A viagem na viagem

nov
2009
24

escrito por | em [Viagem] Argentina 2008/2009 | 1 comentário

02/jan/2009 – dia 8
Retiro/Mitre/Delta del Tigre, Buenos Aires

Foi coisa de dois ou três dias antes, não me recordo, que resolvemos nos informar sobre o tal Passeio do Tigre – uma das poucas possibilidades que ventilamos antes mesmo da viagem como um programa do bom pra se fazer por lá. Na cidade, passamos rapidamente por uma agência de viagens para nos informarmos como funcionaria o tal passeio se obtivéssemos um pacote, e o veredicto não foi lá dos mais agradáveis. De lá, fomos ao balcão de informações (que fica bem no centro da Recoleta, e é uma tremenda mão na roda pra turistas que, como nós, dão seus primeiros passos por terras estrangeiras). E por ele fomos aconselhados a fazer o tal passeio por conta mesmo. Muito mais barato, muito mais prático, muito mais simples. Segue roteiro para você, que provavelmente vai se interessar pelo programa:

Parte 1:
Sujinho, mas o que seria do doce sem o amargo*, não é mesmo?

– Pegue o Subte até a Estação RETIRO;
– Na estação, compre uma passagem de trem para MITRE (a passagem custa menos de um Peso – o que torna a coisa ainda mais inacreditável e surreal);
– Em caso de dúvidas sobre o local do embarque, tanto o bilheteiro como os guardas e vendedores que ficam na estação informam numa boa e sem rodeios. Nosso trem partiria das passarelas 3 e 4, e salvos equiívocos históricos, é exatamente essa a informação a ser passada em caso de dúvidas.

A estação do Retiro é basicamente uma Estação da Luz simplificada (e mais feinha, já que a Luz tá reformada e toda bonitona, enquanto o Retiro está precisando de um tapinha), mas ainda assim é charmosa e bonita justamente por ter a mesma arquitetura e o mesmo clima de século passado.

[Foto: Bró e Rob]

Fomos à pé mesmo para a Estação. É um caminho possível, mas a caminhada da Recoleta ao Retiro é razoavelmente longa, e ladeia uma avenida (que não vou lembrar o nome agora) que lembra muito a Bandeirantes – porém, bem mais limpa e com muito menos caminhões.

Vale o registro que todas as fotos dessa parte da história foram surrupiadas aos 4 cantos via Google, uma vez que estávamos muito mais preocupados em acertar as indicações do que propriamente registrar os caminhos.

Assim, pouco depois de comprarmos as passagens, pegamos o trem que fazia o trajeto Retiro/Mitre. O trem é bem meia-boca, caindo aos pedaços mesmo. Mas não difere muito da nossa linha férrea não – aquela que cobre a maioria do Estado, não a Marginal Pinheiros – e faz um caminho bem bacana, se afastando do centro e trazendo ares mais europeus à paisagem portenha. A cidade fica mais bonita, mais tranquila e ainda mais apaixonante. Não sabíamos o que esperar quando chegássemos a Mitre, e a surpresa foi das melhores…

E estação Mitre possui uma interligação entre a linha do trem convencional (descrito acima) e o Tren De La Costa. Esse segundo trem faz justamente o caminho que beira Mar Del Plata, levando os passageiros ao Delta do Tigre.

Essa mudança de trens é mais ou menos você sair do Rio Tietê pra nadar numa piscina de água Perrier. É nessa interligação que pode-se comprar a tal passagem pro restante da viagem (por “absurdos” 6 Pesos). Existe ainda uma espécie de feirinha de artesanato entre as duas partes da estação, com algumas compras (que nos pareceram) mais interessantes do que as de San Telmo. Após atravessarmos a plataforma, as imagens externas do trem, comparadas às da viagem anterior, foram bastante animadoras…

…e de lá, partimos.

Boquiabertos com a paisagem, que é uma coisa maravilhosa. Casas de tijolos, vilarejos bucólicos, e ao contrário da velocidade do trem, o que parece ali do lado de fora é que existe um mundinho acontecendo em ritmo de domingo. A cada estação, as imagens tornam-se mais e mais bonitas. muitas flores, muito verde, em nada lembrando a capital, e aos poucos justificando o nome de província. As diferenças são claras…

Parte 2:
Navegar é preciso, e gostoso.

Chegamos ao Delta. Logo na saída da estação, o que se vê é um parque de diversões (o Parque De la Costa), pra onde normalmente os guias levam os grupos de turismo. Pensamos em aproveitar o dito enquanto planejávamos o passeio, mas as filas para entrar assim que chegamos nos desanimaram completamente, e partimos para a área das barcas, onde acontece de fato o passeio pelo Delta.

Andamos por duas quadras, e chegamos ao cais. A primeira visão que se tem ali é a de diversos tipos de embarcações: de iates a canoas. Barcos de dois andares, ar condicionado, catamarãs mais simples, cada qual com seu preço e tempo de passeio. Escolhemos um catamarã bem bonitinho(e comum), cujo passeio custava $ 10 cada, com duração de uma hora e meia. Negocia-se ali mesmo, com o próprio dono da embarcação, e alguns minutos depois estávamos à bordo.

O que viria dali em diante seriam 90 minutos de um passeio delicioso, e super simples. Percorremos 3 rios (Tigre, Sarmiento e Luján), que formam o delta. E à margem, durante o trajeto, o que via-se era uma sequência linda de casinhas mais simples, outras nem tão simples assim, mas tudo muito bonito e colorido, que podria perfeitamente ilustrar um filme de época. As casas são acessíveis somente de barco, o que faz com que cada uma tenha seu atracadouro. Os jardins são floridos e gramados, alguns com espreguiçadeiras, outros com alguns bancos para um almoço por ali mesmo. Algumas famílias estavam reunidas em frente às respectivas casas, e o visual que parecia em muito com aquelas histórias impossíveis que você só vê ilustradas em livros. Pra que eu não passe por mentiroso, seguem as provas:

Além das casas, o lugar abriga outras coisas muito curiosas, como por exemplo uma vendinha suspensa no meio da água, que vendia desde algodão até gasolina, justamente para suprir as necessidades das casas da região. Também só acessível por barco o tal lugar, eu achei um tremendo barato. E pra contrapor o glamour das casinhas lindas, umas carcaças pelo caminho (bem estilosas, diga-se de passagem):

Uma hora e meia depois, e estávamos extasiados, famintos e felizes. Passeio muito do bem-sucedido, nos provamos mais uma vez que a tal viagem na raça foi a melhor coisa que poderíamos ter feito. Saímos dali, e pouco antes da estação paramos numa lanchonete bem do pé-sujo, e mandamos pra dentro a combinação explosiva de hamburguesa y Coca-Cuela**. Descansamos um pouco ali mesmo, e voltamos para a estação. O caminho de volta foi feito com menos cara de surpresa, mas com mais cara de bobo. Estávamos muito satisfeitos, e ainda sob efeito de tanta paisagem bonita e cores e mais cores.

Chegamos ao Retiro ainda na metade da tarde. E com o passeio completo, poderíamos enfim nos dedicar a uma coisa que grande parte das pessoas que viaja tem como objetivo principal: compras. Uma, em especial, pra sogra – mas nada de presente, e sim uma encomenda. Lá na tal da Rua Florida, ou na Galeria Pacífico. Parecia simples…

* Licença poética de Vanilla Sky. Veste bem a situação…
** Piadinha pronta, mas sempre providencial.

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