Para os olhos

set
2008
18

escrito por | em Cinema, Música | Nenhum comentário

De forma quase infame, assistimos a ambos os filmes no intervalo de uma semana. Infame pois em ambos nossa capacidade visual é posta à prova – claro, em contextos completamente diferentes, com diferentes fins e de diferentes formas. Mas são ambos os filmes experiências. Abaixo, um breve apanhado de cada um deles.

Ensaio sobre a cegueira

Eu e mais 3 pessoas neste país não lemos este livro. Sim, faço a mea culpa, mesmo tentando me redimir tendo lido boa parte do Ensaio sobre a lucidez, porém não terminando, como de hábito em minha deficiente vida literária. Porém, esse déficit em meu repertório não impediu que eu acompanhasse todo o processo de execução, prévias, divulgação e lançamento do filme – ainda mais com uma namorada que idolatra a obra de Saramago, e contava os dias para assistí-lo. E assim, fomos ao lançamento do dito.

Eu, enquanto leigo, não nutria expectativas maiores do que as que eu podia alimentar. Ela, ao contrário, estava absolutamente elétrica e esperava que o filme de fato ficasse bem abaixo da obra, porém não a rebaixasse ao já tradicional besteirol que comumente vivenciamos ao acompanhar uma adaptação literária às telonas. O filme começa na Avenida Juscelino Kubitschek, e o que se vê dali em diante é coisa que não se descreve.

Fernando Meirelles (e que fique claro, estamos lidando com a minha opinião, de pessoa que não leu o livro e que gosta de cinema – gosta, mas detesta discutir a fundo certos temas técnicos, filosóficos e toda essa encheção que torna algo que deveria ser diversão em assunto de sala de espera) vai muito além de qualquer coisa que se possa prever. O filme flui bem, mas não flui fácil. É denso, pesado, e a imersão é inevitável. Imersão que causa certo mal-estar aos mais despreparados, mas que choca (em um décimo do que choca a obra, segundo quem leu me disse) o suficiente para que nos juntemos ao cordão dos que perdem a visão e vivem a completa inversão dos valores ditos “civilizados”.

Julianne Moore merece o Oscar, mas não vai levar. A Academia nunca entenderia um filme (e uma obra) como Ensaio. é algo que nenhum yankee tem saco pra digerir, muito menos o direcionamento de mídia e de modelos que Hollywood adora exaltar.

Muito cult para os blockbusters, e muito comercial para os pseudo-cults. O filme encanta aos que gostam de uma direção bem-feita (e ousada, que não teme sutilezas e requintes que pouca gente está acostumada a ver por aí), atuações primorosas (com destaque novamente, além de Julianne Moore, para Gael García Bernal, que está se acostumando em arrebentar quando responsável por papéis de impacto), trilha sonora impecável entre outros destaques.

Vale, e muito, a pena. E prepare o estômago. Mas, se mesmo com o que escrevi acima você ainda não se convenceu, melhor ouvir a opinião do próprio Saramago após assistir a uma exibição-teste do filme. Só não vale se emocionar já – deixe pra depois:

U23D

Esquecendo quase completamente o texto acima, o show (resumido, da Vertigo Tour) é basicamente uma compilação de trechos gravados no México, Chile, Brasil e Argentina, com destaque para o show de Buenos Aires, que claramente predomina sobre os outros na edição.

O registro deste show vale e muito aos que de fato estiveram lá, e como curiosidade aos que nunca assistiram a uma projeção 3D. Eu estive no show do Kiss na turnê do Psycho Circus em 1999, e os efeitos são basicamente os mesmos, e com a mesma qualidade (o que, diga-se de passagem, agradeço a ambas as bandas, que sempre primaram pela qualidade da diversão oferecida).

Como minha história com o show do U2 no Brasil tem proporções épicas, é quase óbvio que o “filme” me trouxe recordaçõs – as melhores possíveis – sobre aqueles dias e o quão difícil foi conseguir estar ali (os fãs da Madonna neste momento devem saber exatamente sobre o que estou falando) e presenciar um espetáculo tão grande e cativante. Não houve economia de energia do público na edição final do show, o que aproxima ainda mais a banda dos seus fãs.

Destaque importantíssimo: as inserções das animações, e de outras interferências visuais em 3D, que abrilhantam ainda mais a experiência. O U2 destaca-se cada vez mais por uma percepção tecnológica que não trai a qualidade de suas músicas. Uma banda que não vive de passado, e não tem medo de continuar dando o tom de um futuro livre de modismos. Uma possível salvação ao rock, e prováveis destaques futuros ao lado de outros grandes da História da música. Vale a pipoca, a Coca-Cola e o par de Raybans oferecidos na entrada do cinema. Continua um showzásso.

Comente