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Não é de hoje que certos termos vindos junto à revolução tecnológica nos aporrinham: globalização e aldeia digital foram novos conceitos implementados ao nosso cotidiano com o advento do universo virtual. Pouco se entendeu de tudo isso logo de cara, mas aos poucos a noção de unidade e da completa falta de barreiras que a internet e os novos meios de comunicação trouxeram passou a encantar. E assustar.

O acesso à informação tornou-se coisa simples e de fácil alcance. Os monopólios de conhecimento são hoje ameaçados por infindas alternativas aos problemas de sempre. A tal globalização trouxe não somente quantidade, mas qualidade e novidade acessíveis, e a preço zero. Simples conversas acarretaram em novos negócios, novas empresas, novas forças. Formaram-se comunidades, com componentes de diferentes origens, e o individual ganhou força exponencial quando formados os grupos. As poucas fontes de informação privilegiada ganharam concorrência direta, e a terra tremeu. Novos sistemas operacionais, browsers, desktops, programas, equalizando qualidade com os velhos conhecidos. Mas não só isso: novos profissionais, que na troca de informação – agora sem fronteiras, taxas de juros ou idiomas incompatíveis, passaram a falar a mesma língua e aos poucos suplantaram toda e qualquer exclusividade presente em nossa comunidade global (falando ainda dos jargões que já saíram de moda, inclusive).

Claro que o mundo tornou-se um vulcão em plena erupção. Quem buscava oportunidade de explodir o fez (e o faz, não coloquemos este texto em puro pretérito, uma vez que é e por muito tempo será plenamente atual o que é dito neste momento). Borbulham novidades, e o tradicional cai por terra, tornando-se um conceito cada vez mais subjetivo.

Claro que a alegria de uns é a tristeza de outros. Sempre existirão saudosistas, ex-detentores da superioridade intelectual, sedentos pelo sangue de quem os suplanta nessa nova realidade. Afinal de contas, o coronelismo de quem mandava e desmandava nas regras do jogo hoje é desafiado por meia dúzia de moleques que trocam e-mails, e em poucas conversas encontram soluções.

E na desinformação e dificuldade de diálogo, com egos nas alturas e na completa falta de humildade em admitir seus erros conceituais (e processuais), os tais coronéis tentam a todo custo “manter a ordem”: as leis de propriedade intelectual; as censuras ao livre acesso; os “não podem e não devem”; as ameaças de repressão; o sancionar de novas regras que não fazem o menor sentido. Temos um claríssimo quadro da nova tentativa de ditadura, agora em caráter feudal: cada dono de pequena propriedade tenta “salvar” o que sobrou de seus servos, cercando-os por todos os lados: obstruindo conhecimento, restringindo liberdades e impondo novas e inúmeras regras até o iminente cansaço e conseqüente desistência. Será que funciona?

Os fatos comprovam que uma China de muralhas luta a duras penas para manter a alienação de seu povo à nova realidade mundial. Mas que país se desenvolve sem o livre comércio? As correntes rangem. A imprensa nunca teve tamanho acesso a tudo. Pro bem ou pro mal, a organização de grupos de interesse torna-se simples e de eficácia indiscutível. Rastreamento de informação e mapeamento de rastros, e a concretização do Big Brother de Orwell acontece. Num momento umbiguista e falando somente de design (para que este texto se contextualize de fato), tendências e inovações não restringem-se a grupos nem quintais – e da mesma forma, as ferramentas não possuem bandeiras que as situem neste ou naquele grupo.

Foi-se o tempo da exclusividade. A propriedade intelectual ganhou como resposta um Creative Commons, assim como as grandes marcas ganharam concorrência. Fica claro que o talento é sim individual, que a identidade de um trabalho é fruto do esforço e aptidão de cada um, e demonstrá-la é dever de qualquer artista, designer, ou profissional que saiba assinar seu trabalho sem necessariamente precisar escrever seu nome para reivindicá-lo.

Portanto, fica um conselho aos censores: desistam. O que não deu certo há anos não dará agora. E se a força de pequenas comunidades foi capaz de derrubar governos, regimes políticos, paradigmas e tabus, o que será capaz de fazer uma comunidade de aproximadamente seis bilhões de pessoas contra um punhado de interesses pessoais?

É pagar pra ver. Os muros estão no chão, e só vocês ainda não notaram. Contra o conhecimento coletivo, nada resta a não ser o diálogo. Porque se o que é imposto não desce, o intercâmbio é e sempre será muito bem-vindo.

Este texto é minha coluna sobre webdesign, que estará presente na Revista www.com.br do mês de outubro. Todo mês tem um desses, para os desavisados ou recém-chegados.

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