Oitavo pecado

ago
2006
13

escrito por | em Brasilidades | Nenhum comentário

Falar sobre assuntos delicados é sim uma especialidade de qualquer pessoa que goste de perder um pouco de tempo se informando sobre polêmicas e divergências gerais. Particularmente eu adoro polêmicas, não por tumultuarem a calmaria, mas sim pela capacidade que elas têm de nos fazer pensar – seja por concordância ou por revolta, a reflexão com elas é algo quase que natural. E eu tenho certeza que a maior de todas as polêmicas deste momento até o final do ano será o que fazer com o nosso voto.

Intermission

Se você sentiu enjôo ao ler essa última palavra, sugiro que leia SIM este texto até o fim, pois ele está sendo escrito principalmente pra VOCÊ.

A casa agradece.

End of intermission

Momentaneamente eu estou anulando o meu, porque penso que, assim como pra grande maioria dos brasileiros descontentes com as migalhas que o governo nos oferece atual e historicamente em troca de anos de mamata, a coisa chegou a um ponto sem volta, onde ou tudo muda, ou tudo acaba.

Anular o voto é um ponto de convicção preocupante. Neste momento, me pareceu a única alternativa diante do quadro geral de políticos incompetentes e corruptos, e da total falta de planos de governo que contemplem o bem do Estado e do país. Mas longe de pensar que isso seja uma solução, e aí que entra a discussão que eu proponho.

Não acreditar nesses caras não significa tapar burramente os olhos e ouvidos, ignorando tudo o que eles disserem daqui até novembro. Da mesma forma que HOJE me parece imbecil dar meu crédito a uma dessas pessoas, seria imbecil da minha parte me anular perante o restante da população, não prestando atenção no que eles têm a me dizer. Se está cada vez mais difícil acreditar em alguma coisa, espero que eles (ou algum deles) me convença com muito esforço do contrário. Ou melhor, “espero” não.

Se alguma proposta interessar, o que me impede de ligar ou escrever a esse ou aquele candidato? Absolutamente nada. Se não me responderem ou me mandarem uma resposta-padrão, saberei que aquele partido e suas alianças de fato me tratam como ninguém, e ele não merece mesmo o meu voto.

Se essa mesma proposta não for sugerida por algum candidato concorrente, nada me impede de sugerí-la ao candidato da oposição. Se ele me disser que sim, ou que não mas que possui uma proposta que é ainda melhor para esse fim, posso sim ouví-lo, acompanhá-lo e cobrá-lo (afinal, quem faz voz uma vez faz sempre – ao menos esse é o princípio que rege a democracia). Se for novamente ignorado, farei o mesmo que fiz no parágrafo anterior.

Se eu não manjo NADA de política, simpatizo com algum partido e acho que ali ainda existe alguma coisa séria, nada impede que eu me filie a esse partido e me intere como de fato as coisas funcionam ali. Extremo demais? Político demais? Eu pergunto – qual o problema nisso? Conhecer como as coisas funcionam por dentro pode ser um ótimo caminho para que nós mesmos saibamos como resolver aqui fora.

Sim, porque se tudo isso falhar (e sim, não me venham com aquele papo de que tudo isso dá trabalho demais, é chato demais e afins: nós sim deveríamos funcionar como os chefes deste país, e chefe também tem responsabilidade; responsabilidades como fiscalizar a produtividade da equipe, o cumprimento de metas e o resultado dos projetos propostos), em algum momento a gente vai ter que se organizar pra mandar nesse circo. Se os palhaços que hoje estão no picadeiro não têm mais graça, façamos melhor que eles e sejamos capazes de mostrar o que de fato é um show de competência.

Enquanto os nomes não mudarem, o que variam são os cargos. Se os partidos não têm ideologia e diretriz, se os políticos não têm caráter, e os que têm não conseguem trabalhar sem se render à corrupão que notoriamente domina o plano político do país, se nada mais funciona, qual a saída?

Nós mesmos. Se quem deveria cuidar da gente não cuida, cuidemos nós. Necessariamente alguém vai ter que fazer ALGUMA coisa em ALGUM momento. E ficar esperando um milagre ou uma mudança DOS OUTROS me parece coisa incerta e bem da burra. Além do mais, vai fazer com que a gente CONTINUE dependendo de MUDANÇAS ALHEIAS. E isso não é atitude de mudança, mas sim esperança sem fundamento.

O voto nulo pode sim ser uma boa resposta, mas não é apenas assim que se encontra uma saída pro caos atual. Se ele funcionar como seu grito (assim como nesse momento funciona como o meu), aumente o volume com soluções que partam de você. Só assim a gente tira esse país da lama.

P.S.: E me perdoem os anti-nacionalistas, mas achar que na gringa existe sim uma vida melhor que a daqui pode parecer uma das ilusões mais inocentes da História. Porque se aqui existe corrupção e ingerência social, lá fora também existe. Racismo, violência, discriminação, diferença social e outros males são doenças da humanidade, e não somente dos brasileiros. Achar que nossa saída é a fuga me parece além de egoísta algo romântico demais, num mundo que não é feito de videoclipe e televisão, e que talvez precise mais do que qualquer outra coisa de união e solidariedade.

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