois…

…surge o trem, e o que se vê é isso. Mas ao vivo é bem mais bonito…

Um palco grandioso, com toda a pirotecnia necessária para um show maiúsculo como o do AC/DC. Mas a grande diferença entre uma lenda como essa e as bandas pretensiosas de hoje em dia é exatamente essa: os efeitos não são o fim – são sim o suporte para a música, que se sobrepõe o tempo todo, sem deslizes, às animações, explosões e firulas que acontecem no cenário. Edições de vídeo excepcionais, iluminação perfeita, enfim… uma equipe de apoio tão craque quanto aqueles cinco senhores.

Foram dezessete músicas, previstas no setlist básico da turnê. As músicas novas não ficaram devendo nada aos grandes clássicos. Brian Johnson é de uma simpatia sobrenatural, mesmo não fazendo aquela média que todo gringo faz por aqui, se auto flagelando num português colado. Brincadeiras em inglês, as risadinhas básicas, e muito carisma, o tempo todo. Energia que não faltava, e que toda a banda reforçava.

Mas o grande maestro é sim Angus Young. O escocês sobra no palco, tanto na música como na performance. Descrever o que ele faz com a guitarra é chover no molhado, todo mundo sabe. E mesmo feio (e como é feio, Deus do céu… que família horrorosa, e que em muito lembra o Smeagol) não pára um segundo de pular, de chamar a galera e de fazer parecer daquilo tudo uma tremenda farra na garagem de sua casa. Até o strip-tease do rapaz foi aplaudido com entusiasmo, mesmo com ninguém querendo ver aquele ser com as pelancas de fora. Quem se importa? Todas as músicas são comemoradas por ele, servidas como presentes suculentos aos fãs. Os chifrinhos vermelhos forraram as camadas do panetone. Mais luzes à festa…

Mesmo espremidos no gramado, impossível não pular e se esgoelar com as músicas que crescemos ouvindo nos botecos da 13 de maio, na casa dos amigos, naquele cassete gasto enquanto andávamos de metrô. Assim como os Rolling Stones em 1998, encontrar pessoalmente ao AC/DC é materializar uma lenda. E quem já fez isso uma vez sabe o tamanho da importância de uma coisa dessas.

*A expressão cai como uma luva, Naomi. Obrigado!

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