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Ok, chamem de paranóia. Eu não sei mesmo escrever em dias que não leio mais do que as legendas de um filme, ou a sessão de esportes do jornal. Hoje coloquei na mala o Febre de Bola, do Nick Hornby – presente da Sol no meu já longínquo aniversário. Queria escrever, precisava ler. Boa escolha, mesmo em cinco páginas entremeadas pelo suco de cajú, empadinha de palmito e bolo de laranja (pois a fome é inerente a um ser humano bem dormido), nota-se que foi uma boa escolha. Não consigo ler muito durante a manhã: cansaço deste ainda insistemte período em que o ônibus substitui o volante, ansiedade de começar um dia bom, resquícios de sono, vontade de manter intacto o banho quente.

Dentre os planejamentos diários, consta sempre o próximo desenho, ou a próxima foto, ou ambos. Hoje em especial constava também (ou melhor, ainda consta, já que minhas prováveis vítimas ou carrascos chegam daqui a algum tempo) as palavras certas para justificar a minha completa indiferença aos prazos absurdos estabelecidos semana passada. Por sinal, palavras não: palavrões, em ordem crescente de rispidez e devidamente organizados do respeito e polidez à ultraviolência. Sim, pois é isso o que espera-se de alguém que possui uma chefia que acha bonito gastar de 12 a 14 horas por dia resolvendo aquilo que a incompetência e desordem alheia fez feder. Não gosto dessas rotinas, é notório. Acho que devia ter pedido um suco de maracujá ao invés de cajú, mas esqueci. De qualquer forma, meu livro me abriga, e meus sons me socorrem. Em caso de emergência, aumente o volume. Daria uma boa camiseta.

Da lista de coisas a serem feitas, um ítem permanece pela segunda semana seguida com bons resultados: ouvir de 2 a 3 artistas nunca antes explorados pela casa. Estreei semana passada com Belle & Sebastian, Bellrays e The Zutons – recomendando os 3, cada qual na sua área. Hoje resolvi desbravar o Dinosaur Jr. de quem tanto já fugi, e o tal do Elliott Smith mais a fundo. Boas escolhas pra uma segunda-feira. E melhor ainda pensar nesse caráter de novidade, que no final das contas é só caráter mesmo. Dois a três porque ninguém precisa de mais do que isso pra sete dias. Além do mais, restringir dessa forma aumenta sim a atenção dispensada – centra a emoção, encontra-se mais facilmente a essência. Tem mais um punhado de coisas a serem ouvidas, outro de planos na cabeça, e a excelente perspectiva de não saber o que vai acontecer daqui a pouco. Por enquanto eu só escrevo. E sabe-se lá quando vou fazer isso de novo, e com o quê na ponta dos dedos. Ontem descobri o ótimo Homenagem a Orfeu na Cultura, que de quase tão sem querer nem sequer citaria aqui, mas cito. A gente tropeça nessas novidades da vida, perde o equilíbrio, e se precisar anda cambaleando mesmo. O importante é não enfiar a fuça no chão, entregar-se às rotinas nipônicas ou à indiferença alheia. Vejo amigos que continuam ouvindo A-Ha e Bon Jovi (variando somente a ordem, mas nunca os conteúdos), meninos crescidos discutindo os Cavaleiros do Zodíaco e joguinhos de videogame, e percebi que isso me irrita. E ao mesmo tempo, fico bem feliz e orgulhoso com essa irritação, pois ela só atesta que o crescimento e a maturidade tardam, mas nao falham.

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