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E 16 anos depois…

Anhembi, chuva (pouca, mas marcou presença), e lá estava eu, de volta ao lugar do primeiro show da minha vida. Era a espetácular Use Your Illusion Tour, do Guns N’ Roses. Eu com 12 anos de idade, meu primo e meu pai. E depois de tanto tempo – como essas coisas ficam e como o tempo passa rápido… – voltei àquele brejo.

E dessa vez, era minha mãe ao meu lado. Pequena, baixinha, e toda empolgada. Afinal de contas, era noite da diva – Sir Elton John, devidamente paramentado com algum modelito pra lá de extravagante. Estávamos resignados a não ir ao show desde o anúncio do preço dos ingressos (de 250 a 550 dinheiros), até que quinta-feira um sentimento de culpa começou a me incomodar (muito) por não estar me sacrificando um pouco mais pra levar minha mãe àquele que seria o show da vida dela, e sim, porque eu também gostaria muito de estar ali. E no muro de lamentações que eu me tornei sexta, a e a Kalu me deram as devidas cutucadas pra que no sábado eu arriscasse um ingresso na entrada do lugar.

Não foi preciso muito esforço pra convencer a minha mãe do valor da empreitada. Fomos pra lá e por volta das 20h estávamos negociando as entradas com um cambista muito do profissa (com cartão de visita, dois celulares, e uma educação que não condiz com a raça em questão). Quando ele entregou o primeiro dos ingressos na mão da minha mãe, a velhinha começou a chorar copiosamente de alegria. Naquele momento eu soube que a decisão tomada foi a mais acertada possível. E sim, compramos mais barato do que o preço de bilheteria (os 250 viraram 200, mas às favas quanto a isso ser caro ou não comparado à experiência que só quem esteve em um show que realmente quis na vida sabe o que é).

Entramos, e aquele lugar continua o pé de porco de sempre: asfalto esburacado, som baixo, a maldita parafernália da Globo tapando metade da visão, aquele camarote tubular medíocre… enfim. Mas mesmo assim nos ajeitamos. Assistimos ao surpreendente James Blunt, que mandou muito bem e atiçou a curiosidade quanto aos meus próximos torrents. Show de extrema competência e muito carisma. Pouco tempo depois, às exatas 22h, nossa musa sobe ao palco.

E a galera vem abaixo.

O show começa com alguns problemas técnicos no telão (cujo responsável teve a família lembrada por diversos momentos pela minha mãe). E falando nela, eu nunca tinha visto a velhinha dançar e cantar tanto na vida. A cada final de música, ela comemorava como se fosse um golaço do Timão, e foi um barato estar ali vendo tudo aquilo também!

Quanto à Sir Elton, nota-se em momentos como os que eu vivi na noite de ontem o porquê dele ser uma lenda viva, e inspiração pra metade dos gênios das décadas seguintes; e o porquê de sujeitos como os quatro Beatles, Eric Clapton, Phill Collins, Sting, Mark Knopfler, T.Rex e outros dinossauros terem convidados nossa dama para acompanhá-los ao palco por tantas vezes.

Não é necessário dizer que ele toca o piano com a mesma facilidade que eu como uma picanha. Uma banda de apoio excelente, e um carisma muito maior do que aquele tamanhinho de jóquei Playmobil que ele tem. Simpático ao extremo, levou o público com uma facilidade que muito artista leva a vida inteira tentando e não consegue.

Eram famílias inteiras, muitas senhoras, e muita molecada dançando sem ligar se chovia ou se o telão funcionava direito. Após uma hora de show, o conforto era de estar cantando debaixo do chuveiro e dançando sem nenhum compromisso maior com nada nessa vida. A seqüência final de “Bennie And The Jets”, “Sad Songs”, “Philadelphia Freedom”, “I’m Still Standing”, “Crocodile Rock” e “Saturday Night’s Alright For Fighting” foi simplesmente irretocável e deliciosa. As baladinhas que fazem tanta gente ter ojeriza ao som da ilustre senhora foram levadas com propriedade, mas nem de longe mexeram com o público como o rock pelo qual ele se fez um mito – sendo que a essa afimação são exceções somente “Don’t Let The Sun Go Down On Me”, e a derradeira e arrepiante “Your Song”, que fez MUITA gente chorar de tão lindamente executada (uma vez que a música por si só já causa emoções pra lá de fortes). O hit Alpha FM “Sacrifice” teve as reações mais engraçadas que eu já presenciei em shows, uma vez que de tão cafona foi cantada pela maioria com um sentimento enorme de vergonha enrustida: um luxo.

Enfim, se arrependimento matasse, hoje eu estaria mais vivo do que nunca. Só agradeço novamente a todo mundo que insistiu pra que eu fosse a esse show (especialmente à Kalu, que de tanto me encher, me convenceu). Assistir a Elton John ao vivo só deixa mais claro que algumas lendas de fato são dignas de crença. E de devoção.

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