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De repente às 9h da manhã chega à mailbox um texto que provavelmente foi escrito após meia-hora de reflexão (ou de qualquer outro sentimento descontrolado que descarregue duas laudas de puro desabafo), e que a mim mais parece um daqueles chiliques de meninos de condomínio, que nunca viram um formigueiro na vida, esbravejando ferozmente sobre política e pregando um colapso completo como a mais provável solução aos problemas da humanidade. Claro que tudo isso ao som de um trance nervoso e sob efeito de drogas gostosas.

Meu estômago embrulhou.

Eu puxei a descarga e não li mais o que se seguiu depois disso. Claro, o e-mail não era somente pra mim.

Capitalistas, comunistas, socialistas, liberais, conservadores, moderados, formadores de opinião, anarquistas, xiitas, céticos. No final das contas acumulamos tudo o que nos interessa – não importa se na cabeça, na boca ou na gaveta, e costuramos nossas bandeiras.

Com elas em riste, partimos para o ataque. A catequização alheia passa a ser nosso objetivo, voluntariamente ou não. Fato é que nos incomoda os que têm opinião contrária e se opõem às nossas vontades. E não me venham com a hipocrisia de dizerem logo de cara que é bom ouvir o contrário para que se possa aprender alguma coisa. Sim, de fato é algo bom (e recomendável) a se fazer, mas num primeiro momento a sensação instantânea é o choque, para que em seguida se contra-ataque.

Claro, se você tiver algum argumento para isso. Ou bandeira. Ou ambos.

Porque normalmente quem se posta com firmeza dessa maneira, ou sustenta uma opinião mais do que formada sobre as coisas, ou brinca de rebelde sem causa e entra gritando no meio do saguão do hospital. Os primeiros normalmente contestam com a classe da realeza: argumentos convincentes e bem-colocados, consistência oratória e uma idéias colocadas de forma crescente, uma a uma, que ao final do diálogo causam uma reflexão digna de grandes mudanças. Não intenciona a lavagem cerebreal, mas aos menos preparados pode sim parecer algo do tipo.

O segundo, porém, é o que me irrita de fato. Destrói as discussões com opiniões céticas e normalmente sem fundamento, toma por base os exemplos mais estapafúrdios, associa feijão com sorvete e deseja a todo custo dar a palavra final numa discussão. É o mentor desses e-mails dantescos, que certamente interrompe o fluxo de trabalho de qualquer local pelo simples prazer de aparecer, e parecer mais inteligente que os outros.

Esse tipo de inteligência não me assusta.

Porém, aquele primeiro tipo – o sutil e respeitoso – me impulsionou a ontem à noite me deparar pela primeira vez com duas prateleiras enormes, repletas de livros sobre política, numa Saraiva da vida. A esse primeiro exemplo eu admiti minha total e completa ignorância sobre o assunto (esse em específico neste caso, mas adapte este texto às suas necessidades). Ao segundo, eu espero em breve agir na pessoa do primeiro, respondendo em três linhas o que não me parece nada inteligente, mesmo que explicado em três páginas.

A ignorância não ofende. Pelo contrário, só admitindo que ela existe e está presente pra se fazer alguma coisa a respeito. É o primeiro retalho dessa bandeira. Nos livros, na mídia, nas mesas, junta-se a isso bons ouvidos e uma boca que aos poucos tome pra si suas verdades, as embase e as defenda. Se for para destruir, que se faça construindo algo melhor no lugar.

Porque aos que possuem uma bandeira dessas sem cor, sem história e sem uma base decente e que traga algum respeito aos que a vêem com olhos críticos, resta deixar que lutem sozinhos por algo que sequer sabem o que seja. Claro que numa batalha dessas, acabarão morrendo com um tiro nas costas, ou fuzilados por um exército de estilingues – que podem até não fazer barulho quando disparam sozinhos, mas aos milhares derrubam fortalezas. É nisso em que eu acredito. Ultimamente, mais ainda.

Já consegui meu naco de madeira, minha borracha e um canivete dos bons.

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