Só mais um texto

mar
2007
26

escrito por | em Umbigo | Nenhum comentário

No meio do chão do quarto. Carpete fofo, lápis espalhados, um pedaço de madeira e papéis por todo o lado. A TV ligada em algum desenho e um céu nublado, vento frio. Dia ideal de entrega a si mesmo, de se realizar no branco e poder sonhar com as mãos. Sonhava tão alto que dava vertigem, um menino pequeno e quase sem voz. Olhar escondido, abaixa o volume da TV um pouco, e o cheiro quente do almoço que saía das panelas. Uma, duas, três tentativas, achava-se incapaz mas dava-se todas as segundas chances que fossem necessárias até as formas confirmarem-se devidamente transferidas: dos sonhos à memória às mãos às folhas. E se sentiria incompleto quando terminasse. Gostaria de puxar suas criações do plano e fazê-las palpáveis – quentes, frias, sutis, ásperas, doces ou salgadas. Sonharia com isso também, em outros tantos momentos. Pés sob o edredon, jogado ao chão como ele, o almoço está pronto. Então arrume os lápis pra ninguém pisar e quebrar as pontas, lave as mãos, sente-se à mesa, coma de boca fechada, mastigue direito, senão de nada vale o tempero da carne, do arroz, da salada. Saboreie, e saboreie também o dia, sonhe acordado e não perca as idéias durante o almoço, ou banho, ou as idas e vindas ao mercadinho. E também não perca o sorriso do rosto, pois o desenho nem sempre sai como planejado de início. O mais importante é que fique bonito, caprichado e que tanto carinho, cuidado, sonho e vontade estejam ali, em suas cores. O dia permaneceria em paz. A paz que sonhava e nem percebia.

Comente