Pronto.

nov
2010
01

escrito por | em Brasilidades | 4 comentários

E chega de eleição, por favor.

Nos últimos meses, fomos submetidos à presença initerrupta de candidatos pautados por estratégias agressivas de marketing, questionamentos morais e religiosos, alianças escusas, acusações e mais acusações. Enquanto isso, pouco se falou de política, de planejamento, de planos de governo e possibilidades de crescimento do país e sua sempre fodida população.

Com a vitória de Dilma, já surgiram as “manifestações patrióticas” dos feridos na batalha, excomungando as mulheres, os nordestinos, os pretos, os pobres, as bichas e os analfabetos. Sim, pois é exatamente essa a tônica de nossa tão educada e bem conduzida classe média: culpar aquilo que não lhe servir. E o Governo Lula não lhe pareceu bom, uma vez que ofereceu a tal Bolsa-Família aos que mais precisavam (mesmo servindo de benefício por diversas vezes aos que não precisavam tanto assim), facilitou o crédito para a compra de casas no muitíssimo bem-sucedido Minha Casa, Minha Vida, e chamou a crise internacional de “marolinha”, dado que os efeitos dessa no país foram de fato pífios comparados aos das nações desenvolvidas. Logicamente nem tudo são flores, e assim como em TODOS os governos, falou-se muito de corrupção, pouco se puniu e fêz-se muita cagada. Disseram que nunca foi noticiada tanta falcatrua… mas pensando um pouco mais sobre essa afirmação, algum governo sofreu tamanha resistência e ojeriza dos então sempre privilegiados meios de comunicação consolidados? E tendo isso em vista, obviamente noticiou-se mais, uma vez que muitos interesses até então de situação tornaram-se de oposição. Foi a primeira eleição sob a Lei da Ficha Limpa, e um Maluf eleito e impugnado me parece sim um grande passo para que ainda possamos sentir um respiro de esperança.

Eu não me iludo, mesmo. Entrasse quem entrasse, Dilma ou Serra, o congresso e o senado já estão eleitos, e novamente povoados pelas mesmas cobras incompetentes e safadas de sempre. O novo é o bizarro, com palhaçoes, cantores e jogadores de futebol entre os mais votados. Não, brasileiro não sabe votar. Está longe de saber. A tal reforma política é uma promessa equivalente à reforma agrária, que muito interessa a quem NÃO está no poder. Os dois candidatos à presidência não possuíam plano de governo. As promessas se repetiram. Ganharia um poste, se fosse apoiado pelo Lula. O cara é um mito. Foi um presidente melhor do que qualquer desconfiança, um tremendo diplomata, encantou-se por vezes pela soberba da aprovação geral de um país continental (e eu não o culpo), e tem um carisma maior do que o comum. Logicamente se aproveitou por trocentas vezes de tudo isso. E gostaria de conhecer alguém que não faria o mesmo ou pior. E tudo isso contra um candidato que é a cara e jeito do pragmatismo político. Era barbada.

Mas não, não é uma monarquia, e portanto, não é quem senta no trono que resolve ao seu bel prazer. Nem os tais “eleitores fanáticos” que surgiram nesses últimos tempos são tão politizados assim, a ponto de acompanhar diaria e criticamente o andamento dos governos que virão. Conheço uns 4 ou 5 que falam e entendem sim de política, mais uma ou outra que finge o mesmo mas não consegue. E pronto: acabou-se o engajamento. A troca ridícula de farpas entre simpatizantes de ambos os lados, e os adjetivos detestáveis que ganharam, vão sumir na fumaça de dois ou três dias adiante, e vamos todos voltar ao comodismo das nossas poltronas, assistindo o circo que (sempre) virá.

Eu tenho meu apartamento. Meu carro. Casei com festa. Vou ao shopping, e compro. Vez ou outra almoço fora. Não senti grandes diferenças entre governo Lula e FHC na minha vida. Nossa moeda magicamente continuou forte depois da invenção da URV, e desde então meu ensino completo e pago me manteve no mercado. Me virei, e continuo tendo uma vida cômoda, sem mais nem menos. Mas ontem vi que lá no Norte/Nordeste José Serra foi massacrado nas urnas. Aquelas mesmas regiões que são constantemente criminalizadas por nós, paulistas, cariocas, mineiros e gaúchos. Algo foi feito sim por lá, e está bem longe do nosso alcance de imaginação. E tenho em mente que enquanto o país não for tratado como tal, ao invés de ser somente o país dos paulistas e cariocas, responsáveis pelo desenvolvimento dos outros Estados/colônias, essa porra não vai pra frente. Despolarizar as riquezas, incentivar um mínimo de qualidade de vida (e sim, isso é algo que vai muito além de um Bolsa-Família da vida) e investir em educação democrática e qualificada. Enquanto tudo isso não acontecer, continuaremos nos batendo no escuro, com acusações ridículas e comodistas, e argumentos marketeiros. Se é uma esmola o que se ofereceu a essa gente, já estava na hora dela vir, pois daqui em diante eles pedirão mais e mais – pois é assim que a humanidade se fez – e forçarão os próximos governos a não fecharem os olhos àqueles cantos do país que nos acostumamos a ignorar. Discriminalizar dói aos que têm tudo o que precisam. Miséria incomoda. Méritos ao Governo Lula. Tortamente, eu acho que esse foi sim o maior feito do sujeito.

Boa sorte, presidente Dilma. E igualmente para esse congresso e câmara zoados.

4 comments

  1. tatit
  2. Joo

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